A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 81
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- Vol.2 Capítulo 81 - Coroação, insultos velados
Era dia de celebração no reino, dia de coroar sua mais nova rainha e ansiar pelas mudanças que a mesma traria.
Graças às mudanças feitas antes mesmo da jovem ser formalmente apontada como rainha, o povo tinha mais do que razão o suficiente para ansiar pelos tempos que viriam após ela assumir o trono.
E assim, pessoas de todas as partes do reino se reuniram nos bares buscando única e exclusivamente celebrar a coroação da princesa. Claro que, nenhum comerciante perdeu a chance de ganhar dinheiro com isso e, logo, diversas barracas foram erguidas dando início a um enorme festival dedicado à coroa.
Completamente oposto ao resto do reino, o clima no palácio não era nenhum pouco festivo. Havia certa tensão no local, mesmo este sendo aquele quem deveria estar mais animado.
Assim que entrou pelas portas do salão acompanhado de sua filha, um comerciante que comprou seu caminho até a nobreza de acordo com as novas leis determinadas pela princesa sentiu a estranheza no clima.
Existiam diversas regras não faladas no ramo que ele decidiu seguir. Não fazer perguntas demais para certos clientes, ficar fora do território de outros comerciantes e outras muitas. Porém, após entrar no salão o homem sentiu que poderia ter quebrado uma destas.
Desconfie de acordos bons demais.
Gastando algum dinheiro ele conseguiu se tornar um nobre, mas a que custo? Ele não era burro. O homem percebeu que a relação entre os nobres e a princesa não estava pacífica e as novas leis deixaram isso ainda mais claro.
‘Mas a tentação era demais…’
Usar algumas moedas de ouro para se tornar um nobre foi uma possibilidade imperdível, então ele se apressou em agarrá-la.
O que ele não sabia era que, com essa decisão todos nobres o veriam como alguém da facção da rainha.
Escaneando os convidados, o homem encontrou um dos seus clientes mais fiéis. Karlan Hendricks, um jovem de cabelos castanhos e um dos primeiros que ele considerou para oferecer a mão de sua filha.
Gesticulando para que a garota o seguisse, ele se aproximou de Karlan, quem estava apoiado em um dos pilares do salão.
— Karlan, a quanto tempo! — Isso chamou a atenção do jovem, que o deu um olhar tão afiado quanto uma faca. Uma reação estranha considerando sua personalidade.
— Oh, é só você Tom — O olhar amaciou um pouco, mas não tanto — Você é um dos que comprou um título nobre?
— Sim, por que a pergunta? — O comerciante pareceu confuso até que o soldado apontou para três pessoas diferentes.
— Todos eles vieram até mim pouco tempo depois de entrar no salão — E então um olhar iluminado surgiu no rosto de Tom.
‘A prince… não, a rainha planejou tudo isso? Se sim, ela pode ser quase tão assustadora quanto o senhor’
Karlan pensou silenciosamente. Ele admitia que seus tempos passados no exército não foram dos melhores, mas aparentemente ele se subestimou.
‘Ela arrastou todos eles para o seu lado com a chance de se tornarem nobres, e como eu era um cliente confiável, as chances deles ficarem mais confortáveis do meu lado eram bem maiores’
Em suma, a rainha havia ganho o apoio involuntário de diversos comerciantes sem nem mesmo precisar falar com eles.
Após olhar mais atentamente a situação, Tom percebeu que nenhum comerciante se aproximava dos nobres e o contrário também aconteceu. Mesmo se os homens percebessem a situação, algo que Tom tinha certeza que já ocorreu, eles não poderiam fazer nada para mudar.
— Em respeito aos nossos negócios, é melhor você ficar próximo de mim hoje. De preferência uns três passos atrás — Karlan sugeriu.
De acordo com Silver, as coisas ficariam feias se o plano corresse perfeitamente, então, em respeito aos seus acordos anteriores, ele decidiu dar uma chance a Tom. Uma que o homem não pensou duas vezes antes de aceitar.
O tempo passou e a tensão foi aumentando até chegar ao ponto de quebra, a chegada da princesa.
Diferente de todos outros convidados, a entrada da futura rainha e de seu general foram anunciadas.
— Saúdam vossa princesa e seu general! — Ao som de trombetas, as portas se abriram e a dupla entrou caminhando calmamente até o salão.
Moon estava usando um vestido branco, com pelugens pretas rodeando as golas e detalhes em dourado adornando ele. Silver vinha ao lado dela, vestindo um sobretudo branco com botões pretos e de gola alta a qual, assim como suas mangas, estavam rodeadas de pelugens pretas.
A dupla caminhou em direção a um trono, posicionado sob um altar cerimonial feito especificamente para essa ocasião.
Na metade do caminho, dois homens interromperam propositalmente a caminhada.
— Olá pequena Moon. Você se lembra de mim? Eu era um grande amigo do seu pai.
Sem vossa majestade, alteza ou mesmo princesa, simplesmente Moon. Isso era um insulto óbvio para qualquer nobre presente, ainda mais com a palavra ‘pequena’ na frente como se ele fosse superior a ela.
— Não.
Vendo a expressão surpresa no rosto do homem, a jovem decidiu ‘esclarecer’ a situação para ele.
— Não sei quem é você. Meu pai tinha muitos amigos.
Ela não tinha certeza absoluta disso, mas como ele era o rei, sendo puramente políticos ou não, ele deveria ter muitos deles.
Perdendo as palavras por um momento, o homem decidiu continuar a conversa apenas para ser interrompido por seu parceiro.
— Acho que posso falar por todos nobres presentes aqui, que nos sentimos honrados pela princesa seguir uma de nossas tradições — Essa frase rendeu alguns acenos daqueles mencionados, fazendo o sorriso da dupla se alargar.
‘Por isso eu odeio me envolver em política’
Isso era uma troca de insultos disfarçada de forma que, só alguns que prestaram atenção aos detalhes e entendiam bem a situação do reino iriam perceber este tipo de insulto.
Esse tipo de situação era cansativa e irritante, Silver estava se segurando bastante para não começar a matá-los agora.
— Você é…? — perguntou Moon, se referindo ao segundo homem da dupla.
— Eu me chamo Vigrid von Castellan — Assim que terminou de se apresentar, ele estendeu a mão para a jovem princesa, pretendendo continuar com uma saudação digna.
No entanto, Moon não tinha intenção nenhuma de ser cortês, ignorando a mão ainda no ar e voltando sua visão para o altar.
— Ligrid, pode se retirar do caminho gentilmente? Afinal, temos uma cerimônia para terminar — As palavras eram cordiais, mas o tom não era e o erro bruto do nome que acabara de ser dito só deixou claro seu ‘desinteresse’ pelo que o homem queria dizer.
— Temo que não seja possível, vossa alteza.
Essa frase fez o clima de tensão no salão aumentar, com os demais presentes no local esperando o início do derramamento de sangue. Todos com exceção de comerciantes como Tom, quem não queria nada menos do que correr para o mais longe possível antes de uma guerra começar.
— E por quê isso?
— Simples — Vigrid estalou os dedos, e um servo se aproximou com uma bandeja em suas mãos, e sobre ela havia uma taça repleta de um líquido vermelho — gostaria de lhe oferecer uma bebida em favor de lavar qualquer preocupação sobre a cerimônia.
Vamos lá, você sabe que seu pai foi morto envenenado dias atrás e está consciente de uma grande inimizade entre a realeza, da qual você faz parte, e a nobreza. E então, durante sua cerimônia de coroação, um nobre oferece uma bebida para ‘aliviar suas preocupações’.
Nenhum pouco suspeito não acha?
‘Sério? Não é nem um talvez, com certeza tem alguma coisa aí’
A jovem olhou para a taça por alguns momentos, resistindo a vontade de perguntar diretamente ao homem se ele era estúpido, ou então insultá-lo sem mais joguinhos para manter a imagem.
‘Calma Moon… Você não lidou com idiotas feitos os Ludewig por todos esses anos para nada’
— Talvez eu tenha te superestimado… Não está fora dos costumes que você tanto prega beber antes da cerimônia? — Não havia nenhum pouco de desdém em seu tom, e sim algo próximo a tristeza e alguma decepção.
O sorriso de Vigrid balançou um pouco com o comentário, mas ele ainda sim manteve a mesma expressão.
— Oh, isso é lamentável. Imaginei que a vossa alteza tinha um fraco para quebrar leis… — Ele replicou o mesmo tom que Moon usou antes, e sob o olhar semicerrado da jovem, o homem continuou — Realmente lastimável perder uma bebida tão…
Enquanto estas palavras eram ditas e a garota cogitava mandar ele mesmo tomar, Silver pegou a taça de cima da bandeja a trazendo para bem próximo de seus lábios.
— Não tem problema se for eu a beber certo? Essa conversa toda me deu sede — Era uma pergunta totalmente retórica e o jovem virou a taça de vinho logo após terminar de falar.
O pensamento coletivo do público foi ‘você não tinha falado nada até agora’ e até mesmo o trio próximo a Silver ficou surpreso com as ações do jovem.
Moon foi a primeira a se recuperar, deduzindo que seu parceiro tinha algum tipo de plano e Vigrid veio logo depois, se contentando em eliminar o general da princesa.
‘Se tudo seguir como o planejado, até tudo começar ele não vai poder fazer nada além de assistir’
A jovem estava apenas meio certa ao imaginar que o dragão prateado tinha um plano, seu objetivo era comprovar uma teoria.
Desde o incidente na prisão, houveram diversas vezes onde Silver teve oportunidades de sobra para testar e comprovar que seu físico foi replicado e recriado quase perfeitamente neste mundo.
Então completamente consciente de que havia veneno na taça, ele bebeu para descobrir se sua resistência a esse tipo de substância o seguiu também.
Sim, Silver tinha alguma resistência a veneno embora, tão vergonhoso quanto possa parecer, não tenha servido em nada durante seu encontro com a jovem de cabelos coloridos quando Mia foi sequestrada.
Isso porque ela era uma especialista em diversos tipos de veneno e usou um bastante potente procurando eliminar Mia. Tirando o estado em que Silver ficou mesmo tendo resistência a isso, talvez a fênix morresse diretamente ou chegasse bem próxima disso.
‘No pior dos casos, eu só vou ter que lutar enquanto estou envenenado. Nada novo’
O pior caso não parecia tão ruim considerando a força dos oponentes que ele enfrentou até agora, mesmo envenenado o jovem tinha confiança de que poderia lidar com isso facilmente.
— Eu daria uma nota ‘meh’ mas já que é o que tem, pode descer outra dose — Não sentindo nada após tomar a bebida, Silver julgou que a dose do veneno nela foi pequena para que o efeito não viesse imediatamente.
Afinal, se Moon caísse logo após tomar o vinho que ele ofereceu, Vigrid não teria desculpas o suficiente para sair daqui vivo. E se isso fosse verdade, o veneno se tornou inútil assim que o jovem tomou.
Vendo a confiança no rosto de Silver mesmo após beber o veneno fez o nobre ter um mal pressentimento sobre a situação mas, mesmo assim ele gesticulou para seu parceiro que o plano ainda estava de pé.
No entanto, ao olhar para o lado, Vigrid viu o homem encarando o trono fazendo uma expressão estúpida que deixava óbvio o que estava pensando.
Respondendo a solicitação do dragão prateado, o servo lhe trouxe outra bebida e a dupla não atrapalhou seu caminho ao trono, eles apenas caminharam pelo salão conversando com outros nobres.
Finalmente sentada no trono, Moon observou o salão que parecia mais ‘vivo’ graças ao esforço de Vigrid e de seu companheiro. Silver fez o mesmo enquanto aproveitava sua bebida sentado em um dos braços do trono.
Para todos os demais nobres presentes, tal ato foi uma afronta à coroa e eles se sentiram insultados mesmo não sendo os maiores fãs da princesa. No entanto, como a mesma não disse nada, eles mantiveram isso para si mesmos.
O clima já não estava tão tenso quanto antes, e os convidados conseguiram aproveitar a festa o máximo que conseguiram.
Afinal, nem aqueles que se consideravam os mais espertos no salão previram aquilo que estava prestes a acontecer.