A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 111
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- Vol.2 Capítulo 111 - Falha vs falha: Limites da carne
Branco.
Esta era cor predominante no local, desde o piso até o teto. A única exceção a isso foram as bordas no topo da parede, as quais tinham aberturas para a entrada de ar na sala.
O silêncio na sala foi quebrado por soluços constantes vindos do canto do quarto. Lá se encontrava uma figura diminuta, com os joelhos apoiados no peito e os braços enrolados sobre eles, como se estivesse buscando manter o controle sob o próprio corpo.
A criança vestia roupas planas e brancas, contrastando com seus cabelos curtos e vibrantes que englobaram gananciosamente todas as cores do arco-íris. Os olhos da garota estavam repletos de lágrimas e a leve abertura deles revelaram pupilas que também esbanjam uma multitude de cores.
Uma parte da parede se destacou de repente, forçando a criança a engolir o choro e manter suas expressões controladas. Na tentativa de limpar as lágrimas rapidamente, ela esfregou os olhos com as mangas da camisa e, graças a pressa do movimento, um grande desconforto se espalhou pela região.
— Acabou o tempo de descanso, 00098 — Uma voz ríspida e indiferente ressoou pelo quarto, repleta de indiferença à situação da garota.
Sem escolha, ela se levantou rapidamente e o som de seus pés descalços foi o último som presente na sala.
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Alguns momentos antes das lutas de Silver e Freud se desenrolarem, uma figura jazia a alguns quilômetros de distância, de pé sobre os galhos de uma das árvores.
O local escolhido pela figura era banhado pela luz do sol, permitindo uma clara vista de suas características. Seus cabelos eram castanhos e desarrumados, mostrando seu descuido com a aparência externa, fato reforçado pelo manto amarrotado que utilizava, o qual se estendeu até suas pernas.
Uma venda preta cobria seus olhos, adornada por padrões azuis escuros aparentemente aleatórios.
Meio ajoelhado, o jovem segurava um arco, o qual tinha as cordas ainda vibrando destacando um recente disparo. Porém, como um homem cego poderia utilizar este tipo de arma?
Hu Huuuu!
A resposta veio por meio do canto de uma coruja que pousou no ombro da figura, encarando ele com seus olhos preto piche atravessados por padrões azuis que lembravam aqueles presentes em sua venda.
Afrouxando a cobertura de seus olhos, o jovem esboçou um sorriso e retribuiu o olhar do animal revelando ter olhos idênticos aos da criatura.
— Bom trabalho garota! — Um leve sussurro ecoou no silêncio da floresta, o tom presente na voz era caloroso e acolhedor. Como se entendesse o que lhe foi dito, a coruja se esfregou afetuosamente contra o jovem, aumentando o sorriso presente em seu rosto.
— Ainda não se cansou de observar 00098? — O sorriso em seu rosto desapareceu, e o animal se desprendeu de seu ombro, levantando voo mas nunca se afastando de mais.
Ele ‘olhou’ para um galho próximo, onde um convidado surpresa se fez presente.
O sol banhou os cabelos do convidado, refletindo uma bela multitude de cores que repousavam em cada um de seus fios. Contrastando com a diversidade e calor presentes em seu cabelo, a jovem tinha uma expressão plana na face, na qual um breve franzido tomou forma.
— Eu… Me chamo Iris agora. — A irritação da garota levou o homem a sorrir sarcasticamente.
— Sério? Quanta criatividade. — Rindo levemente, ele continuou — Enfim, acho que eu não deveria ficar tão surpreso com sua presença aqui. Afinal, onde Silver estiver você também vai estar.
Novamente contrário a expressividade presente em suas pupilas, a jovem permaneceu em silêncio.
— Sabia que é irritante conversar com você? — Apertando a venda em seus olhos, o homem seguiu — Vai ficar aí me olhando o dia inteiro ou vamos lutar?
Nem mesmo um segundo se passou, e o arqueiro já havia saltado para longe do galho, disparando uma flecha no local em que estava anteriormente, onde a figura da jovem acabara de pousar.
O disparo atingiu apenas o ramo, separando-o da árvore. Correndo pelo tronco, Iris evitou as flechas seguintes e, logo após, usou como apoio para se impulsionar na direção do oponente.
Faíscas voaram quando as lâminas que surgiram nas mão da garota colidiram com os projéteis, iluminando levemente os arredores.
Uma cacofonia tomou conta da área enquanto a dupla atravessava a floresta em uma dança mortal. Durante um de seus saltos, um odor peculiar chamou a atenção do arqueiro.
Isso fez ele abandonar o ataque, cobrindo rapidamente o nariz e a boca enquanto recuava.
‘Ela não tá tentando me matar’
Esse pensamento era inquestionável. Pelo seu conhecimento, Iris tinha venenos indetectáveis e o fato dela não utilizá-los durante sua batalha já é explicação o suficiente.
— Não preciso da sua pena! — vociferou o homem, liberando uma voz abafada pelo manto.
Com isso, o arqueiro redobrou seus esforços, disparando flecha atrás de flecha contra a garota.
Os projéteis cravaram no tronco de uma das árvores, a qual Iris usou como cobertura para evitar os disparos.
Ela sabia que nunca alcançaria seu oponente se continuasse assim, então utilizou esta pausa momentânea para pensar.
Enquanto ponderava, seus olhos se encontraram com os da coruja. O olhar durou apenas alguns milésimos de segundos, mas a jovem já pôde prever o próximo movimento do arqueiro.
Agachando, Iris escutou o som de metal colidindo quando duas flechas se encontraram um pouco acima de sua posição, deixando claro que ela teria sido atingida caso permanecesse parada.
Os lábios da jovem se partiram soltando um sopro inicialmente comum mas, logo, o ar se comprimiu formando uma camada de névoa espessa que se espalhou pelo local. A neblina se espalhou rapidamente, privando o sentido mais importante do arqueiro: a visão.
Olhos.
Alguns acreditavam que eles eram a janela da alma enquanto para outros, era apenas um sentido essencial no dia a dia. Mas tal coisa teve um significado muito maior do que um simples conceito filosófico ou um órgão sensorial.
Eles representavam sua falha como existência.
Pousando no galho de uma das árvores, o homem refletiu por alguns instantes, antes de ranger os dentes. Afrouxando novamente a venda, seus olhos foram revelados outra vez.
Os padrões azuis presentes na totalidade de seus olhos brilharam levemente, fazendo suas sobrancelhas tremerem em desconforto. O sangue que fluiu pelos cantos dos olhos não impediram-no e, levando seus dedos para a linha do arco, ele voltou a disparar.
Utilizando a visão de uma terceira pessoa, poderia parecer que ele estava atirando ‘cegamente’, no entanto, o indício de faíscas brilhando dentre a neblina entregou que os projéteis estava alcançando o alvo.
— Não… Force seus limites! — Quebrando a imagem de indiferença mostrada até o momento, Iris levantou seu tom.
A jovem sabia que o arqueiro estava ultrapassando seus limites apenas para encontrá-la em meio a névoa, dado o fato que os disparos eram precisos então ela não poderia deixá-lo continuar.
— Então lute a sério — retrucou o homem, torcendo a flecha contra a linha do arco, dando um efeito perfurante maior à flecha.
Após dispará-la, ele seguiu com diversos disparos em direções diferentes que aparentavam ser aleatórios.
Do lado da garota, ela sentiu um distúrbio na cortina de fumaça que havia criado. Levando em consideração que a névoa foi formada pelo veneno presente em seu corpo, a habilidade também funcionou como uma segunda pele, permitindo-a sentir qualquer movimentação lá dentro.
Cruzando suas espadas, Iris bloqueou a primeira flecha, sendo empurrada um passo atrás pelo impacto. Após o sucesso do bloqueio, ela estava prestes a avançar quando seus sentidos avisaram sobre a chegada do segundo projétil.
Utilizando a lâmina de sua mão esquerda, a jovem defletiu a flecha e suas pupilas se contraíram, percebendo um segundo objeto o qual foi mascarado pela chegada do primeiro.
Foram segundos de diferença entre a entrada de ambos projéteis, apenas o suficiente para que Iris não conseguisse captar a segunda presença.
Isso mostrou o quanto o arqueiro conhecia a personalidade do oponente, sendo capaz de prever alguns de seus próximos movimentos.
O assovio da flecha invadiu os tímpanos da garota tendo se esquivado por um fio. No passo seguinte dela, a garota saltou para evitar um projétil que visou suas pernas e, ainda em pleno ar, ela manobrou seu corpo e desviou das demais flechas que visaram seus flancos.
Balançando uma das espadas em sua mão com força, a jovem perfurou o solo, parando sua movimentação completamente e, com o corpo ainda suspenso, Iris balançou a espada restante, bloqueando os projéteis que a alcançaram logo após.
Retornando ao solo, a jovem bloqueou outras flechas enquanto abria caminho para fora da neblina.
Essa decisão foi tomada por dois motivos. O primeiro foi porque a névoa já não está cumprindo seu objetivo que era atrapalhar os disparos do seu oponente. E o segundo foi:
‘Ele deve estar chegando ao limite’
Assim como ela própria, ele era uma falha. Isso fez ser impossível que o arqueiro utilizasse todo o potencial de suas habilidades e, mesmo ao utilizá-lo, o homem não seria capaz de aguentar tal uso por um período extenso de tempo.
Voltando ao lado do arqueiro, sua visão se borrou e lágrimas se formaram no canto de seus olhos, misturando-se ao sangue que escorreu há pouco. As sobrancelhas do homem afundaram em resposta, mas ele ainda sim ignorou isso, disparando algumas flechas.
Hu Huuuu!
Vendo Iris saindo da fumaça, o homem estava prestes a atacar novamente, mas o canto da coruja o impediu de fazê-lo.
Recuando, os dedos do arqueiro se moveram disparando várias flechas em sucessão. Logo o som agudo de metal colidindo soou e diversos objetos desconhecidos atingiram o chão, perdendo seu alvo inicial.
O dono dos projéteis surgiu em uma árvore oposta a ele. Era uma garota de cabelos pretos e olhos azul-gelo, segurando duas kunais em suas mãos.
O olhar do trio se encontrou por um momento, trazendo um silêncio estranho para o local.
— Na próxima vez, você não vai fugir tão facilmente. — Deixando essas palavras no ar, o homem deu as costas para as duas, ciente de que nenhuma delas o atacaria.
Iris pensou em segui-lo, mas logo desistiu da ideia, recuando na intenção de deixar o local. Porém a kunoichi tinha pensamentos diferentes, saltando em frente a jovem e a impedindo de continuar.
— Então… Quais são as novidades?