A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 110
- Início
- A Ascensão do Dragão Prateado
- Vol.2 Capítulo 110 - Velocidade vs força: O raiju e o gigante
‘Acho que já é longe o suficiente’
Cessando seus passos, Freud pensou. A pausa não durou muito pois, no próximo instante, ele inclinou o corpo para a esquerda, evitando por um fio a larga espada atirada em sua direção.
‘Mas que…’
Para lançar uma arma deste porte com tanta velocidade o homem deveria ter uma força descomunal, mas, não foi isso que surpreendeu o jovem.
Enquanto ele pensava na distância que alcançou, o oponente se aproximou em um piscar de olhos, cravando o punho no estômago de Freud e atirando-o na árvore mais próxima.
‘Merda! Eu fui descuidado’
Colidindo com a árvore, ele agarrou a máscara com força, mantendo-a no lugar sem se preocupar tanto com a dor nas costas e estômago. Antes de alcançar o chão, o jovem apoiou os pés no tronco, disparando na direção do inimigo.
O homem respondeu balançando outra vez o punho, como se o avanço de Freud não fosse ameaça.
Em pleno ar, uma fagulha de eletricidade roxa percorreu o corpo do raiju, e ele subitamente performou um movimento acrobático, esquivando do soco do oponente e apoiando-se em seu braço para atingi-lo com um chute.
Dada a velocidade do ataque, o homem não pôde reagir e acabou recebendo o golpe diretamente na face.
— Você é rápido, mas muito fraco. — Imperturbado, o gigante comentou com indiferença, fazendo Freud ranger os dentes.
‘Se não fosse pela [Sobrecarga] eu não conseguiria esquivar do soco, e o que mais me irrita é que ele está certo’
Comparando seu próprio golpe com o do oponente, ele de fato era fraco, mas força não era tudo.
Alcançando o chão, o raiju se afastou rapidamente do inimigo, desativando sua habilidade e observando o homem com apreensão.
— Qual o problema? Para onde foi toda a confiança que você tinha para me desafiar? — Com o rosto meio coberto pelas sombras da floresta, o homem perguntou sorrindo largamente.
O jovem franziu debaixo da máscara mas não comentou, focado em encontrar uma abertura para atacar.
A luta seguiu com uma série de movimentos rápidos e esquivas, isso por parte de Freud, que avançou e recuou atacando o oponente de diversos ângulos e velocidades diferentes, porém, não importa quantos golpes se conectaram, o homem permaneceu imperturbado.
— Isso é tudo que você tem? — Houve uma rajada de ar quando outro soco atingiu o gigante, que pareceu não ter sentido.
De alguns momentos para cá, o homem esqueceu toda a raiva sentida pelo desafio, completamente entretido com os movimentos velozes e acrobáticos do oponente.
‘É como jogar aquele jogo de esmagar toupeiras!’
Enquanto o gigante se animava com a ideia do jogo, Freud respirou profundamente, buscando recuperar o fôlego que perdeu por não ter parado de se mover.
Ele encarou o inimigo com um misto de raiva e desespero. Não era sua primeira vez encontrando um desafio quase impossível, de fato, a disputa que tivera com Silver foi uma das muitas vezes que ele enfrentou alguém muito mais forte.
‘Talvez esse seja outro teste… Hahaha, quem eu estou enganando?’
Mesmo perdido em pensamentos, o raiju não esqueceu de se mover, ziguezagueando entre as árvores e atacando o gigante. Movendo-se agilmente, o jovem usou uma árvore de apoio para alcançar e atacar a nuca do gigante.
Surpreendentemente, o homem bloqueou o golpe, demonstrando uma enorme destreza que contrastava bastante com sua estatura.
— Te peguei, pequena toupeira. — O sorriso no rosto dele foi visto claramente por Freud, deixando o jovem ainda mais irritado.
‘Somos só nós dois aqui…’
Graças a sua raiva, o raiju repensou a ideia de não usar nenhuma de suas habilidades de assinatura. Fora o fato de já ter usado uma delas ‘discretamente’, com apenas a dupla presente no local, seria difícil sua presença aqui ser revelada.
‘Afinal, mortos não contam histórias…’
Novamente uma fagulha roxa foi criada, desta vez evocando raios roxos que cobriram completamente o inimigo.
O gigante abandonou o aperto no punho do jovem, e o sorriso em seu rosto desapareceu, muito para o deleite de Freud.
— Qual o problema grandalhão? Para onde foi toda a alegria de antes? — comentou sarcasticamente o raiju, feliz em não ser mais o único frustrado aqui.
‘Agora eu sei porque Silver gosta de irritar as pessoas antes de lutar, é tão satisfatório’
Vendo em primeira mão a face distorcida do oponente, o jovem entendeu completamente o que Silver sentia fazendo isso.
Logicamente seu oponente não compartilhou o ânimo de Freud, levantando seu punho antes de esmagá-lo no chão com força.
Boom!
O solo se partiu, levantando uma enorme quantidade de poeira e distorceu o terreno ao redor da dupla. Raios roxos cobriram o corpo do jovem, enquanto ele saltava de árvore em árvore deixando um rastro por onde passava.
‘A [Sobrecarga] não vai durar muito, estou correndo contra o tempo aqui’
Com os olhos semicerrados, Freud atacou o gigante, sendo bloqueado e recebendo um golpe no peito que o lançou novamente contra uma árvore.
O corpo do raiju se descontrolou em pleno ar e, enquanto ele conseguia o controle de novo, seu inimigo utilizou os escombros do solo como projéteis para atirá-los nele.
Deslizando no chão, o jovem se impulsionou na direção do gigante, esquivando habilidosamente dos destroços.
Embora tenha conseguido desviar dos projéteis, Freud ainda não saiu intacto. Seu corpo acumulou diversos cortes, fruto das tentativas dele de evitar os ataques do oponente.
A luta continuou, e o raiju estava visivelmente mais lento dada a necessidade de contornar o solo desregulado no local. Isso deixou sua situação ainda mais complicada, e sua visão incomodada pela poeira agravou este fato.
Por pura coincidência, o balançar das árvores causado pelos lançamentos do gigante fez com que a folha de uma árvore cruzasse o campo de visão de Freud.
‘Mas que p…’
O jovem foi impossibilitado de terminar seu pensamento pois um dos destroços atingiu seu peito, arrastando ele alguns metros atrás. Sem tempo para se recuperar, diversos outros projéteis avançaram em sua direção.
Sentindo o impacto dos destroços em seus braços, o raiju decidiu novamente usar suas habilidades.
No próximo momento, todos objetos que foram lançados contra ele foram partidos ao meio. Quando a poeira baixou, a figura de Freud coberta por uma máscara pôde ser vista segurando uma espada larga roxa escura com bordas negras.
Soltando o ar por seus lábios, o jovem apoiou a espada no seu ombro direito, baixando sua postura o máximo possível.
O farfalhar natural das folhas abriu uma leve brecha no dossel, permitindo a infiltração da luz solar que banhou a dupla. A clareza momentânea no local permitiu que ambos lutadores se olhassem nos olhos pela primeira vez desde o início da luta.
Pelos furos da máscara, foi possível ver os olhos roxos neon do raiju com raios atravessando suas pupilas. Em retorno, o jovem encarou os castanhos-escuros do gigante, fitando as intenções no fundo deles.
Esse momento não passou de segundos, porém, mesmo assim, a dupla sentiu algum entendimento mútuo.
O chão se partiu com a arrancada de Freud, deixando um rastro de raios por onde passou. Saltando na direção do oponente, o jovem balançou sua espada larga na vertical, buscando partir o gigante ao meio.
Um som alto soou, e o corpo do raiju se descontrolou em pleno ar. Seu inimigo havia atingido uma área sem corte da arma, desviando ela de seu rumo original e, dado o aperto que Freud manteve no cabo, seus membros também se moveram.
Em pleno ar, a expressão do jovem balançou um pouco. Pelo que entendeu sobre a personalidade do oponente, ele teria aceitado o golpe sem pestanejar apenas para mostrar que era forte, mas não foi isso que aconteceu.
‘Posso até ser impulsivo, mas não sou burro’
O gigante estava ciente de suas falhas, por isso ele usou o conselho de Matthew nesta ocasião. Seu parceiro havia lhe dito para tomar cuidado com [Contratantes] pois suas habilidades eram muito diversas e possivelmente perigosas.
Algumas poderiam causar sua morte apenas por um arranhão na pele, então era melhor evitar isso.
Tais pensamentos não atrapalharam o ritmo da luta, e Freud permitiu seu corpo girar, ganhando um impulso para o chute giratório que lançou contra o oponente.
Sua perna se encontrou com o punho criando uma onda de choque que espalhou as folhas das árvores e toda poeira ao redor da dupla.
Cruzando a espada, o raiju bloqueou um segundo soco do gigante, sendo empurrado novamente para longe do oponente.
Pousando em uma das árvores, os olhos do jovem escanearam o local pensando em seus próximos movimentos. Um brilho surgiu neles, olhando para um ponto do tronco.
‘Você gosta de atirar armas não é? Então vou te devolver’
Freud deixou seu corpo cair, alcançando a espada larga que o gigante havia lançado contra ele no início da luta. Agarrando a arma, o garoto entrou em uma postura de lançamento com apenas um braço, cobrindo a lâmina de raios antes de atirá-la.
O homem desviou tranquilamente, porém, em um lapso de julgamento, ele decidiu recuperar a arma no ar.
Quando seus dedos se enrolaram no cabo da arma, uma descarga de eletricidade percorreu seu corpo, congelando involuntariamente seus membros por um momento.
As pupilas do gigante se contraíram enquanto ele assistia seu braço ainda segurando a espada ‘cair’ de seu corpo. O tempo pareceu diminuir e uma sensação indescritível percorreu a mente do homem.
Seria raiva? Tristeza? Medo? Ele não tinha a resposta mas, todas essas sensações foram expressas na área em que tinha mais conhecimento: Violência.
Graças ao triunfo de seu ataque, os lábios de Freud se curvaram e ele estava prestes a soltar algum comentário sarcástico mas, todas palavras morreram em sua garganta quando o punho do oponente atingiu seu peito.
Diferente dos anteriores este golpe não visou empurrá-lo para longe, e sim esmagá-lo.
A silhueta do raiju foi marcada no chão com o impacto de seu corpo no solo mas, este não foi o último golpe que recebeu. Rachaduras se formaram ao redor do jovem, enquanto cada vez mais socos choviam em sua direção.
Crack!
A máscara de Freud se rachou no momento que um dos socos a atingiu, ferindo sua testa e o deixando atordoado.
O aperto dele sobre sua espada afrouxou, e o raiju escolheu abandoná-la para tentar se proteger dos ataques.
‘Alguma hora ele vai cansar’
Com seus braços e pernas posicionados em uma forma de bloqueio, o jovem pensou. A ideia, no entanto, morreu tão rápido quanto os golpes que recebeu.
Ele simplesmente não queria continuar apanhando, então Freud torceu o corpo para desviar de um soco, agarrando-se no braço do gigante como se sua vida dependesse disso, pois dependia.
Reforçando o aperto sobre o membro restante do inimigo, raios surgiram na mão do jovem e se espalharam por todo o corpo do homem.
O local ganhou um brilho roxo enquanto os raios serpenteavam intensamente através do gigante.
Lutando contra a dormência que atacou seus membros, o homem usou toda sua força para erguer seu oponente antes de esmagá-lo contra o chão.
— Urgh! — Mesmo com dor, Freud não abandonou seu aperto, apenas despejando todo seu [Poder espiritual] para finalizar o inimigo.
Como consequência desse esforço, a espada que ele havia convocado desapareceu e um cheiro forte de queimado tomou conta do local.
Uma grande quantidade de fumaça transbordou do corpo do gigante e ele sentiu um gosto de ferro misturado com brasas na ponta de sua língua. Mas tais coisas não o impediram de continuar martelando Freud contra o chão.
Sendo esmagado no solo outra vez, o raiju rangeu os dentes e enrijeceu suas costas para aguentar o impacto.
Porém ele nunca veio e, seguido por um som abafado, o corpo do homem atingiu o chão. Abandonando o aperto no braço do gigante, o jovem se levantou e respirou fundo antes de olhar para o seu oponente.
Um misto de emoções inundou sua mente. Nenhuma delas era remorso, apenas havia uma enorme frustração expressa em seu rosto. Talvez ele deveria estar feliz por ter vencido o inimigo, mas Freud estava se sentindo fraco neste momento.
Seu corpo ainda estava dolorido graças aos golpes que recebeu, pedaços de sua máscara despencaram um por um além do sangue que escorria pela sua testa. Todos esses fatores fizeram o jovem desacreditar de todo esforço colocado em seu treino desde quando começou a treinar para se tornar o guarda-costas de Lina.
Antes dele continuar com a reflexão, seus membros se tencionaram e ele instintivamente ergueu o braço para agarrar um objeto que foi atirado em sua direção.
— Já sabia que você iria apanhar, então trouxe uma reserva. — A voz calma e familiar de Silver aliviou a tensão de Freud, porém as sobrancelhas do jovem afundaram.
— Eu não apanhei. — Tirando a máscara despedaçada, o raiju limpou o sangue que escorreu de sua testa.
— Claro, se isso te faz dormir melhor. — Cruzando os braços, o dragão prateado se recostou em uma das árvores antes de continuar — Leve o tempo que quiser para se maquiar.
Ignorando o comentário, Freud inspirou profundamente e franziu ainda mais graças a isso. Ele esperava algum ar fresco estando em uma floresta, mas o jovem havia convenientemente esquecido o fato de ter fritado seu inimigo algum tempo atrás.
Um cheiro de carne queimada invadiu suas narinas, fazendo seu nariz se torcer em desgosto.
— Vamos nos encontrar com Hikari? — A voz do raiju ficou mais abafada ao colocar a máscara nova, enquanto ele olhava para Silver.
— Ela já teria voltado caso estivesse lidando apenas com os ‘parentes’ dela. A não ser que…
— A não ser que?
— Que Hikari tivesse ido atrás do primeiro atirador. — A kunoichi também tinha uma familiaridade com a pessoa que os atacou inicialmente, então ela poderia muito bem ter ido atrás dele.
Sem precisar adicionar mais nada, Silver se virou e caminhou mata adentro, sendo acompanhado por Freud.