33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 226
O Que Resta
O mais aguardado encontro estava acontecendo.
Na entrada do acampamento semi desmontado, Zita brilhava de pé, com um sorriso aberto e chamas dançantes ao redor de seu corpo. O cabelo ruivo estava mais vermelho do que nunca, como se a lava vulcânica estivesse correndo pelos fios. Sua armadura parecia ser viva e feita de lava e labaredas.
Seu poder não havia apenas retornado, como parecia que ela estava ainda mais poderosa do que durante todos os oito anos que havia passado como heroína naquele continente.
Dezenas de pares de olhos admiravam com espanto e um pouco de inveja a Heroína da Chama, que havia morrido diante dos olhos de todos e voltou dos mortos com força total, ou talvez mais, alguns supunham que ela estava no nível dos deuses.
Os passos fortes e ritmados da ruiva seguiam pelo corredor humano que se formou desde a entrada do acampamento até a tenda principal, onde André se encontrava, sentado em um banco de madeira.
Diferente da heroína ruiva, André estava com um sorriso mais simples, uma expressão de cansaço e olheiras bem destacadas ao redor dos olhos. Seus cabelos continuavam desgrenhados, como se nunca tivessem conhecido um pente, mas estava vestindo roupas limpas, o que já era alguma coisa.
Horas antes, ele havia aparecido do nada, coberto de sangue, fedendo e com as roupas bastante destruídas. Grande parte era resultado de seus atos destrutivos desde que Zita havia morrido. Muitas coisas haviam acontecido, no espaço de três dias.
Ele tinha contado de sua ida ao Mundo Original para destruir a Aliança Internacional, o que ninguém sabia era que André havia conseguido isso devido ao poder do espaço e do tempo, que agora estavam em suas mãos.
Josiley tinha lhe presenteado com o poder do herói do tempo, congelando os segundos para que fossem horas, assim teve a oportunidade de transferir para André. Victoria, que nunca desejou nenhum poder, deu-lhe de boa vontade o poder do espaço, pedindo apenas poder ficar ao lado de Esmeralda.
Usando esses poderes combinados, André conseguiu levar Bruno, Catarina e Amanda de volta para o Mundo Original. Ele ainda se culpava por não ter chegado a tempo de salvar Mírian e Arlene, que morreram nas mãos do Guardião. mesmo com tanto poder, André ainda se achava fraco por não conseguir salvar a todos.
Ver Zita de volta era a única fonte de alegria restante a André naquele momento. Ele se sentia como se estivesse no fundo de um poço, aos poucos afundando na lama das suas decisões. Mesmo com a sua mãe e Maria Julia do seu lado, assim como os seus irmãos adotivos e as Pessoas Livre do leste, André sentia que precisava caminhar sozinho.
Principalmente quando teve que tomar a decisão mais difícil de sua vida: pedir que sua amada morresse. Ele preferia ter morrido no lugar dela, mas Zita era a única pessoa que poderia adentrar a lava da Montanha de Fogo sem sofrer dano, e precisava estar morta para conseguir acessar a Joia da Vida.
Uma jogada arriscada demais. Se a ruiva não conseguisse convencer o Deus do Fogo a lhe entregar a joia, não só o plano todo estaria comprometido como ela permaneceria morta. Um plano tão louco que até Felipe duvidou por um tempo se daria certo.
Se não fosse pelas informações que obtiveram de Haroldo, anos antes, de que o Deus do Fogo havia rompido as relações com os demais deuses e, junto com o Deus do Tempo, ajudou no plano de trair os outros e prendê-los fora da existência, André jamais teria ido por esse caminho.
Obviamente, o casal já sabia do plano de Alice Argent de usar uma arma especial de grosso calibre para tentar matá-los. O resto foi fazer um teatrinho, e Zita aguentar um tiro no peito que a matou de verdade.
O grito de dor de André e a fumaça escura que saiu de seu corpo não foi teatro, naquele momento ele se arrependeu totalmente de ter colocado Elizabeth no seu plano maluco de tentar salvar o mundo.
Agora, vendo ela em sua frente, viva e sorrindo, envolta em chamas de diversas cores, André sentiu as pernas fraquejarem como a muito tempo não sentia. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e seus lábios tremeram. Levantando-se quase sem forças nas pernas, ele deu dois passos em direção à sua amada ruiva.
O rapaz só não caiu porque foi abraçado com força por Zita, que o apertou em seus braços e o beijou com muita intensidade, deixando alguns dos espectadores com inveja da sorte de André.
Um beijo demorado, silencioso, como se dissessem tudo em um toque de lábios. Um abraço aconchegante, como se fossem dançar uma valsa ali mesmo. e lágrimas, o sinal que a vontade de se verem era maior do que tudo em qualquer um dos dois mundos.
As pessoas que assistiam nada conseguiam dizer, até suas respirações estavam pesadas, e muitos choravam de emoção. Não que fossem próximos à Zita e estivessem felizes pelo seu retorno, mas pela beleza e encanto da cena que se descrevia na frente de todos.
Digna de um quadro ou cena de um filme, durou alguns muitos segundos, mas pareceu ser eterna. Quando os lábios se separaram, os olhos se encontraram, ambos vermelhos e encharcados de lágrimas.
Os braços foram aos poucos se desvencilhando dos corpos e os pares de mãos seguravam umas às outras. André deu um meio passo para trás e suspirou, em seguida se ajoelhando sobre uma perna, colocou a mão no bolso e tirou um pequeno objeto.
— Você sabe o que vem agora… — Ele disse, quase sem voz — Mesmo assim eu queria saber… se você…
Os olhos de Zita já estavam inundados e ela soluçou sem controle.
— Você aceita casar comigo? — André mostrou um anel com um cristal lilás no topo.
Zita não conseguiu responder de imediato, apenas chorou um pouco e soluçou. Caindo sobre os joelhos, ela abraçou André mais uma vez, as chamas que flutuavam ao seu redor já se extinguiam e seu corpo tremia.
— Eu aceito… — A garota respondeu, depois de alguns segundos — É o que eu mais quero nesse ou em qualquer outro mundo!
Se afastando um pouco, Zita estendeu a mão para receber o anel de compromisso. Era visível que ela estava trêmula, André não estava muito diferente.
— Eu pedi a Ametista que me conseguisse uma pedra preciosa do Reino de Cristal para quando eu fosse te pedir a mão, ela me fez esse anel e nos desejou muito amor.
Zita apenas acenou com a cabeça e enxugou as lágrimas com a manga do vestido que usava por debaixo da armadura. André se pôs de pé e ajudou a ruiva a se levantar também.
Uma gota de água caiu do céu, em seguida outra, e em poucos segundos uma chuva fina começou. As poucas nuvens no céu não eram suficientes para cobrir o sol, então um lindo arco-íris se formou no céu.
— Um arco-íris é sempre um bom sinal! — disse uma voz grave ao lado do casal.
Virando-se, eles viram Long-Hua parado, olhando para o céu. André teve a impressão de que os olhos do homem mais importante do Reino do Sul estavam levemente marejados, mas preferiu fingir que não viu nada.
— Você sabe o que vem agora, não é? — Zita perguntou baixinho, apenas para André ouvir.
— A luta final. — Ele respondeu — É o que resta.