A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 53
Vagando sem rumo pelo ambiente escuro no qual veio parar, Hugin sentiu nada além de raiva destinada àquela que o mandou para cá.
Quase meia hora se passou desde o acontecido e uma sensação ruim lentamente se formou em seu peito.
— Está procurando por algo?
Uma voz familiar e fria ressoou pelo local, e o corvo reconheceu claramente a dona.
— Cadê o meu irmão?! Me leve até ele e eu prometo não matá-la tão dolorosamente — ameaçou de forma totalmente não convincente.
Qualquer um sabia que esse tipo de promessa vazia geralmente levava a uma morte dolorosa, por esse motivo, não se deveria confiar demais em assassinos.
— Você fala como se tivesse alguma vantagem.
A situação atual era completamente desfavorável para o homem, mas ele ignorou isso. Sua preocupação com seu irmão poderia ser admirável, isso se ela não soubesse que ambos mataram muitos por motivos estúpidos.
— Além do mais, o outro era definitivamente o mais esperto entre os dois. Ao menos ele tentou virar o jogo sem confiar em ameaças vazias.
Tais palavras fizeram todas frases travarem na garganta do homem. Não foi discreto em tudo. Ela claramente estava afirmando que matou seu irmão.
— I-impossível… Nós somos fortes…
Com olhos cheios de sangue, o corvo começou a murmurar palavras incompreensíveis.
Um último prego para fechar este caixão veio junto a um corpo literal. Rolando até chegar aos seus pés, uma cabeça apareceu. O homem poderia mesmo ter negado que era seu irmão se não fosse pela cicatriz no olho esquerdo. A expressão no rosto de seu gêmeo era anormalmente serena como se houvesse aceito sua morte.
Realmente, ele poderia tê-lo feito, porém…
— E-eu vou matar você!
Hugin não aceitou isso.
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De volta a alguns minutos atrás, Munin estava procurando um caminho para vencer esta luta.
‘Voar não é uma possibilidade, se ela usa sombras em suas linhas quem sabe quantas tem lá’
Olhando levemente para cima ele rapidamente descartou o pensamento.
‘Os lados também não funcionam. O que me resta é atacar primeiro e improvisar o resto’
Com sua mente no lugar, o corvo partiu para a ação. Movimentando suas asas ao redor, ele tentou endurecer o máximo possível suas penas a fim de cortar qualquer linha que tivesse lá. Sentindo uma leve resistência durante o movimento, descobriu estar certo sobre isso.
— Vai continuar usando esses truques sujos? Por que não luta justamente? — gritou insatisfeito.
Ao mesmo tempo, analisou todo o lugar observando cada canto buscando ter um vislumbre da localização do inimigo. Se percebesse qualquer movimento mínimo que fosse, não hesitaria em atacar.
— Diga isso às suas vítimas — retorquiu a garota.
A disparidade entre os gêmeos e as vítimas que fizeram era enorme. Seria pura hipocrisia se ele estivesse falando sério e não tentando conseguir uma reação dela.
Sua voz veio exatamente da frente do homem e, sem pensar duas vezes, o mesmo expandiu suas asas e começou seus disparos.
Ting! Ting! Ting!
Este som serviu como confirmação para ele de que atirou no lugar certo. A colisão entre as penas dele e as armas da kunoichi aumentaram a confiança do corvo, fazendo com que ele disparasse ainda mais para suprimi-la.
No entanto, o homem não pôde aproveitar dessa sensação pois o ruído morreu em poucos segundos.
O silêncio que veio em seguida se tornou ensurdecedor até que escutou o barulho de algo cortando o ar. Por instinto ele moveu seu rosto evitando o ataque, porém, muitos outros vieram após esse.
Pela massiva alteração no ângulo de cada um deles, Munin foi forçado a se cobrir com suas asas, deixando algumas partes desprotegidas já que elas não podiam cobrir totalmente seu corpo.
Essas partes foram atingidas e, embora fossem fortes, sua defesa ainda foi atravessada pelos incessantes ataques qua a atingiram.
— Hah… Hah… Será que Valhalla é tão legal quanto eles disseram?
A pergunta não foi direcionada a ninguém, foi mais como se ele falasse consigo mesmo.
O homem nem precisou analisar suas feridas para saber que ele estava mal. Sua própria visão ficou meio turva e seu braço não respondia, sinais óbvios de envenenamento ou então hemorragia mas ele não sangrou o suficiente para isso.
— Veneno huh? Esperto de fato. Eu não posso te achar de maneira nenhuma e você só precisa assistir minha morte lentamente.
Seus elogios não caíram em ouvidos surdos porém, Hikari decidiu ignora-los completamente.
— Alguma palavra final ou mensagem para seu irmão? — Sem desdém ou qualquer outra emoção em seu tom, a kunoichi questionou.
Sentimentos eram desnecessários neste tipo de situação, além do que, um ‘guerreiro’ assim odiaria ser tratado desta forma ainda mais pelo seu próprio assassino.
— Últimas palavras? Se Hugin e Munin estavam certos, eu e ele nos encontraremos de novo em Valhalla… — Um sorriso se fez em seu rosto quando ele completou — Espero que ele lhe dê bastante trabalho antes de cair, pequena raposa.
Após essas palavras, o corvo se lançou à frente com o que restou de suas forças. Ignorando os cortes formados em seu corpo, ele avançou contra ela.
Surpreendentemente, era como se soubesse onde a garota estava porém, antes de alcanca-la, seu corpo se despedaçou junto às suas asas deixando somente a cabeça intocada.
— Sigh…
Observando a queda do corvo, a garota tinha alguma decepção em seu coração.
‘Se Silver os encontrasse mais cedo, eles teriam se tornado ótimos companheiros’
Os gêmeos eram lunáticos, sim, porém existem muitos motivos possíveis para isso. Sem aliviar nenhum de seus crimes, ela sentiu que eles fariam muita diferença se estivessem do mesmo lado. Infelizmente, como inimigos só lhes restou a morte.
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No presente, Hugin estava demonstrando um alto nível de equilíbrio. O gêmeo restante desistiu de todo instinto de autopreservação, avançando loucamente contra ela.
Ele também esqueceu o raciocínio lógico alçando voo, confiando em seus instintos somente para desviar dos obstáculos no caminho.
As manobras feitas pelo homem deixariam muitos pilotos do exército tontos. Em pontos onde haviam muitas linhas, o corvo cortava utilizando o momentum do giro junto às suas asas. A razão pela qual ele se manteve no ar, foi para encontrar a localização da garota quem se escondia nas sombras do lugar.
Suas habilidades se mostraram ser maiores que as de seu irmão, talvez ele fosse os músculos da dupla.
— Manobras são inúteis se você não consegue me alcançar. Se bem que Munin fez o mesmo nos seus últimos momentos — provocou Hikari.
As ações seguintes do corvo deixaram claras outra diferença entre os dois.
— Sua…!
Esquecendo seu objetivo inicial, ele perseguiu a origem da voz ainda confiando em seus instintos para desviar das linhas.
Diferente de Munin, Hugin não tinha um bom controle emocional e caiu facilmente em suas provocações, fato que a kunoichi decidiu se aproveitar.
— Oh, isso me fez lembrar. Ele deixou um recado para você… — pausando ela movimentou bruscamente seu pulso e lançando diversas kunais e shurikens contra o corvo, este que estava escutando atentamente.
Sentindo o perigo do ataque, ele não teve tempo de desviar do golpe portanto, enrolou suas asas contra seu corpo e usou este impulso para começar um movimento em broca.
Desta forma ele atravessou a barragem de linhas e também deviou grande parte dos projéteis lançados contra si. O único problema foi que ele não tinha controle sobre a trajetória e acabou por despencar em direção ao chão.
Antes de atingir o piso, Hugin abriu suas asas diminuindo a velocidade da queda mesmo que não tenha parado completamente.
— Parece que você esqueceu da minha existência — Olhando para cima, ele encontrou com um par de olhos azul-gelo o encarando friamente.
O corvo estava prestes a avançar contra ela quando a kunoichi voltou a falar.
— As últimas palavras de seu irmão foram para você se entregar e morrer sem dor. De acordo com ele Hugin e Munin já previram este fim.
Congelando subitamente, ele se lembrou das palavras dos seus mentores.
Aconselhamos que vocês escolham sabiamente seus próximos passos…
Pois caso decidam trilhar o caminho ao qual vislumbramos em seus futuros…
Nós lhe aguardaremos nos portões de Valhalla.
‘Quer dizer que tomamos o caminho errado?’
Este momento de distração trouxe o fim da luta. Enquanto o homem deixou seu corpo despencar, Hikari posicionou diversas linhas em seu caminho.
Logo, vários cortes foram feitos por cada pedaço dele. Suas asas foram as primeiras a cair seguido do restante com exceção de sua cabeça.
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Piscando várias vezes, Hugin voltou ao momento antes da luta ter começado. Seu rosto estava cheio de suor e ele ainda tremia levemente. Morrer não era nada agradável.
— O futuro não parece divertido… Para você é claro — A voz de Hikari clareou sua mente.
— C-como?
Foi a primeira vez que o corvo teve uma visão ruim do futuro. Geralmente sempre ia de maneira favorável a ele.
— Você quem deveria saber, eu não sou o vidente aqui — respondeu a garota — falando nisso, estamos em uma luta se lembra?
Com um movimento de suas mãos, diversos projéteis foram lançados contra o homem. A verdade é que ela o deixou vê-la no início da luta, assim de acordo com a reação seguinte dele a kunoichi decidiria como proceder a batalha.
Pelo visto o futuro estava ao seu favor então ela escolheu ser impulsiva. Ainda em choque, ele só pôde mover suas asas para proteção enquanto tentava tomar o mínimo de dano possível.
O som das kunais e shurikens perfurando a carne e atingindo metal foi o único ruído que restou no local. Quando parou, Hugin sentiu sua visão borrar.
— Valhalla… Não deve ser tão ruim certo?
Ele não esperava resposta para essa pergunta, mas de qualquer forma, houve uma.
— Não em tudo — respondeu a kunoichi.
— Sinceramente, não vou te perdoar por ter matado meu irmão…
— Compreensível, eu não me perdoaria também.
— Eu ainda te odeio… Mesmo quando morrer isso vai continuar.
— …
— Minha morte ao menos foi digna?
— Morto envenenado em um lugar desabitado, sem testemunhas e ainda trabalhando para o lado ruim da história? Não acho que sim — Ela foi sincera em sua resposta, não havia sentido mentir agora.
— Hahaha, você tem razã…
Com um baque seu corpo caiu no chão, sem vida. Este foi um fim apropriado para alguém do seu tipo, sem plateia ou testemunhas. Ninguém lembraria deles nem contariam histórias sobre aos seus filhos.
‘Talvez meu fim também seja assim… Enfim, eu deveria enterrá-los ao menos’
Olhando para o corpo cheio de furos do homem à sua frente, ela se lembrou o estado do outro e não pôde deixar de suspirar cansadamente.
— Acho que exagerei…