A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 87
[PDV: ???]
As chamas são tão quentes que se tornam insuportáveis quando estão próximas demais.
E eu sou fraco. Tão fraco e insignificante que mal posso chegar perto de uma chama tão ardente quanto essa.
Me arrastando pelas cinzas remanescentes do que já considerei minha casa, foi quando a realidade se tornou mais clara. O calor se chocando com minha pele gritou para mim que tudo isso não era um sonho.
Já sobre os gritos, a cacofonia enorme provocada pelas chamas e pelos gritos daqueles os quais corriam alegremente nas ruas ainda hoje levaria qualquer homem normal à loucura.
No chão, enrolado pelas cinzas de toda minha história estava ele. Um ídolo, uma lembrança. Minha única salvação quando em meus pensamentos reinava o mais puro caos.
Me agarrando a ele com toda força que tinha, olhei para o céu à procura de um sinal. Qualquer coisa que tornasse meu sofrimento algo mais do que apenas um capricho do destino, mas sim sua mensagem, suplicando para que eu fosse algo mais.
Foi quando vi eles. Deuses, demônios ou então apenas monstros. Os nomeie como desejar.
Banhados por uma aurora da qual não deveria existir estando tão longe da manhã, eles se encaravam em lados opostos sem nem mesmo ligarem para a toda destruição à volta.
Talvez por eu ser tão fraco eles não se incomodaram em olhar? Talvez por que as chamas não eram tão insuportáveis para eles? Ou talvez por que eles viam um mundo diferente do meu?
Como exatamente é o mundo que eles vêem?
Foi então que alguém me agarrou. E minha visão começou a se distanciar cada vez mais deles até o calor antes insuportável se tornar apenas uma brisa e, logo, somente o frescor da noite permaneceu.
Seguindo ao lado dos ‘remanescentes’ da minha cidade, olhei novamente para o símbolo, remetente a um deus cujo significado minha vó contou centenas de vezes.
Seth, o deus cão. Ou então como ela o chamava, o ‘deus dos opostos’. Um ser cuja divindade jazia no caos mas isso foi o que trouxe equilíbrio.
Eu não tirei muito disso na época, mesmo com as várias vezes que ela me contou, no entanto, hoje foi diferente. Agora eu posso ver que a destruição é simplesmente o início da criação, um meio para um fim.
Assim, eu cheguei a conclusão de que tudo que preciso fazer é me destruir e, então, reconstruir me tornando melhor e mais forte.
Não importa quantas centenas ou milhares de vezes leve, eu vou fazê-lo até poder ver o mundo que ‘eles’ podem ver.
Com isso, eu finalmente tinha um objetivo e esta foi minha primeira reconstrução. Já para a primeira destruição? Minha casa foi queimada totalmente por ela.
Olhando novamente para os ‘remanescentes’ da minha cidade, percebi que eles não viam isso da mesma forma que eu. Todos eles perderam completamente o fogo que havia em seus olhos antes da minha casa ser reduzida a nada mais que cinzas.
Seu olhar tinha a mesma aparência da cidade, obscuro e sem vida, ao contrário das chamas que a queimaram.
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Anos se passaram e o ciclo continuou. Eu acabei me juntando a uma academia onde haveriam muitas oportunidades para me reconstruir.
Um tal de Taijin me convidou, ela era chamada Sonan ou algo assim mas, o nome não importa realmente. A única razão pela qual concordei com isso foi por ele ser forte.
Eu sei disso porque eu desafiei ele e, observando o céu sem nem mesmo saber como acabei naquela posição, me lembrou o quanto sou fraco.
Quando eu vou chegar a esse nível?
Quantas reconstruções vai levar?
Foram as perguntas que passaram pela minha mente naquele momento.
Porém, mais uma vez, isso não importava. Vou chegar lá leve o tempo que for, e eu ainda verei aquele o mesmo mundo que ‘eles’ vêem.
❂❂❂
Por uma promessa de conseguir outra luta contra Taijin, eu concordei em me juntar a um torneio. Nele estariam os ‘melhores’ alunos das academias, talvez algum deles me levasse a uma nova destruição mas talvez eu estivesse esperando demais deles.
Imagine minha surpresa quando eu vi aqueles que eles chamavam de melhores estudantes das quatro maiores academias, sendo chutados tão fácil por uma única pessoa.
Como será o mundo que ele vê?
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[PDV: Ame Kaze]
Assim como o simples bater de asas de uma borboleta em qualquer lugar do mundo é dito formar tempestades, um mísero minuto pode mudar a vida de alguém.
Um minuto pode dar luz a uma miríade de acontecimentos, desde o nascimento de uma criança a morte ou a morte de outra.
No minuto em que nasci, meu destino como membro da família Kaze foi decidido.
A família Kaze sempre teve uma tradição única. A de que independente do gênero, o primogênito do líder da família seria aquele a herdar o posto.
Mas o que aconteceria se na primeira gravidez, a esposa do líder tivesse gêmeos? Bem, aí você consegue a minha vida.
Desde cedo, eu fui deixada de lado. Não me entenda errado, ser mimada não é o meu estilo, mas ser completamente ignorada pelos seus próprios pais não era o melhor sentimento.
Na época, eu não era madura o suficiente para entender que eles não me dariam a mesma quantia de atenção dada ao meu irmão, o qual era mais velho que eu por um mísero minuto. Por essa razão tentei múltiplas vezes chamar sua atenção.
Primeiro eu adotei um guarda-chuva como arma, afinal, eu sou uma Kaze. E então vieram as artes marciais.
Eles ensinaram meu irmão pessoalmente, então tudo que eu podia fazer era assistir e tentar aprender com isso da melhor forma possível.
Certo dia, meu irmão me viu treinando e ‘Que movimentos estúpidos, pai estava certo em te chamar de inútil’ ele disse.
Algo mudou em mim neste dia, e eu comecei a me esforçar várias vezes mais para provar que ele estava errado. Alguns meses depois, desafiei ele para uma luta e venci.
Não foi muito difícil, e eu esperava ao menos um ‘bom trabalho’ dos meus pais, mas isso era pedir demais deles. Quando me dei conta, eles estavam amparando meu irmão caído, antes de me mandarem para o mais longe possível.
Eu não sabia que eles levariam uma tradição tão a sério a ponto de expulsar o mais forte entre os gêmeos para mantê-la.
Mas não teria feito diferente mesmo se soubesse o que me aguardava.
❂❂❂
Após o incidente eles me mandaram para fora de casa, acompanhada de um ‘guarda’.
O homem era estranho, sem expressões no rosto como se fosse um boneco sem vida. Ele me disse que meus pais me mandaram até aqui para aprender a ser como ele.
Eu decidi usar isso para me tornar mais forte. Assim talvez eu pudesse me ganhar a atenção deles que sempre desejei.
Anos se passaram e meus quinze anos chegaram. Neste tempo, nenhuma carta deles chegou em nenhum aniversário, mas Raiden me fez companhia.
Oh, o guarda aparentemente não tinha um nome então eu dei um a ele.
Voltando para casa dei de frente com um desdém ainda maior. ‘Eles a mandaram para longe por ser inútil’ era o que diziam. Mas tal coisa já não me afetava.
Meu irmão ficou ainda pior, com uma arrogância vinda de lugar algum e eu não poderia arriscar irritar meus pais novamente por derrubar ele desse pedestal, por isso ignorei.
Talvez fosse o nome Kaze que estava me arrastando depois de tudo.
Fomos mandados para uma academia onde minha situação não mudou, mas a arrogância de Arai só piorou.
Meus tempos no lugar não foram nada diferente de casa, indiferença e desdém me seguiram todo o caminho até um tal torneio que aconteceria.
O diretor Taijin fez com que eu me juntasse aos representantes do torneio, uma decisão estúpida se me pergunta. Eu tinha certeza que não me daria bem com nenhum deles.
Havia um baile antes do torneio e foi lá onde encontrei uma pessoa estranha.
— Ei falha. Seja útil por uma vez e dê um jeito nesses dois.
A voz irritante do meu irmão, mais uma vez me ordenando como se fosse meu chefe soou. O som se assemelha bastante ao do meu pai me fazendo apoiar a mão na minha arma por instinto.
— Parece que ao menos uma pessoa dessa mesa pode me entreter um pouco.
Ele me olhou diretamente nos olhos, coisa que além de Raiden, poucos fizeram. Outra pessoa disse algo no fundo que eu ignorei, focando minha atenção na pessoa estranha.
Ele atacou meu irmão sem hesitação alguma e, reagindo a tempo eu bloqueei, arregalando os olhos sentindo meu braço tremendo pelo impacto.
— Realmente interessante…
Foram as palavras dele deixando sua estranheza ainda mais aparente para mim. Afinal, por que ele me acharia interessante?
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Após assistir o músico idiota transformar o reino em uma seita foi certamente uma experiência, embora a música nem fosse tão boa assim.
No fim, o objetivo foi concluído, e é isso que importa.
Depois de um tempo, uma voz robótica anunciou algum tipo de desafio extra da fase. Logo, eu me vi em uma planície gigante junto de todos estudantes que haviam passado no primeiro desafio.
O músico idiota disse alguma coisa mas eu ignorei, mantendo meus olhos na pessoa estranha. Por quê? Não sei, talvez ele me irrite?
Nós lutamos e o resultado não foi o melhor para mim. Ele lutou contra mais quatro pessoas e eu, mas não parecia nenhum pouco incomodado com isso, pelo contrário, talvez ele estivesse aproveitando até demais.
Oh, o músico idiota foi chutado para longe por ele antes da luta começar. Muito mais que merecido eu diria.
— Já para você, acho que seu pai ficaria feliz em saber a localização da pessoa que cortou o braço dele. Se você vencer eu posso te dizer.
Eu tenho certeza que isso foi só para me provocar, mas… Se, apenas se for verdade, talvez meu pai não seja mais tão frio comigo?
Com essa possibilidade em mente, mesmo que a chance fosse mínima, minha única alternativa era vencer para descobrir.
— Você é tão interessante quanto eu pensei!
Foram as palavras dele, enquanto trocamos golpes. Ele ainda tinha tempo para falar isso tão despreocupadamente?
No fim, eu não pude vencê-lo. Um grupo de cinco sendo suprimido por apenas uma pessoa, quão risível.
A batalha foi cortada no meio sem dar tempo para um final certo, então ainda havia esperança. Desculpa patética para cobrir minha fraqueza eu sei, mas ele poderia cometer algum erro grotesco que causasse sua derrota. Improvável mas, ainda sim, possível.
Saindo da sala logo após acordar, vi uma dos que tecnicamente lutou ao meu lado atacando a pessoa estranha, porém, tinha um problema.
Ela teve ambos punhos segurados, a deixando próxima demais dele.
Acerta-lo enquanto presa assim seria difícil. Talvez se ela usasse a força sem se importar com os ferimentos?
Não foi possível pensar mais a fundo sobre pois meu diretor chegou e, como sempre, me lançou uma onda de insultos sem se importar se eu era a real culpada pela derrota ou não.
Porém, suas palavras pararam no meio inesperadamente.
— O que você está olhando?
Prestes a responder, percebi que ele não estava falando comigo.
— Um homem patético.
O diretor liberou alguma pressão no corredor e a pessoa nem piscou para isso. Eventualmente um outro diretor se intrometeu, tentando acabar com a situação usando uma frase estranha.
— Fica na sua cabeça de músculos, eu vou ensinar boas maneiras para esse pirralho.
Mas Taiju não queria aceitar.
— Interessante, você não consegue nem mesmo ensinar os próprios alunos e quer me ensinar alguma coisa? Gostaria de te ver tentar.
Mais uma vez, aquela pessoa provocou. Era prepotência pensar que ele fez isso por mim? Se for verdade, que tipo de expressão eu deveria fazer, ou melhor, deveria fazer alguma expressão?
— Não fique animada demais, rato.
O músico idiota sussurou. No fim, todos iriam me chamar de inútil e me abandonar, não tem sentido eu pensar muito sobre…
A disputa durou até todos os outros diretores saírem e Taiju se cansar e fazer o mesmo. No caminho de volta, o rosto daquela pessoa ficou na minha mente.
— Ele é realmente estranho.
— O que você está murmurando aí inútil!?
E meu irmão ainda é um idiota arrogante.