33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 216
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Quinquagésima Primeira Página do Diário
Os próximos dias, semanas, meses… nem sei quanto tempo foi, mas me dediquei inteiramente à recuperação dos desastres causados pela inconsequência de Yobaa.
Meu tempo foi consumido quase integralmente por distribuição de remédios, reconstrução de casas, reorganização de pessoas, pacificação de grupos rebeldes (por incrível que pareça, sem matar ninguém) e negociações com grupos de mercadores.
No pouco que me sobrou para descansar, mergulhei nos estudos. Precisava valorizar o conhecimento que tinha me ajudado tantas vezes.
Conforme as coisas foram melhorando, pelo menos dentro do Reino do Leste, já que nos outros reinos os exércitos se moviam e faziam exercícios militares constantemente, me dediquei aos treinos de combate.
Tirei dois dias alternados por semana para treinar, sobrando ainda cinco dias para me dedicar ao trabalho no reino. E conforme as coisas melhoravam, aumentei o treino para três dias.
Comecei do básico.
Luta desarmada, focando em punhos e joelhos. Eu já me considerava moderadamente bom em socos e chutes, mas dependia demais do Rancor. E depois de descobrir que o que eu considerava um poder era na verdade uma maldição, escolhi só usá-lo em último caso.
Treinei com Shiduu por um mês. Até que me senti dar uma evoluída visível em termos de habilidade. Então passei a treinar com armas curtas, combinando os movimentos de artes marciais com facas e adagas, usando-as como uma extensão do meu corpo.
Tirava agora dois dias da semana para ajudar com o reino, três para treinar com armas e dois para meditar. Descobri na meditação uma forma de acalmar a mente, o que eu nunca havia experimentado.
Me senti bem de uma forma nova. Além de meditar, as poucas outras coisas que me relaxavam eram: bater em meus inimigos e beijar Zita. Não necessariamente nessa ordem.
Por falar em Zita, mantivemos contato através da minha rede de informações. Mandávamos cartas um para o outro contando o que estava acontecendo e falando de amor.
Ela passou um tempo na montanha de fogo após nos separarmos, depois fez uma viagem para o Reino do Norte onde se encontrou com os heróis que estavam lá. Nunca tive muito contato com eles, nem lembrava seus nomes, mas mantive o pé atrás.
Na carta, Zita explicava sobre quem eram e seus poderes: Helder, que tinha o poder de papel, considerado um dos mais inúteis; Augusto, herói do som; Ewá, a ilusionista; e Luzia, que tinha uma espécie de poder visual, mas nunca usava.
Originalmente foram mandados para o Reino do Norte por serem considerados os mais fracos. E para fingir que não foi pura sacanagem, mandaram quatro heróis, diferente dos outros reinos onde foram mandados apenas três.
Mas eu pensava diferente: Não importava o quão subestimado fosse o poder, ainda eram heróis.
Se bem que Zita também era, e mesmo que tenha quase me matado, foi sem querer. E em minha defesa, eu estava muito cansado naquela vez.
Enfim, ela havia ido negociar uma forma do reino do norte não interferir na possível guerra que ameaçava ocorrer.
O Reino de Prata estava pressionando os demais para invadir o Leste, com promessas de dividir as terras e riquezas igualmente entre os aliados. O que nos mantinha a salvo era a insistência dos outros reinos em assinar um acordo redigido pelo Reino de Prata, a neutralidade do Sul e a Cidade de Parva, que resistia fortemente.
Desde a nossa retomada da cidade, Adênia estava liderando uma resistência inacreditável contra qualquer possibilidade de invasão pela ponte que cruzava a Grande Falha.
E devido à reputação que ela, Brogo e Nilo criaram, muitas pessoas se juntaram à causa, unindo-se às Pessoas Livres. E como aquela era a principal rota de comércio do continente, a riqueza da cidade quadruplicou em pouco mais de um ano.
Parecia que fora ontem que libertamos aquela cidade.
Mas nem tudo eram flores. Muitos inimigos tentavam se infiltrar disfarçados de mercadores ou ex-escravos, o que acabava gerando pequenas comoções internas, que terminavam em mortes.
Quase sempre os culpados eram capturados e enforcados nos portões da cidade, alguns poucos tentavam encarar os soldados e morriam em combate. Teve até um caso em que o suspeito se suicidou para não ser capturado, o que gerou uma economia em corda.
Havia uma tranquilidade dentro do reino, mas fora das fronteiras estavam ocorrendo muitas tensões. Era para proteger o Leste dessas tensões que eu estava me preparando.
Meus irmãos adotivos, assim como eu, não estavam parados. Renee, por exemplo, estava conduzindo centenas de soldados em exercícios de treinamento de campo e simulações de cerco.
Shiduu e Surii às vezes sumiam por dias e voltavam como se nem houvessem saído. Geralmente, pouco depois do retorno delas, eu recebia alguma notícia sobre algo importante ter sido roubado ou alguém importante ter sido assassinado.
Estavam fazendo seus trabalhos.
E eu estava fazendo o meu. Minha rede de informações trazia notícias dos quatro cantos do continente, e essas informações eram cruciais para o planejamento e tomada de decisões do Leste.
Finalmente entendi minha função. Mesmo sem querer, eu era o chefe de uma rede de espionagem fantástica, igual nos filmes que assistia com minha família biológica.
Mas o que me fazia feliz era estar em ação. Acho que agora eu também entendia o sentimento que meu pai tinha em rodar pelo planeta em busca de aventuras e desvendando os mistérios da humanidade.
Acho que ele ainda gostava de fazer isso. Eu só precisava encontrá-lo para perguntar pessoalmente. Eu tinha muitas perguntas, e precisava de muitas respostas.
Como as coisas estavam sob controle, resolvi que estava na hora de partir em uma nova aventura. Entretanto, precisava primeiro consultar Miraa para saber se ela concordava, afinal, eu ainda era seu filho.
De início, ela não se mostrou muito à vontade com a minha decisão de partir em outra viagem pelo continente. O que mudou quando expliquei que precisava encontrar Haroldo, mesmo que não tenha contado que ele era meu pai.
Miraa então me contou que Haroldo foi seu mestre, ele havia lhe ensinado praticamente tudo que ela sabia de artes marciais, geopolítica e teoria comportamental. Eu meio que já sabia disso, mas sentia que havia mais coisa.
Se bem que, para ela ter aprendido isso tudo com ele, significava que o cara era mesmo muito bom no que fazia.
Então Miraa me fez prometer que não iria sozinho. Precisava levar mais algumas pessoas comigo para evitar fazer qualquer besteira das quais eu estava acostumado a fazer espontaneamente.
Naquele mesmo dia mandei um recado para Parva, precisava que Brogo e Jairo viessem o mais rápido possível à Montanha Solitária. O que eles não tardaram a fazer, e em apenas dois dias nossa viagem estava preparada.
Mais uma pessoa foi adicionada à nossa comitiva por ordem de Miraa, foi um dos meus irmãos: Udoo, o explorador. Ele não era alguém que eu tivesse muito contato, mas na falta de Shiduu e Surii, que estavam em missão, usaria seu conhecimento do continente para evitar que eu me metesse em mais encrenca.
E assim que o dia nasceu, com o sol surgindo ao leste e fazendo a sombra do castelo em forma de montanha se estender sobre a planície, partimos.
Nosso primeiro destino seria o Sul, onde encontraríamos um velho conhecido de Miraa, que também havia sido treinado por Haroldo. Ele se chamava Long-Hua, tive a impressão de já ter ouvido esse nome, mas não lembrava de onde…