A Ascensão do Dragão Prateado - Vol. 2 Capítulo 129
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- Vol. 2 Capítulo 129 - Entre pai e filho; Dragão e lua
— Gostei do cabelo. — A voz de Oliver, o pai de Silver, ecoou pelo corredor do hospital, sendo afogado pelo som de seus passos.
— Obrigado. — Deslizando os dedos através de seu cabelo, o jovem agradeceu o elogio. — Talvez se certas pessoas soubessem explicar que nem gente, ele não estivesse assim.
— Bem, alguém tem que aprender a deixar os outros terminarem de falar. — Dando de ombros, o homem virou à direita na próxima intersecção, dando de frente com uma sala bem maior que o leito de antes.
Ao cruzar as portas da cafeteria do hospital, a atmosfera pareceu mudar completamente. Diferente dos corredores, havia uma grande abundância de ruídos vindos das famílias e trabalhadores presentes no lugar.
As mesas eram de madeira polida, refletindo a luz das luminárias presentes em cada uma delas. Se aproximando de uma mesa vazia, a dupla se sentou nas cadeiras estofadas, reclinando-se suavemente.
— Quer alguma coisa? — Após um momento de silêncio, Oliver perguntou.
— Um café, por gentileza. — Silver levantou uma sobrancelha em suspeita, mas respondeu de qualquer forma.
Enquanto o homem se direcionava a um dos balcões nos quais havia alguns baristas presentes, o jovem de cabelos prateados observava os arredores.
Vitrines iluminavam os cantos do local, dispondo de diversos tipos diferentes de pães, bolos e sanduíches. Próximo a elas, haviam também máquinas automáticas com bebidas diversas.
Seus olhos repousaram brevemente em alguns quadros presentes nas paredes, os quais apresentavam paisagens abstratas e aleatórias convidando o observador a olhá-los de perto.
‘Sobre o que será que elas estão conversando?’
Esse pensamento atravessou a mente de Silver. Conhecendo sua mãe, ela deveria fazer algumas piadas estranhas antes de falar sobre sua infância.
Mas antes dele se aprofundar nisso, Oliver retornou à mesa.
Sem dizer nada, o homem posicionou um copo de café na frente do jovem, sentando-se do lado oposto.
— Então… Como vai a vida? — Oliver perguntou, dando sopros gentis no copo em sua mão.
Olhando diretamente na face de seu pai, Silver levantou uma sobrancelha.
‘Nem um pouco suspeito…’
A dupla não tinha nenhum problema entre si, apenas não eram do tipo de se abrir um com o outro e contar sobre os problemas que passaram.
Esse era o papel que sua mãe cumpria para ambos os lados. Sempre que eles conversavam, ela mencionava algo sobre seu pai e o mesmo acontecia com Oliver.
Alcançando o objeto, Silver levou o copo até seus lábios. — O de sempre.
Um silêncio dominou a mesa, e o homem apenas olhou para seu filho.
— Sigh, qual é o de sempre? — Percebendo que ele não iria elaborar, Oliver questionou.
— Alguns idiotas tentando arranhar um dragão e falhando miseravelmente, gerenciamento de território e etc. — Um sorriso de desdém surgiu no rosto dele enquanto dizia.
— Entendo. — E o homem realmente entendia.
Tendo feito parte do exercício, Oliver conhecia o modus operandi dos [Contratantes], afinal, é preciso conhecer os monstros para saber como lidar com eles.
— Agora que terminamos sua ‘preparação’, o que aconteceu? — Ajustando levemente a cadeira, Silver apoiou o cotovelo na mesa, colocando seu queixo sobre a palma e olhando diretamente nos olhos de seu pai.
— Sua mãe está grávida. — Sem mais delongas, o homem revelou.
Apatia. Foi isso que Oliver viu no rosto de seu filho, enquanto o mesmo piscava lentamente.
— Talvez eu esteja um pouco surdo. Consegue repetir? — O copo de plástico nas mãos do jovem foi levemente castigado pela pressão que foi colocada nele.
Percebendo que não era indiferença, e sim surpresa, um sorriso largo se formou no rosto do homem. — Sabe, quando um homem e uma mulher se amam, eles…
— Não ouse terminar essa frase. — Franzindo, Silver disse palavra por palavra.
Todo adulto sabe o que seus pais fizeram para eles nascerem, mas, nenhum em sã consciência queria saber detalhes sobre isso.
— Quanto tempo?
— A Drª disse que a aproximadamente duas semanas. — Oliver respondeu, tomando mais um gole de sua bebida.
— Menos mal, então ela não deve ter tantos problemas para se mover… — Assim que Silver disse isso, olhou para ele com confusão. — Então vai ficar mais fácil trazê-los para o meu território.
— Não. — O homem recusou imediatamente, e o tom direto dele não deixou espaço para discussão. — Isso não vai acontecer.
Deixando estas palavras, Oliver se levantou, saindo da cafeteria com passos levemente mais rápidos que o necessário.
Soprando seu copo de café, Silver foi atingido por uma onda de vapor e pelo aroma da bebida, enquanto sua expressão permanecia serena, como se a pequena explosão de seu pai não houvesse acontecido.
‘Infelizmente para você, pai… Nunca foi uma pergunta’
Retirando o [SC] de seu bolso, o jovem começou a organizar a mudança de seus pais.
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‘Será que eu seria um bom irmão?’
Um sopro de Silver criou uma onda de fumaça, que se entrelaçou com os ares puros da área, retornando ao nada pouco depois. Em seus dedos, um cigarro, com a ponta ainda fervente, um vício que ele não foi capaz de abandonar desde a morte de seu irmão e de sua irmã de consideração em sua vida passada.
Tal questionamento não veio por conta do objeto em suas mãos.
Essa questão nasceu por causa de todo sangue que ele derramou, desde quando criou um garoto por si só, o mesmo que o traiu sem pensar duas vezes e acabou morto pelas suas próprias mãos.
Olhando para cima, seus olhos foram agraciados com o brilho do sol em todo seu esplendor.
Fechando os olhos enquanto era banhado pelos raios solares, Silver deu um trago em seu cigarro, a sensação familiar de queimação atravessou sua garganta e, suspirando, o jovem colocou o questionamento inicial no fundo de sua mente.
E foi quando o som de passos leves alcançou suas orelhas.
Finalmente encontrando quem estava procurando, Moon soltou um suspiro, não apenas de alívio mas também pela cena diante de seus olhos.
Silver estava apoiado na parede, com seus cabelos prateados penteados para trás, dando um toque de selvageria enquanto o sol parecia querer destacá-los tanto quanto possível com seu brilho.
O jovem estava visivelmente mais relaxado e, em seus dedos havia algo que ela reconhecia, embora nunca tenha encostado em um em todas suas duas vidas.
‘Então Silver tem um lado delinquente…’
Era um pensamento estúpido considerando a forma que ele agia, mas, é como dizem, o amor cega as pessoas.
Sentindo sua chegada, o jovem se virou para ela e Moon esqueceu por um momento o que tinha vindo fazer.
Aqueles orbes dourados a olharam como se ela fosse a única coisa neste mundo e, quando finalmente se recompôs, a garota iniciou a conversa. — Finalmente te achei.
Abrindo um sorriso tímido, ela se aproximou ignorando o cheiro de cinzas do local.
— Hmm… Seu pai voltou para o quarto com uma expressão irritada, então o clima ficou meio estranho. — Para falar sinceramente, Moon não conhecia o homem. Mas o olhar de Argent disse que eles precisavam ficar sozinhos então ela se retirou.
Não houve uma resposta para este comentário, a jovem apenas escutou o som de um sopro enquanto se aproximava e recostava-se na mesma parede que Silver.
— A ‘mãe’ me disse que está grávida. — Sem ficar desencorajada com a falta de resposta, a garota seguiu.
— Mãe? — O jovem repetiu.
— Ah? F-foi ela que pediu para chamá-la assim. Mas eu posso parar se isso te deixa desconfortável — Tropeçando um pouco em suas palavras, a garota ofereceu.
— Nah, tudo bem. — Olhando para ela, Silver percebeu algo no cabelo dela, estendendo seus dedos para descobrir o que era.
Sentindo os dedos do jovem traçando pelos seus cabelos, Moon assistiu enquanto o rosto dele se aproximava, sentindo o seu próprio esquentar graças à proximidade. Com o coração martelando suas costelas, os olhos da jovem repousaram nos lábios do seu amor.
— Uma lua, huh? Bem adequado. — Um sorriso adornou a face de Silver enquanto ele recuava.
Levando uma mão até o peito para acalmar seu coração, a garota se sentiu levemente desapontada, mas ela enterrou esse sentimento.
— Sabe, você não conseguiu me responder da última vez… — Seus dedos escorregaram pelo local onde Silver havia tocado. — Qual seu tipo de mulher?
Olhando diretamente para Silver, ela esperou pacientemente pela resposta.
Embora o rubor em sua face ainda estivesse para desaparecer, Moon aparentava estar muito mais calma que antes, mesmo que sua mente não seguisse essa linha.
‘Boa! A pior parte já passou… Quer dizer, nem tanto assim’
Ainda havia a possibilidade dela não se encaixar em seus gostos, o que seria um real choque.
‘Não! Nada disso! Pensamentos positivos, Moon, pensamentos positivos’
Enquanto a jovem seguia com sua auto-hipnose, Silver começou a falar. — Como eu estava te dizendo naquele dia, não tenho um ‘tipo’ específico.
Pessoas bonitas não eram um artigo raro neste mundo. A razão para isso poderia ser separada em duas: A existência dos [Contratos] e o fato da novel ‘original’ ter sido criada como um harém.
Um [Contratante] tinha todo seu corpo reestruturado após o [Contrato], se tornando a melhor ‘casca’ para aguentar os poderes do espírito contratado. O que também os tornava bonitos como consequência.
‘Bem, pelo menos a maioria’
Existiam exemplos em onde o oposto aconteceu, porém foram casos muito específicos.
A segunda razão, ditava que todas as mulheres presentes na obra ‘original’ seriam, com toda a certeza, belas pelo simples fato de serem possíveis pretendentes do protagonista.
Mesmo sem considerar isso, Silver não iria decidir algo assim apenas usando como base a beleza da pessoa. Portanto, o que ele pesou para escolher um companheiro foi simples.
— Lealdade. Acho que esse é um fator essencial. — Pode parecer uma escolha idiota mas, para alguém que já foi traído algumas vezes, esta era uma parte importante.
‘Isso! Espera, talvez eu deva me preocupar…?’
Por mais que estivesse pulando de alegria internamente, Moon genuinamente se preocupou um pouco com ele. Querer um parceiro leal não era estranho, mas conhecer o histórico dele com a pessoa que criou como um filho mudava as coisas.
Enquanto a jovem suspirava em alívio, o silêncio retornou ao local.
Levando uma mão ao queixo, Moon considerou a sugestão de Argent. Após terem ficado sozinhas na sala, a garota deixou claro que gostava de Silver, embora não soubesse se o contrário era verdade.
Mesmo estando com pressa, Silv não traria você aqui sem ter nenhum pouco de confiança.
Então seja mais corajosa para ele entender seus sinais.
‘Coragem… Coragem!’
O sangue em suas veias parecia correr com mais força, fazendo a jovem senti-las pulsando em sincronia com seu coração. Enquanto esta sensação atravessava seu corpo, seus lábios se partiram.
— Então pode me colocar no topo da sua lista de pretendentes! — Apenas depois de dizer isso que a garota entendeu suas próprias palavras.
‘Foi coragem demais!’
Mas já era tarde demais para voltar atrás. Tentar se justificar agora faria Silver entender mal e, consequentemente, suas chances iriam desaparecer.
Por isso Moon apoiou suas palavras com uma face confiante.
‘Eu escutei errado?’
Olhando para a garota parada à sua frente com uma expressão séria, o jovem se perguntou.
‘Quer dizer, quem em sã consciência faria uma confissão tão esquisita?’
Depois de alguns segundos em silêncio, Silver entendeu que ela estava falando sério. Ao entender isso, o primeiro instinto dele foi recusar.
Afinal, quando decidiu viver como um maluco sedento por força, ele nunca imaginou que existiria alguém maluco o suficiente para amá-lo após vê-lo lutar.
O motivo da sua hesitação? De início, o jovem acreditou que isso poderia atrapalhar a aliança entre eles, mas esse pensamento desapareceu ao lembrar que o contrato já foi assinado.
Essa situação poderia, sim, atrapalhar o andamento da aliança mas, isso apenas aconteceria caso Moon fosse alguém extremamente emocional e nada profissional.
Deixando isso de lado, outra razão para Silver hesitar foi o fato dele não ter nenhuma experiência em namoros e, considerando as possibilidades, Moon não era uma escolha ruim.
‘Até agora ela me pareceu bastante capaz’
Ela tinha a capacidade para gerenciar um clã, então inteligência não era um problema. Já em relação à força, o jovem não poderia medir por nunca tê-la visto lutando, mas não deveria ser ruim graças aos recursos que a família dela poderia prover.
Durante seus pensamentos, as sobrancelhas de Silver franziram e relaxaram múltiplas vezes, deixando Moon ansiosa pela resposta dele.
‘Não parece uma ideia ruim…’
— Boa sorte. — No fim, ele não aceitou e nem recusou. A forma com que disse isso, o fez se achar um idiota.
Por outro lado, a jovem sorriu de forma radiante, segurando ambas mãos atrás das costas enquanto se curvava na direção dele. — Desafio aceito!
Poderia ser uma ilusão de ótica, mas Moon poderia jurar que os olhos dourados de Silver ganharam um brilho ainda maior. A imagem de seu amado a olhando com um leve sorriso no rosto era algo que ela desejava durar para sempre, porém, outras pessoas tinham planos diferentes.
De repente, o duo sentiu um arrepio bastante familiar.
‘Intenção de matar!’
Esse pensamento atravessou suas mentes e, instintivamente, os olhos de Moon adotaram um brilho azul.
Bang! Bang! Bang!
O som de disparos consecutivos ressoou no local, mas nenhum dos projéteis alcançou a dupla.
Olhando para o chão, Silver encontrou as balas cravadas no concreto, com algumas rachaduras se espalhando no ponto de impacto. Sem sequer olhar para o lado, ele sabia que era um feito de Moon.
Ignorando momentaneamente a direção de onde os projéteis vieram, voltando-se na direção da garota. — Consegue dar uma olhada nos meus pais por mim?
Assentindo rapidamente, a jovem começou a correr para o hospital em uma velocidade vertiginosa.
Assistindo enquanto as costas da garota desapareciam na construção, Silver deu um trago profundo no cigarro em suas, liberando novamente uma onda de fumaça aguardando o movimento dos inimigos.
Após alguns segundos de silêncio, os olhos do jovem se afiaram, embora sua expressão fosse despreocupada. — Estão esperando por um convite?
Bang! Bang! Bang!
E essa pergunta foi respondida por uma nova série de disparos.