33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 211
Mito da Criação – parte 1
SOBRE O TUDO E OS MUNDOS
Ninguém sabe como era antes do início.
Antes da Existência tornar-se consciente de si, o universo era apenas uma grande sopa galáctica de caos, matéria e energia flutuando em meio à escuridão que preenchia o grande nada.
Planetas, asteroides, estrelas, galáxias, buracos negros e tudo mais que existia era apenas parte do grande tudo que compunha a existência. E o todo funcionava perfeitamente em equilíbrio, desde as menores das partículas quânticas até as grandes e complexas nebulosas.
O tecido do universo continuou a se expandir infinitamente como se não houvesse fronteira. O tudo conseguia se tornar ainda maior, como se fosse o maior de todos os paradoxos. O que o impedia de ser era minimamente o fato de conceitos físicos e metafísicos não existirem, uma vez que não havia um observador.
Mas tudo mudou com o surgimento da consciência da existência. Desde então os conceitos começaram a surgir, dia e noite se tornaram opostos, e o universo começou a dobrar-se como um lençol que seria guardado.
A cada vez que o universo realizava uma dobra sobre si mesmo, um novo mundo nascia. E diferentes mundos possuem diferentes leis. Assim, nasceram infinitos novos mundos, cada um de tamanho e complexidade infinitos também. E todos eles coexistiam sobrepostos, ligados uns aos outros pela maravilha da existência.
Não como um multiverso, onde cada mundo é praticamente uma cópia do anterior, com apenas algumas diferenças. Mas como um omniverso composto por infinitos mundos, cada um com suas particularidades e especiais. Alguns até parecidos, mas ainda assim, únicos.
Desde mundos onde humanos se tornaram a espécie dominante, até onde os dinossauros nunca foram extintos e os répteis dominavam a superfície terrestre. De mundos super tecnológicos a mundos onde a magia era o centro de tudo, passando por mundo onde ambas eram inexistentes e as raças dominantes viviam em harmonia com a natureza.
Havia mundos onde jovens meio-elfos lutavam pela liberdade e conhecimento, outros onde feras humanoides lutavam por amor, ou ainda, onde donzelas demoníacas foram invocadas para destruir os povos. Mundos onde o dinheiro era sinônimo de poder, ou minerais em outros casos, e até mesmo onde seres humanos eram moeda de troca. E ainda, em raras vezes, humanos tinham a permissão de cruzarem a fronteira dos mundos ou renascerem com as memórias de vidas anteriores, mas apenas em casos especiais onde o destino daquele mundo estava em jogo.
A Existência, consciente de si mesma, debruçava-se para assistir cada um daqueles mundos e a forma como se desenvolviam. Raras as vezes em que interferia, começou a se apegar pelas raças conscientes, se afeiçoando de determinados mundos mais do que a outros.
Percebendo que estava negligenciando parte de sua criação em detrimento de outra, decidiu que deveria criar outros de si, mas não tão universais, para que não se perdessem na contemplação do tudo e deixassem seus afazeres.
Assim, para cada um daqueles mundos, A Existência criou um Deus Guardião. A cada um deles foi dada a missão de garantir o equilíbrio do seu mundo, interferindo da forma que desejassem, desde que não permitissem ao mundo entrar em colapso.
Destes guardiões foi ocultada a verdade sobre os demais mundos, de modo que que não cobiçassem o trabalho de seus iguais. Para tanto, os mundos foram separados por um véu da realidade, tecido nas tramas do universo com fios de espaço e tempo.
Mesmo com o esforço da Existência em criar guardiões, alguns mundos pereceram. Mesmo assim, ela não se importou, era parte do processo de evolução. Apenas continuou a observar, as vezes interferindo, outras vezes deixando as coisas acontecerem. Geralmente, só interferia quando os acontecimentos tendiam ao desastre.
Como na vez em que o guardião de um mundo dividiu seus poderes com mortais, os transformando em deuses. Claro que isso aconteceu em outros mundos também, mas nesse, os deuses traíram o guardião e causaram um rompimento no tecido da realidade.
Insatisfeita, a Existência tomou a decisão de participar dos acontecimentos diretamente, sem que nenhum deles percebesse. Originalmente, a ideia era apenas resolver as coisas e sair daquele mundo, no entanto, quando as coisas começaram a ficar muito interessantes, a Existência mudou completamente de planos, apenas deixando que seu escolhido tomasse as decisões por Ela.
Então veio a guerra, uma mistura de drama e horror, isso deliciava as emoções da Existência. Quando um novo mistério surgia ou um segredo era revelado, era como se uma nova galáxia surgisse.
Mesmo apaixonada pela trama daquela mistura de mundos, Ela ainda queria um final. Então sentou-se nas sombras e aguardou. O último ato estava prestes e iniciar, e Ela queria assistir de camarote, esperando o momento de revelar o grande plot twist daquele grande teatro de marionetes que havia criado para seu próprio deleite.
— Um mistério, um assassinato e um casamento! — A frase em voz grave anunciou o fim.