A Ascensão do Dragão Prateado - Vol. 2 Capítulo 137

O brilho dourado do sol recaiu sobre uma área repleta de verde. O ‘abraço’ do astro rei trouxe um verde ainda mais intenso às plantas, criando um ambiente caloroso e belo.

Embora o local fosse plano, a alguns metros de lá diversas árvores o rodearam, formando uma clareira natural.

O som sutil das folhas farfalhando atravessou a paisagem e, mesmo a ausência do cantar dos pássaros não diminuiu a beleza do lugar. O ar carregava um frescor úmido, impregnado com o aroma terroso da floresta e o doce perfume das flores silvestres escondidas entre as árvores.

‘Se eu não soubesse melhor, com certeza acreditaria que isso é real’

O tom esmeralda da grama foi refletido pelos olhos dourados de Silver enquanto ele pensava. No centro da clareira, ele e os outros seis integrantes do seu time tinham este como seu ponto de partida para esta fase do torneio.

— Bem, como vamos fazer? — Mia perguntou, enrolando seus cabelos vermelhos com os dedos.

Eles nunca tiveram a chance de decidir como iriam se organizar nesta fase, afinal, alguns deles brigaram por toda a duração da reunião. Como agora havia um objetivo em comum, talvez o grupo não criasse um novo conflito.

— Não é muito complicado, é? Vamos procurar outro grupo e derrotá-los. — Apertando a espada em suas mãos, Seiji respondeu enquanto sorria.

— Fácil, huh? Realmente pareceu assim quando vimos você lutar na última fase. — Rolando os olhos, Freud voltou sua atenção para Silver e ignorando as reclamações de Seiji.

O jovem em questão apenas levantou uma de suas mãos, antes do céu se encher de um brilho prateado. Logo, as labaredas prateadas das chamas flutuam brevemente acima da palma do garoto, sendo a única prova do que ocorreu.

— Que merda foi essa?! — O vaga-lume questionou, voltando-se para o dragão prateado com raiva. — Você acabou de colocar um alvo nas nossas costas!

— É só sair se quiser. — Devolvendo um olhar indiferente para Seiji, Silver se inclinou, pretendendo sentar-se e aguardar seus inimigos chegarem.

‘Com isso, no mínimo Shōri e Shizukana vão vir até aqui’

Ele estava apenas sendo preguiçoso, não seria difícil sair atrás dos seus inimigos, e em outro momento o jovem realmente teria o feito. Mas hoje lhe faltou paciência para isso, portanto, foi muito mais simples fazê-los virem até ele.

Enquanto seu corpo descia, uma grande quantidade de raízes surgiu abaixo de si. As plantas se entrelaçaram de uma forma antinatural e formaram um trono logo antes dele alcançar o chão. 

Apoiando os braços no descanso do trono, o qual tinha o formato de cabeças de dragão, Silver levantou uma sobrancelha e olhou para Lina estranhamente. A razão deste olhar foi porque foi ela quem criou o objeto com seu elemento.

— O que foi?… Só parecia certo. — Sentindo o olhar, não só de Silver, como do restante do grupo, a garota comentou cruzando os braços.

‘Será que eu consigo fazer um desse?’

Mia pensou. De certa forma ela poderia, porém, isso levaria muito esforço e exigia um controle muito maior do seu elemento. Não só ela teria que esquentar a terra o suficiente para torná-la lava, bem como moldá-la e dar um jeito de resfriá-la para se manter de pé.

‘É melhor só ficar de pé’

Moon olhou para Lina com suspeita, ela pensou em sentar no braço do trono mas não parecia muito confortável. 

Mari não reagiu muito à situação, apenas abraçando sua katana com força e focando em seus futuros inimigos.

— Não é ruim. — Colocando a mão sob o queixo, Silver comentou, olhando para a druída com apreciação.

O silêncio da clareira foi interrompido pelo farfalhar mais agitado das árvores ao redor. Os olhos dourados do jovem focaram-se, enquanto uma figura disparou na direção deles. 

De início, o inimigo parecia indistinguível, porém, ao se aproximar ficou claro quem era ele.

A visão dos cabelos pretos e expressão indiferente, fez os olhos de Mari se semicerrarem. Dobrando os joelhos, a espadachim inclinou o corpo antes de disparar na direção do jovem. 

— Agora, isso é interessante. — Observando o duo cada vez mais próximos de colidir, Silver comentou.

O recém chegado era Kaen, a mesma pessoa que absolutamente destruiu Mari durante a última fase do torneio. Mesmo com o auxílio de outras duas pessoas, a garota não foi capaz de derrotá-lo e acabou sucumbindo aos ferimentos.

— Esse merda! — Seiji estava prestes a avançar também, lembrando que o jovem de cabelos pretos contribuiu para  sua ‘derrota’ na última fase. Porém ele foi impedido pelo braço de Freud.

— Quer mesmo interromper a ‘vingança’ dela? — Não que o raiju se importasse muito com Mari, mas seu senso de honra dizia que isso era necessário.

Essas palavras impediram completamente o vaga-lume, que mesmo rangendo os dentes não fez novos movimentos para avançar.

No centro da clareira, a espadachim olhou diretamente nos olhos de Kaen enquanto seus dedos se enrolaram no cabo de sua espada. Um ruído afiado soou o desembainhar a lâmina. — Você se lembra de mim?! 

Os músculos da garota se tencionaram e ela moveu o braço direito, fazendo um corte horizontal que buscou partir seu oponente ao meio.

O ar se partiu com o movimento da espada, e foi neste momento que a expressão do garoto mudou. A face indiferente que ele exibia desapareceu, dando a luz a um brilho maníaco em seus olhos. 

— Reconstruir, reconstruir… — murmurando estas palavras de uma forma obcecada, o jovem dobrou os joelhos, rolando no chão para evitar completamente o ataque.

Deslizando os pés sobre o solo, a espadachim retirou alguns pedaços do solo antes de finalmente parar. Torcendo o corpo, ela rotacionou o corpo em um 360, no entanto, o golpe que seguiu atingiu apenas o vazio.

A razão para isso foi simples. Após esquivar do primeiro ataque, Kaen não parou para enfrentá-la, e sim continuou correndo na direção do grupo.

Mari piscou múltiplas vezes em confusão, durante a última fase o jovem não teve escrúpulos ou medo de qualquer batalha, então ele escapar desta forma bagunçou sua mente.

‘Por que ele está fugindo? Será que… está com medo?’

Mas a garota havia superestimado seu entendimento do inimigo. O jovem não continuou correndo para fugir dela, e sim porque…

— Silver! — O grito de Kaen atravessou a clareira, alcançando o grupo ao longe enquanto limpava completamente as dúvidas na mente de Mari.

Inclinando o corpo um pouco no trono, o jovem de cabelos prateados sorriu brevemente. — Interessante.

Enquanto Silver se levantava, o grupo ao seu redor teve reações mistas. 

Seiji tinha uma expressão levemente confusa, antes de certa irritação tomar conta. Ao seu ver, Kaen desrespeitou Mari com essa ação, além de insultá-lo também.

‘Por que ir atrás de Silver, eu estou aqui também!’

Freud olhou para o vaga-lume com desdém. Ele não poderia culpar o inimigo por escolher Silver, afinal, entre o dragão prateado e Seiji, o raiju escolheria o primeiro sem dúvida alguma.

Os olhos esmeralda de Lina demonstraram algum interesse, mas sua expressão caiu ao ver Mia dando passos cautelosos em direção ao trono que ela criou. 

Com um mover da sua palma, espinhos afiados se formaram na base e no encosto do objeto tornando-o, embora não uma armadilha mortal, um lugar bem desconfortável de se estar.

— Tch! — Estalando a língua, a ruiva virou o rosto sem dizer nada.

Moon, por sua vez, tinha sua atenção voltada para Mari. A espadachim permaneceu parada no mesmo ponto onde o primeiro ‘embate’ ocorreu, notando um leve tremor em seus punhos. Banhada pela luz do sol, as olheiras da garota foram fortemente destacadas e sua expressão estava congelada, como se a ficha não tivesse caído ainda.

Embora a dupla tivesse entrado em um breve conflito durante a reunião de ontem, a matriarca não guardava rancor algum da garota. Ao seu ver, ela apenas devolveu o insulto que recebeu, e faria o mesmo se fosse em um combate físico.

‘As mãos dela estão tremendo… Deprimente’

A este ponto, Silver já estava de pé. Seus lábios se esticaram em um leve sorriso e os olhos dele mantiveram-se semicerrados e, ao dobrar levemente os joelhos, sua figura desapareceu empurrando uma leve rajada de ar na direção do grupo.

[Modo lobo Primeira forma – Arrancada]

No meio da corrida, Kaen viu seu inimigo desaparecer e um leve arrepio percorreu sua espinha. Inclinando o rosto, o jovem sentiu uma grande ardência no lado esquerdo de sua bochecha.

Três cortes surgiram na face do garoto, se assemelhando grandemente a marcas de garras. Indiferente a isso, ele deslizou a perna para frente, diminuindo bruscamente o impulso da sua corrida.

Levantando o braço esquerdo, Kaen balançou o cotovelo com força na direção do oponente que surgiu ao seu lado.

Silver levantou uma sobrancelha ao sentir seu braço tremer levemente após impedir o golpe com sua palma. Porém, ignorando isso, ele atirou um soco na costela do oponente.

‘Reconstruir, reconstruir…’

A expressão do garoto se distorceu estranhamente e Kaen curvou levemente o corpo, respirando fundo para receber todo o impacto do golpe com um grunhido de dor. Imobilizando o punho que se conectou com seu torso, o jovem torceu o corpo tentando atingir o queixo do oponente com um gancho.

Olhando para a face distorcida de seu inimigo, puxou o braço que estava preso abruptamente, quebrando o equilíbrio do lutador.

Erguendo o braço livre, o dragão prateado baixou o punho na direção do rosto de Kaen. Os olhos dourados de Silver se encontraram com os obscuros de seu oponente e, em uma fração de segundo, o último tomou uma decisão.

Abandonando o aperto no braço do inimigo, o jovem de cabelos pretos cruzou os antebraços para receber o soco. 

Graças à postura quebrada, o impacto levou ele ao chão enquanto seus braços vibravam em dor. Rolando para se levantar, sua atenção firmou-se em Silver, mantendo o contato visual sem vacilar.

— Quantas vezes você se reconstruiu? — A voz do garoto parecia forçada, mas suas palavras saíram sem pausas.

— Que tipo de pergunta é essa? — Era uma questão estranha, de fato, mas Silver ainda levou a sério. — Umas… Três vezes?

A primeira foi durante sua vida passada, quando seu irmão e Selena foram mortos. Daquele momento em diante ele se tornou uma pessoa completamente diferente. 

A segunda aconteceu quando ele acordou no corpo de Silver Crawford. Por último, a terceira vez aconteceu no dia em que se tornou um [Contratante] e seu corpo foi literalmente reconstruído para se tornar mais forte e aguentar os poderes de Fenris.

Kaen não respondeu ao comentário, mas seus olhos encararam Silver com ainda mais intensidade que antes.

O ar antes tranquilo da clareira pareceu pesar ao redor da dupla, e após uma leve brisa atravessar o local, ambos avançaram novamente, reiniciando a batalha.