A Ascensão do Dragão Prateado - Vol.2 Capítulo 93
‘Não foi isso que eu imaginei quando dispensei Moon’
Sentindo a lâmina de uma faca deslizando por sua bochecha, Silver pensou.
A matriarca e ele estavam no mesmo hotel, portanto, seguindo o caminho normal a dupla já teria chegado lá.
O problema é que havia alguém os seguindo e, imaginando ser o alvo, o jovem disse para Moon que tinha assuntos a resolver e seguiu em outra direção.
E ele estava certo pois não demorou muito até as ruas esvaziarem completamente, algo estranho considerando a quantidade de pessoas vindas graças ao torneio.
Indo mais a fundo no beco, Silver se esquivou de mais algumas facas, começando a ficar irritado com a passividade do oponente.
Com um passo ao lado, o jovem esquivou da lâmina que mirava o topo de sua cabeça e, usando as paredes dos prédios ao lado como apoio, ele escalou até o topo.
Bang!
Silver foi de encontro com o parapeito do prédio, lançando pedaços da construção ao ar.
O jovem rolou no chão para recuperar o balanço, sentindo o gosto do seu próprio sangue na boca. Ele viu o golpe chegando, mas não pode fazer muito para esquivar além de tentar reduzir o dano.
Levantando as mãos, duas facas mirando ambos seu pescoço e coração foram agarradas e, movendo habilidosamente as lâminas, ele defendeu as demais facas que vieram em sua direção.
O oponente a sua frente estava coberto dos pés a cabeça, usando um capuz para cobrir o rosto. Não ajudou nem um pouco estar no fim da tarde e o sol se pôr logo atrás da figura.
— Ainda não saiu da fase emo? Em que ano você acha que estamos?
Mesmo fazendo este comentário, Silver ainda procurou uma forma de se aproximar do inimigo.
Eles estavam separados pela vala que criava o beco, sem muito espaço para ser criativo na aproximação.
Tentar saltar era estupidez, como isso o tornava um alvo fácil para as facas e atacar a distância com seu elemento poderia destruir desnecessariamente o prédio, bem como chamar atenção demais.
O oponente pode ter mexido alguns pauzinhos para esvaziar as ruas, mas não poderia ter tornado todas as pessoas surdas de uma hora para outra.
O jovem decidiu contra usar a [Cremação das nove caudas] e o [Alvorecer prateado], o primeiro porque não foi aperfeiçoado completamente então causaria muito estrago e o segundo por ainda ter que tirar informações do oponente.
Não houve resposta a provocação de Silver outra que, mais facas sendo lançadas.
Defletindo os projéteis, ele atirou uma das facas em sua mão simultaneamente usando uma das suas habilidades mais antigas para avançar.
A primeira forma do [Modo lobo] era baseada em pura velocidade de arrancada, poderia não ser a escolha certa para saltar entre prédios mas faria o trabalho.
Atirando as facas em suas mãos, ele forçou o oponente a se defender antes de entrar em postura e desaparecer.
O soco que se seguiu não encontrou seu alvo, recebendo a retaliação em forma de um corte raso no pescoço.
Enquanto sua regeneração começava a trabalhar, o jovem aproveitou para analisar novamente o oponente, buscando qualquer traço que indicasse sua identidade ou quem o contratou.
Mas foi inútil.
As roupas pretas escolhidas apenas para cobrir a aparência sem indício de qualquer clã ou organização específicos, facas de combate simples e movimentos que qualquer um conseguiria reproduzir com certa prática.
Neste meio tempo, o encapuzado e Silver trocaram diversos golpes com o último saindo perdendo em boa parte deles.
Um punho do jovem atingiu o ar e seu pulso foi agarrado no momento seguinte. Logo, ele se viu em pleno ar e era uma sensação no mínimo curiosa.
‘Então foi assim que Shōri se sentiu…’
Convocando sua arma pela segunda vez no dia, ele atirou contra o vidro do prédio do qual estava prestes a atingir, estraçalhando o vidro e se posicionando para pousar calmamente no local.
De repente seu corpo se moveu sozinho, evitando uma mísera gota de sangue que disparou contra ele. A parede ao seu lado foi perfurada sem resistência nenhuma pela gota, mostrando o quão perigoso seria se o atingisse.
— Não poderíamos só nos cumprimentar como pessoas normais, Yuki?
O jovem perguntou para a figura que acabara de pousar dentro da sala. Tirando o capuz, a figura revelou seus cabelos brancos e olhos azuis.
— Nós não somos normais.
Olhando para o rosto sem expressão de sua professora ele realmente queria retrucar, mas ela estava certa.
— Você poderia pelo menos não vir vestida como alguém que não passou da fase emo.
— Ficou ruim? — Inclinando a cabeça e posicionando um dedo no queixo, a mulher perguntou.
Cabelos puros brancos descansando sobre os ombros, olhos azuis tão claros quanto o céu, roupas pretas que contrastavam perfeitamente e uma pose e expressão levemente confusa.
Olhando Yuki de cima a baixo mais algumas vezes, o jovem chegou a uma simples conclusão.
‘Ela está fazendo isso de propósito’
Era impossível que ela não estivesse ciente da própria beleza, a mulher com certeza o fez para esfregar na cara dele suas últimas palavras.
— Ok, você venceu. Vossa senhoria se encontra magnânima nestes trajes, mas essa emboscada não serviu só para isso né? — Fazendo uma saudação exagerada, ele seguiu — Além do mais, foi realmente necessário?
— Eu tinha que ver se seus instintos ainda estavam afiados então, sim, foi necessário — Tateando pelos bolsos da própria roupa ela atirou algo e adicionou — Oh, também tem isso.
Agarrando o objeto entre seus dedos, Silver percebeu ser um meio bem antigo de comunicação. Uma espécie de pergaminho diminuto.
— Quão antiquado.
— Eu peguei com um homem vestido de ninja rondando o prédio onde você e seu time estão hospedados.
— Ele já está morto, suponho.
Yuki ter ‘pegado’ isso com ele foi uma forma expressiva o suficiente de dizer que o homem provavelmente estava morto.
— Reduzido a nada.
No sentido literal da coisa, ela usou o próprio sangue dele para comprimi-lo a uma bola de sangue antes de deixar fluir pelo primeiro esgoto que encontrou.
— Cruel como sempre.
— Como se você tivesse algum direito de falar.
— Eu ao menos deixo um corpo para o funeral.
Desenrolando o pergaminho ele viu, sem surpresa alguma, uma mensagem de um velho inimigo.
[Há quanto tempo, Akuma-sama.
Você pode ter esquecido, mas eu com certeza não o fiz. Como anda a traidora?
Se divertindo muito eu imagino.
Aliás, vocês devem estar com saudade da pequena Nikkō-chan, não? Garanto que ela está sendo muito bem cuidada aqui.
Se sentirem saudades, são mais do que bem-vindos aqui. Afinal, somos todos família.
夜]
— Olha só se esse desgraçado não é corajoso. Talvez eu tenha fritado seu cérebro acidentalmente enquanto queimava sua cara.
‘E ainda usou Nikkō como refém, se Hikari visse isso ela com certeza iria caçar ele’
Chacoalhando a cabeça, Silver transformou o pergaminho em cinzas e jogou o assunto para a sua lista de coisas para resolver.
Achar o paradeiro do empregador de Raymond, verificar o andamento da conquista de Astrid e Mitis sobre a cidade-baixa, contar a Hibiki a verdade sobre sua família e ver como a pesquisa de Akame referente ao paradeiro da sua ‘irmã’ está indo eram só algumas das coisas que estavam a frente na lista.
‘Pensando melhor, eu deveria subir ele na lista’
Para Hikari, Nikkō era o que Akame era para Silver. Assim que soubesse disso, havia uma grande chance da kunoichi abandonar o torneio e finalizar o assunto de uma vez por todas.
— Algo digno de preocupação?
— Não, só uma formiga ressentida.
— Então quer dizer que você anda deixando seus inimigos vivos? — Havia um leve tom de reprovação na voz de Yuki, claramente dizendo ‘não foi assim que eu te ensinei’.
— Um assunto mais urgente surgiu na hora, ok? E ele não tinha força o suficiente para nem mesmo me arranhar na época então eu o poupei.
Traumatizado? Sim, mas vivo de qualquer forma. No ramo que ele se dispôs a trabalhar, o homem devia saber lidar com este tipo de coisa.
Arrependimento não era a palavra certa para descrever o que ele sentiu, foi sua decisão poupar o inimigo e isso era só uma consequência.
Tal coisa seria facilmente resolvida dando uma visita àquele lugar.
— Se você diz… Falando nisso, quer um cigarro? — Não tinha nada a ver com o assunto, mas ela ouviu algo no mínimo interessante sobre.
— Eu aceito.
‘Estranho, nunca vi Yuki fumar nem uma única vez’
Tendo respondido subconscientemente, o jovem demorou um tempo para perceber a estranheza da pergunta.
— É mesmo? Desde quando você fuma? — Sentindo ameaça no tom da mulher, ele se apressou em responder.
— Bem, por causa da minha regeneração qualquer doença que ele cause não é um problema.
Escutando isso, a expressão da mulher permaneceu a mesma. Entendendo isso como ela não aceitando a resposta, o jovem abriu a boca para dizer algo, mas fechou logo após enquanto movia seu corpo simultaneamente.
Olhando para a parede partida no meio, Silver mostrou seu descontentamento em silêncio.
— Vamos testar essa regeneração na prática.
Sangue escorreu da palma de Yuki, fluindo no ar e formando diversas lâminas.
Convocando sua [Armadura real], Silver se preparou para a batalha que viria pois, o tempo passado juntos ensinou para ele que a bruxa sangrenta era tudo menos piedosa.
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Mais uma vez ele se viu abraçado pela escuridão sabendo o que estava por vir mas, sem chance alguma de impedir.
De repente aqueles tão temidos olhos dourados se abriram à sua frente. O dourado reluzente partido pelas pupilas obscuras as quais pareciam devorar toda a luz do último poderia até tê-lo encantado, se não fossem a causa dos seus piores pesadelos.
O encarando com o mesmo desprezo de sempre, ele viu o par de olhos se semicerrarem levemente antes do seu inferno recomeçar.
Tentar gritar foi em vão, incapaz de nem mesmo mover sua boca enquanto as chamas prateadas devoraram gananciosamente sua face.
Seus olhos não poderiam se fechar, os gritos não saíam e a dor de seu rosto ser queimado não cessava.
Aguardando a morte que nunca veio, o homem finalmente acordou, movendo sua mão quase imediatamente para o rosto sendo impedido de tocá-lo pela familiar máscara de ferro.
Encarando fixamente as próprias mãos, ele reforçou sua determinação.
Ele iria matá-los.
Não importa o que, ele seria a última coisa que ambos, Akuma e aquela traidora veriam antes de encontrarem seu fim.
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Em uma sala simples, com apenas uma mesa e dois sofás de lados opostos dela.
Apontando o dedo para as duas fotos na mesa, o homem começou.
— O empregador quer esses dois capturados ou mortos o quanto antes — Empurrando as pastas de arquivos para a pessoa a sua frente, ele continuou — Aí estão as habilidades conhecidas dos alvos e algumas informações importantes caso você planeje cumprir o serviço antes do fim do torneio.
Terminando o discurso ele pegou uma xícara da mesa, tomando em uma única ida antes de voltar seus olhos novamente para a outra pessoa na sala.
Era uma jovem, com cabelos e olhos arco-íris e vestindo um sobretudo largo preto. Seria mentira dizer que ele não ficou embasbacado com a beleza dela na primeira vez que viu.
O problema é que ela era tão letal quanto sua aparência e não no bom sentido.
Houve um grande silêncio na sala enquanto o ar parecia ficar mais pesado. A expressão da jovem permaneceu a mesma e o homem começou a ficar inquieto.
— Na… Próxima vez… Se esforce mais…
Dúvida encheu a face do homem e ele começou a sentir suas pálpebras pesarem, percebendo sua situação os olhos dele se arregalaram antes de fecharem completamente.
Pegando as pastas da mesa, a jovem caminhou tranquilamente para fora da sala dando de frente com a visão de vários corpos caídos no chão.
Diferente daquele dentro da sala, estes foram mortos sem nem ter chance de saber o que aconteceu.
Isso aconteceu pois seu ‘cliente’ esqueceu de uma das regras mais importantes neste tipo de acordo, enviar apenas um mediador.
Graças ao ramo em que eles decidiram seguir, não são poucas as pessoas que querem suas cabeças em uma bandeja então, como a maioria estava paranóica quanto a esses encontros achando sempre ser uma armadilha da outra parte, foi decidido desta forma.
Quaisquer outras presenças que não a do mediador e do próprio assassino deveriam ser avisadas antecipadamente ou então seriam tratadas como uma declaração de guerra, logo, a jovem eliminou todos menos o primeiro.
Sua reputação pode ter sido prejudicada desde o incidente com a pirralha dos Rosenfeld, porém não quer dizer que ela se permitiria ser desrespeitada assim.
Foi um erro grotesco? Com certeza, mas não era o único motivo para que ela fizesse isso.
Na primeira foto havia um jovem, com cabelos prateados e olhos dourados vestindo um haori da mesma cor que o cabelo com um dragão estampado nele.
E a segunda mostrou uma garota de cabelos e olhos roxos, vestindo uma yukata olhando para frente com um olhar entediado.
‘Eu… Imagino como… Silver vai… Reagir’
O seu ‘cliente’ provavelmente entraria em um frenesi após esta pequena troca, buscando contratar vários outros assassinos para o caso de algo assim acontecer novamente.
Mas, seriam eles realmente os caçadores aqui?
Pensando nisso um sorriso subiu ao rosto da jovem, ela mal podia esperar por isso.