A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 89
Sentada em um restaurante, Moon assistiu Silver tomar sua xícara de café tranquilamente enquanto movia as mãos inquieta por baixo da mesa.
Em outra situação poderia ser o melhor dia da vida dela, porém, hoje foi diferente. Afinal, ela estava prestes a contar o maior segredo que tinha para uma das pessoas mais importantes da sua vida, sem saber como ele poderia reagir a isso.
— A situação de Ame é estranha, não acha?
Silver puxou um assunto nada a ver com a razão deles estarem aqui, mas ela não estava reclamando.
— Hmm… Realmente — Levando a mão ao queixo, a jovem começou a pensar sobre a situação da garota e de fato, era bem peculiar.
— Ter tradições é normal para qualquer clã, porém, é estranho eles levarem isso a um extremo tão grande a ponto de ignorar um dos filhos independente da força deles apenas por esta razão.
Moon tinha bastante experiência com tradições, afinal, ela foi largada dentro de um [Mundo espelhado] por causa de uma, além de ter se tornado a matriarca do clã pelo mesmo motivo.
Falando de acordo com as crenças deste mundo, não faria sentido Ame ter sido isolada apenas por ter nascido mais tarde que seu irmão. Com a força que ela tinha, a garota deveria ao menos ser reconhecida pelos pais e clã.
— Talvez eles sejam extremistas ou então tem alguma coisa que não estamos vendo…
— Seja qual for a razão, ela não parece uma boa adição ao seu clã? Ela é forte e possivelmente confiável por ter permanecido no clã mesmo após tudo isso.
— Tentador, porém, ela é leal demais aos Kaze.
Moon mentiria se dissesse que não queria ter Ame trabalhando para si, porém ela havia tomado o controle do próprio clã há pouco tempo atrás e adicionar uma variável a essa mistura poderia destruir toda a ‘ordem’ recém adquirida.
— É escolha sua realmente, você é quem sabe mais da própria situação — O jovem parou e olhou para ela por um instante antes de sorrir — Menos nervosa agora?
A garota estava claramente nervosa desde que eles entraram aqui, então Silver trouxe um assunto com o qual ela se sentia mais confortável.
‘Ela parece completamente diferente quando fala sobre o clã ou algo do gênero’
Na verdade, o nervosismo de Moon era somente por causa dele, mas ele não sabia disso ainda.
— Sim, um pouco… Agora pode me perguntar o que você quer saber — Ela permaneceu inquieta, porém não iria fugir da pergunta.
— O que você acha de mim?
— Huh?
E o cérebro da matriarca congelou. Ela esperava perguntas sobre como conseguiu informações sobre a segunda fase do torneio, das quais também queria saber como ele tinha, ou então coisas mais ligadas às suas organizações.
— Eu acho você… Forte… Bonito e…
— Hahaha…
Moon não conseguiu terminar de falar antes de ouvir as risadas de Silver, aprofundando o tom de vermelho que já havia se espalhado pelo seu rosto.
— Não ria!
— Foi mal, é que é fofo te ver se debatendo assim para responder uma pergunta tão simples.
— Essa pergunta não é fácil ok?! E também foi súbita demais.
Ela acabou sendo pega de surpresa por esta questão, e todo peso que sentiu em possivelmente revelar seu segredo. Além de se sentir estúpida por ter se preocupado tanto com isso enquanto Silver não pareceu ter feito o mesmo.
Com um clima mais leve na mesa, Moon bebeu do café deixado recentemente na mesa por cortesia do jovem à sua frente.
— O que você acha que é necessário para criar um clã forte?
— Poder, dinheiro e pessoas — De volta com uma expressão digna de uma matriarca, a jovem respondeu sinceramente a pergunta.
Silver estava se divertindo com as alterações de humor de Moon, variando da séria matriarca e da garota envergonhada. Talvez, e apenas talvez, ele estivesse causando estas mudanças propositalmente.
‘E isso também é um pouco fofo’
— Eu adicionaria ‘ferramentas’ a essa mistura.
Não, ele não estava se referindo a pessoas como ferramentas. Apenas que eles como [Contratantes] tinham armas fortes disponíveis em um estalar de dedos, enquanto os [Variantes] poderiam usar seus próprios elementos como armas.
Porém, pessoas normais não tinham tal luxo. As ferramentas das quais ele disse seriam armas capazes de fazer até o homem mais fraco ferir um [Contratante] vestindo sua [Armadura real].
Esta ideia veio diretamente da novel original, onde tal feito foi alcançado por uma dupla de cientistas malucos nos estágios mais avançados da obra.
Assim, era certeza que a ideia funcionava e com o empurrão certo, ele teria essas armas em mãos logo.
— Oh? E você tem alguém em mente para fazer estas ‘ferramentas’?
— Tenho. E por alguma razão, acredito que você sabe quem é.
A dupla trocou olhares sem dizer nada, Moon sabia o que essa frase implicava e suas preocupações anteriores pareciam mais reais.
Antes deles voltarem a falar, outra pessoa se aproximou da mesa, batendo a palma com força contra a mesma.
— Finalmente te achei!
A dona da voz era uma jovem de cabelos loiros trançados, com uma expressão alegre no rosto. Atrás de Shōri, Shizukana observou sua amiga com seus olhos inexpressivos ganhando um tinge de estranheza.
‘Desde quando ela é tão sem vergonha?’
Essa pergunta se deve ao fato de sua amiga estar a um bom tempo esperando alguém sair do prédio onde os membros da academia Shoutai estavam hospedados.
Como ela sabia disso?
Simples, ela perguntou. A invencível não gostava de mentir para Shizukana talvez por que a mesma era alguém preciosa, então a jovem acabou falando a verdade.
— Quão rude — comentou Moon, enquanto segurava sua xícara acima da mesa — Tem noção da bagunça que teria feito se nós não tivéssemos pego isso?
A matriarca parecia muito mais corajosa do que quando enfrentou Silver, olhando diretamente nos olhos da invencível.
— E daí? Só porque você é pomposa não quer dizer que eu tenha que ser também.
— Se chama educação. Se tivesse alguma saberia o que significa.
Antes delas continuarem a brigar, Silver decidiu interromper.
— O que você veio procurar, invencível? — perguntou o jovem tomando de sua xícara de café.
Seu tom foi bastante desdenhoso ao mencionar o título ‘invencível’, cutucando uma ferida aberta da garota.
— Não é óbvio?! Vamos terminar aquela luta!
Poderia ser apenas egoísmo, porém Shōri queria dar um final certo para a luta do torneio mesmo que não fosse um resultado bom para si.
— Que eu me lembre estão faltando algumas pessoas e, mesmo assim, por que eu deveria aceitar?
Não havia motivo para ele lutar, sua superioridade já foi provada durante a fase do torneio. Além de não parecer que seria tão divertido lutar apenas contra Shōri e Shizukana.
— Quanto você quer? — A garota perguntou.
A invencível ouvira falar há muito tempo atrás que muitas coisas poderiam ser resolvidas através de dinheiro. Claro que ela não acreditou, afinal, não era mais fácil resolver com os punhos?
Porém, contra o jovem à sua frente essa frase devia fazer sentido.
— Não importa quanto for, eu pago.
Isso provou a determinação dela em determinar um resultado. Silver olhou para ela por alguns segundos antes de falar algo.
— Como quiser. Mas não se assuste quando a conta vier, meu tempo é precioso.
Shōri quase saltou de alegria e após a dupla pagar pelo café, o quarteto saiu do estabelecimento ficando parados enquanto o trio olhava para a invencível.
— Qual o problema? — perguntou a jovem, parecendo genuinamente confusa.
— Onde vamos lutar? Não vai ser na rua vai?
Pela primeira vez na vida ela congelou completamente. Seus planos só iam até o convite da luta ser aceito por Silver. Shōri não tinha preparado um lugar para o evento acontecer.
— Achei um lugar. É um pouco caro por estar só a alguns minutos do estádio do torneio mas, a magnânima invencível deve ter dinheiro o suficiente para pagar certo? — Moon proclamou sem se esquecer de adicionar sal à ferida da garota.
Por mais que a matriarca tenha desdenhado levemente dela, Shōri estava agradecida pelo que ela fez. O suficiente para ignorar os insultos.
Silver e Shizukana somente olharam estranhamente para a cena da invencível olhando para Moon como se ela fosse algum tipo de anjo.
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Chegando no centro de treinamento, o quarteto seguiu acompanhado da atendente para uma área particular.
O lugar era espaçoso e tinha paredes brancas atravessadas por algumas linhas pretas. Em todos os quatro cantos haviam armas de treino, tendo desde espadas até machados e lanças feitas de madeira.
— Só mais uma coisa — Já dentro da área, a atendente parou o quarteto.
Com a atenção de todos sobre ela a mulher se encolheu, hesitando um pouco em falar.
— E-e-eu vi você lutando no torneio e sou muito sua fã! Pode assinar isso para mim?
Ela estendeu a mão com um lenço nela para Silver, olhando esperançosamente para o jovem.
Ele acabou assinando sem pensar demais no assunto, deixando uma atendente muito feliz para o resto do dia.
— Se já acabou de se exibir podemos lutar? — perguntou irritada.
Se a mulher viu Silver lutar no torneio e então se tornou sua fã, isso queria dizer que sua derrota foi a razão disso. Como ela poderia não ficar irritada com isso?
— Isso é inveja que eu estou escutando? — E Moon não perdeu a chance de provocá-la.
— Por que você parece tão orgulhosa?!
Neste meio tempo o jovem caminhou até o lado oposto da sala e retirou uma espada comum de madeira.
— Se já terminou aí, que tal terminarmos isso logo?
Já preparado, Silver esperou a invencível fazer o mesmo. Largando imediatamente suas intenções de brigar com Moon, Shōri agarrou uma lança de madeira e também se posicionou.
Era hora de dar um fim de verdade a luta que eles haviam começado.