33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 206

Quadragésima Sexta Página do Diário

Poder.

A palavra poder tem vários sentidos dependendo do contexto no qual está inserida. Eu aprendi isso naquele dia, o mesmo em que minha mãe reuniu todos nós filhos para decidir o futuro do Reino do Leste.

Primeiramente, poder era a sensação que Miraa passava para qualquer um que estivesse próximo a ela. Nem mesmo Yobaa, o mais velho de seus filhos adotivos, ou Shiduu, que não tinha medo de nada, eram capazes de desobedecer a suas ordens.

Uma palavra, gesto ou mínimo de mudança na sua expressão facial poderia conter tantos significados, que quando nossa mãe citou a sucessão ao trono do Leste, até mesmo algumas respirações, os únicos sons ouvidos anteriormente, cessaram.

— Yobaa, meu primeiro filho, não o mais velho, mas o primeiro a ser recebido como tal, alega ser o herdeiro por direito. Usa das ações do mais novo, Deco, para alegar que tomei decisões imprudentes que colocaram o reino em crise. — A voz de Miraa era o único som ecoando no grande salão — Em questão de idade, Shiduu é a mais velha, porém, não é a mais prudente dentre vocês. Renee tem prudência, mas…

— Podemos só ir ao ponto? — Yobaa cortou o discurso dela.

— Se assim desejarem…

— Desejamos! — Shiduu falou por todos os outros.

Entendi que ela não desejava realmente atrapalhar, seja lá qual fosse o sermão que nossa mãe havia preparado para nós, mas ao mesmo tempo buscava não iniciar um conflito com Yobaa. Isso me fez reparar o quanto cada um ali parecia ter evoluído durante o tempo que passei fora.

Até mesmo Surii, que foi adotada junto comigo, possuía agora um olhar forte e penetrante, uma postura firme e expressão madura. Mesmo que houvesse dado um leve sorrisinho quando percebeu que eu a estava observando.

Amadurecer significa esconder as suas vontades infantis e agir de acordo com o momento. Era preciso ler o clima e atuar de acordo com a necessidade do “aqui e agora”. Expressões, posturas e palavras diferenciavam pessoas maduras de crianças crescidas.

Era exatamente isso que eu estava tentando fazer, escondendo minha vontade de avançar no pescoço de Yobaa por ter causado uma crise interna para tentar dar um golpe no próprio reino que o acolheu. Na própria mãe…

— Reinar é ter o poder na palma das mãos! — Miraa continuou a falar — Mostrem-me que sabem o que é poder e eu darei o direito de governar a quem me trouxer a melhor resposta!

— Conhecimento é poder! — Yobaa mal esperou que ela terminasse de falar — Eu conheço todo o Reino do Leste, conheço as pessoas mais importantes e sei como negociar com elas. Sei de tudo que é preciso para ser rei, mais do que qualquer um dos meus irmãos.

Miraa não disse nada sobre a fala de Yobaa, apenas olhou para cada um dos seus outros filhos, esperando que outra resposta aparecesse.

— Conhecimento é poder? — Kai se manifestou — Acha que por conhecer um pouco de geografia e ter bebido com pessoas ricas pode se chamar de sábio? E mesmo que fosse o mais sábio, isso seria o suficiente para governar? Poder é poder por si só, poder é a capacidade de mandar e ser obedecido… Ser temido!

— Magia é poder? — Baruu respondeu com uma pergunta.

— Eu uso magia para curar pessoas e nem por isso sou poderosa. — Tibee comentou, respondendo Baruu.

Por um breve momento o olhar de Miraa repousou em Renee, incitando-o a responder também.

— Sou um guardião, — disse Renee — meu poder serve única e exclusivamente à proteção das pessoas do Reino do Leste. Não pretendo ser um líder ou governante, apenas servir para garantir a segurança do lugar que me acolheu. Seja qual for o escolhido para governar, seguirei suas ordens até o fim.

Miraa pareceu satisfeita com a resposta de Renee. Ao passo que nós, mais novos, não fazíamos questão de nos envolver, a tensão entre os mais velhos era perceptível. E com Renee se retirando, a disputa pelo trono ficava entre Yobaa e Shiduu.

Mas Shiduu ainda não havia se manifestado.

Eu não era o único que havia pensado isso. Percebi que meu olhar não era o único voltado para ela. Miraa também a encarava, e todos os outros de nós faziam o mesmo.

Com uma postura e delicadeza que eu nunca tinha visto nela, Shiduu levantou-se e falou, não da forma como sempre falava, mas como uma princesa. Seu tom era alto e gentil, não parecendo em nada com a minha irmã assassina e violenta que se deleitava em matar friamente pelo bem do Reino do Leste.

— Nossa mãe pergunta o que pensamos sobre poder… Eis minha resposta:

“O poder pode ser definido como a capacidade ou habilidade de influenciar ou controlar o comportamento ou as decisões de outras pessoas ou grupos. Isso pode ser alcançado através de vários meios, como controle de recursos, autoridade formal, persuasão, coerção, conhecimento ou habilidades específicas, entre outros. O poder também pode ser visto como uma relação social dinâmica, pois pode mudar e evoluir ao longo do tempo, dependendo das circunstâncias e dos atores envolvidos. O estudo do poder é importante em várias áreas, como política, sociologia, psicologia e negócios, entre outras.

O poder pode ser positivo ou negativo, dependendo de como é exercido e dos resultados que produz. Um poder positivo é aquele que é usado para promover o bem-estar das pessoas e da sociedade como um todo, enquanto um poder negativo é usado para impor a vontade de uma pessoa ou grupo sobre os outros, muitas vezes em detrimento dos direitos e interesses das outras pessoas.

Exemplos de poder incluem o poder político, o poder econômico, o poder militar, o poder cultural, entre outros. Cada um desses tipos de poder pode ser exercido por diferentes atores, como governos, corporações comerciais, grupos populares, líderes religiosos e até mesmo os heróis”.

Acho que essa resposta agradou Miraa, que sorriu em satisfação pelo desempenho da mais velha em idade. Ao mesmo tempo, desagradou Yobaa a ponto de ele fazer careta e ranger os dentes, uma clara demonstração de desagrado por ter sido superado.

— Ainda acho que é muito cedo — Miraa levantou-se e falou — para decidir que assumirá a responsabilidade de guiar esse reino após eu…

Nesse momento, Yobaa também se levantou, pronto para interromper mais uma vez. Então, com apenas um gesto discreto com a mão, Miraa indicou que ele voltasse a seu lugar, e assim Yobaa o fez.

Não prestei mais atenção às palavras dela, apenas remoí internamente aquele gesto de poder, onde, com apenas um movimento de dedos, Miraa calou seu primeiro filho. Não houve magia, grito ou ameaça, apenas um pequeno lembrete de quem era a pessoa com o poder nas mãos.

Decidi que era isso que eu queria. As pessoas tinham medo de mim, eu precisava conquistar o respeito. Precisava demonstrar meu poder não só pelo medo, mas pela admiração.

Eu faria com que meu nome ficasse conhecido em todo aquele continente.