A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 42
Em uma sala de treinamento simples, haviam duas pessoas.
O mais velho, não vestia nada além das calças largas e uma luva sem dedos.
Os músculos no seu corpo eram a prova de todo o tempo investido no treinamento, e a falta das cicatrizes demonstrava algo próximo a invencibilidade durante as lutas.
De frente para ele estava um garoto, visivelmente mais novo que o último.
Usando roupas voltadas ao treinamento bastante apertadas, dando visão a sua aparência magra, beirando a desnutrição.
O lugar, por sua vez, era um ginásio básico, com algumas máquinas e pesos espalhados e um ringue de boxe centralizado no local.
Ambas pessoas paradas na arena se olharam. Eles poderiam ser considerados iguais, quando ignorado o contraste entre as cores de cabelo e olhos.
Subitamente, o jovem lançou um jab contra a criança.
Sendo capaz de escutar o ‘som’ das intenções do seu oponente, a criança desviou com facilidade.
Pouco esperava ela que uma perna viesse em direção ao seu rosto o acertando em cheio.
Mesmo durante a iminente chegada do golpe, o garoto não fechou os olhos. Observando cada segundo de tal aproximação.
Rolando no chão, sangue escorreu dos seus lábios, agora cortados.
— Você confia demais na sua audição. Use essas coisas que chama de olhos — Embora dando conselhos, o mais velho não foi gentil e muito menos desfez a postura.
Este jovem era Silver.
Alguns dias atrás, ele tomou a decisão de treinar pessoalmente Hibiki e Lina, porém o último já tinha uma base sobre seu estilo de luta.
Por isso, o dragão prateado deu a ela um regime de treinamento para completar.
Quanto ao garotinho que veio junto do grupo, nunca teve nenhum treino especializado.
Portanto, o próprio encarregou-se disso, moldando a forma de seu ‘discípulo’ para se encaixar em batalhas reais.
Claro, seus punhos eram bastante pesados, mas ele se importava com isso?
Obviamente não.
A melhor forma de aprender era durante uma luta, ou assim aprendeu Silver.
— Grrr, como você é capaz de apagar seu som? — Grunhiu Hibiki.
O garoto não podia entender como ele fazia isso.
Durante todos os anos que aprendeu a escutar tais ‘sons’ foi difícil cometer um erro ou algum deles ser omitido de si.
Contrariando este fato, o dragão prateado fez isso diversas vezes no curto período de tempo que ele passou aqui.
— Eu seria estúpido se não soubesse — Respondeu o jovem.
Silver aprendeu com Hikari sobre assassinato, sendo um dos básicos reduzir até apagar completamente o som produzido pelos movimentos e passos.
— E porque colocar tanta força nos golpes? — Continuou a perguntar, se sentindo injustiçado.
— Sem piedade — Foi a resposta que ele conseguiu.
A sessão de treinamento durou por mais duas horas até o dragão prateado decidir ir checar Lina.
Deixando um Hibiki beirando a morte para trás, o jovem saiu sem olhar novamente.
O garoto tinha que admitir ter se arrependido um pouco da sua estadia aqui.
Mas logo isso passou e ele escolheu fechar os olhos por um momento.
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Se aproximando da sala, Silver voltou a pensar sobre os dias anteriores, onde a dríade ficou encarregada dos documentos.
Isso daria a garota mais experiência lidando com este tipo de coisa, algo que seria comum quando assumisse sua família.
Havia também a possibilidade de repassar tal função para outra pessoa, porém isto era o ápice da estupidez.
Tendo o mesmo sentido de colocar todos seus bens nas mãos de outro.
Por pura gentileza, ela decidiu, num desses dias, encobrir o erro de um dos seus administradores.
Como consequência disso, recebeu treinamento triplicado. Neste dia ela descobriu que Silver não era nada piedoso.
Além de não ter conseguido nenhum agradecimento pelo feito.
Deixando isso de lado, ele entrou no escritório encontrando uma Lina furiosa encarando os papéis da mesa.
— Algum problema?
Escutando o som da porta e a voz, a garota voltou seus olhos ao recurso.
Vale mencionar que o dragão prateado não se deu ao trabalho de vestir uma camisa após o treino, somente apoiando o mesmo haori desta vez aberto, nos ombros.
Assim, os olhos da garota vagaram por onde certamente não deveriam.
— Senhorita Woods, meus olhos estão aqui em cima — Disse o jovem com um tom debochado.
Vendo o rosto de Lina ficar tão vermelho quanto o cabelo de Mia, Silver decidiu deixar para lá.
— Então, o que está acontecendo? — Perguntou ele encarando os papéis.
E logo, conseguiu uma resposta que só adicionou problemas sobre suas dores de cabeça.
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Enquanto o dragão prateado ganhava mais dores de cabeça, Seiji estava sofrendo com sua insônia.
O garoto já nem se lembrava quando foi a última vez que dormiu.
A pior parte de todo esse processo, foram os sonos interrompidos.
Nunca havia sossego para ele desde quando entrou nesse buraco, onde cada dia mais poeira se acumulava e objetos desconhecidos pareciam surgir de lugar algum.
Agora mesmo, sentado em uma cadeira, o jovem [Contratante] lutava contra a vontade de dormir.
Subitamente um homem aproximou-se dele. Este homem tinha cabelos bem penteados com gel adicionado.
No geral, podia ser descrito como não incrivelmente bonito, porém arrumado e limpo.
Vendo a aproximação de tal pessoa, os músculos do jovem ficaram tensos, se preparando para o assédio seguinte.
Sim, era Settō.
Seiji já estava acostumado à mudança do seu ‘professor’. Isso passou a ser uma ocorrência comum.
Quando o homem ficava bem arrumado assim, queria dizer que era dia de ‘patrulha’ como apelidou.
Nestes dias, ele usualmente trazia algo novo para adicionar à coleção das tranqueiras na sala.
— Pode relaxar, aconteceu uma coisa importante hoje então, você está liberado — Disse Settō com seriedade — A não ser que… queira continuar comigo~ — Terminou debochado.
Sem pensar duas vezes, o jovem fugiu da sala.
— Meu discípulo me odeia, hic hic — O homem chorou lágrimas de crocodilo.
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Enquanto Seiji escapava de seu próprio inferno pessoal, Freud estava tendo uma reunião de despedida.
Estranhamente, essa ‘festa’ acontecia de forma peculiar.
Ao invés dos abraços e apertos de mão. O jovem raiju teve que lutar com cada membro.
De uma forma gentil, sua aparência poderia ser descrita como desarrumada.
Roupas rasgadas e cortes por todo corpo. Fora isso, havia sangue escorrendo próximo ao seu olho, consequentemente nublando sua visão.
Mesmo com todos ferimentos, o sorriso não saiu do rosto de Freud.
Se esquivando de outro soco, ele recebeu um chute no estômago que retirou seus pés do chão, o mandando rolando pela sala.
Vomitando sangue, o jovem se levantou ignorando a tremedeira de suas pernas.
— Certo, já chega! Temos que deixar nosso pequeno ômega apresentável para o boss — Leon ordenou, com um sorriso que deixava suas presas à mostra.
Houve uma onda de reclamações durante a primeira parte, mas logo se calou quando Silver foi mencionado.
— Agradeça ao chefe por te tirar dessa, agora desaparece — O responsável pelos golpes disse enquanto dava leves tapas em seu ombro.
Isso fez Freud franzir, por conta das dores causadas pelas feridas. Mas em seguida, acompanhou o lobo para fora da sala.
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Enquanto se trocava e limpava as feridas, o jovem ômega pensou sobre os dias que passou aqui.
No início, ele trabalhou como um entregador. Indo de um lado para o outro buscando enviar mensagens e coisas do tipo.
Lá encontrou alguém numa situação semelhante, seu nome era Ray.
Inicialmente, acreditou ter sido colocado neste tipo de serviço graças à falta de confiança na sua pessoa.
Mas isso veio a mudar após saber que Silver estava pagando os remédios e estudos da irmã mais nova de Ray.
Se não era falta de confiança, por que o seu companheiro ainda fazia este trabalho?
Logo, descobriu a razão.
Ele fazia o quádruplo do que Freud conseguia fazer por dia.
Em função de seu próprio orgulho, o raiju não poderia deixar ninguém trabalhar mais duro que ele.
Afinal, o mesmo foi treinado pela família Woods e não veio da nobreza.
Durante sua vida, o jovem teve que treinar e estudar mais do que qualquer um para ser digno de proteger Lina.
A filha daquele quem o tirou da rua, dando uma vida melhor a ele.
Portanto, dobrou seu esforço nas suas tarefas, sendo promovido rapidamente e lidando com serviços mais importantes da gangue.
Terminando de se arrumar, saiu do quarto encontrando Leon o esperando.
— A princesa terminou a maquiagem? Se sim, temos um encontro muito interessante para participar… — Disse o lobo, com um sorriso que deixava suas presas à mostra.
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Num quarto, um homem e uma garota tomavam chá tranquilamente.
A garota tinha cabelos pretos amarrados em um rabo de cavalo, com uma espada apoiada sob suas coxas.
Essa era Mari, após dias treinando ela veio a melhorar, embora não estivesse perfeita.
Seu controle sobre a lâmina aumentou e finalmente poderia ficar calma durante a batalha.
Honda estava orgulhoso, foi uma dura luta afinar a esgrima da jovem.
Ela chegou a reclamar de cada coisa dita, algo que deixou até mesmo ele, quem era conhecido pela calma, irritado.
Mas ordens eram ordens.
Silver fez um pedido, portanto ele deu o seu melhor para cumpri-lo.
Hoje finalmente chegou o dia de mandá-la embora e retornar a calmaria usual.
Aparentemente houveram assuntos complicados na gangue e o chefe não queria deixar os idiotas que vieram sozinhos.
Os problemas do grupo sempre deixavam ele em cima do muro.
Por um lado, Honda decidiu baixar a lâmina e se aposentar muitos anos atrás. Mas por outro, Silver, o primeiro homem a derrotá-lo sendo o único a quem ofereceu sua subserviência talvez precisasse de ajuda.
Se seus inimigos soubessem que Honda Tadakatsu ‘o guerreiro que superou a própria morte’ foi derrotado, rolariam em seus túmulos além de desdenharem de si por tal dilema.
Neste quesito Settō, seu velho amigo deveria estar na mesma situação.
Chacoalhando a cabeça, decidiu deixar para lá.
Se o dragão prateado precisasse dele, ele o chamaria.
— Você já pode ir, não deixe o chefe esperando.
O espadachim disse, se levantando e caminhando em direção ao lago.
Mari não disse nada, simplesmente se curvando profundamente para o homem que a ensinou por esses dias, antes de sair da sala.