33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 247
Traga-me Para a Vida
Quando André acabou seu votos, foi a vez de Elizabeth fazer os seus:
— Sempre te esperei, mesmo que não soubesse. — Ela disse, tão baixo que apenas quem estava mais perto foi capaz de ouvir — Você me salvou de uma solidão que atormentava minha alma e me trouxe para a felicidade. Eu morri por dentro e você me trouxe de volta com um beijo. Depois eu morri por fora, e seu amor me impediu de partir para a próxima vida. Meu corpo repousava no fogo e meu espírito em algum lugar frio, até você encontrá-lo e guiá-lo de volta para casa.
Mais do que votos, era a verdade e poesia de uma vida e morte reais.
— Eu morri por você uma vez e não me importo em morrer de novo, pois sei que nosso amor rompe todas as barreiras do universo. Seja deste ou de outro mundo mundo. E mesmo que o destino insista em nos separar, lhe esperarei, é só olhar para o leste, ao nascer do sol, estarei sobre a areia da praia, sentindo as ondas mar e de olhos fixos no horizonte… te esperando! Apenas traga-me para a vida!
Votos mais curtos, no entanto, cheios de sentimentos, que foram captados por André. O rapaz estava fazendo um esforço descomunal para não chorar, e seu nervosismo só não era maior porque foi ao banheiro minutos antes da cerimônia.
A cerimônia prosseguiu de forma belíssima, com direito a armas sacadas e olhares violentos em todas as direções na parte do “ se alguém tiver algo contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre”.
Ninguém foi louco o suficiente para encarar uma multidão de espectadores que ansiava por um final feliz.
E o casamento foi com um beijo apaixonado no encerramento, partindo então para o que a maioria aguardava ansiosamente: a festa!
No lado de fora da Montanha Solitária havia uma banquete gigantesco preparado para celebrar o casamento e a festa que marcava o ano novo no Reino do Leste. Mesmo quem não pode entrar para a cerimônia, estava esperando para comemorar com muita comida, bebida, música e dança.
Enormes fogueiras foram acesas ao longo da planície que circundava a sede do poder no Leste, e o brilho de todas elas dava a impressão de que a noite não havia chegado. Aquele era o festival das luzes, onde essas fogueiras eram mantidas acesas por cinco noites para comemorar a chegada de um novo ciclo de tempo.
Duas festas comemoradas em sincronia, aumentando exponencialmente a alegria de ambas. Amigos, parentes e conhecidos festejando juntos a alegria de ciclos que iniciam e terminam.
Toda a dor da guerra pode ser esquecida pelo tempo que durou toda a comemoração, e quem foi inimigo um dia, hoje se cumprimentavam em alegria. Não apenas superaram as intrigas do passado, mas cresceram e compreenderam suas fraquezas e erros.
Mais do que os jovens sonhadores de uma década antes, agora eram adultos incumbidos de serem responsáveis. Cabia a essas pessoas garantir que a nova geração não seria manipulados a causar o mal que eles mesmo haviam causado.
Uma vida de dor, carregando o peso dos traumas físicos e psicológicos de uma juventude baseada em causar guerras e mortes como se fossem salvadores, quando não passavam de crianças manipuladas por mentiras e promessas vazias.
Dentre as pessoas que vivenciaram isso, Leonardo foi um dos que mais sofreu, principalmente por ter sido obrigado a abandonar sua esposa e filha para a proteção de ambas. E por quase uma década precisou fingir que odiava André, apenas para proteger o que amava.
— Obrigado! — Leonardo disse, com lágrimas nos olhos, enquanto cumprimentava André — Se hoje tenho uma família, foi porque você tem um coração gentil. Merece toda a felicidade do mundo, desse ou do nosso…
André respondeu com um abraço sincero.
— Acho que é a primeira vez que vejo sinceridade em você. — André comentou.
— Não há mais motivos para fingir te odiar.
— É uma pena que alguns não vejam assim. — André e Leonardo assistiam as pessoas cumprimentarem Zita, felicitando a deusa ruiva — A maioria de vocês sabiam que estavam errados, mas preferiam permanecer no erro do que admitir.
— Admitir o erro é parte do que nos faz adultos. — Leo desviou a vista para onde estavam sua esposa e sua filha — Tento ser uma pessoa melhor para poder ser um exemplo para a minha filha.
— Foi por isso que não matou Jonas depois do que ele fez a elas?
— Eu não queria tirar esse prazer de você… Ha-ha — Leo riu — Mas falando sério, eu estou disposto há muito tempo, a abdicar a violência.
— E se eu te disser que tirar a vida de Jonas não me deu prazer algum? — O olhar de André vagou pelo céu escuro da noite — Por muito tempo eu o culpei pela minha desgraça, depois entendi que o Cavaleiro de Prata estava manipulando vocês, e por fim, conclui que a minha vida não foi tão ruim.
— Sentiu pena dele?
— Um pouco…
— Só um pouco?
— Para eu perdoar o Jonas, só a gente nascendo de novo e eu não tendo lembrança nenhuma do que ele fez.
Leonardo deu um sorriso amargo, sabia o que todos tinham feito de errado e não achava justo querer que André os perdoasse. Carregar o fardo da culpa foi a decisão que o herói dos raios tomou para si.
— Mas eu te perdoo. — André deu um tapinha no ombro do loiro — Basta você prometer que aquela garotinha que carrega meu nome não vai precisar carregar o meu destino.
— Eu farei isso, você me perdoando ou não. Aquela menina é tudo para mim e para a mãe dela. Eu enfrentei a culpa de um crime que não cometi, uma guerra, traumas que não me abandonarão nunca e muitas outras coisas para proteger ela, não deixerei que tenha sido em vão!
Leonardo olhou para Andreia, que se empanturrava de doces enquanto a mãe cumprimentava a noiva. Vendo que os dois homens a observavam, Andreia correu em direção ao noivo e o abraçou.
— Feliz aniversário! — Ela não entendia bem o que estava acontecendo.
— É o casamento dele, não o aniversário, filha.
— Obrigado, mesmo assim, xará! — André abraçou a garotinha, tirando ela do chão.
— Xará parece xarope! — Andreia disse, sempre animada.
— Eu não gosto de xarope. — André entrou na brincadeira.
— Qual é, cara. — Leo riu — Viajando nas conversas dela? Não teve infância?
André não respondeu, apenas deu um sorriso amargo.
— Não foi o que eu quis dizer…
— Eu sei. — O noivo colocou a garotinha no chão e se despediu deles, indo atrás da deusa-noiva.
Zita estava acabando de receber os parabéns da longa fila de convidados e se perguntando por que tão poucos foram falar com André, quando seu marido chegou e a abraçou pela cintura.
Os convidados respeitaram o momento e deixaram o casal procurar comida, afinal eles eram os últimos sem comer nada ainda. Não por falta de alimentos, pelo contrário, tinha comida e bebida suficientes para toda a multidão pelos cinco dias do festival.
Em uma grande mesa repleta de uma variedade de pratos, Sônia e Maria Julia já estavam terminando suas jantas quando o casal chegou. Sônia levantou-se, oferecendo o lugar para André que a encarou por alguns segundos.
— Mãe… — Ele engasgou com a própria voz — Eu… eu…
Sônia pareceu entender, respondendo com um abraço apertado e um afago na cabeça. Ambos choraram em silêncio por uma dezena de segundos. Maria Julia se juntou ao abraço, depois Zita.
Os filhos de Miraa, seguindo Shiduu, a nova Senhora do Leste, se uniram ao abraço coletivo. E André teve a certeza de que não estava sozinho no mundo.