33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 218
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- Capítulo 218 - Quinquagésima Terceira Página do Diário
Quinquagésima Terceira Página do Diário
A Floresta Sagrada foi uma das coisas mais incríveis que já vi na minha vida. As árvores gigantes com vários formatos e tamanhos, folhas em diversos tons de verde e às vezes até umas cores diferentes. Raízes tabulares que pareciam paredes saindo dos troncos e entrando no chão.
Pássaros de diversas espécies cantavam em todas as direções compondo uma sinfonia complexa e melódica. Insetos voavam e zumbiam. Animais grandes e pequenos apareciam em nossa frente e sumiam no meio da vegetação em segundos.
Assim que entramos, a temperatura mudou completamente. Dava para sentir a umidade do ar em contato com a pele, o frio do Sul foi substituído por um microclima surpreendentemente agradável.
A temperatura aconchegante e a umidade alta, juntamente com a sombra que as grandes árvores forneciam, permitiam que a viagem fosse muito mais confortável. Sem contar que a estrada de terra batida era tão perfeita, que as rodas da carroça pareciam flutuar.
Eu estava acostumado a achar que o Leste era o melhor Reino em tudo, já que sempre comparava com o Reino de Prata, mas estava conhecendo uma nova realidade daquele continente.
Foi então que comecei a perceber casas por entre as árvores, interagindo de forma sinérgica com a natureza e respeitando o visual rústico da natureza a ponto de passarem despercebidas, como se fossem elementos naturais e não construções humanas.
Não demorou muito até que víssemos o que parecia ser um vilarejo com um templo enorme no centro, este templo era construído dentro do tronco de uma árvore inacreditavelmente grossa.
Era perceptível que se tratava de um templo pelo formato diferente das casas, com uma escada que deveria ter pelo menos uns seiscentos degraus, duas enormes estátuas de madeira que representavam, ambas, uma mulher com vestimentas longas e rosto coberto. E também pelo letreiro na fachada, que dizia “Templo da Floresta Sagrada”.
Lembrei que já havia ouvido algo sobre o lugar. Aparentemente foi para onde Miraa mandou o ovo, digo, a semente que roubamos do Castelo de Prata no dia que comecei uma treta continental.
Talvez as pessoas ali fossem, de alguma forma, gratas ao meu ato de arriscar a vida para recuperar aquela coisa, seja lá qual a importância dela para o templo.
De qualquer forma, resolvi não me apressar em tomar qualquer atitude. Estávamos ali em missão diplomática, mas era preciso reconhecer que cada local possuía suas regras sociais e culturais únicas. Uma palavra ou gesto errado, mal interpretado ou de mal gosto poderia colocar nosso possível aliado como potencial inimigo.
Como Udoo era um explorador experiente e mais velho que eu, deixei que ele tomasse a dianteira e dissesse qual a melhor forma de agir naquele local. Brogo e Jairo aceitaram a ideia sem reclamar, eles também eram bons de briga, mas péssimos de conversa.
Aparentemente, Udoo já havia passado por ali em outras ocasiões, pois conhecia bem o local e sabia até qual a melhor estalagem para passarmos a noite. E pela forma como a dona do lugar falou com ele, meu irmão explorador era conhecido dela há tempos.
Ainda estava cedo, mas Udoo recomendou que fôssemos descansar em nossos quartos porque à noite a gente ia ver a beleza das luzes do lugar.
O quarto era pequeno, mas bem organizado, com uma cama de solteiro e um armário de duas portas. Havia ainda uma mesinha com um banco, um lampião fornecia a luz bruxuleante para o cômodo inteiro.
Mesmo estando ansioso demais para pregar o olho, sem contar que não conseguia dormir muito, tomei um banho e deitei na cama macia. Fiquei olhando para o teto por alguns instantes, imaginando os possíveis cenários que viriam a seguir.
Brogo e Jairo bateram à porta, eles também estavam ansiosos demais para descansar, então vieram ao meu quarto para conversar. Eles sabiam que eu não era muito de relaxar, e estaria disponível para pôr o papo em dia.
Ficamos um tempão contando cada um nossas aventuras mais recentes. Eu falei de como iniciei uma rebelião no Reino de Prata e que fugi com Zita para as ruínas do Reino de Pedra.
Contei que estávamos apaixonados e que fizemos amor, mas sem os detalhes +18. Expliquei que ela estava disposta a nos ajudar a unificar o mundo para evitar a guerra.
Percebi que ambos ficaram desconfiados de Zita, o que era normal. Mesmo assim deram um voto de apoio por confiança em mim.
Então foi a vez deles contarem suas experiências. Jairo começou falando de como havia desestruturado uma rede de infiltrados em Parva e Brogo falou sobre seu treinamento com o chicote mágico.
Depois falamos de trivialidades, como comidas que experimentamos pela primeira vez ou o tipo de música que cada um gostava. Eu não havia percebido que estava me divertindo até sentir minhas bochechas doendo de tanto rir.
Uma das raras vezes que me permiti relaxar. Relaxar de verdade, como em apenas poucas situações desde que cheguei nesse mundo. Então acordei com batidas na porta.
Nós três havíamos cochilado após relaxar. E agora Udoo batia à porta para nos mostrar o vilarejo. Levantei, vendo Brogo e Jairo ainda dormindo no chão, nem percebemos que estávamos com tanto sono. Fiquei com pena de acordá-los, mas acho que as batidas foram o suficiente.
Em cinco minutos nos aprontamos para sair. Era a primeira vez que nós três estávamos juntos a noite sem a intenção de matar, roubar ou destruir o que quer que fosse, então o sentimento de ansiedade era perceptível.
Quando pusemos os pés fora da estalagem, a minha expectativa de uma noite escura em meio à floresta foi totalmente quebrada pelas luzes dançantes sobre os tetos e nas copas das árvores incrivelmente altas.
Pessoas transitavam em números e variedade de origens. Era uma espécie de ponto turístico que atraía pessoas do continente inteiro.
Senti uma vontade incontrolável de sair correndo por aí olhando tudo e rindo para o vento. Mas Udoo pôs a mão no meu ombro antes que eu fosse capaz de me mover.
— A gente vai primeiro no templo, depois podemos nos divertir à vontade.