33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 230
Lá Vem a Noiva
Finalmente havia chegado o dia do casamento. O grande salão principal da Montanha Solitária foi enfeitado e estava repleto de cadeiras para os convidados.
Ao fundo, aos pés do Trono de Pedra, um altar simples com uma mesa e o local dos noivos e do celebrante. Em cima do altar, um pequeno enfeite com adênias, as flores do deserto.
Camarotes foram preparados nas laterais, um pouco acima da linha de visão do público. Ali estavam as pessoas que precisavam de um tratamento especial, ou segurança.
No segundo camarote à esquerda do altar estava Alice e os demais representantes do Reino de Prata. E como a etiqueta dizia que os próximos eram mais valorizados, significava que daquele lado apenas um grupo era mais bem-recebido que ela.
Espremendo-se um pouco ela viu quem estava mais perto dos noivos: uma mulher, jovem, de pele queimada e cabelos escuros. Assim como uma jovem de beleza altamente atraente e um rosto angelical. E ainda, um homem musculoso e de cara fechada.
— São os líderes das Pessoas Livres, Majestade. — Um dos guardas falou aos ouvidos de Alice — Adênia, Su-Khan e Jairo.
Para muitos, colocar pessoas do povo à frente de alguém da realeza poderia ser considerado uma afronta ao decoro. Entretanto, Alice não esperava menos de André. Mesmo ela sendo uma rainha, se fosse colocada à frente das pessoas em que André mais confiava, entenderia aquilo como um recado direto:
“Estamos de olho em você! “
Mas não. Tudo ali estava como ela imaginou. E seu humor estava o melhor possível, principalmente depois da longa conversa que teve com a nova Senhora do Leste, Shiduu. As duas discutiram medidas conjuntas para valorizar a relação entre ambos os reinos e também os direitos das mulheres.
Sem contar que nas últimas duas noites, Renee a visitou em seus aposentos para assuntos mais pessoais. Se todos os filhos de Miraa fossem bons de cama igual o cara grande, então Elizabeth fez bem em escolher André.
Outra convidada de honra estava no camarote em frente ao de Alice, no outro lado do salão. Esmeralda estava acompanhada de Rubi e Turmalina, suas duas guardas pessoais escolhidas para acompanhá-la na ocasião.
Ametista também foi, mas não como parte da comitiva do Reino de Cristal. Ela era uma convidada de honra de Deco, com quem dividiu um barraco junto a outros órfãos anos antes.
Ao lado de Ametista, na primeira fila, estava Victoria. A garota de cabelos cacheados e acinzentados foi uma das três pessoas dentre todos os heróis que nunca tentou se colocar contra André.
Ela não se arrependia de nada, e seu desejo de ser livre só se igualava à sua admiração por Esmeralda, a quem servia por decisão própria. Vic sabia o quão abalada havia ficado com a morte de Jonas.
Mesmo o herói das barreiras tendo sido um tremendo babaca durante a vida quase toda, quando estava na presença da princesa de cabelos verdes, parecia outra pessoa. E o respeito por esse sentimento foi o que pesou na decisão de voltar para esse mundo.
Além de Victoria, os heróis outrora dedicados ao Norte também estavam como convidados, na segunda fileira de cadeiras. Helder, Luzia, Ewá e Augusto sempre se mantiveram afastados dos demais heróis por uma estratégia própria.
Além de terem sido subestimados e enviados ao reino mais isolado geograficamente, nunca foram incluídos em nenhum plano dos outros para salvar o mundo.
Isso virou uma mágoa, que no final da guerra fez com que se aliassem a André para combater os planos de expansão do Cavaleiro de Prata. E isso criou uma amizade distante entre André e Helder, que mesmo nunca sendo próximos, se respeitavam mutuamente.
Helder, o Herói de Papel, havia feito muito mais pela economia de Reino do Norte que pela guerra ou pelos outros heróis, graças à sua colaboração com André e a rota comercial que negociaram através de uma área pouco conhecida e que fora mapeada pelo filho mais novo de Miraa, passando pelo antigo Reino de Pedra, o comércio entre os dois reinos prosperou nos anos seguintes à guerra.
Luzia e Ewá não eram tão próximas a André ou Zita quanto Helder, mas não eram consideradas inimigas do casal ou do Reino do Leste, e mesmo que já tivessem lutado contra André quando acharam que ele estava invadindo o Reino do Norte. Augusto, por sua vez, guardava um pouco de rancor depois de tomar uma surra de André.
É claro que quase tudo isso tinha sido coisa do passado, mas cicatrizes antigas não fechavam fácil, e se não fosse por Helder, a maioria deles não estaria ali. Assim como Lucas e Hugo, que estavam na terceira fileira, com Eduardo à tiracolo. Eduardo havia perdido seus poderes, mas não a mania de incomodar com a simples presença.
E desde que Lucas e Hugo assumiram a relação, sentiam que alguns dos outros heróis estavam os tratando com distância, o que os incomodava muito. Pelo menos, Leonardo foi um dos que disse já saber e, literalmente, deu de ombros.
Era mais reconfortante ter um amigo que não se importava do que um que julgava. E Leonardo já tinha sido muito julgado quando descobriram que ele tinha uma esposa e uma filha.
Van-Nee e Andréia era tudo na vida de Leo. Ele começou uma guerra e confiou em André para protegê-las, escondendo a existência das duas por anos. Se aquilo não fosse uma prova de amor, nada mais seria.
Outra prova de amor era o casamento que estava para acontecer. André e Zita tinham tanto em comum e ao mesmo tempo eram tão diferentes, que fazia com que a fofura deles ultrapassasse a esquisitice de André.
André esse que cruzou o longo corredor formado pelas duas ilhas de cadeiras no meio do salão, até chegar ao altar da cerimônia. Um homem com uma roupa cerimonial cheia de bordados coloridos já o aguardava.
Era Long-Hua, o líder do Reino do Sul. Ele havia praticamente implorado para ser o cerimonialista do casamento, e agora trajava as coloridas vestes típicas dos casamentos do Leste.
As cores eram parte das festas do reino, diferente do resto do mundo e seu padrão preto e branco. O colorido celebrava a vida e a superação dos desafios do dia a dia. Assim como o terno longo que André usava, com uma riqueza de bordados em um tom roxo escuro quase igual à cor das pedras da Montanha Solitária.
Se olhasse direito, daria a impressão que os bordados estavam se movendo. Uma ilusão de ótica belíssima combinando a riqueza de detalhes da decoração. Até mesmo as armaduras colocadas em posição de sentido, como se protegessem os convidados.
Mas toda essa beleza foi logo abafada pela maior beleza do lugar quando Elizabeth entrou com seu vestido ricamente bordado com fios de ouro e chamas vivas em um tom de fogo, como se vestisse uma labareda dançante.
Seus cabelos estavam amarrados em um coque com as pontas esvoaçantes e enfeitados por uma tiara prateada com uma joia no centro. E em suas mãos um buquê de flores vermelhas, típicas da região da Montanha de Fogo.
Quando ela apareceu no início do corredor, alguém gritou na plateia:
— Lá vem a noiva!
Nem mesmo os sons das respirações podiam seus ouvidos.