A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 56
Clang! Clang!
A colisão entre as lâminas continuou ressoando pelo local. Tsuchi e Seiji se moveram pela enorme garagem sem perder o compasso.
Esquerda e direita, cima e baixo junto às fintas e ângulos diversos. Por muitas vezes o espadachim tentou finalizar a luta sem sucesso, não importa o quanto ele aumentasse a velocidade do ataque ou se movesse em um ângulo que tornava quase impossível de defender.
De alguma maneira, o jovem sempre esquivou de todo ataque fatal e, quanto mais tempo a luta durou, sua intensidade também aumentou.
Forçado a proteger-se de mais um golpe, o vaga-lume sentiu seus braços tremerem com o impacto. Cada corte impedido por ele fez seu próprio corpo tremer e sua raiva crescer.
Outro golpe passou perigosamente perto do pescoço de Seiji, neste momento Mari também retornou sua investida movendo sua lâmina na horizontal em direção ao rosto do espadachim.
O homem não se abalou com a proximidade do fio da espada, que teve a trajetória alterada antes de alcançá-lo. No próximo instante, os braços da garota subiram ao ar e aproveitando-se disso ele trancou sua mira na garganta dela.
Ela pode ver claramente o golpe chegando mas não conseguiu se mover para impedi-lo. Antes de atingi-la, seu corpo se moveu subitamente, aparando outro ataque voltado a si.
— Eu ainda estou aqui! — vociferou o jovem enquanto fechava os olhos.
Privar a própria visão durante uma batalha poderia parecer estúpido para qualquer um, no entanto, a frase anterior de Tsuchi fez o vaga-lume perceber muitas coisas.
A primeira era que o inimigo obviamente não tinha a intenção de matar nenhum deles. Embora ele tenha infringido tantos cortes em Seiji, nenhum deles foi fatal ou mesmo chegou a causar qualquer perda excessiva de sangue.
O que o garoto não percebeu foi o fato do espadachim tentar finalizá-lo diversas vezes e que ele por pouco, não se encontrou com a dona morte.
Vários dos ‘arranhões’ em sua pele foram causados pelas tentativas de Tsuchi, o garoto só não percebeu isso porque nenhum deles o feriu tão gravemente.
‘Chances dele nos matar não faltou, só o que ele quer com isso?’
Mari literalmente não foi ferida fora a leve concussão de alguns poucos golpes e o cansaço causado pelo movimento contínuo ao decorrer da luta.
‘Ainda acho incrivelmente injusto essa diferença de tratamento’
A segunda parte era que algumas vezes durante a batalha, seu corpo se movia automaticamente quando alguns ataques do oponente.
Por este motivo, o jovem fechou os olhos e confiou nos seus ‘instintos’ para esquivar dos cortes seguintes. A espadachim também voltou à disputa. Trocando golpes com o homem e recebendo um apoio mais útil de seu companheiro desta vez.
Repetindo o ataque que outrora feriu seu oponente, a garota falhou em acertá-lo e quando Tsuchi estava prestes a revidar, uma espada brilhando fortemente apareceu.
— [Julgamento]!
Novamente uma luz brilhou, acompanhada de uma explosão. O jovem não parou aí, repetindo várias vezes o mesmo golpe contra o espadachim.
Cada um deles foi aparado pelo homem, com o último fazendo seu braço tremer levemente. Simultaneamente, Mari tentou atingi-lo de surpresa mas falhou. Não importa o quanto ela tentasse, os golpes que anteriormente a colocaram no mesmo nível dele deixaram de funcionar.
Após alguns instantes repetindo isso, ambos jovens pausaram para recuperar o fôlego, recuando para uma distância segura.
— Eu decidi.
Tsuchi disse de repente, focando a atenção deles mas suas próximas palavras.
— Vocês estão vindo comigo — decretou.
— Huh?
Sem dar a eles tempo de reagir, o espadachim desapareceu da visão de ambos, surgindo próximo a Seiji e nocauteando o garoto diretamente.
Por que o corpo dele não se moveu? O motivo é simples e bastante estúpido, o ataque não foi fatal portanto, os ‘instintos’ do vaga-lume não reagiram a isso.
— Seiji! — gritou Mari desesperada.
Esta foi a última coisa que ela fez antes de também desmaiar por cortesia do espadachim inimigo.
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Olhando para a dupla jogada no chão, Tsuchi analisou o campo de batalha.
Haviam muitas rachaduras no chão, fora uma, todas causadas pelo [Julgamento] de Seiji. O golpe não era ruim em tudo, ele só não tinha precisão alguma nele.
Passando o dedo na bochecha, o homem viu algum sangue e teve algumas lembranças da pessoa que o derrotou e a imagem de Itto Shura sobrepôs a de Mari. Se ambos fossem realmente semelhantes, ela poderia chegar ao seu nível um dia.
Quando ele se curvou buscando retirá-los do chão, seus instintos gritaram para que ele recuasse e assim o fez.
— É melhor para você esquecer o que aconteceu aqui e retornar para o seu grupinho — Honda disse calmamente.
O samurai caminho seguindo um ritmo próprio sem tirar seus olhos do espadachim.
— Interessante… O que o homem que superou a morte faz por aqui? — Ele não buscou uma resposta para a pergunta, mas sim, cobrou um posicionamento do outro lado.
— E o que um puro como você quer com essas crianças? — Respondendo uma pergunta com outra, Honda se moveu ficando entre o espadachim e o duo desmaiado.
— Eles são boas sementes. A garota especialmente, ela me lembra dele — respondeu parecendo nostálgico — já o garoto, mesmo sendo um sujo, tem potencial. Com algum treinamento especializado ele pode se tornar um de nós.
— Treinar ou ser doutrinado? — questionou o samurai, obviamente não acreditando nisso.
— Qual a diferença?
Ao seu ver quando você treina, é inevitável aderir algumas das características do seu treinador. Como isso é diferente de ser doutrinado?
— Quem sabe, talvez seja a parte de perder a vontade própria — Dando de ombros, Honda comentou.
— Deixando isso de lado, esqueça sobre levá-los. Tenho ordens explícitas de proteger os dois.
Ele não se incomodou em revelar que tinha um chefe. Uma hora ou outra iriam descobrir e por conversas anteriores com Silver, descobriu que o mesmo também não ligava para isso. “Se seus inimigos vierem atrás de você, eu mesmo lido com eles” foram as palavras do dragão prateado quando o assunto veio à tona.
— Você, com um chefe? As coisas mudam hein — Seus olhos brilharam com interesse.
‘Esse dia não para de ficar melhor! Primeiro dois recrutas cheios de talento e agora, Honda Tadakatsu sendo o subordinado de alguém?’
— Isso não importa. Essas crianças não vão sair daqui então é melhor voltar — O samurai ordenou. Seu tom era cheio de ameaça e isso não passou despercebido.
— Bastante prepotente quando está em desvantagem.
Seguido disso, diversas pessoas surgiram das sombras da garagem. Eles tinham diversas armas diferentes em mãos, desde lanças e machados até pistolas.
— Eh~ que medo~ — Settō resolveu parar de assistir e também se aproximou sorrindo cheio de desdém.
— Outro grande nome do submundo, o charlatão está por aqui. Não me diga que você tem o mesmo chefe dele? — A pergunta foi bastante retórica, na verdade, nenhum dos homens à sua frente era se juntavam a equipes. Já que o fizeram, deveria haver um bom motivo.
— Yup! E boss mandou manter os dois pirralhos vivos então… Desaparece! — A última palavra estava repleta de frieza, Settō esperou pela luta que viria a seguir.
— Mesmo comigo tendo a completa vantagem aqui, seu chefe ganhou meu interesse — começou enquanto o olhar cheio de tédio retornava ao seu rosto — acima de tudo, meu trabalho foi completo e o dinheiro já caiu na conta.
— Parece que você vai ter seu coraçãozinho partido de novo… Afinal, boss não corta para esse lado — Após ter certeza que uma luta não aconteceria, o apostador voltou com o tom frívolo usual.
Honda levantou uma sobrancelha para isso, se fosse desta forma, faria sentido a obsessão do espadachim com Itto Shura. Na verdade, esclareceu muitas coisas…
Tsuchi não se incomodou em responder tal coisa, ele simplesmente averiguou algo em seu [SC] antes de preparar-se para sair.
— Dois anos. Em dois anos eu vou voltar para buscá-los e também ter uma conversinha com seu chefe — declarou antes de ir embora.
Neste momento, Seiji e Mari abriram seus olhos. A dupla estava acordada desde a parte em que Settō apareceu e o espadachim sabia disso, foi de propósito afinal.
Ele queria que eles escutassem sua última frase, então não usou muita força no golpe. O homem sabia da presença de outras pessoas no local, a única coisa inesperada foi a identidade delas.
— Não consigo mexer um músculo.
— Nem eu.
Olhando esperançosamente para seus ‘mestres’ a dupla comentou.
Suspirando, Honda levantou Mari em seus ombros como um saco de batatas causando muito ressentimento nela. Ele não se importou com isso, desta forma ela não atrapalhava o desembainhar de sua arma.
Seiji por outro lado, ficou em uma situação muito pior. Settō amarrou uma corda na cintura do garoto e arrastou ele pelo chão de concreto.
— Desgraçado! Quando eu puder me mover você vai ver só! — berrou o jovem.
— Cuidado com as pedras~
— Seu… Urgh! Merda o que foi isso?!
Percebendo que poderia causar muita do… Quer dizer, treinar o garoto aproveitando dessa situação, o apostador decidiu correr por toda a garagem incluindo as rachaduras causadas pelo vaga-lume durante a luta.
— Não podemos só ir embora? Porque você está correndo por toda maldita garagem?! — Seu desespero era claro como o dia e o samurai escolheu não se meter no assunto entre ‘mestre e discípulo’.
— Autopreservação, meu querido discípulo, autopreservação.
— Que merda isso quer diz… Urgh!
Mari começou a pensar que sua situação não era tão ruim assim, na verdade ela estava bem melhor se comparado ao seu companheiro.
Os gritos de desespero de Seiji preencheram o lugar seguidos da gargalhada louca de Settō.