A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 75
O tilintar das correntes era o único som presente no local, do qual não tinha nenhum tipo de iluminação e, embora não se pudesse dizer que cheirava mal, também não era um jardim de rosas.
No fundo da cela estava um jovem, de cabelos prateados quem tinha os olhos fechados, tornando difícil dizer se ele estava dormindo ou não. As correntes se enrolavam por seus braços e pernas, o mantendo suspenso na parede sem deixar espaço algum para mover o corpo.
Se passaram três dias desde o início da primeira fase, tempo o suficiente trancado para Silver pensar em muitas coisas.
‘Eu sou azarado pra cacete’
Durante a primeira fase que ele leu, Seiji começou como um plebeu aspirante a cavaleiro enquanto Mia se tornou uma nobre.
‘Situação idêntica a vida real’
Já Silver por outro lado, acordou preso em Deus sabe onde sem informação nenhuma sobre que tipo de background tinha, muito menos de como Moon estava.
Cinco dias foi o prazo limite que o dragão prateado deu para sair a força desta prisão, coisa que ele só não fez pois poderia dificultar bastante seu objetivo de dominar o reino.
‘Eu por acaso enlouqueci?’
Foi outro assunto no qual ele pensou. O Silver de antes da morte de Raymond não teria dado prazo de tempo algum antes de sair dali e dominar o reino à base da força, assim como ele fez na cidade-baixa.
Claro, a adoração estranha vinda dos moradores do local ajudou bastante, porém não foi o fator principal.
Mas indo contra isso, neste caso o jovem decidiu dar a Moon o benefício da dúvida, confiando que ela não demoraria para encontrá-lo.
Outra coisa que ele pensou foi…
‘Eu deveria voltar a treinar o pirralho direito… E ver se minha teoria sobre ele está certa. Se estiver, vai ser decisão dele tentar me matar ou só sair do grupo’
Seria uma decisão de Hibiki e não era algo para se pensar neste momento, afinal, existiam prioridades maiores no momento.
De repente ele escutou sons de batalha vindo de fora da cela, sendo eles intensos demais para ser qualquer tipo de treinamento ou demonstração.
Abrindo tranquilamente os olhos, Silver sorriu.
— Parece que as coisas estão prestes a ficarem interessantes…
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Enquanto Silver esperava as coisas esquentarem após três dias parado, Moon, depois de trabalhar duro pela mesma quantia de tempo, finalmente recebeu uma boa notícia.
— Sua majestade — Dois soldados se ajoelharam frente ao trono em que a matriarca estava sentada.
Isso mesmo, ela teve alguma sorte quanto ao sorteio de seu ‘personagem’. A jovem acabou por se tornar a princesa do reino, a qual teve seu pai assassinado há exatos três dias atrás, consequentemente passando a coroa para ela.
Talvez a situação possivelmente deveria ser traumatizante para ela, como seu ‘pai’ havia morrido pouco tempo atrás. Tão cruel quanto pareça, Moon tratou isso como um golpe de sorte sem se preocupar demais.
Já sobre o caso de assassinato, essa era a razão pela qual sua missão aqui ainda não foi completa. Nos registros oficiais, o rei anterior morreu de causas naturais, mas a matriarca sabia que não foi bem assim.
Boa parte da nobreza, embora fossem tidos como seus subordinados, não estavam realmente sob seu controle.
— A-acho que nós… Encontramos aquele que vossa alteza procura mas… O caso dele é bem… Peculiar — O soldado que parecia ser o mais velho afirmou.
‘Demoraram três dias para encontrar Silver… Sigh’
Quem diria que seria difícil procurar um único jovem de cabelos prateados dentre os milhares de cidadãos deste reino? O que mais atrapalhou a pesquisa foi a tecnologia precária mas, desde que chegou, quem era Moon para reclamar?
— Bem… — O homem a parecer desnecessariamente nervoso e suor começou a escorrer pelo seu rosto.
— Ele era um general e o último filho da família Asími. Alguns anos atrás, ele foi preso por… Dizimar outra família nobre — O soldado mais novo explicou ao ver que o outro não iria falar.
— Hmm… Alguma razão para você estar com tanto medo? — Moon questionou.
— E-eu e-estava lá n-no dia… — Foi brutal o suficiente para ele pensar em sair do exército, mas ele continuou.
‘Silver provavelmente vai ficar bastante confortável com esse personagem.’
— Então, vocês dois vão trazê-lo para mim — ordenou a matriarca.
Antes do homem levantar qualquer reclamação, o mais novo o arrastou para fora da sala do trono sem olhar para trás.
— Bem, acho que é melhor eu me preparar para sua chegada — Moon sorriu enquanto pensava em uma forma de lidar com os nobres rebeldes e numa boa recepção para o seu aliado.
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— Isso está certo? — perguntou um dos homens na sala, surpreso pela decisão da princesa.
— Sim, ela realmente enlouqueceu após a morte do rei.
Precisar da ajuda deste tipo de gente só confirmou para eles que a princesa estava desesperada.
— Eu já mandei alguns dos nossos para impedir que isso aconteça — Uma única pessoa não era digna da atenção deles e, da mesma forma, não poderia mudar toda situação do reino sozinha.
— É realmente necessário tudo isso para subir no trono? — O homem não estava duvidando, só achava desnecessário ter todo esse trabalho para lidar com uma garota que nem deveria saber lidar com um reino.
— Precaução nunca é demais. Enquanto existir a chance do oponente se levantar, nós temos que arrancar toda e qualquer oportunidade que ele tenha.
— Oooh, faz sentido. Ei traga outra garrafa de vinho para mim — Não pareceu o homem escutou o que lhe foi dito, simplesmente pedindo ao seu servo mais vinho.
‘Por isso você nunca vai ser rei’
Nunca houve qualquer chance do trono ser dividido, e mesmo o servo sabia disso. A única razão para ele não dizer isso ao seu mestre, foi a enorme chance dele morrer por dar sua opinião. Essa não seria a primeira vez que tal coisa aconteceria, de fato, não seria nem a segunda.
— Um brinde ao nosso futuro reino — exclamou logo que a bebida chegou, e ambos brindaram.
‘Ao meu reino’
Pensou o homem, feliz por ter escolhido o idiota certo para se aproveitar até finalmente ter o que sempre quis.
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Em um reino não tão distante deste, um homem estava suando frio graças a situação que se desenrolou perante ele.
O lugar à sua frente era o espaço mais aberto deste lado do reino, sendo este a plataforma usada para executar criminosos. Esse evento foi bastante apreciado pelos cidadãos, mas comparado a situação de agora não era digno de menção.
No palco haviam duas pessoas, uma jovem inexpressiva de cabelos cinza-escuro segurando um guarda-chuva e um homem que parecia uma mulher o qual tocava um violino.
A melodia era doce e hipnotizante, hipnotizante até demais. O povo se reuniu por todos lugares possíveis e impossíveis na região, e o pior de tudo foram os olhos vidrados de todos como se não quisessem perder nem um segundo da música.
O homem aterrorizado com a situação era o próprio reino, onde não havia nada que ele pudesse fazer além de aceitar.
Dar a ordem para matá-los? Já foi feito e acabou com cinquenta soldados eliminados pelas mãos da garota que empunhava o guarda-chuva.
Vale dizer que isso estava acontecendo pelos últimos três dias e, somente nos últimos dois os soldados foram enviados.
Declará-los hereges? O tiro saiu completamente pela culatra, com a dupla saindo como apóstolos da deidade e a insatisfação para com a coroa sendo plantada no coração do povo.
‘Se eu apenas visse os sinais no primeiro dia…’
Mas agora era tarde demais, só lhe restava cerrar os dentes e esperar o golpe chegar.
— Eu deveria tirar minha família daqui primeiro…
Se por alguma chance a dupla decidisse executá-lo publicamente para solidificar sua posição, ele iria preferir que seus familiares estivessem longe. Não apenas para poupá-los de vê-lo nesta situação, mas também para evitar que eles fossem alvejados também.
Enquanto o rei pensava nisso, a música parou abruptamente fazendo os olhares já focados na performance se concentrarem ainda mais em suas palavras seguintes.
— Meu povo! — O homem começou, baixando seu instrumento.
Só o inimigo do discurso já deu nos nervos do rei. As palavras ‘meu povo’ neste caso deixou a entender que o palestrante já havia se tornado rei.
— Eu recebi uma revelação de vosso ‘senhor’. E é com grande lástima que venho lhes informar sobre a calamidade vindoura — Seguiu com um tom triste, o qual contagiou toda a plateia como suas expressões perceptivelmente despencaram.
Observando a tristeza no olhar do povo, o violinista sorriu mentalmente.
— Porém não se apressem em perder as esperanças! Vosso ‘senhor’ ei de me entregar as ferramentas para que passemos por tal tribulação — Esperança surgiu no olhar de cada ouvinte, com a única exceção sendo o rei, quem tinha 90% de certeza que tudo isso foi inventado.
— Para que alcancemos isso, meus amigos, eu suplico a vocês que me auxiliem no primeiro passo para a salvação — Durante o discurso ele desceu do palco e se juntou a plateia, fazendo com que todos eles se sentissem mais ‘próximos’ do seu objeto de adoração, esticando os braços ao máximo simplesmente para encostar no dito apóstolo.
O rei não tinha palavras para descrever o que sentou vendo isso, ele só desistiu da ideia de ficar no local e correu o mais rápido possível para longe deste amontoado de lunáticos.
A jovem que sobrou no palco tinha uma visão semelhante do assunto, enquanto se questionava como seu ‘companheiro’ fez isso. Afinal, antes deles entrarem neste mundo virtual lhes foi dito que quaisquer habilidades espirituais dos [Contratantes] ou [Variantes] seriam seladas.
Isso quer dizer que isto aconteceu com simples música? Ela poderia admitir a qualidade da serenata porém, a reação do público foi um tanto exagerada na sua opinião.
‘Será que eu sou a louca aqui?’
Independente dos pensamentos dela, o violinista passou a primeira missão ao povo, que era nada mais nada menos que…
— Abaixo ao rei!
— Fora a coroa!
A queda do atual monarca.
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Enquanto um golpe de estado se formava, havia uma situação semelhante acontecendo em um reino não tão distante. A única diferença foi que os cidadãos não foram manipulados.
O povo se reuniu em uma arena preparada especificamente para esta ocasião. O lugar era grande o suficiente para acomodar todos eles sem muito problema, com seu centro sendo um ringue quadrado feito de concreto puro.
Neste momento o silêncio predominou o local, pois todos presentes aguardavam ansiosamente o desfecho da batalha.
No centro, duas pessoas se enfrentavam com intensidade. O maior de ambos era um homem grande e musculoso, o qual tinha cortes preenchendo seu torso e uma ferida perigosamente perto de seu olho esquerdo.
Ele segurava um machado de lâminas duplas e tinha uma expressão feroz ao encarar seu oponente.
Oposto ao homem estava uma jovem, com cabelos loiros e trançados. Ela empunhava um escudo pequeno e circular em seu braço esquerdo e uma lança em sua mão direita, não havia qualquer ferimento visível nela e nem mesmo os fios de seu cabelo estavam fora do lugar.
— Rei das feras é assim que você se chama, né? — Shōri perguntou, começando uma caminhada lenta em direção ao seu inimigo.
— Você até que é forte… — Os músculos do homem se tencionaram pela aproximação da jovem — Mas eu sou mais.
Alcançando a distância perfeita para atacar, a jovem moveu sua lança em um arco partindo contra o rosto do homem. A arma colidiu com o machado, fazendo ambos recuarem pelo impacto.
Sem demora, Shōri usou sua mão esquerda para forçar outro ataque ricocheteando a lança com ainda mais força que no golpe anterior.
O rei só pôde se mover o suficiente para fazer a lâmina não feri-lo muito profundamente, ainda sim recebendo um corte largo no peito.
A jovem não esperou ele se recuperar, pisando a frente e usando o escudo como arma para atingir a ferida recém aberta. O homem tentou usar o cabo de seu machado para impedir o golpe, porém, isso se provou ser um erro pois a arma enganchou na fresta entre o escudo e o pulso de Shōri.
Prontamente abandonando sua lança, a loira socou o peito do homem que ainda tentava recuperar a arma, o mandando rolando pelo chão.
Agora de joelhos, o rei encarou entre respirações pesadas a sua, logo para ser, assassina. A loira tirou o machado do escudo fazendo outra marcha lenta até seu inimigo, o qual parecia ter aceitado a própria morte.
— Alguma última palavra? — questionou Shōri, posicionando a lâmina do machado no pescoço do rei.
— Nenhuma. O reino é todo seu — Fechando os olhos e baixando a cabeça, o homem apenas aguardou silenciosamente sua morte.
Com um corte limpo, tanto a vida quanto o pescoço dele se desprenderam de seu corpo.
Sob o silêncio da plateia, um homem que tinha grandes semelhanças com o rei caminhou até o centro da arena segurando suas lágrimas.
— Conforme aquilo que foi descrito em nossas leis, eu declaro… — Houve uma pausa quando ele percebeu que não sabia o nome daquela quem matou seu irmão.
— Shōri Shina — A garota disse, ignorando completamente as emoções do homem.
— … Shōri Shina como nossa mais nova rainha… Aqueles que desejam desafiá-la, façam agora ou…
Após alguns segundos de pensamento, ele decidiu honrar seu irmão caído com a mesma frase citada na cerimônia de coroação do mesmo.
— Só vão poder fazer ano que vem, então se não querem esperar venham logo.
Ignorando a frase final, aplausos e gritos vieram da plateia.
Com um sorriso, Shōri levantou o machado que ainda tinha resquícios de sangue do oponente morto, fazendo com que o público torcesse ainda mais dando calorosas boas vindas à sua nova rainha.