A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 76
Dentro da sala escura, Silver recebeu um súbito flash de luz quando um homem que parecia um soldado entrou correndo no local.
O som feito pela porta foi estridente graças à ferrugem, como se ela não houvesse sido usada há muito tempo. O soldado correu até o fundo da cela, com a luz vinda da entrada deixando claro para o dragão prateado a expressão apavorada no rosto dele.
Rindo da ironia que era o preso ser a pessoa mais calma no recinto, Silver assistiu o homem retirar um chaveiro repleto de chaves com suas mãos trêmulas, para então passar uma por uma procurando aquela a qual encaixava na fechadura das correntes que prendiam o jovem.
— Precisa de ajuda aí parceiro?
Ignorando o comentário sarcástico, o soldado caçou a chave ficando cada vez mais desesperado. A situação durou por segundos, mas o homem sentiu que foram horas até que Silver decidiu ter se entretido o suficiente.
Com um simples flexionar de seus braços e pernas, as correntes enferrujadas se quebraram permitindo que ele se movesse mais livremente, embora tanto as algemas nos seus membros permanecessem assim como os remanescentes das correntes que os ligavam.
— Por quê eu não fiz isso antes? — Ninguém entrou na cela por três dias, então não fazia diferença se ele estava acorrentado ou não desde que ele permanecesse lá dentro.
— Fique atrás de mim — ordenou ele para o soldado.
‘Eu preciso de alguém que me dê informações sobre o reino, e quem seria melhor do que o soldado desesperado logo ali?’
Decidindo isso, Silver caminhou até a porta, parando apenas ao escutar passos apressados se aproximando. Quando o dono deles finalmente chegou na entrada, tudo que ele recebeu foi um chute no peito que o mandou de encontro com a parede para nunca mais levantar.
Pisando fora da cela acompanhado do soldado apavorado, o dragão prateado deu de encontro com um mar de possíveis inimigos quem tinham suas lâminas e armaduras manchadas de sangue.
Haviam diversos corpos no chão, de pessoas que vestiam armaduras parecidas com as deles, mas na verdade eles não pareciam aliados.
O barulho do choque entre o soldado e a parede chamou a atenção dos demais, que olharam para Silver como animais famintos.
— Não é esse o nosso alvo? — perguntou um deles, obviamente falando de Silver.
— Ele é o único com cabelo prateado então acho que sim… — A descrição que passaram para eles foi que o alvo era um prisioneiro jovem de cabelos prateados, e só havia uma pessoa no local com estas características.
Desde a aparência até as correntes enroladas nos braços de Silver deixaram bastante claro que era ele a quem eles procuravam.
— Matem ele! — Com um grito, todos os soldados avançaram contra o jovem passando por cima dos corpos daqueles que eles haviam matado.
— Parece que eu sou bastante desejado — comentou Silver, ignorando o grito de medo do soldado que o seguia.
O primeiro inimigo a chegar não hesitou em lançar um corte na vertical, só para ser facilmente defletido e contra-atacado por Silver. Esperando a dor do golpe chegar, o homem arregalou os olhos ao ver a mão atravessar o seu peito.
A armadura que eles usavam não era só para enfeite, ela foi feita pelos melhores ferreiros que eles tinham disponível, além de terem sido testadas contra as espadas usadas pelos subordinados diretos do rei.
Vendo todo esse trabalho ser reduzido a nada diante uma simples palma, todos os demais soldados deram um passo atrás para reavaliar o nível de perigo do seu alvo.
Aquele frente a Silver não teve essa chance, com seu corpo caindo já sem vida no chão frio do corredor.
— É melhor você entrar na cela. Eu te aviso quando for seguro sair — Escutando outro grito agudo do soldado atrás de si, o dragão prateado sugeriu e o homem não hesitou em aceitar.
Tendo se livrado do peso morto, Silver se voltou para os soldados que estavam extremamente atentos a cada movimento seu.
— Deveríamos?
Sem surpresa, ninguém respondeu.
‘A demonstração anterior com certeza deixou uma impressão profunda neles. Isso facilita bastante as coisas’
Ele e seus inimigos não estavam separados por mais do que dez metros de distância, mas nenhum deles ousou atacar precipitadamente.
O corredor tinha espaço o suficiente para alinhar e ainda haveria algum espaço sobrando. Pelo que Silver podia ver, havia pelo menos setenta outros inimigos no local.
‘Não é o maior número que eu já enfrentei, muito menos o mais forte’
As estátuas que ele enfrentou para se tornar um [Contratante], pareciam bem mais fortes do que os inimigos à sua frente.
Não recebendo nenhum movimento dos inimigos após um longo período de tempo, Silver decidiu atacar primeiro.
Dando alguns passos para frente ele usou a corrente como um chicote, acertando e empurrando os dois inimigos à esquerda. Apesar de preparados, a dupla não aguentou o peso por trás do golpe e sangue espirrou, deles e de seu primeiro companheiro caído.
Com sangue manchando seu rosto, o soldado à direita de Silver fechou os olhos por um instante e quando abriu novamente foi recebido por um punho que o mandou para um destino semelhante ao dos dois atacados antes.
A dupla atrás dele conseguiu se esquivar do corpo que vinha em sua direção e, pela segunda vez desde o início da batalha, eles atacaram Silver. Infelizmente, eles estavam próximos demais do jovem, que com um simples passo a frente impediu os cortes antes mesmo deles serem feitos.
— Parece que eu tô meio enferrujado — comentou Silver, chacoalhando ambas as mãos para tirar o sangue delas.
— Huh?
Foi tudo que um deles pôde pronunciar antes de marcas parecidas com as de garras aparecerem em seus pescoços.
— Aliás, por que vocês não usam capacetes? — Se eles usassem dificultaria um pouco o trabalho dele, mesmo que só um pouco.
Não houveram respostas razoáveis para essa pergunta, os seus inimigos simplesmente avançaram contra ele.
Levantando a espada do caído mais próximo com o pé, Silver tinha uma arma em mãos a tempo de aparar os golpes seguintes. O jovem seguiu aparando, se esquivando e, raramente, contra-atacando os ataques de vários soldados ao mesmo tempo.
‘Ele… Está brincando com eles?’
Espiando sorrateiramente pela porta da cela, o soldado que tentou soltar Silver assistiu a cena com descrença. Mesmo querendo vomitar ao ver o sangue espalhado pelo corredor, ele travou os olhos na performance do dragão prateado.
Silver não estava só brincando com os inimigos, ele também tentou se familiarizar com a força dele neste mundo virtual. Conseguindo a informação que queria, o jovem se afastou dos soldados já cansados para dar uma olhada geral em suas posições.
Graças à situação anterior eles estavam aglomerados com uma distância mínima os separando, dificilmente o suficiente para se mover ou atacar de forma eficiente.
Satisfeito com isso, Silver moveu a espada em sua mão esquerda, cortando as algemas que ainda estavam em seus pulsos e perna.
— [Estilo fera – Modo raposa]… — Ele começou, enquanto dobrava seus joelhos e movia a espada em sua mão para uma posição perfeita para desembainha-la
— [Primeira forma – Dança das três caudas] — Silver disse, avançando contra a multidão de inimigos em sua frente.
Diferente de sua luta contra o Berserk, desta vez ele usou a esgrima completamente na ofensiva.
Cortes choveram nos soldados que mal tinham espaço para defender ou contra-atacar. Sangue pintou as paredes e chão do corredor quando cada vez mais soldados caíam.
Com um passo ao lado, Silver defletiu o ataque de um soldado logo em seguida cortando o braço do mesmo. Usando o homem ferido como cobertura, o dragão prateado rodeou ele eliminando todos aqueles que hesitaram ao ver o companheiro ferido.
— Quão bonito…
Contemplando a ‘batalha’ como um espectador, essas foram as únicas palavras que ele conseguiu usar para descrever a cena. Em algum momento, o homem parou de prestar atenção nos corpos e no sangue, passando a admirar a dança feita por Silver.
Silenciando o soldado que ainda lamentava a perda do braço, o jovem se viu insatisfeito com a velocidade em que eliminava os inimigos.
— [Segunda forma – Dança das seis caudas] — Com essas palavras, seus cortes ficaram ainda mais rápidos e mais numerosos, consequentemente liderando a queda mais rápida de seus inimigos.
Para o soldado que assistia, Silver se tornou uma figura quase ilusória derrubando diversos inimigos em lugares diferentes no mesmo instante. Embora não conseguisse ver o autor, ele podia ver o sangue espirrando de cada soldado antes deles caírem.
O jovem pausou seu massacre quando apenas um dos inimigos restou, parecendo pensar profundamente sobre algo.
‘Eu interrogo ele para saber quem mandou eles aqui, ou será que aquele soldado medroso sabe quem foi?’
Havia a possibilidade deles terem anunciado o nome do mandante assim que chegaram aqui, e se isso aconteceu qualquer informação que ele poderia oferecer o soldado medroso já tinha.
A indecisão terminou quando ele escutou passos apressados vindos de mais a frente e, julgando pela ansiedade expressa neles, Silver assumiu que os donos tinham muito o que falar.
Olhando para o último inimigo de pé, o jovem suspirou ao perceber o mesmo congelado de medo à beira de um desmaio. Com um corte limpo, o soldado foi eliminado enquanto duas figuras se tornaram visíveis no fundo do corredor.
Limpando o sangue das mãos, Silver aguardou a dupla chegar, o que não demorou muito. Ambos recém-chegados estavam pálidos mas, estranhamente, o que parecia mais novo era o mais composto entre eles.
— Então, qual dos dois quer gentilmente me dar as informações que eu quero?