3552 Sem Memórias - Capítulo 5
Eu ainda me encontrava em um impasse, dividido entre o desejo de seguir as ordens de Drake e o instinto de tentar protegê-lo. Meu coração não sabia qual das opções tomar, quando o estranho fenômeno se repetiu: as luzes começaram a piscar e outro cadáver se ergueu e flutuou, assim como o anterior. Com uma voz robótica, ele proferiu:
— Posso discernir facilmente seus pensamentos. A escolha é sua, sua vida está em suas mãos, e não interferirei. Decida se deseja fugir como um covarde ou lutar como um guerreiro.
— Se você realmente conhece meu passado, por favor, ajude-me a recuperar minhas memórias! — implorei desesperadamente.
— Você sempre evitou conflitos, desistindo diante do menor obstáculo. Talvez um reflexo de algum trauma antigo. Agora, espero que isso mude. Quando deseja algo, é preciso lutar por isso. Suas vontades só foram expressas em palavras, não em ações. Lute por suas memórias; somente assim poderá resgatá-las. — O cadáver cessou sua levitação e retornou à sua imobilidade anterior.
Suas palavras reverberaram em minha mente como pedras lançadas em um lago, onda após onda, até se dissiparem. Compreendi sua mensagem e decidi lutar, sem hesitação, sem arrependimentos.
Corri de volta ao trem, minha velocidade aumentando a cada passo. O trajeto que antes levava três minutos foi percorrido em menos de um. Minhas pernas agiam por instinto, e quanto mais eu me concentrava, mais velocidade eu ganhava. Cheguei a tempo de presenciar três homens em combate contra os assaltantes. Ficou claro para mim que eles não eram aliados.
Os três batalhavam com uma concentração impressionante: Épsilon e Teta formavam uma dupla ágil e coordenada, enquanto o espadachim enfrentava os adversários sozinho. Este último demonstrava reflexos notáveis, habilmente desviando e retalhando os projéteis inimigos. Enquanto isso, Épsilon e Teta protegiam-se mutualmente, combinando habilidades: um deles possuía mira precisa, abatendo qualquer alvo que se atrevesse a expor-se, enquanto o outro exercia uma supressão eficaz, impedindo os oponentes de retaliarem, equilibrando assim a ofensiva e defensiva do grupo.
Épsilon, com um salto impressionante, se fixou no teto e, de cabeça para baixo, começou a disparar contra dois criminosos que se escondiam atrás de um veículo. Em seguida, soltando-se do teto, ele pousou diante de mim e lançou um olhar desafiador.
— Está preparado para lutar?
Enquanto ele falava, um assaltante gravemente ferido se preparava para atacá-lo. Antes que tivesse a chance de agir, Épsilon disparou uma rajada certeira, enviando-o de uma vez por todas para encontrar seu destino nas mãos de Deus.
— Quero lutar pelos meus interesses! — declarei com determinação.
— Perder a memória também alteraria minha personalidade? — Teta indagou, guardando suas armas no coldre com um tom de desdém.
Instantes depois, o último eco de disparo se dissipou pelo túnel. Os três haviam enfrentado mais de vinte assaltantes e saíram vitoriosos, sem sofrer sequer um arranhão. Eu ponderava se suas habilidades eram resultado de treinamento ou da adrenalix. A cada segundo, sentia-me mais poderoso, como se a adrenalix permeasse todo o meu ser.
— Não há chance de você se juntar à luta. — O espadachim se aproximou de nós.
— Não tenho medo de lutar; quero descobrir sobre meu passado. — As palavras de Alfa ainda reverberavam na minha mente.
— Morrer não trará de volta suas memórias — disse Épsilon, avaliando a situação.
— Um amigo está dentro daquele trem, ele se arriscou para me salvar.
— Está realmente interessado em se unir a nós? Acabou de receber sua primeira dose de adrenalix; nem mesmo o chefe tem certeza sobre seus poderes — afirmou Teta.
— Então, eu ingeri minha primeira dose de adrenalix? — questionei.
— Exatamente. Você sempre evitou conflitos, mas quem sabe agora, sem memórias, sua personalidade teimosa mude e você finalmente nos ajude de verdade — disse Épsilon.
O trem começou a se movimentar, e todos nós nos viramos na sua direção, correndo para alcançá-lo. Teta, o espadachim, e Épsilon rapidamente chegaram às portas laterais, enquanto meu salto inicial falhou e precisei tentar novamente. Teta estendeu sua mão para me ajudar, permitindo que eu finalmente subisse a bordo do trem, que ganhava velocidade a cada segundo. Entramos no mesmo vagão de carga onde eu e Drake nos encontramos pela última vez. Embora o local não parecesse ter sido revirado, marcas de tiros e manchas de sangue estavam espalhadas pelo chão, com dois corpos caídos: um segurança do trem e um bandido.
— Então eles realmente decidiram levar o trem. Eu pensava que apenas roubariam a carga e fugiriam. Quantos são? — indagou Teta.
— Atualmente, sessenta e quatro assaltantes estão no trem. Inicialmente eram cento e dois; trinta e um morreram em combate e um está gravemente ferido — respondeu a mesma voz robótica de antes, utilizando o segurança do trem como marionete; uma grande ferida de bala marcava seu rosto.
— Como você sabe de tudo isso? — perguntei, começando a me adaptar à estranha situação.
— Minha função é estar ciente das circunstâncias. Estou enviando reforços: Gama, Delta e Iota foram designados para esta missão. Antes de iniciar o combate, sinto a presença de dois inimigos muito poderosos; fiquem alerta. Sejam silenciosos e letais. Mi, esta é uma missão sob medida para você: elimine os capangas sem chamar atenção. Épsilon e Teta, fiquem com Nusquam e vigiem-no para evitar ações imprudentes. Estarei aguardando vocês no ponto de encontro na capital. Boa sorte a todos. Nusquam, estou contente por decidir se juntar a nós. Espero que sua estadia seja agradável.
— Acabe com eles por nós! — disse Teta para o espadachim, agora conhecido por seu codinome: Mi.
— Vocês são muito barulhentos. Não conseguiriam fazer metade do que faço — Mi abriu a porta para o próximo vagão e desapareceu misteriosamente.
— E lá vai ele. Quanto tempo teremos que esperar? — interveio Épsilon.
— Apenas alguns minutos. Não fique ansioso — Teta respondeu.
— Poderia, por favor, vigiar o vagão enquanto esperamos? — solicitou Épsilon.
— Sempre faço o seu trabalho.
— E eu agradeço. — Épsilon sorriu para o seu companheiro, que apenas murmurou algo baixinho que eu não pude escutar com clareza.
— Quem são os reforços? — perguntei.
— A equipe de atiradores, uniremos nossas forças e lutaremos juntos. Alfa sente uma presença muito forte de adrenalix — explicou Épsilon.
— Por que vocês estão fazendo isso? E quem está assaltando o trem? — questionei.
— A que ação nossa você se refere? — retrucou Épsilon.
— A sua luta. Quero saber qual é o objetivo de nossa luta.
— Sirvo à minha nação, e Alfa é o representante dela. Estamos lutando para impedir que a Caveira tenha acesso a recursos estratégicos. Eles estão limitando muito nossa operação.
— A Caveira? São eles que estão assaltando o trem? — inquiri.
— Sim, são eles. A Caveira é uma organização militar e criminosa infiltrada em todos os escalões das fortalezas. Eles são o principal motivo de estarmos agindo nas sombras.
— Se eles possuem tanto poder, qual o motivo de assaltar um trem de carga comum? — persisti.
— A carga deste trem não é comum. Dois dias antes de encontrarem você, o décimo terceiro esquadrão de extermínio encontrou um cranyus original. Com ele, pode-se fazer adrenalix pura, que daria ao usuário um alto poder e uma duração de mais de um dia. Cinco litros de adrenalix pura estão sendo transportados neste trem. Este é o verdadeiro objetivo deles.
— Então, por que não roubar o carregamento também e garantir esse poder para o seu lado? — indaguei.
— Nós não precisamos, mas eles sim. Nossa missão original era explodir o trem, mas agora temos que proteger você, o carregamento e também resgatar Drake.
— Obrigado por cuidarem de mim. Apenas gostaria de recuperar minhas lembranças e não ter mais preocupações.
— Drake cuidará bem de você. Alfa acredita que ele pode ser um valioso aliado em nossa luta.
— Três pessoas entraram pela porta lateral do vagão de carga. Fiquem atentos — finalmente se pronunciou Teta.
— Elas chegaram? — perguntou Épsilon.
— Glória ao Império — gritou uma voz feminina do vagão anterior ao nosso.
— Paz e segurança — respondeu Épsilon, apontando sua submetralhadora para a porta que conectava os dois vagões.
— Deus salve a nação — concluiu a mulher.
— A equipe de atiradores chegou. Abra a porta — Épsilon relaxou.