33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 213

Mito da Criação – parte 3

A GUERRA DOS DEUSES

Até mesmo deuses discordam entre si da forma como o mundo deve ser. Principalmente se esses deuses um dia foram humanos escolhidos por uma entidade milenar e dela receberam seus poderes.

Como cada um tinha opinião própria e discordantes, apesar de alguns poucos concordarem entre si sobre determinados assuntos, chegaram à conclusão de que deveriam dividir o mundo e cada um governaria a sua parte de acordo com a sua vontade ou do seu grupo.

O Deus das barreiras, aquele que um dia foi o primeiro herói, vendo que a morte se aproximava conforme a idade avançava, mesmo que envelhecesse lentamente, convenceu uma parte dos deuses que pensavam de forma parecida a roubarem a imortalidade do Guardião, que estava em um sono secular.

Cerca de metade do panteão concordou com ele e aplaudiu a ideia. Ao mesmo tempo, houve aqueles que não concordaram e avisaram que era uma ideia perigosa que poderia colocar o mundo todo em perigo.

Alguns poucos mantiveram-se neutros, focando apenas em manter as suas atividades divinas de cuidar dos humanos. No entanto, dois deles estavam apaixonados, o que não foi bem visto por nenhum dos outros. 

— Onde há se viu? Deuses apaixonados como se fossem humanos, que se entregam aos sentimentos e se tornam fracos! — disse um dos que desejavam a imortalidade. 

— Eles arruinam tudo o que representamos como símbolo de adoração. — Outro demonstrava achar que havia nascido deus. 

— Vamos roubar a imortalidade apenas para nós, deixamos eles e seu amor nojento apodrecer com o tempo.

O amor entre o deus da luz e o deus do tempo foi gravemente censurado pelos demais, que os deixaram de lado em suas decisões. 

Mesmo assim, as habilidades do deus do tempo como ladrão, uma lembrança do que era quando humano, ainda seriam necessárias para a perigosa empreitada. 

Eles então resolveram apelar para a mentira. Disseram que se ele conseguisse roubar a imortalidade, teria todo o direito de abandonar suas funções como deus e viver seu amor pela eternidade. 

Cego pelo amor que sentia, ele aceitou a proposta e asso fez. A joia da imortalidade foi roubada. Não consta nos registros históricos como foi feito, apenas se sabe que foi.

Mas o Guardião despertou e despejou sua fúria sobre aqueles que deveriam obedecê-lo. Enfrentando todos eles ao mesmo tempo, conseguiu reduzir seus poderes à metade ao prender parte deles a objetos físicos que qualquer humano poderia usar.

Após a batalha, o Guardião, que estava terrivelmente esgotado, fugiu para recuperar suas forças, deixando os deuses com a imortalidade e todo um mundo nas mãos.

Mais uma vez a ganância humana que ainda habitava em cada um falou mais alto. Eles concluíram que se um deles conseguisse pôr as mãos nos objetos que continham metade dos poderes dos demais, seriam mais poderosos. 

Quase todos tiveram a mesma ideia ao mesmo tempo. E assim começou uma guerra entre eles, cujas proporções estavam além da imaginação humana. 

Os reinos que eram favorecidos pelos deuses entraram em guerra com os favorecidos por deuses inimigos. O sangue lavou a terra mais uma vez e corpos eram empilhados para serem consumidos pelas chamas. 

Ao leste e ao oeste, os dois continentes extremos afundaram no mar sob a pressão das batalhas dos deuses, que agora eram imortais, portanto, podiam lutar eternamente entre si.

O Continente Central, agora tudo que restou de terra, teve um terço de sua superfície transformada em terras inabitáveis. Montanhas foram erguidas do coração da terra, planícies se formaram ao ser vaporizada a topografia e a constante pressão formou cristais no subsolo. 

Enquanto isso, o deus da sabedoria conseguiu reunir e destruir um terço das relíquias que guardavam os poderes dos deuses. No entanto, vendo que não seria o suficiente para acabar com a guerra e salvar o mundo, apostou em algo que ninguém esperava.

Usando a chave do espaço, da qual deixou algumas cópias de uso único para trás, ele viajou para outro mundo. Um mundo paralelo, onde o tempo passava de uma forma diferente e a tecnologia estava anos-luz à frente da do seu mundo.

Neste mundo novo, ele conheceu um jovem aventureiro que amava histórias de fantasia e sonhava em descobrir algo novo. Então o plano do deus da sabedoria foi traçado. 

Primeiro, ele se aproximou de Haroldo, o jovem sonhador, e se tornou seu melhor amigo. Depois, articulou para que ele conhecesse e se apaixonasse por Sônia, uma mulher incrível e muito inteligente. 

Depois de muitos anos de aventuras e amizade, o deus da sabedoria levou Haroldo a onde a chave estava, fazendo parecer que seu amigo era o responsável pela descoberta. 

Em seguida o convenceu a levar para Sônia testar se havia alguma forma de energia na chave. Mas seu plano já estava traçado, a chave era uma armadilha. 

Assim que uma poderosa fonte de energia entrasse em contato com a relíquia, ela os levaria de volta para o mundo dos deuses. E assim, o deus da sabedoria poderia usar seus conhecimentos e habilidades para mudar o destino daquele mundo. 

Mas as coisas saíram um pouco do planejado, e apenas ele e Haroldo foram levados de volta. O plano do mais inteligente dos deuses havia falhado.

Ele não teve sequer tempo de pensar, os outros deuses sentiram a sua volta e o atacaram. 

Durante o tempo em que passou fora, a guerra acabou. Os humanos, que quase haviam sido extintos, agora se dividiam em sete reinos no único continente que restou.

A magia havia virado uma bagunça. O Guardião estava mantido em estado de consciência aprisionado em uma falha espaço-temporal. 

O deus da sabedoria sentiu que o mundo estava diferente, como se girasse fora do seu eixo. Então, consciente de que o destino daquele mundo era ser eliminado sob o peso de si próprio, ele decidiu se isolar em uma dimensão de bolso. 

Antes de partir, procurou Haroldo, seu único amigo fiel, a quem tinha enganado, e revelou o segredo da magia, o segredo dos deuses e onde estava a joia da imortalidade. 

Por quatrocentos anos, ele se manteve em isolamento, apenas assistindo o mundo aos poucos definhar sem que humanos e deuses percebessem. 

Até que um dia, uma figura sem forma o visitou.

— E se eu disser que tem uma forma de salvar esse mundo, você estaria disposto a me entreter?