A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 44
Entre as fronteiras do território de Midgard, em um ponto desconhecido para muitos havia uma sala.
Sem nenhuma decoração extravagante e com apenas uma mesa redonda, na qual diversas pessoas jaziam de pé sob cadeiras caídas.
Estes prontamente preparados, esperando pela possível luta seguinte. Todos encarando o buraco recém aberto, que ainda produzia ruídos por suas rachaduras.
Das ruínas, surgiram cinco pessoas.
O primeiro tinha olhos vermelho-rubro e cicatriz na sobrancelha. Coberto em roupas de peles ele sorriu, olhando diretamente para Silver.
— Fenris, finalmente te encontrei — Seu tom era caloroso, como se reencontrando um velho amigo
Caminhando de forma confiante, não parecia ter problema algum com a desvantagem numérica que estava.
Seguindo logo após esse, havia um homem. Mais alto que o anterior e com múltiplas cicatrizes no rosto, seu olho direito já estava completamente danificado além do reparo.
Ele hesitou levemente quando em frente dos seus ex-companheiros.
— Raymond… O que caralhos você tá fazendo aqui!? — Os olhos de Silver se tornaram assustadoramente vazios encarando o homem.
Todos os membros da gangue tinham uma expressão semelhante, completamente furiosos com a visão de tal pessoa. O mesmo se encolheu ao receber esses olhares de puro ódio, que uma vez foram gentis.
Ao lado deste, estava alguém de cabelos castanhos exageradamente longos, chegando próximos dos seus pés e que cobriam o rosto.
— Ehhhh, o grande urso está assustado~? Não acha, Death? — Ridículo estava pingando de seu tom.
O quarto era incrivelmente pálido, com olhos redondos e esbugalhados vestindo um manto preto.
— … —
A atmosfera estava meio sombria ao redor deste, sendo incômodo olhar para ele por muito tempo.
Por último, um homem sem cabelos que olhava para o vazio ignorando todos ao redor.
— Eu não te ensinei mau Raymond — O dragão prateado começou
— Então de duas uma, ou você tem muita confiança neles ou quem sabe seu medo de mim diminuiu.
Afirmou o jovem enquanto se aproximava de seu ex-subordinado. Impedindo ele de continuar seu caminho, o homem de olhos vermelho-rubro pisou em sua frente.
— Precisa de algo? — Perguntou, levantando a sobrancelha duvidosamente.
— Nada demais, só a sua cabeça. Acordo? — Disse com um sorriso.
Essas palavras desencadearam a fúria dos subordinados de Silver, que quase partiram para a matança diretamente.
Isso teria certamente acontecido se o jovem não levantasse a mão, indicando estar tudo bem.
— Eu te admiro cara, realmente — O dragão prateado falou tranquilamente.
Era verdade, entrar na base inimiga com tampouco apoio, quem sabe talvez eles fossem fortes. Mas ainda sim, uma decisão equivocada e possivelmente impulsiva.
— Quer dizer, você veio ao meu território e me ameaçou sem pestanejar. Digno de elogio — Concluiu enquanto seus olhos se tornavam fendas.
Para isso, o homem ficou imóvel e encarou Silver brevemente antes de chamar Astrid.
— Jörmungandr, minha última chamada. Vai se juntar a mim? — Disse ele olhando para a mulher.
Sim, Jörmungandr era seu sobrenome.
A serpente cujo comprimento atravessou toda a terra. Um dos seres que participaram na guerra que trouxe um fim a Valhala, o assassino de Thor.
Por esse motivo ela se sentiu insultada pelo nome de ambos, Ragnarok e o autoproclamado Fenrir.
Ser ‘irmãos’ foi um dos argumentos que o homem utilizou tentando trazê-la para o seu lado. Isso não deu em nada, afinal, ela só reconhecia uma única pessoa como irmão e esse era Vidar.
— Me recuso, e é melhor você voltar ao buraco de onde veio antes que eu cometa fratricídio — Respondeu a serpente sarcasticamente.
Ao contrário do que se esperava, após a ameaça o sorriso no rosto de Fenrir só aumentou.
— Own, você me considera parte da família…
A lógica dele não era errada, fratricídio poderia ser cometido somente entre membros de uma família.
A leveza contida em seu tom irritou profundamente Astrid, que se posicionou preparada para atacá-lo a qualquer momento. Antes do homem perguntar a si, Vidar também entrou em modo de combate, deixando clara sua posição.
— Me entristece ter de matá-los, meus irmãos… Mas foi vocês quem decidiram, irei respeitar isso — De forma ‘benevolente’, ele afirmou.
Assim fazia parecer um destino inevitável, como se os gêmeos fossem sucumbir por suas mãos sem terem chance alguma de derrotá-lo.
— Chefe, por que não simplesmente declaramos guerra e saímos? — Raymond disse relutante, os olhares começaram a realmente incomodá-lo, então ele queria ir embora o mais rápido possível.
— Acha que pode simplesmente entrar e sair como quer, traidor!? — Leon berrou.
Muito tempo se passou desde aquela traição, mas sua memória ainda era vivida sobre o dia. O ‘urso’ explodiu várias partes da base como distração antes de sua fuga.
Por sorte, nenhum dos membros acabou morto durante as explosões, mas isso não tirava nenhum pouco da culpa dele. Na última vez que o lobo o viu, ele tinha muito menos cicatrizes e obviamente era mais jovem.
O dragão prateado simplesmente pousou uma mão no ombro do comandante, em um comando claro de silêncio.
— Declarar guerra, huh? Bem, você já fez. Agora pode sair e aproveitar seus últimos dias de vida — Silver disse com calma.
Embora estivesse furioso, matá-los no local seria uma possibilidade plausível se não fossem as poucas informações que tinham sobre os oponentes.
Isso poderia ser ignorado caso apenas seus comandantes, Astrid e Vidar estivessem presentes. Afinal, encarar a morte era comum para eles, assim como matar não estava longe da sua realidade.
Ao contrário de Seiji e o resto que nunca sujaram as mãos, exceto Freud e Moon com uma pequena possibilidade de Hibiki tê-lo feito. O garoto morava numa cidade ‘baixa’, ética era a última coisa com a qual ele tinha que se preocupar.
Pesando os fatos, haviam mais contras que prós, portanto, sua decisão foi tomada.
— Que?! Porra Silver, vai mesmo deixar esse cara sair assim?! — Leon berrou esbravejou indignado, abandonando até mesmo o boss usual.
Mesmo que fosse sua vontade continuar, o lobo engoliu suas próximas palavras ao sentir a lâmina fria de uma foice descansar em seu pescoço. Atrás de si, estava Hana claramente infeliz.
— Silv já decidiu, então está decidido. — Olhando profundamente em seus olhos, o lobo encontrou um enorme vazio. Algo incrivelmente assustador de se ver desta posição.
Não havia disfarce algum na ameaça, desnecessário dizer o que aconteceria se ele continuasse a insistir nisso.
Por pura aparência, seria difícil de acreditar sobre quem entre os comandantes era mais vicioso e brutal. A resposta para isso foi Hana, uma menina incrivelmente fofa parecendo inofensiva.
Seu jeito infantil enganava, mas durante a batalha, foi quando o verdadeiro terror se iniciava.
Silêncio mais uma vez permeou a sala, enquanto Fenrir e Silver tinham uma disputa silenciosa. Não eram mais necessárias palavras, suas intenções com a invasão já foram esclarecidas, agora restava aguardar o início da guerra.
— Da próxima vez que nos encontrarmos, mandarei vocês diretamente para Valhalla. Assim, será possível ver em primeira mão o verdadeiro Ragnarok. — Antes de sair, o homem deixou sua última mensagem.
— Não se esqueça Raymond. Sempre cumpro minhas promessas.
Sem deixar que o inimigo tivesse a palavra final, o dragão prateado jogou ao ar seu último aviso, esse que somente aquele a quem foi direcionado entendeu.
Ouvindo esta frase, ele sentiu suor escorrendo por suas palmas e um vento gelado subitamente atravessou todo o corpo, causando uma incontrolável tremedeira.
Rapidamente suprimindo o impulso de correr, o homem caminhou relaxado até a fenda criada pela entrada dramática do grupo.
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— Então… Explicações? — Seiji perguntou com uma leve hesitação, pois os acontecimentos anteriores tiraram completamente seu sono.
O silêncio dele e de Mari foram de pura incredulidade. Eles estavam tão surpresos com a virada dos eventos que não tiveram tempo para comentar sobre eles. Quando se recuperou, imediatamente questionou.
— Antes disso, hãaan… Hana… Você pode baixar essa foice? Ela tá mais perto do meu pescoço do que eu gostaria — Leon suplicou, afastando-se levemente da lâmina.
Parecendo relutante, a garota retirou lentamente a foice do pescoço do lobo.
— O líder deles, Fenrir, é um lunático. Ele acredita com convicção ser a personificação dessa lenda — Astrid esclareceu seus pensamentos sobre o inimigo.
Em todas as outras interações que teve com o mesmo durante as tentativas falhas de recrutamento, ficou evidente esse detalhe junto a obsessão do homem direcionada a três coisas. Silver, Fenris e Valhalla.
Fato também reforçado pela constante menção de uma ‘irmandade’ entre eles. Tudo isso graças à relação fraternal das lendas Jörmungandr e Fenrir.
— Heh, a palavra maluco vinda da sua boca não me é convincente — Ai disse, olhando de forma provocativa para a serpente.
— E o cara das cicatrizes, Raymond não era? — Seiji perguntou mais uma vez, antes das rivais iniciarem outra luta.
— Aquele traidor sujo já foi um dos nossos — Leon, agora longe das garras de Hana explicou.
Recebendo a informação do inimigo atual ter um ex-membro da gangue, os ‘integrantes de meio-período’ olharam para o dragão prateado procurando mais detalhes.
Ele foi um dos que mais sofreu com a traição, sendo o segundo mais próximo do jovem entre seu grupo. Ficando atrás somente de Silver, quem tirou o mesmo da rua quando criança.
— Nada demais realmente. Eu achei o pirralho em um beco qualquer. Alimentei, vesti e ensinei aquela criança tudo que ela sabia, por fim, recebi uma facada nas costas — Respondeu, dando de ombros como se não fosse nada importante.
— Criou ele… Tipo um pai?
O loiro tinha surpresa escrita por toda sua face. Enquanto o grupo digeria a informação adquirida sobre seus futuros oponentes, Silver voltou sua atenção novamente para os gêmeos.
— Que tal falarmos sobre nossa aliança?