A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 60
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- Vol.2 Capítulo 60 - A Lua que brilhou como o Sol
「 Em um castelo parcialmente destruído, onde nuvens rodearam a lua quase tapando completamente sua luz, duas pessoas se fizeram presentes no local.
O único ponto onde o brilho do luar atingiu ficou um homem, este que estava de pé próximo a um trono apoiando um tridente sobre seu ombro enquanto olhava de cima para a outra pessoa no local.
Embora a sala do trono estivesse bastante destruída, não havia nenhum ferimento óbvio naquele com a arma apoiada no ombro.
Alguns metros longe, no centro do lugar havia um jovem. Ele tinha cabelos loiros e olhos azuis usando uma armadura que lembrava aquela de paladinos, além dele estar usando uma espada quebrada para apoiar seu corpo.
Sua armadura estava destroçada e seu sangue a tingiu de vermelho, impossibilitando uma visão perfeita de suas feridas. A espada tinha rachaduras por toda ela, mostrando o quão selvagem a luta fora antes do dado momento.
O rosto do jovem mostrava claro desespero e desistência, ele parecia já ter se entregado à derrota sem nenhuma intenção de continuar a batalha.
— Isso é tudo que você tem mortal? Eu esperava mais de alguém quem clamou ser o suficiente para me matar… Pathétikós — disse o homem parecendo decepcionado.
Seiji sentiu uma pressão absurda por essas palavras, não só física mas também mental. Cada vez que ele desafiou um oponente mais forte e venceu martelou sua mente com força.
Todos eles eram mais fortes que si, mas, ainda sim, o jovem saiu vitorioso por que hoje foi diferente? Esse autoproclamado Deus nem se esforçou durante a luta, era mesmo possível vencer?
No mesmo momento em que rachaduras começaram a se formar em sua mentalidade, o som de passos pôde ser ouvido da entrada da sala.
A figura do recém-chegado não se comparava ao tamanho da abertura para o acesso mas, seus passos eram firmes e confiantes e, quando ele passou por Seiji, ignorando o olhar de interesse do homem e o penoso do jovem, sua voz ressoou pela sala do trono.
— É realmente uma vista deplorável esta. Eu não coloquei confiança alguma em suas palavras e, ainda sim, você conseguiu me decepcionar… — o golpe no loiro foi ainda maior pelo fato do tom ser idêntico ao do seu inimigo — Realmente não entendo o que Mari viu em você.
Sem se incomodar com Seiji, quem estava praticamente desabando mentalmente, a figura fixou seus olhos na ‘divindade’ à sua frente.
Agora que ele chegou mais próximo da luz, sua aparência pôde ser vista mais claramente. O jovem tinha cabelos pretos e olhos azuis, vestindo uma roupa militar preta em seu punho jazia uma katana manchada com algum sangue.
— Vaga-lume essa é sua deixa para desaparecer — Silver disse enquanto apontava a lâmina de sua espada para seu inimigo — Deus ou não eu estou curioso… Você sangra?
Neste momento, pela primeira vez Silver Crawford desafiou uma deidade, embora estivesse longe de ser a última.」
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— Argh! Por que o autor teve que terminar na melhor parte?! — Uma garota, de aparência bastante comum, reclamou.
Sem parar, ela partiu para o próximo capítulo esperando ver mais de seu personagem favorito.
— Ele estava tão despreocupado sobre a luta que teve tempo de pensar em Mari? — Pausando levemente suas ações, ela questionou.
Sinceramente, a jovem preferia Silver acima do próprio protagonista da obra. Se não fosse pela existência do estorvo chamado Fumiko Mari, o personagem poderia ter se tornado facilmente um dos mais fortes dentre o universo criado pelo autor.
— Bem, o talento dele foi muito elaborado além dessa frase final no capítulo então, ele deveria ganhar algum destaque.
Porém não foi exatamente assim. Quanto mais a garota leu, mais ela se decepcionou com o quão esquecido o personagem foi.
‘Se eu estivesse no lugar dela… Como seria?’
Pouco sabia a jovem que seu desejo se tornaria realidade…
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— Por quê eu me lembrei logo deste dia?
Murmurou Moon antes de perceber que não estava mais no hall onde lutava contra Fenrir.
[Oh, você finalmente acordou minha criança]
Uma familiar voz feminina e calorosa ressoou pelo lugar onde a matriarca se encontrava.
‘Amaterasu…?’
[Viu? Toda sua preocupação foi desnecessária. Ela ainda teve tempo de fantasiar sobre o filhote de lobo]
A voz fria do homem continha um leve desdém ao mencionar este fato.
— Silver não é um lobo, e sim um dragão! — A garota gritou inconscientemente.
[Heh, um dragão que luta como um lobo. Quão irônico]
Tsukiyomi comentou, recebendo e ignorando a encarada de ambas mulheres presentes. Ele não poderia se importar menos com esses olhares de ódio.
[Para de ser uma criança, não temos tempo para isso]
Amaterasu repreendeu, no que seu irmão simplesmente olhou para o outro lado sem responder.
— O que aconteceu com minha luta? — questionou a jovem.
[Bem… Sua situação não é das melhores e, por isso te trouxemos aqui]
A deusa disse olhando para certo ponto, onde se formou uma imagem do que estava acontecendo no campo de batalha.
Moon viu seu corpo lutando por conta própria contra Fenrir e parecia estar lidando bem sozinho. Foi o que ela pensou até ver os leves tremores após cada golpe.
[Seu corpo não está acostumado com o fardo dos golpes que está usando]
Desta vez, Tsukiyomi não usou nenhum tom sarcástico mas parecia realmente solene.
[Iremos permitir o uso de ambos os nossos poderes, embora sem a [Armadura real] ]
Foi uma surpresa muito bem-vinda para a matriarca, que não tinha do que reclamar sobre o anúncio. Ela abriu a boca para questionar o porquê de não poder usar os poderes de Amaterasu antes, porém, as últimas palavras da dupla fizeram ela esquecer o assunto.
[Com sua força atual, você tem no máximo dez minutos antes que seu corpo ceda e acabe implodindo. Muito cuidado minha criança…]
[E que tanto o Sol…]
[Quanto a Lua…]
[Iluminem o teu caminho]
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Abrindo os olhos, Moon deu de frente com a visão de um lobo saltando em sua direção. Desviando rapidamente, ela viu Fenrir ajustar seu corpo e saltar novamente para si.
Soltando o ar que ela nem sabia que havia preso, seus olhos brilharam outra vez, no entanto, foi um pouco diferente do normal.
Suas pupilas ganharam o formato de uma supernova com detalhes em preto, embora a íris ainda brilhasse em azul.
No momento em que o lobo deu o próximo bote, a matriarca testou a força do seu elemento aumentando a gravidade ao redor do oponente, interrompendo o ataque do mesmo.
O peso sentido por Fenrir foi muito maior que todas as outras vezes na batalha. Antes isso só o desequilibrava mas, agora, o forçou para o chão e mesmo que ele tenha usado os braços para se impedir bater no concreto, o piso quebrou sob o fardo oferecido pelo seu peso.
De repente, todo peso desapareceu e seu corpo subiu graças a súbita alteração na gravidade. Simultaneamente Moon cravou o pé no rosto do lobo, atirando ele para o outro lado da sala.
Embora não tenha ferido o homem nenhum pouco, cada centímetro do seu corpo físico se tornou tão leve quanto uma pena, foi esse fenômeno que o permitiu ser lançado facilmente.
Sem tempo para descansar, a matriarca repetiu o processo de quebrar o chão para usá-lo como arma. Desta vez, no entanto, cada projétil atirado ganhou uma leve faísca de chama dourada.
O lobisomem se sentiu ameaçado pelas pedras, principalmente pelo indício de chama nelas e isso trouxe um sorriso ainda maior para o seu rosto.
— Kukuku… Hora de animar as coisas, peão — Seus olhos se afiaram, embora o sorriso não tenha desaparecido e ele abriu a boca, que ganhou um brilho vermelho por todo interior dela.
Moon assistiu Fenrir literalmente devorar todos os projéteis sem mandá-los de volta nem nada, somente os engolindo e continuando sua carga contra si.
‘Eu esperava um elemento forte para o famigerado assassino de Odin mas, se o mito diz que ele devorou o “Pai de todos”, até onde isso chega?’
Se o lobo engoliu um deus ele poderia fazer o mesmo com o espaço? Ou então com a gravidade por si só? Caso fosse possível a batalha acabou de ficar mais complicada.
Ainda atirando contra o inimigo, a jovem reiniciou aquele mesmo jogo de gato e rato enquanto alterava a gravidade pouco a pouco, buscando uma confirmação de que ele não poderia devorá-la.
‘Dois minutos completos… Jogados no lixo só por uma garantia’
Esse precioso tempo não foi desperdiçado completamente pois ela conseguiu tirar algumas conclusões sobre o elemento.
Primeiro de tudo, o elemento tinha um ponto fixo que era a boca do lobo, ou seja, ele só seria eficiente se o lobisomem engolisse o alvo diretamente e não havia forma de atirar o elemento.
‘Não que eu conheça… Pode ser uma armadilha bem arquitetada para me fazer baixar a guarda’
Com isso em mente, Moon achou uma saída que poderia ser explorada de duas formas diferentes.
‘Deve haver um limite do quanto ele pode engolir. Isso se ele realmente está engolindo e não apagando da existência os ataques’
Ela não queria testar essa teoria pois, além de ser um desperdício de tempo, não foi a ideia mais esperta do mundo. Quem enfiaria a mão na boca de um lobo para ver se o animal poderia engolir?
A alternativa restante era colocar à prova a tenacidade do corpo de seu oponente. Deveria haver algum limite de quanto dano ele tomaria até finalmente ser ferido.
Retornando de seus pensamentos a jovem sentiu algo escorrendo de sua boca, passando um dedo para limpar ela viu que era seu próprio sangue.
‘Três minutos de dez e já está tão ruim assim? Bem, eu vou usar isso e espero que não me deixe incapacitada… Por muito tempo’
Após a liberação de Amaterasu e Tsukiyomi, Moon recebeu algumas informações sobre algumas das habilidades que ela poderia usar de ambos espíritos. Graças a isso ela percebeu o porquê de não ter acesso nem mesmo a própria [Armadura real].
A matriarca leu na novel sobre os limites que os espíritos recebiam se fossem fortes demais, mas nunca deu real atenção a isso.
Foi descrito que caso qualquer um deles ultrapassasse certo parâmetro de força, o [Contratante] de tal ser só poderia acessar alguns fragmentos da tal força por meio das formas ou despertares. Alguns espíritos eram limitados antes mesmo de formar um [Contrato], ela não sabia se seus espíritos sofreram tal destino mas seria compreensível dada a força de ambos.
Haviam teorias sobre o que aconteceria quando alguém completasse todos os despertares possíveis, ou melhor, o que ele ou ela se tornaria?
Boatos afirmavam tal ser que concluiu todos os requisitos se tornaria a personificação do espírito o qual se tornou contratante, ou seja, alguns seriam capazes de se tornarem deidades enquanto outros espadas e escudos.
Não bastasse os cientistas criadores dos [Antigos] e suas crenças doentias, diversos outros cresceram com ideais semelhantes graças a esses boatos.
A matriarca exalou algum ar e uma marca apareceu em sua testa. Era um símbolo que representava a lua nova, tanto seu lado escuro quanto a única parte que ficaria visível da Terra.
Apontando o dedo indicador para o lobisomem, Moon olhou indiferentemente para ele como se o homem não fosse nada além de poeira.
— [Lyrideas] — decretou a jovem enquanto baixava o dedo.
Esse pequeno gesto causou a destruição completa do teto, revelando uma lua mais brilhante que o normal e a vista bastante intimidante de um número desconhecido de projéteis despencando contra Fenrir.
O lobisomem abriu suas mandíbulas ao máximo, devorando os ataques mais perigosos e desviando dos restantes enquanto buscou diminuir a distância entre si e sua presa.
Quando metade da distância foi encurtada, ele sentiu outra vez seu corpo pesar o fincando no chão e forçando-o a olhar para baixo.
De longe esta situação seria a de um grande lobo reverenciando uma jovem por quaisquer razões que fossem.
Com o corpo todo tremendo, Fenrir nem mesmo conseguiu falar antes de ser soterrado por todas as pedras, ironicamente tiradas de seu próprio lar.
Quando a poeira baixou, o chão onde o golpe atingiu estava quase completamente destruído e o que sobrou do lobisomem não pôde mais ser visto.
‘Foi melhor que o esperado…’
Moon ficou de pé observando o estrago causado com sangue escorrendo de sua boca, algo que ela limparia se seu corpo não estivesse rugindo de dor graças ao uso dos dois espíritos ao mesmo tempo, mesmo que ela tenha usado as habilidades de só um deles.
Uma troca válida considerando a força que ela ganhou durante esse curto período de tempo.
‘Será que Silver mandou alguém para me proteger também?’
A matriarca sabia que o dragão prateado havia colocado um espadachim bastante forte para ensinar e proteger sua odiosa amiga de infância por alguma ligação com um antigo companheiro, e não pôde deixar de imaginar se ela tinha um guardião também.
Sua resposta não muito esclarecedora veio quando um borrão branco a atingiu, mandando seu corpo dolorido ao chão.
Agora deitada e observando o céu a jovem percebeu algo estranho.
‘Desde quando o céu está tão escuro?’
Nuvens escuras fizeram seu caminho até a lua, outrora brilhante, trazendo um presságio da chuva que viria.