A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 74
Uma música lenta soava no salão dando um clima harmonioso, mesmo com o barulho das conversas paralelas das mesas que cercavam a pista de dança.
No centro do salão, alguns casais dançavam sem ligar para o resto do mundo, se focando apenas na pessoa a sua frente.
— Me concede esta dança?
No entanto, para certa garota, a música, as conversas nas mesas, os casais dançando, a expressão de seus companheiros ou mesmo seus planos de interferir no ‘destino’ deste mundo, nada disso importava comparado a estas simples palavras.
Olhando para a palma da mão de Silver esticada em sua direção, Moon aceitou o convite sem hesitação, decidindo esquecer todo o resto por agora.
Com a dupla saindo da mesa subitamente, Seiji pausou seu sermão a tempo de escutar um grito de dor vindo de Freud.
— O que deu em você para me bater do nada?! — reclamou o jovem massageando suas costelas que foram golpeadas por Lina.
A dríade não respondeu, apenas alternou sua visão entre o raiju e o salão de dança.
— Sigh, tudo bem. Vamos? — Entendendo o significado destas ações, Freud convidou estendendo sua mão.
Desta vez a garota cruzou os braços e virou o rosto, uma reação bem pior que a última. Suspirando mais uma vez, o raiju fez o melhor possível para parecer um cavalheiro antes de repetir as mesmas palavras de Silver.
— Me concede esta dança?
O que finalmente lhe rendeu a aprovação de Lina e ambos saíram da mesa, deixando apenas o quarteto em uma situação ainda mais estranha.
Essa situação fez Mari fugir, e, por impulso, ela arrastou Seiji consigo até a pista de dança.
Como as únicas restantes na mesa, a ruiva e a loira se entreolharam com a primeira decidindo começar uma conversa já que seria ainda pior se ambas ficassem quietas.
Claro que, Mia havia esquecido que Shōri não era atualmente desta mesa.
— Que situação não é? — disse a jovem, coçando a bochecha.
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Enquanto a conversa começava, Moon e Silver chegaram à pista, assumindo uma postura de dança clássica.
‘Talvez tenha sido impulsivo da minha parte chamá-la de repente’
Ele não se arrependeu de ter feito, só pensou que foi súbito demais mesmo ela tendo aceito tão facilmente.
Por outro lado, a matriarca estava com problemas para se manter calma mesmo que sua expressão não tenha mudado até agora.
‘Hmm… Certo, pense sobre um lago, um muito calmo. Vamos lá, não é como se você não tivesse dançado antes. Só não pise no pé dele e tudo vai se acertar’
Como uma matriarca, Moon já esteve em outros bailes antes e já havia aprendido a dançar junto da etiqueta básica, embora nunca tenha precisado dançar em nenhuma das festas que foi.
Feliz ou infelizmente, essa situação e aquela eram bem diferentes e o seu coração martelando seu peito deixou isso claro.
— V-você já f-fez isso antes? — A jovem gaguejou levemente enquanto puxava uma conversa para se acalmar.
— Na verdade, pode se dizer que sim. Mas esse é o primeiro baile que eu participo oficialmente — Aquilo que ele participou foi mais uma armadilha disfarçada do que um baile. Silver ainda podia se lembrar do olhar sanguinário daqueles shinobis.
‘Yup, não era um baile nem um pouco’
— Parece que também não é sua primeira vez em uma festa assim — O jovem continuou com um tom calmo, tentando deixar Moon mais confortável já que ela gaguejava e ele podia sentir seu coração batendo incrivelmente forte pela sua mão, que estava em nas costas dela.
— Hm… Mesmo se fosse, não importaria tanto… — Desta vez suas palavras saíram mais fluidamente — Eu ouvi dizer que artes marciais e dança estão interligados, então deveria ser possível me virar de algum jeito…
Indiferente ao seu nervosismo, os passos da garota não falharam uma única vez desde o começo da dança.
— Acho que escutei algo assim também — Ele atualmente havia criado um estilo de esgrima mesclando certas danças então, isso só prova este ponto.
O que se seguiu foi uma conversa casual sem nenhum assunto relacionado à primeira fase, afinal, além de ambos conhecerem o futuro como consequência sabendo como o teste funcionava, eles confiavam na competência um do outro.
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— O que você achou dela? — perguntou Lina, não muito depois do início de sua dança.
— Da invencível? — respondeu Freud com outra pergunta, só para ver confusão aparecendo no resto da garota.
‘Sinceramente… Às vezes parece que ela simplesmente desliga o cérebro’
— Você não pesquisou sobre nossos potenciais oponentes, não é?
Para tal questionamento a dríade virou o rosto buscando esconder sua vergonha. Ela conhecia três pessoas da Souzan pois, dois deles eram de um grande clã e o outro era um artista famoso mas, de resto ela estava sem pistas.
Suspirando pela milésima vez neste dia, o raiju deu um resumo à garota do que ele sabia sobre algumas pessoas importantes das outras academias, antes de continuar com o assunto anterior.
— Eu acho que ela é problema, mas Silver deve dar conta dela.
Lina assentiu de acordo, como se isso fosse um fato imutável. A dupla ganhou muita confiança na força do dragão prateado após o tempo que trabalharam para ele, então ao seu ver, não havia com o que se preocupar na primeira fase.
— Ela faz seu tipo? — perguntou de repente a dríade.
— Huh? Um… Talvez? — respondeu o raiju, ganhando um pisão no pé como consequência.
— Ugh! De novo? Vai falar que você não acha Silver bonito?
— Acho. Mas ele não é um inimigo, ela é — Ela não hesitou em sua resposta, antes de dar uma lógica furada na opinião de Freud.
Lina seguiu puxando assuntos aleatórios antes de pisar no pé do raiju, tornando esta dança uma tortura para o jovem.
‘Um casal feliz, isso é tão… Horrível. Porque vocês não param de esfregar sua felicidade no rosto de nós solteiros e só desaparecem?’
Se o jovem soubesse que todos os alunos em outras mesas achavam que eles eram um casal, os médicos contratados pelas academias teriam muitas visitas até o fim desta noite.
‘Heh, que idiotas’
Passando os olhos rapidamente pela pista, Freud viu a ‘dança’ de certo duo e de repente não se sentiu mais tão mal.
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— Ugh! Ei, quantas vezes vou ter que dizer para você pisar ali e não no meu pé? — reclamou Seiji.
Nem parecia ser o mesmo jovem quem estava protegendo Mari com unhas e dentes minutos atrás. A verdade é que nenhum dos dois sabia dançar e a espadachim o arrastou para a pista por puro capricho, sem ter qualquer vontade de dançar.
— A culpa é minha que você não sabe dançar?!
— É! Por que me arrastaria para cá se você não sabe fazer isso?
Isso foi estupidez e a jovem percebeu no meio do caminho mas, agora já não havia volta.
— Esquece — Mari suprimiu sua raiva antes de fazer uma pergunta sobre algo que a deixou curiosa — Qual o problema daquela garota?
Era a segunda vez que ela recebia ódio gratuito sem saber a razão por trás disso, então ela obviamente ficou interessada no porquê.
— Sho? Não tenho certeza… Ela costumava ser gentil quando éramos pequenos.
Ele ainda podia se lembrar do tempo em que eles protegiam Shizukana de alguns valentões da vila onde nasceram. Algo que talvez ela tenha esquecido, dada a forma com que agiu agora pouco.
Sua sessão de volta ao passado foi interrompida por outro pisão em seu pé, tornando a nostalgia em raiva.
— Merda! É tão difícil não pisar no meu pé?! — Ele não achava a tarefa muito difícil, considerando que em nenhum momento o jovem fez isso com ela.
— Talvez fosse menos fácil se você movesse esses palitos que chama de pernas!
A cena se repetiu muitas vezes no decorrer da música, o que tornou esta a primeira e última vez que a dupla dançou juntos.
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— Então… Você é amiga de infância do Seiji huh? — Mia perguntou o óbvio, procurando finalizar o silêncio na mesa.
— Sim, e ele não mudou nada — A invencível tinha um sorriso que não parecia ser de alegria.
— Sério? Mesmo o complexo de herói? — Se preparando para anotar mentalmente a fênix questionou.
‘Pode ser útil futuramente para recrutá-lo’
Ela não havia desistido desta ideia mesmo após meses da sua primeira avaliação do garoto. Não por força ou ela iria até Silver, mas por potencial bruto.
‘Se minha irmã conseguiu eu também vou!’
O recrutamento, mesmo que para seu clã, nunca foi relacionado ao seu pai. Ela queria ser como sua irmã quem tinha diversos subordinados leais dentro do exército, embora não fosse totalmente necessário já que Lorie poderia lidar com seus inimigos sozinha.
— Seiji sempre se inspirou num conto de fadas que ouvimos quando crianças… — Houve uma pequena pausa, pois a jovem aparentemente ganhou uma iluminação momentânea — Pensando bem, faz sentido ele ter ficado assim.
Ela não elaborou mais após isso, deixando Mia mais curiosa sobre qual livro infantil poderia influenciar alguém a ter este tipo de personalidade.
— Que livro era?
— [Light].
A fênix obviamente não se lembrava do nome de todas as histórias que ouviu quando criança, então planejou perguntar a Elijah sobre isso mais tarde.
‘Mas o nome parece bastante autoexplicativo’
— Hmm… Algo mais a adicionar? Uma fraqueza talvez? — Mia decidiu ser mais direta, afinal, depois da ‘briga’ que eles tiveram agora pouco, Shōri logicamente deveria estar muito mais disposta a revelar informações sobre Seiji do que em qualquer outra ocasião.
‘Essa é a chance perfeita!’
Foi o que Mia pensou, mas, infelizmente para ela, Shōri tinha outros planos. A invencível ignorou sua pergunta e fez alguns sinais de mão que a fênix não pôde entender antes de se levantar da mesa.
Com um olhar decepcionado, a ruiva observou sua melhor fonte de informação caminhando para longe, levando junto consigo a esperança de um recrutamento fácil.
Isso ficou passando por sua mente durante alguns segundos antes dela perceber o caminho peculiar pelo qual a loira foi.
‘Aquela não é a mesa das…’
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— Como foi? — Shizukana perguntou enquanto criava uma cadeira com gelo, pois a invencível não trouxe a dela.
Shōri olhou para a estrutura em silêncio e vendo a expressão inocente de sua amiga, ela se lembrou que a jovem não tinha o melhor senso comum.
‘Desconfortável assim como eu pensei’
A cadeira poderia não incomodar Shizukana ou mesmo sua tia já que estavam acostumadas com o elemento mas, era feita de gelo no fim, nem todos aguentam ficar sentados em algo gelado e não tão bem feito.
— Pior do que eu esperava. Primeiro, ele aparentemente tem uma namorada e, segundo, o complexo de herói dele chegou a outro nível.
Ela realmente admirava isso quando eles eram pequenos porém, de onde veio essa não era a qualidade mais fundamental de se ter, na verdade ter isto só traria problemas.
— Eu vi! Shizu, seu amigo de infância é realmente corajoso. Para ser capaz de gritar com A invencível ele não é qualquer um — A jovem de cabelos castanhos ao lado de Shizukana comentou.
— Sho, esta é Grace. Grace, esta é Sho — Percebendo o olhar duvidoso de sua amiga, a garota decidiu apresentá-las.
— Prazer! — exclamou entusiasticamente, recebendo apenas um aceno da loira.
— E então, o que você vai fazer sobre isso? — Vendo a resposta desinteressada de Shōri, Grace perguntou para sua amiga.
De suas conversas passadas ela pôde perceber que Shizukana gostava de seu amigo de infância e, agora, a jovem poderia apostar que a invencível sentia o mesmo. A questão em sua mente era como elas gereciavam isso pois as duas não pareciam estar disputando.
— Nada — Ambas responderam ao mesmo tempo.
A garota discordou mentalmente da decisão, mas não falou nada. Ela preferiu ficar em silêncio do que arriscar ofender sua amiga e a amiga de infância da mesma. Deixando isso de lado, Grace mudou o assunto evitando um possível conflito.
O baile foi proveitoso para alguns e maçante para outros, mas o fato era que a festa cumpriu seu papel no torneio. No fim, aqueles que menos aproveitaram o evento foram os diretores que foram pegos no fogo cruzado da briga entre os quatro maiores.