A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 65
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- Vol.2 Capítulo 65 - Ondas(pt.1) Aliado ou inimigo?
— O que você acha sobre ele, Elijah? — perguntou um homem ao seu subordinado mais confiável.
Ele tinha cabelos pretos e olhos verdes, somente uma destas características eram típicas da família que comandava e por quê? Simplesmente porque o homem se casou na mesma.
Usando um terno formal que tinha o símbolo de uma fênix no peito, ele baixou o SC enquanto processava as informações recebidas.
O brasão da fênix estava espalhado em vários itens do escritório, desde um quadro dedicado somente a isso até uma simples caneta deixada solta pela escrivaninha.
— Não acho que a opinião de um mero servo importe muito meu Lorde — respondeu outro homem, vestindo um uniforme típico para mordomos. Seus cabelos eram grisalhos penteados perfeitamente para trás e os olhos eram castanhos.
Quando se trabalha o tempo que ele trabalhou com patriarca e matriarcas de clãs, é essencial aprender a ficar quieto e manter suas opiniões pessoais para si.
Após sentir na pele como algumas pessoas podem ficar… Mal humoradas quando um subordinado se mete neste tipo de assunto, ele aprendeu que o silêncio é a melhor opção.
— Nos conhecemos por tempo suficiente para que eu possa confiar no seu julgamento. Só me diga o que pensa sobre esse garoto — O patriarca disse, tratando o mordomo mais como um amigo do que como um servo.
A verdade é que o clã Rosenfeld sempre foi um matriarcado, ter um homem servindo como patriarca não foi exatamente bem-vindo. Elijah foi um de seus poucos apoiadores na época e, por isso, ele é extremamente grato ao homem.
O mesmo também ajudou na criação de suas filhas, sendo considerado um avô por elas. Entre isso e a morte precoce de sua esposa, o mordomo serviu excepcionalmente como seu braço direito.
— O jovem Crawford é um caso intrigante — Com a confirmação do seu direito de fala, o homem começou.
— A forma com que ele agiu desde a entrada foi diferente da que ele tinha na arena… — O mordomo franziu levemente ao pensar nisso — Durante o tempo na arena, Crawford matou a maioria de seus oponentes e sendo apelidado de ‘demônio prateado’. Um pouco ameaçador demais para uma criança mas ele fazia juz a isso.
Não haviam fotos do estado final dos seus inimigos, mas as descrições das testemunhas eram bastante horrendas.
— Bem, você tem um ponto. Nunca pensei que um garoto dessa idade pudesse ser tão impiedoso — comentou o patriarca — Lorie Mia eram realmente fofas naquela idade.
Só pensar nisso trouxe um sorriso ao seu rosto. Eram bons tempos embora ele nem sempre estivesse disponível para elas.
— A criação de sua ‘gangue’ não pareceu importante à primeira, uma criança reunindo outras para criar um lar não é inédito.
O mordomo não se surpreendeu com isso, era comum para crianças que tinham lares abusivos ou que foram abandonadas durante a infância fazerem tal coisa. A parte estranha disso era que o garoto tinha uma família amorosa e bastante antes de decidir criar seu próprio grupo.
— Mas ele mostrou que não o fez só por brincadeira, tomando um território em uma das cidades baixas e o tornou seguro.
Realçando o fato de que uma cidade baixa ser considerada ‘segura’ era estranho. Quando se falava sobre elas era apenas para dar um exemplo às pessoas de como os humanos poderiam ser gananciosos e violentos.
Ter um destes lugares livre disso só dizia o quão errados eles estavam sobre o assunto, e isso não alegrou os nobres.
— Durante seu tempo estudando na mesma escola que a senhorita Mia ele foi indiferente em maioria, com pequenos surtos como aquele durante o torneio… — Elijah fez uma expressão confusa antes de dar seu veredito — Eu realmente acho o jovem Crawford uma peça intrigante. E recomendo deixá-lo quieto assim, não fazemos dele um inimigo sem motivos.
O mordomo não disse isso por medo e sim, indiferença. Silver não representou ameaça alguma para os Rosenfeld e, se o mesmo crescesse mais forte, ainda não importaria. Não havia inimizade entre eles, portanto, nada para se preocupar.
Criar inimigos só por poder trouxe a ruína de muitos impérios e isso fazia sentido de muitas formas.
Voltando seus olhos ao patriarca, Elijah percebeu que ele parecia ter decidido o que fazer.
— Quais são seus pensamentos Lorde Carter? — questionou o mordomo.
— Ingênuo — O homem chacoalhou sua cabeça.
O que acabara de ler era toda a estrutura de ‘governo’ do dragão prateado sob seu próprio grupo. Como conseguiu? Com espiões que nem mesmo eram seus.
Haviam pessoas dentro de sua gangue vendendo informações sobre si e ele nem mesmo notou, se isso não é ser ingênuo Carter não sabia o que era.
Fora isso, as regras impostas aos seus membros eram folgadas no sentido de não existirem reais restrições além de lealdade, algo que foi obviamente ignorado por alguns deles.
O que o homem não sabia era que, enquanto ele falava, Silver estava cobrindo todas as lacunas existentes no seu grupo buscando moldá-lo completamente a sua própria forma.
Chacoalhando novamente a cabeça, o patriarca decidiu suas ações perante as informações recebidas.
— Posso estar indo contra os ideais de muitos com isso, mas não importa… Porque nós somos fortes — Ligando o SC ele mandou uma mensagem para sua filha.
Em menos de cinco minutos seu SC vibrou por uma ligação de Lorie.
[O que quer dizer com isso?]
Foi a primeira coisa dita por ela logo após a chamada ser atendida. Havia um tinge de raiva em seu tom, o que deixou Carter com um pé atrás.
Sua relação com suas filhas, principalmente a mais velha, piorou muito após ele tê-las deixado completamente aos cuidados de Elijah.
Não que elas o odiassem, mas seu pai as abandonou por anos numa mansão fria só com o mordomo cuidando delas.
Como os outros membros da família não ousavam se aproximar, seu rancor foi aumentando cada vez mais até chegar no atual estado. Por isso Lorie escolheu se juntar ao exército sem hesitar, tudo para abandonar o lugar o qual a abandonou.
Mia tem estado irritada pela ‘prisão domiciliar’ como chamou, após o sequestro.
— Ele não é uma ameaça então por que está hesitando? — O homem não entendeu totalmente mas julgou ser algum tipo de rancor consigo.
[Eu ainda devo uma a ele e, sinceramente, entre confiar em você e nele eu escolho o último]
Ela tinha prioridades que não incluíam hostilizar Silver, como cuidar da sua irmã por exemplo, além de não ter vontade alguma de ouvir seu pai independente do que fosse.
— Vai escolher um moleque acima da sua família?! — Sua voz subiu a um tom de acusação.
[Eu me afastei dessa ‘família’ por um motivo. A única razão pela qual ainda te ajudo é Mia espero que entenda isso]
Lorie não poderia se tornar a herdeira dos Rosenfeld simplesmente por fazer parte do exército. Por esse motivo, no fluxo ‘normal’ dos eventos, o coup d’etat de Mia pôde funcionar perfeitamente.
Afinal, o dragão vermelho superou a garota em todos os aspectos necessários para comandar uma família, seja em força ou experiência em liderança.
Em certa perspectiva, o coup só aconteceu pelo fato de Mia amar Seiji o suficiente para se virar contra seu próprio clã procurando apoiá-lo. Agora, com todas mudanças feitas por Silver nesta linha do tempo, ela ainda faria isso? Somente o próprio tempo teria as respostas.
[Elijah…?]
Uma pergunta que não foi feita, ainda sim, o homem entendeu o significado dela.
— Senhorita Lorie… Não sou a pessoa mais qualificada para dar opiniões aqui — O mordomo disse, se sentindo um pouco emotivo com a demonstração de confiança.
— Agora você está colocando escutando um mero servo ao invés de mim, e pelo quê? Por uma rebeldia estúpida?! — gritou o patriarca antes de pensar no que havia dito — Perdão Elijah, eu me exaltei um pouco…
— Sem problemas senhor.
[Não importa o que você diga, eu estou fazendo as coisas da minha forma]
— Lori… — Sem esperar que ele terminasse a frase o dragão vermelho desligou, deixando o homem irritado e decepcionado.
Ele não poderia forçá-la a seguir suas ordens e nem pretendia fazer, mas o fato de sua própria filha ignorá-lo foi o suficiente para fazer Carter sentir que falhou como um patriarca e, sobretudo, como um pai.
— Elijah, vá ver como Mia está — ordenou o homem.
— Sim senhor — respondeu tranquilamente o mordomo, antes de sair do escritório.
Pelos próximos longos minutos, somente o silêncio reinou no local, deixando o clima da sala tão melancólico quanto o único presente nela.
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— Parece que vocês se divertiram já viagem — comentou um homem, olhando para sua filha e o ‘guarda-costas’ dela.
Todos os três estavam sentados em uma mesa posta ao ar-livre, com a natureza os cercando e abraçando carinhosamente. Como o homem cresceu em uma família de ávidos amantes da natureza, ele aprendeu, tão irônico quanto parecia, naturalmente a amá-la.
Ele tinha cabelos verdes deixados soltos por estilo e olhos de mesma cor, esta que foi passada para sua filha e reforçada por seu espírito.
O jovem, criado por ele, tinha cabelos laranja-pálido e olhos roxos. Freud foi treinado por ele para proteger sua garotinha e tem feito um trabalho excepcional até agora, por algum tempo o patriarca pensou em casá-lo com sua filha, afinal, o garoto foi treinado pessoalmente por ele. Pessoa mais confiável que isso não existia mesmo dentro de sua própria família.
— Diversão? Eu fui afogada em papelada e mal consegui lutar… — Lina reclamou com as bochechas infladas, algo que a fez parecer fofa o suficiente para seu pai ignorar suas palavras.
A jovem usava um vestido branco puro, realçando o verde em seus olhos e cabelo. Trazendo uma xícara de chá aos seus lábios, ela tentou relaxar ao invés de pensar em todo trabalho que fez.
— Talvez você devesse parar de pensar em lutar e começar a agir como uma dama — disse Freud cruzando os braços e agindo como se estivesse em serviço.
— Huh? E quando eu não agi como uma dama? — questionou a dríade.
— Que tal no torneio? — respondeu o raiju com um sorriso arrogante.
Lembrando da sua vergonhosa primeira e última luta no torneio Lina sentiu seu rosto esquentar, antes de se manter quieta para pensar em uma forma de se vingar.
Percebendo isso, o jovem começou a se arrepender de ter dito algo, até que lembrou de algo.
‘Pelo menos eu não estou sozinho nessa…’
Lembrando que seu ‘chefe’ e companheiro de meio-período estavam na mesma situação, ele se sentiu melhor.
— Bem crianças, não briguem — disse o patriarca com um sorriso — O que vocês acham de Silver Crawford? — Uma expressão séria surgiu em seu rosto quando ele perguntou.
— Bonito, forte e fodidamente arrogante — respondeu a dríade sem nem mesmo precisar pensar.
Ela estava só declarando fatos, então ao seu ver não havia a necessidade de fazê-lo. Uma resposta tão rápida fez Freud levantar as sobrancelhas em dúvida e o sorriso do patriarca voltar.
— Minha querida tem uma paixão — Olhando para a face do homem, a garota teve vontade de socá-lo mas se segurou.
— Estou só sendo sincera, é melhor ter ele como um aliado do que torná-lo um inimigo — Ela estava irritada por Silver fazer dela uma secretária? Muito, mas isso não alterava o fato dele ser um bom parceiro… Para negócios é claro.
— Own, meu bebê cresceu…
— Será que dá para parar com os apelidos?
Finalmente decidindo a punição de Freud, Lina se levantou e caminhou até as costas do garoto, deixando o mesmo inquieto.
— O que você preten… Ei! Para de mexer no meu cabelo!
— Fica parado ou não vai ficar bom.
Foram alguns minutos de reclamações vindas do raiju, ignoradas completamente pela garota até ela terminar sua ‘obra’.
Durante esse tempo o patriarca, como um ótimo parente, apenas aproveitou seu próprio chá enquanto assistia o sofrimento de Freud.
— Pronto! — Seguido deste anúncio, o sofrimento do jovem terminou… Ou foi o que ele pensou.
Posicionando uma peça de prata em um bom ângulo, ela mostrou o resultado do seu esforço. Havia um rabo de cavalo seguido de uma trança feitos com boa parte do cabelo que havia na parte de trás de sua cabeça.
Não era ruim, mas era estranho para seu estilo pessoal e por isso o incomodou profundamente.
— Você não pode tirar isso por meio ano — ordenou a dríade.
Ele poderia tirar para lavar o cabelo e, então ela o faria de novo, mas a garota não mencionou este detalhe. O raiju hesitou por um bom tempo antes de aceitar seu destino.
‘Se eu recusar o próximo pode ser pior…’
— Silver juntou muitos diamantes brutos na sua gangue… Que parando para pensar, não tem um nome definido — Lina divagou no meio do próprio discurso.
— Ahem! Pequena flor, termine seu raciocínio.
— Oh, ele só precisa completar seus planos e então, seu grupo vai se tornar um aliado perfeito para nós.
Satisfeita com a própria análise, a garota assentiu para si mesma antes de perceber os olhares de seu pai e Freud.
— Qual o problema? — perguntou confusa.
— Nada… Só que a ideia de permitir sua viagem não estava errada, quer dizer, você parece muito mais madura agora… — O patriarca olhou para ela com orgulho estampado em sua face.
— Huh? Eu não era tão mimada assim era? — Essa pergunta foi direcionada a Freud, para quem a dríade olhava fervorosamente.
— … — O jovem escolheu o silêncio para evitar estar do lado ruim da garota, escolha sábia de fato.
— Enfim filha, você disse que Silver tinha planos, quais são esses? — Para salvar o raiju, o homem mudou rapidamente de assunto.
— Confidencial — Só para se decepcionar com a resposta.
Isso fez ele imaginar a razão dela não dizer nada. Tecnicamente, após sair da cidade baixa seus deveres para com a gangue acabaram.
‘Ela ficou apegada demais? Então não foram só coisas boas afinal’
Na verdade ele estava indo muito além do necessário pois, a garota simplesmente fez juz a confiança que lhe foi dada. Assim como Freud não entraria em detalhes sobre as missões que concluiu, Lina guardaria os segredos confiados a ela.
— Perdi muito? — Uma voz feminina soou no local.
— Não muito mãe, só assuntos entediantes — A dríade disse, dando um olhar de aviso para seu pai.
‘Se é o que você quer eu não vou dizer nada… Sigh, minha própria filha me dando um olhar assim….’
— Espero que estejam preparados para o baile antes do torneio — comentou o homem.
Ele nem piscou antes de mudar de assunto casualmente. Isso veio para a tristeza de Freud e Lina, que suspiraram em desistência, sabendo como a matriarca agia quanto a este tipo de coisa.
— É mesmo! Temos que ir às compras! — Sua voz fervia em animação e seu punho se levantou ao mostrar uma expressão determinada.
— Mãe… Os trajes são designados pela escola… — A dríade tentou escapar mas…
— Nada nos impede de moldar a sua personalidade — Acabou só por deixá-la mais animada.
Por alguns momentos Freud pensou ter se livrado mas, logo antes dele conseguir demonstrar algum alívio, a voz da mulher soou novamente como o sussurro de um demônio.
— Pequeno Müller também vai vir conosco — decretou, muito para a tristeza do raiju.
Novamente como um ótimo parente, o patriarca assistiu a infelicidade da dupla enquanto aproveitava o chá que acabara de repor em sua xícara.
Embora o futuro de dois deles não fossem muito agradáveis para os mesmos, o grupo conversou harmoniosamente, usufruindo da atmosfera calorosa da natureza.