A Ascensão do Dragão Prateado - Vol. 2 Capítulo 114
- Início
- A Ascensão do Dragão Prateado
- Vol. 2 Capítulo 114 - Café Amargo: Mudança de planos
— Vejo vocês no banquete. — Deixando estas palavras no ar, Natsumi se retirou, agora deixando apenas o trio no local.
A conversa seguiu exatamente da forma que a mulher propôs. As perguntas foram simples, desde ‘como está indo a academia?’ e um ‘e os namoradinhos?’ todas direcionadas a Hikari, que não conseguiu esconder a vermelhidão em suas bochechas pela última pergunta.
Ela também mencionou que durante a viagem de volta ao vilarejo, ouviu falar da participação de Silver no torneio das academias dizendo que isso era como ‘usar um lança-foguetes para matar formigas’.
Não houve nenhuma menção a Freud, algo frustrante para o jovem mas , ainda sim, compreensível.
‘Isso é só pelo disfarce. Se não fosse por isso, ela com certeza trocaria algumas palavras comigo’
Enquanto o raiju se consolava, Silver se voltou para a kunoichi com um rosto sério.
— Vamos ter que mudar um pouco nosso plano. — Cruzando os braços, o jovem olhou profundamente para a porta.
— Tinha um plano? — Confusão tomou a face de Freud e, embora a mesma fosse escondida pela máscara, seu tom deixou claro.
O olhar que recebeu por ter feito essa pergunta fez ele se sentir estúpido, mas o garoto permaneceu em silêncio aguardando pela resposta. A sala permaneceu desta forma, com Silver se levantando e caminhando na direção da cozinha.
Os olhos do jovem acompanharam inconscientemente o jovem, fazendo seu olhar consequentemente passar pelo local onde estavam.
Não era muito grande, mas a predominância de madeira no lugar trouxe uma sensação de aconchego para a sala. As lâmpadas de papel iluminaram as paredes feitas do mesmo material, destacando padrões no formato de raposa presentes nelas.
Ao longo das paredes haviam pequenas estantes de livros presentes, junto a alguns pergaminhos cuja aparência amarelada comprovou a antiguidade deles.
Um pequeno muro de madeira esculpida separava a área de jantar da cozinha onde Silver começou a procurar dentre os armários.
— Onde está o café aqui? — Ele perguntou, sem deixar de pesquisar por aquilo que desejava na cozinha.
— Primeiro armário na parte inferior à esquerda.
Seguindo as orientações de Hikari, ele encontrou alguns grãos no armário. Ele perguntou por impulso, mas se lembrava fracamente dela ter dito anos atrás que não gostava de café e por isso não tinha em casa.
‘Talvez eu esteja me lembrando errado… Enfim, grãos não tem validade né?’
Eles não estiveram aqui por muito tempo, então era possível que alguns alimentos tenham passado da validade se ninguém mantivesse a casa organizada.
‘Se bem que eles tomaram o chá então…’
— Ah, qual era mesmo a pergunta? — Enquanto ele triturava os grãos, Silver questionou, mas não deu chance de Freud repetir — O plano inicial era causar algumas explosões, e então Hikari simularia um ataque com suas sombras.
Pegando um coador no armário, ele posicionou acima de uma xícara a qual tinha um dragão desenhado em linhas tortas, trazendo um sorriso ao rosto dele.
— O Yoru teria que agir para manter a organização entre os habitantes e, com ele fora do caminho, poderíamos caçar Mutsuri sem nenhum problema. — Despejando o pó de café no coador, ele ferveu uma jarra de água com suas chamas prateadas.
— Mas com a adição de Natsumi, as coisas mudaram. — Derramando a água no coador, o jovem observou com gosto o líquido encher até o topo, cobrindo todo o pó de café enquanto borbulhava.
— Ela é perigosa? — A mulher pareceu bastante legal, embora mal tenha dito uma palavra para ele, então Freud achou difícil acreditar que ela poderia causar algum problema.
Silver parou suas ações para olhar na direção do raiju. Hikari por outro lado não se incomodou em fazê-lo, deixando seus olhos travados no jovem de cabelos prateados.
— Todos combatentes nesse vilarejo são treinados em espionagem e infiltração. Resumindo, ela é perigosa o suficiente para te matar enquanto sorri. — Após uma pausa significativa, ele finalizou — De novo, sem ofensas Hikari.
Um sorriso subiu ao rosto da kunoichi enquanto olhava para ele, fazendo Silver ficar em silêncio.
— Ahem! Qual é o novo plano? — Interrompendo a situação, Freud perguntou.
‘Você me deve uma’ foi o que Silver entendeu pelos gestos que o raiju fez na sua direção, mas ele apenas deu de ombros.
— Se Yoru chamou Natsumi de volta, quer dizer que ele sabe o que estamos buscando. — Retirando o coador de cima da xícara, o jovem soprou o vapor que subiu ao ar antes de continuar — Por isso eu mesmo vou ter que segurá-los.
— Posso cuidar de alguns dos combatentes enquanto caço Mutsuri. — A voz da garota era gelada, e seus olhos se semicerraram enquanto dizia.
— Você e Iris vão ter que lidar com as buchas de canhão. Só para ciência, eu posso ou não ter matado alguns deles da última vez que estive aqui. — Tomando alguns goles do seu café, o jovem soprou um pouco de vapor — Mas são só uns 300 e poucos, nada muito grande.
‘Nada muito grande?!’
— Enfim, como foi a luta na floresta? — Antes de Freud expressar sua incredulidade, Silver mudou de assunto.
— Foi… Difícil. — Levantando a mão frente ao seu rosto, o jovem abriu e fechou múltiplas vezes — Eu consegui matá-lo apenas por conta da minha velocidade. Se alguns socos me atingissem, ele com certeza teria me matado.
— Não seja estúpido. Sua vantagem é a velocidade e isso deu certo. — Debruçando-se sobre o muro, o jovem olhou diretamente nos olhos de Freud. — Por isso eu sempre digo que você, Seiji e Mari são fracos.
— Pensei que fosse só para nos provocar… — O raiju levou a mão até o queixo.
— É porque vocês tentam morder mais do que podem engolir.
O trio tinha suas próprias especialidades mas, ainda assim, eles insistiam em copiar outras pessoas. Seiji copiava os heróis dos contos de fadas, o que se traduziu em uma quantidade grande de golpes brilhantes que faltavam em controle.
Recentemente, o projeto de herói havia copiado Silver durante uma de suas lutas no torneio.
Mari perseguiu inútilmente o ideal de um ‘espadachim’, algo que lentamente começou a corroer a mente dela, tornando esse ideal em uma grande obsessão.
— Vocês são fracos. Então se agarrem a cada gota de habilidade que têm e usem-nas ao máximo. — As pupilas do jovem brilharam brevemente em um tom prata — Talvez assim consigam me arranhar.
Hikari rolou os olhos para a demonstração arrogante de Silver, levantando-se da cadeira e caminhando na direção de um corredor ao lado da cozinha.
— Onde ela vai? — questionou Freud, encobrindo a frustração crescente em seu peito, cerrando seus punhos com força abaixo da mesa.
— Provavelmente dormir. — Ele não fazia ideia do que ela poderia estar pensando neste momento, e a falta de expressões no rosto dela não ajudava.
Um clima estranho tomou conta do local com a partida abrupta da kunoichi, deixando a dupla olhando um para o outro.
— Quer café? — Silver ofereceu.
— Eu não tomo isso.
E foi recusado imediatamente.
‘Mataria aceitar por educação?!’
❂❂❂
O rangido estridente da porta fez Hikari franzir levemente. Diferente da maioria das casas do vilarejo, a jovem escolheu ter portas de madeira ao invés das de papel.
‘E estou começando a me arrepender’
Jogando esse pensamento para o fundo de sua cabeça, ela observou o familiar, e ainda estranho quarto.
Não haviam decorações excessivas, apenas uma predominância de cores neutras tanto na parede quanto na cama. Se aproximando da escrivaninha, a kunoichi permitiu seus dedos correrem pelo objeto enquanto uma nostalgia a atingia.
Hmm, você acreditaria se eu dissesse que estava só passando?
A figura de um jovem de cabelos prateados e olhos dourados se formou nas proximidades da cama. Naquele dia, os cabelos prata estavam manchados de sangue, assim como suas roupas, mas ele sorriu para ela do mesmo jeito.
Sem hesitação, Hikari encostou sua kunai no pescoço de Silver, ação que ele replicou com sua shinai.
‘Talvez eu esteja louca por me lembrar deste tipo de coisa tão calorosamente’
Era uma possibilidade mas quem se importa? Esse mundo por si só nunca foi normal então seus habitantes também não seriam.
Deitando-se na cama, a kunoichi observou o teto em profunda contemplação.
‘Não consigo imaginar como seria minha vida sem Silver’
Fechando os olhos, a respiração da jovem ficou cada vez mais calma até ela finalmente entrar em um sono profundo.
❂❂❂
Água fluiu pacificamente dentro de uma pequena estrutura feita pelo homem. Pedras polidas formaram um círculo, com uma pequena torre presente no centro.
O gramado ao redor era úmido graças a falta de sol e, embora a sensação fosse estranha, Iris se sentiu estranhamente confortável com isso. Olhando para o lado, a jovem observou Nikkō cantarolar enquanto mexia com alguns galhos.
Um sorriso tomou o rosto da garota quando uma coroa se formou, e ela levantou orgulhosamente o objeto na direção de sua ‘companheira’.
— Acha que Hihi vai gostar? — Ela perguntou, com expectativa transbordando em seu tom.
— Acredito… Que sim. — Não foi da boca para fora, Iris considerou seus conhecimentos sobre Hikari antes de dizer.
— Sério?! Ah, você não quer fazer um para Silv? — A pequena kunoichi ofereceu, esticando sua mão com alguns galhos soltos.
Aceitando os galhos, a jovem olhou brevemente para a coroa criada por Nikkō antes de começar a trabalhar na sua. De repente, o corpo de Iris se tencionou e ela lutou contra a vontade de atacar, sabendo que havia apenas mais uma pessoa no lugar.
— Essa cor é natural? — Traçando seus dedos pelos cabelos multicoloridos de sua amiga, a garota expressou sua curiosidade.
— Sim… — Após um segundo de hesitação, a resposta veio.
Ela não havia nascido com os cabelos e olhos desta cor mas, após passar por todos aqueles experimentos, eles se tornaram parte dela.
— Posso pentear seu cabelo?
Recebendo um leve aceno, Nikkō começou a trabalhar entusiasticamente no penteado de Iris.
Uma brisa de vento soprou, permitindo que o dossel das árvores se abrisse o suficiente para permitir que o sol iluminasse brevemente o local. A miríade de cores presentes nos fios de cabelo da jovem trouxe um brilho gentil para a área, enquanto seus olhos fixos no movimento gentil de suas mão espalhou um sentimento de tranquilidade no lugar.
Atrás dela, uma jovem de cabelos pretos penteava os cabelos policromáticos de Iris, com seu rosto infantil demonstrando uma seriedade descomunal em sua tarefa.