A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 72
O torneio externo foi dividido em quatro partes:
A primeira foi o baile de confraternização entre as academias, o qual tinha como objetivo aproximar os estudantes e melhorar as relações entre eles.
No início, o evento ocorreu em um dia só e reuniram todos os membros do 1° ao 3° ano de todas elas. Isso foi antes de certo incidente acontecer, causando a criação de novas regras, uma delas que separava o baile em três dias com seus respectivos anos separados entre eles.
As partes seguintes eram diferentes a cada ano que o torneio ocorria, no entanto, a última parte sempre foram lutas entre as academias que se qualificaram até o final.
No segundo piso do salão, todos diretores se reuniram, porém o clima na mesa era estranho.
— Uniformes bastante coloridos. Não parece seu tipo de coisa Shiroi — comentou a diretora da Blue Roses.
— Já os seus são tão monótonos quanto sua personalidade — respondeu o homem.
Enquanto os dois se encaravam friamente, os outros diretores se afastaram para não interromper esta e a outra disputa que estava acontecendo.
— Armadura legal Arseus. Se preparando para uma guerra? — comentou o diretor da academia Souzan com um sorriso no rosto.
— Taijin, sempre tão pomposo. Ao invés de batalhar com palavras, por que não usamos os punhos? — ofereceu o grego.
Os demais presentes só puderam suspirar cansadamente, já que não foi a primeira vez que aconteceu.
Nos seus anos de academia, o quarteto fazia parte do grupo quem causou a separação do baile em três dias. Tudo começou com uma simples discussão até alguém se exaltar e convocar sua [Armadura real], terminando com um salão destruído e diversos alunos feridos.
Por que os diretores não interferiram antes de sair do controle? Simples, eles estavam tão concentrados nas próprias lutas que não tiveram tempo para se preocuparem com isso.
Desde então, a regra de não agressão foi criada junto da separação entre faixas etárias buscando diminuir o número de combatentes se uma outra luta realmente estourasse.
— Se os três patetas podem continuar a se matar, pois eu tenho um discurso a fazer — Taijin balançou as mangas do seu robe enquanto se levantava.
— E quem…
— Disse que…
— Você quem vai fazer?
Todos os três disseram simultaneamente antes de finalizar.
— É óbvio que sou eu quem vai fazer!
Novamente eles estavam em sincronia mesmo que em tons diferentes. Nenhum deles parecia querer recuar e, no momento em que outra discussão estava prestes a acontecer, alguém decidiu falar.
— Que tal se nenhum de vocês fizer o discurso?
Disse um homem, ignorando o olhar de descrença na face de seus colegas. Foi uma oportunidade que ele devia aproveitar, e para conseguir só precisava de uma desculpa convincente.
Enquanto sua cabeça formulava uma, a atenção do quarteto se virou para ele então ele não teve escolha a não ser começar a falar.
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Enquanto a discussão no segundo piso acontecia, o grupo de Silver se sentou na única mesa disponível os deixando a duas mesas de distância dos seus ‘rivais’.
A ordem era Souzan, Álympos, Shoutai e então Blue Roses. Essa proximidade entre os times estava praticamente implorando para que uma briga acontecesse pois, como seus próprios diretores, nenhum deles queria que o outro estivesse acima de si.
Bem, talvez com exceção de uma pessoa.
Assim que se sentou em sua mesa, Seiji notou a presença de suas amigas de infância, que fizeram o mesmo. Antes do jovem conseguir cumprimentar aquela mais próxima, Mari o arrastou através do salão indo de encontro a certo indivíduo que a espadachim admirava.
Assistindo isso acontecer, as pessoas no salão tinham pensamentos diferentes.
A ideia geral foi de que a academia Shoutai enviou dois dos seus para para declarar guerra ao seu arqui-inimigo, e somente dois deles foram mandados como forma de desdenhar da academia Souzan.
Moon se perguntou como essa cena ainda aconteceu, mesmo depois de sua interferência anterior. Tendo mostrado para a espadachim a discriminação sofrida pelos [Guerreiros], ela acreditou que Mari não cometeria um erro tão estúpido.
Silver cogitou se deveria interferir. Por um lado ser subestimado pelos seus inimigos era vantajoso mas, não era seu estilo se fingir de fraco e sim esmagá-los com força bruta.
Já para estar criando outro inimigo, o grupo provavelmente já os considerava como tal, então, não fazia muita diferença tomar a iniciativa de provocá-los.
O trio restante achou conhecer a idiotice de seus companheiros, porém perceberam que estavam imensamente enganados sobre isso.
As amigas de infância tinham sentimentos mistos sobre a situação. Como seu primeiro, e até então único, amor, foi frustrante ver que ele já tinha alguém. Enquanto como suas amigas mais antigas, elas deveriam estar felizes por ele.
Durante o tempo em que esses pensamentos ocorreram, a dupla chegou até a mesa que Mari queria ir.
— Você é Komori-uta, certo? Eu sou uma grande fã das suas músicas! — disse a espadachim, com entusiasmo sem fim.
— Me enoja ter um fã do seu tipo. Deveria me aposentar? — O violinista olhou com desgosto para Mari e Seiji.
Outras duas pessoas na mesa olharam com desdém para o duo, enquanto aqueles que restaram não se importaram muito com a cena.
Todos os demais estudantes das academias assistiram essa troca com interesse. Não foi anormal alguém da Souzan mostrar hostilidade contra um aluno da Shoutai mas, a coisa surpreendente nisso foi a garota ter se autoproclamado uma fã.
Talvez fosse um novo tipo de insulto que eles não conheciam?
— Você…!
O loiro estava se tremendo de raiva pelo desrespeito sem razão aparente, e como ele não estaria? O jovem não se lembrava de ter encontrado o violinista antes, e além do mais, um artista deveria ser bom com seus fãs certo?
Mari ainda estava congelada sem entender direito a situação e, quando Seiji estava prestes a pular sobre o violinista, outra pessoa na mesa decidiu intervir.
— Não perca mais tempo com isso — disse o estudante de cabelos cinza-escuro — Ei falha. Seja útil por uma vez e dê um jeito nesses dois.
A garota de olhos vazios se levantou e apontou seu guarda-chuva para a dupla. Este foi o momento em que Silver decidiu interferir.
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De volta ao segundo piso, o diretor desconhecido começou a dar suas explicações.
— Senhor Arseus, eu admiro o estilo da sua academia, tenho um grande respeito por todos vocês.
‘Como se eu fosse admirar um bando de brutos que resolvem tudo com os punhos’
Era o que o homem tinha em mente, mas ele não foi louco o suficiente para dizer em voz alta.
— Porém, como o grande admirador que sou, não acho que você deva fazer o discurso.
Ouvindo estas palavras, o grego franziu mas decidiu escutar até o fim. Percebendo o gesto de ‘continue’ do guerreiro, o diretor deu seguimento ao seu raciocínio.
— Guerreiros de verdade fazem e não falam, afinal. Eu acredito que o senhor Arseus entende isso — Recebendo a confirmação do grego ele decidiu dar o golpe final.
— Então, tudo que você só precisa esmagar seus inimigos. Do que um discurso serve para isso? Absolutamente nada!
Arseus olhou por um minuto completo para o homem, como se procurasse por alguma falsidade em seu rosto. Após este tempo, ele cruzou os braços e fechou os olhos, ignorando todas as discussões seguintes.
‘Heh, idiota de mente simples!’
A razão dele ter escolhido o grego primeiro foi que ele era o mais fácil de persuadir. Agora com menos um alvo para enganar, o homem se virou para Taijin.
— Assim como o senhor Arseus… — O homem pausou quando percebeu sua escolha errada de palavras.
— Está insinuando que eu sou o mesmo que ele? — questionou com os olhos semicerrados.
— Ahem! Longe disso, sem diminuir o senhor Arseus mas, alguns de nós não precisam mostrar força para sermos temidos…
Escutando isso, o queixo de Taijin subiu e ele tinha uma expressão que dizia ‘me elogie mais’ estampada no rosto e assim o homem fez. A partir daí os elogios não pararam e os diretores na mesa olharam para o homem com desprezo pela quantidade exagerada de elogios.
Quando o diretor da Souzan pareceu satifeito, o homem se voltou para a única mulher do quarteto. Em resumo, ele a chamou de ‘flor da montanha’ elaborando toda sua justificativa no fato dela ser uma beleza somente para se apreciar e não obter.
A diretora não respondeu nem reagiu aos elogios, porém, o homem julgou isso como uma aceitação não verbal.
‘Mais dois idiotas com ego inflado para a conta’
Se Voltando para Shiroi, o alvo mais difícil, ele começou…
— O se…
— Eu vou fazer o discurso — afirmou o tigre branco.
O oportunista demorou algum tempo para raciocinar o que havia escutado e, quando o fez, seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu a um nível que ele não achava ser possível.
Enquanto o homem tinha uma crise existencial, Shiroi lançou um sorriso vitorioso ao trio de idiotas que foram tapeados.
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Depois de muitos anos neste mundo, Silver finalmente teve a oportunidade de olhar nos olhos de uma das vítimas do heroísmo seletivo de Seiji.
Ame Kasa, uma antagonista peculiar da qual o vaga-lume não tomou a iniciativa de ‘persuadir’ após descobrir seu passado triste. Algo estranho para alguém que dava seu melhor para salvar todo mundo… Desde que esse ‘todo mundo’ fosse uma garota bonita.
Um pouco hipócrita de Silver pensar assim pois fazia o mesmo mas, ele nunca se chamou de herói.
O dragão pensou seriamente em recrutá-la, pois, além de sua força, se qualquer ‘acidente’ ocorresse com seu pai e irmão, a família Kasa inteira seria dela por direito.
—- Parece que ao menos uma pessoa dessa mesa pode me entreter um pouco — Silver foi o primeiro, e único ao falar entre os dois.
A arrogância e desdém em suas palavras estavam claras para todos no salão, e o jovem nem se deu ao trabalho de olhar para os outros na mesa.
‘Eles que começaram e se é para ser arrogante, então vamos ser arrogantes’
Um clima tenso desceu no local, enquanto a maioria das pessoas na mesa olharam furiosamente para Silver e os estudantes ao redor esperavam o desfecho desta batalha de palavras. Porém, certo idiota não entendeu a tensão no salão.
— Como você chegou aqui? — Ainda que irritado, Seiji perguntou genuinamente curioso. Para ele o dragão prateado estava a, no mínimo, uma mesa de distância um segundo atrás.
Silver não respondeu e, aproveitando o momento de distração criado pelo vaga-lume, seu braço se moveu rapidamente contra o jovem de cabelos cinza-escuro.
A vítima nem mesmo conseguiu reagir ao ataque súbito, mas o golpe nunca chegou até ele.
Bang!
A palma do dragão prateado colidiu com o guarda-chuva segurado por Ame, fazendo a garota arregalar os olhos por um breve momento ao perceber o tremor em seu braço causado pelo impacto.
— Realmente interessante… —
‘E minha vontade de recrutar ela só aumenta…’
Apesar dela não ser a mais forte na mesa, ela era quem tinha o maior potencial e a menos irritante entre eles.
— Seu…!
Qualquer reclamação que a vítima tinha teve que descer goela abaixo quando Shiroi desceu as escadas, e os demais diretores apareceram no topo da escadaria para assistir o discurso.