A Ascensão do Dragão Prateado - Capítulo 4
— Como você consegue se concentrar assim? — Quem fez essa pergunta foi Fumiko Mari. Que estava me olhando com curiosidade.
Vendo ela com as mãozinhas apoiadas no queixo com os olhos brilhando em pura curiosidade, eu não pude deixar de pensar que ela parecia fofa.
Mas rapidamente apaguei esse pensamento. ‘Não! Ela é veneno!’ Sabendo como ela afundou o Silver “original” eu logicamente espantei a ideia de me aproximar tanto dela.
— Não sei… Eu só penso em me concentrar e acontece. — Expliquei calmamente, esse deve ser o talento que o “original” desperdiçou completamente para dar uma chance dela se destacar.
— Uaau, quer dizer que você é um gênio? — Ela perguntou inclinando a cabeça fofamente.
— Talvez. — Acabei falando como se não fosse importante. Mas, a verdade é que eu estava incrivelmente feliz de ter esse talento. Ele tornou meu caminho na esgrima várias vezes mais fácil.
Durante as próximas semanas, minha rotina diária foi simples.
Eu treinava minha esgrima com Fumiko durante o intervalo, treinava meu controle e capacidade do poder mental em casa e então treinava meu físico no parque.
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Desconhecido para Silver, ele e Fumiko ganharam o apelido Duo de espadachins malucos dos seus colegas da pré-escola, por sempre estarem treinando o intervalo inteiro.
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Eu estava no meio da corrida, quando ouvi um “crack” da minha direita. Me virando para lá, eu vi metade de um rosto por trás de uma árvore, me olhando apreensivamente.
— Quem é você? — Eu perguntei, o que fez o rosto recuar rapidamente.
Me aproximando da árvore, eu vi que o “rosto” era uma garotinha.
Ela tinha um rosto pálido e bonito que se parecia com o de uma boneca, seus cabelos eram um branco puro e seus olhos eram vermelho-sangue e, acrescentando modo com que estava se enrolando apoiada na árvore me lembrou um coelho.
— Por favor não me machuque… — Ouvindo-a dizer isso enquanto tremia, me fez arquear as sobrancelhas.
Ela estava sofrendo algum tipo de bullying ou…
— Porque eu te machucaria? — Questionei o mais cuidadosamente possível, tentando meu melhor parecer inofensivo. O que era fácil com esse corpo de 5 anos de idade.
— Porque eu sou um demônio… — Disse a garota, em uma voz tão baixa que pareceu um sussurro.
— Demônio? — Eu murmurei, tudo que eu vejo é um coelho.
— Qual o seu nome? — Estava curioso para saber como era a família dela. Como era possível chamarem uma fofura dessa de demônio.
Minha conclusão é que eles devem ser um bando de cuzões.
— Eu não tenho… Ele só me chamava de demônio. — Ela respondeu, tremendo um pouco.
— Meu nome é Silver Crawford, a propósito, por que você está aqui pequena… — Parando no meio da frase, me dei conta de que ela não tinha um nome.
— Silv? Silv, você pode me dar um nome? — Ignorando completamente minha frase anterior, a garota me fez essa pergunta com os olhos emitindo algum brilho.
No meu mundo anterior, sempre que eu lia novels sobre os olhos de cachorrinho, eram algo que eu não acreditava. Mas parecia que eles eram reais, e a ideia de recusar desapareceu quando eu vi os olhos dela.
— Hm… Ok, então que tal… Usagi(coelho)? Não, isso não é bom… Já sei, que tal Akame(vermelho) Hana(flor)? — Pensando nos olhos vermelhos dela, essa foi a única ideia que me veio à mente.
— Sim! Hana! Akame Hana, eu sou Akame Hana! — Ela saltou e apontou para si enquanto orgulhosamente dizia isso.
‘Bem, pelo menos ela gostou’, pensando em quão fofa parecia, não pude deixar de sorrir.
Mas logo esse sorriso foi substituído por pura intenção assassina.
Como antes ela estava encolhida, não pude ver nada além do rosto dela. Mas, quando ela levantou, todos machucados no seu corpo apareceram.
Seus braços e pernas estavam cheios de marcas roxas. Seu corpo também parecia magro e frágil, como se não tivesse se alimentado direito por um bom tempo, sem falar nas suas roupas esfarrapadas.
— Silv? — Talvez ela tenha sentido algo, já que ela parou de adorar seu novo nome e começou a me olhar com alguma preocupação.
— Sigh… Você é a única que precisa de cuidados coelhinha… Espera um pouco aqui eu vou buscar algumas coisas.
— Não! Por favor, não me abandone…— Pela primeira vez desde que a encontrei, ela chorou. Mesmo com todos machucados ela não chorou nem reclamou, mas só a possibilidade da minha saída fez ela chorar… Só que tipo de vida ela viveu até agora?
— Eu não vou te abandonar, hmm… Certo! Presentes! Eu vou te trazer alguns presentes — Enquanto limpava as lágrimas dela, encontrei uma desculpa um tanto duvidosa.
Depois de conseguir acalmá-la, eu voltei rapidamente para casa.
Chegando lá, a primeira coisa que eu fiz foi procurar bandagens, ataduras ou algo do tipo. Mas tudo que eu encontrei foram curativos com estampa de coelhos.
‘Isso com certeza foi coisa da minha mãe’ pensei. Ignorando isso, peguei a caixa completa e me preparei para sair, foi quando me veio à memória daquela figura magra e suas roupas esfarrapadas.
As roupas da minha mãe não serviriam nela e ela provavelmente daria falta. Hesitando por um momento, abri meu guarda-roupa, peguei algumas roupas e guardei em uma mala pra ela.
Agora, a única coisa que faltava era a comida.
Na minha vida anterior, eu vivi por um tempo considerável sozinho e como consequência disso, me tornei um ótimo cozinheiro. Aproveitando que meus pais ainda não estavam aqui, eu fui para a cozinha e comecei meu trabalho, me focando em pratos que seriam bons mesmo frios já que ela não tinha como esquentá-los.
‘Embora isso não queira dizer que eu não faria mais para ela algum dia…’
Voltando ao parque, eu encontrei um coelhinho ansioso, olhando para todos os lados como se procurasse algo.
— Procurando alguém? — Sussurrei no ouvido do coelhinho, que pulou de susto antes de… Me abraçar?
— Silv! Silv! Você voltou! — Ela disse, enquanto apertava seu abraço, que nem era tão forte assim.
— Eu não te disse que voltaria? Hana não confia em mim?
— Mas… Mamãe também disse que voltaria… — Lágrimas caíram de seus olhos, enquanto baixava a cabeça.
Cara, só que tipo de pais são esses?
‘Primeiro chamam a filha de demônio e agora abandonam ela sem mais nem menos…’
— Tudo bem, tudo bem… já sei! Que tal a gente fazer uma promessa de dedinho? — Eu perguntei enquanto acalmava um coelho cabisbaixo.
— Sim! Vamos fazer isso! — Assentindo furiosamente, o coelhinho juntou seu mindinho com o meu.
— Promessa do dedo mindinho…Se eu estiver mentindo…terei que engolir 1000 agulhas…E cortarei meu dedo…
Com ambos falando ao mesmo tempo, selamos a nossa promessa.
‘Promessas japonesas são assustadoras…’
Foi meu último pensamento sobre isso.