33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 228
Os Dias Que Antecedem
André estava atento às notícias que pipocavam de todos os cantos do continente. Após semanas a fio de paz absoluta, aos poucos surgiam casos de crimes menores, coisa que anteriormente eram corriqueiras, mas agora poderiam indicar a presença de algum dos deuses restantes.
Uma dessas notícias indicava que uma batalha de nível incalculável ocorreu em uma região pouco habitada, e dois corpos destroçados foram encontrados. Não dava para reconhecer as vítimas, mas pelo estrago na área foi fácil concluir que eram deuses que foram vitimados pelo Guardião.
As suspeitas se confirmam quando Raíra e Wesley procuraram André e disseram terem perdido seus poderes. A heroína da terra e o herói dos sentimentos queriam a ajuda do noivo de Zita para voltarem para o Mundo Original.
Eduardo havia o procurado um dia antes em uma situação semelhante. Seus poderes haviam sumido de uma hora para outra, indicando que o seu deus havia morrido.
Os acontecimentos já eram esperados. André sabia que cada vez que um deus era derrotado pelo Guardião, o herói escolhido por aquele deus perdia seus poderes, ao mesmo tempo, o Guardião se tornava mais poderoso.
E ele estava cada vez mais próximo do seu poder original.
André já esperava que, com a queda de alguns deuses, os heróis começassem a procurar por ajuda. Mas não estava em condições de fazer uma viagem entre os dois mundos.
Ele já havia feito isso duas vezes e era extremamente cansativo. E como seu casamento estava a uma semana de acontecer, priorizou seu plano original. Mesmo assim deu hospedagem aos recém-chegados e os adicionou na lista de convidados do casamento.
Na verdade, ele e Zita haviam reservado vagas para todos os heróis que ainda estavam vivos. As chances da maioria aparecer era grande demais. Leonardo, por exemplo, estava morando com a família na Montanha Solitária havia semanas.
Mesmo que Leonardo não fosse grande amigo de André, Van-Nee e Andreia eram pessoas muito legais e estavam sendo úteis na decoração para a festa de união do jovem casal.
Além da família de Leo, muitas pessoas começaram a habitar a sede do poder do Leste. Valmir e Lídia já se sentiam em casa há tempos, mas Sônia e Long-Hua agora disputavam a atenção de Maria Júlia, como Miraa havia dito preferir ser chamada agora que sua identidade não precisava mais de segurança.
Para atender as demandas pessoais, Maria Julia oficializou a passagem de poder para Shiduu, sua escolhida para liderar o Leste pelas próximas décadas. A jovem assassina foi aclamada em uma cerimônia pequena e restrita aos filhos adotivos de Maria Júlia e mais meia dezena de convidados.
Logo as notícias se espalharam por todo o Leste assim como pelos outros reinos, e não tardou a começarem a chegar cartas de felicitações, propostas de acordos comerciais e solicitações de audiências com a nova governante.
Durante as duas primeiras semanas, Maria Júlia auxiliou Shiduu, e aos poucos foi deixando a garota andar com as próprias pernas. O apoio de Valmir foi muito importante na construção de uma personalidade governante de Shiduu.
Maria Júlia sabia o quão cansativo era, mas confiava que logo sua filha se adaptaria ao novo cargo. E diferente da vez que Yobaa quis o trono para si, Shiduu contava com o apoio dos seus nove irmãos para a construção de um novo tempo nas terras ao leste do continente.
Surii a acompanhava de um lado a outro e rapidamente conseguiu o apoio das Pessoas Livres para estabelecer uma rede de espionagem e inteligência. Visto que Deco havia praticamente eompudo os laços formais com os ex-ratos, foi muito fácil trazer Adênia e companhia para o exército do Leste.
Deco foi informado do acordo, mas não pareceu se importar. Na verdade, ele pareceu ficar feliz por ver que seus antigos companheiros não ficariam desamparados.
Entorno muitos concluíram que André estava com algum plano possivelmente perigoso em ação, entretanto, ninguém foi capaz de imaginar o que seria.
Ele sumia por horas ou apenas ficava na companhia de Zita no terraço e pedia para não serem incomodados. Dezenas de teorias surgiram, desde que Deco estava arrependido da proposta de casamento até a de que estava sendo ameaçado pela ruiva.
Nao demorou até que surgissem apostas envolvendo o teor do mistério. Dentre as apostas, uma envolvia o paradeiro de Haroldo, o homem que todos falavam e poucos conheciam.
Como poderia um homem que viveu quatrocentos anos morrer do nada? E tinha a história de que André havia matado o próprio pai, o que seria bizarro demais. Mas o ser humano, apaixonado pela fofoca, contava, aumentava e inventava.
Assim como as fofocas, o teor das apostas logo se toenou de conhecimento geral e chegou aos ouvidos de Sônia. De início ela não fez nada, até cogitou apostar algumas moedas, mas não gostava de arriscar em jogo perdido.
Deitada, certa noite, ela ficou matutando sobre qual seria a melhor aposta. Se o mistério de André, o qual apenas Elizabeth parecia conhecer; ou o assassinato de seu marido, Haroldo; ou ainda, sobre a situação do casamento de André.
— Mistério, assassinato ou casamento? — Ela se perguntou.
Uma sensação de dejavú a dominou. Teve a certeza de que já ouvira àquelas palavras exatamente naquela ordem. Naquela noite Sônia teve dificuldade para dormir.
— Um mistério, um assassinato e um casamento… — Ela continuou a murmurar no dia seguinte.
Então se lembrou. Uma frase que Haroldo havia lhe dito, ele ouviu em um sonho no qual parecia ter sido visitado por alguma entidade transcendental. Se ele não fosse ateu e contra o uso de drogas, Sônia teria ficado preocupada na época.
Haroldo passou dias com a frase na cabeça e a repetia instintivamente, quase sem perceber. Foi isso que fez Sônia gravar a frase, mas ela não esperou ouvir de novo, principalmente da própria boca.
Como alguém que acreditava na ciência, Sônia era predisposta a duvidar cdas coisas, mas agora havia provas praticamente suficientes para acreditar que tinha algo a ser investigado.
Por meio segundo ela até se sentiu inspirada em investigar, mas ai lembrou que André tinha lhe garantido que tudo estava indo de acordo com o plano de Haroldo, e desistiu.
Sônia confiava no homem que escolheu para ser seu marido, da mesma forma como confiava em.seus filhos e eles confiavam em Haroldo a ponto de arriscarem suas vidas por um plano que ele traçou.
Cada vez mais ela tinha certeza de algo grande estava vindo, mas não ia perder tempo se preocupando. Precisava mais era se concentrar em perder peso para entrar no vestido que Maria Júlia havia encomendado.
Até parece que ela chegaria com pneuzinhos no casamento do seu filho.