A Ascensão do Imperador - Capítulo 10
Durante o entardecer, os caçadores andavam chamando atenção de todos da rua. Os líderes da Guilda Aliança, o garoto Shun e juntos deles, Kenjirou que parecia enturmado com os mesmos. Os caçadores pareciam que saíram de uma batalha, que de fato ocorreu, mas ninguém dali sabia.
Suas roupas e armaduras estavam em estados deploráveis, além de vários ferimentos neles.
Eles estavam indo direção a casa dos Kyles, onde a mãe dos irmãos vive.
A casa era no distrito residencial de Verossin, ela estava no outro lado da cidade, próximo aos subúrbios e os limites da cidade. A animação dos irmãos era contagiante, tanto que Ken se divertia com eles, mas todos sabiam que momentos atrás, passaram por uma situação crítica de vida e morte.
[…]
Ken não deixou de notar a simplicidade da casa dos Kyles, todas as residências do quarteirão tinham um certo padrão; eram casas de tijolos, uma estrutura fixa e antiga com um andar no máximo. Algumas estavam deterioradas com o tempo com rachaduras, entretanto, outras eram limpas e apresentáveis. A casa dos irmãos se enquadrava na categoria de casas conservadas.
Shun que estava à frente de todos, bateu no portão repetidas vezes enquanto chamava a sua mãe.
Ela abriu e se deparou com a cena, seus dois filhos, o amigo deles e um estranho. Todos sujos de fuligem e lixo, com roupas rasgadas, ferimentos, marcas de sangue e carregando consigo várias armas. Karina não teve reação, ela observou todos com um olhar afiado, nenhum deles escapou de seu julgamento mental.
— Vocês vão entrar em casa assim? — dizia a mãe enquanto tirava poeira dos ombros de Shun.
Ignorando-a, todos entraram em casa, exceto Kenjirou, ele não sabia se podia entrar ou não naquele estado. Os outros pareciam acostumados a entrarem na casa nas piores condições, deixando sujeira e seus itens pela pequena sala de estar da casa.
Uma pequena veia saltou da testa de Karina.
— Você também pode entrar — Ela tentava segurar sua raiva, mas não conseguia mesmo com um sorriso forçado.
Com todos em casa, ela parou e cruzou os braços, não disse nada esperando a resposta de um deles.
Com um longo suspiro Akira se preparou.
— Mãe, esta tudo bem agora, estamos todos aqui e seguros — Akira deu uma pausa e olhou diretamente para Karina, pela diferença de altura ele inclinou o rosto — desculpa por te deixar preocupada.
A mulher virou o rosto, colocando as mãos na boca, soluçava um pouco. Um choro de preocupação e alivio escorriam pelos seus olhos castanhos, sem forças ela caiu sob seus joelhos e começou a chorar mais.
Akira a abraçou, dando apoio, levantou-a e acomodou numa cadeira da sala de jantar e começou a explicar tudo que aconteceu, era a primeira vez em dias que ele encontrava sua mãe.
[…]
O sol já havia se posto totalmente. Era uma noite clara de lua cheia, de tal modo que não se necessitava de tantas velas pela casa, era um clima agradável de jantar em família, e com algumas pessoas a mais.
Shun e Akira discutiam e brigavam enquanto arrumavam a mesa de jantar, mas sempre terminando os insultos com risadas. John ajudava a senhora Karina fazer a comida, um pouco debilitada ela deixou a parte mais braçal com o loiro.
Kenjirou estava no banheiro, o cômodo no andar superior próximo aos quartos, ele lavava suas mãos, em seu devaneio, só podia pensar em tudo que ocorrera quando chegou na cidade, e todas as coisas que descobriu.
Mais dúvidas surgiram e ele não sabia se todas poderiam ser respondidas. Todas as suas respostas centravam o Erman, mesmo sabendo tão pouco dele.
Com uma batida na porta ele saiu dos seus pensamentos, era Akira com uma blusa em suas mãos.
— Nenhuma das minhas roupas iriam te servir, mas tenho essa aqui. Troque-a, você parece um mendigo.
Passando a roupa, o garoto só agradeceu. Enquanto ele trocou as camisas, Akira não deixou de notar algo. Cicatrizes nas costas dele, algumas pareciam ser bem recentes, marcas de golpes e pequenos estilhaços, mas ele não tentou pensar muito nisso, só o acompanhou de volta para a sala de jantar onde todos os esperavam para a ceia.
Agradecendo a refeição todos começaram a comer, Kenjirou ficou um pouco retraído, mas o cheiro da comida logo abriu o seu apetite e sua barriga roncou, a visão do pedaço de carne suculento sendo cortado quase o fez salivar. Shun não deixou de brincar com o fato tirando mais sarro do jovem.
Horas se passaram depois da refeição, Shun havia dormido na cadeira onde sentava enquanto Akira acompanhado de sua mãe colocavam a conversa em dia. Kenjirou estava ajudando John na limpeza dos pratos.
— Parece que eles têm muito o que falar — dizia Kenjirou.
— Sim, eles sempre foram muito unidos como família, Kira não visitava a sua casa já faziam alguns dias.
— Realmente, o trabalho dele parece ser puxado, o escritório é uma bagunça.
Ken lembrou de como era o escritório de Akira, se ele podia chamar de escritório.
— Nem me lembre, mesmo com todos nós da guilda limpando com frequência, ele sempre bagunça tudo, precisava ver como era o quarto dele, pior do que qualquer lixão.
John ria enquanto lembrava dos tempos passados com seu amigo, um sentimento de nostalgia crescia no caçador.
— Vocês são bens amigos né?
— Desde a infância — respondeu John.
Os dois terminaram a sua parte da limpeza e voltaram a sala de jantar, vendo que eles estavam ainda conversando, decidiram não interferir. Kenjirou percebeu algo estranho e tocou no ombro da senhora Kyles, assustada com a reação ela olhou o garoto.
Ken não percebeu antes, mas a mulher tinha leves olheiras, mas ele não sabia se eram devido ao choro de antes.
— Ah! Você percebeu né, nada escapa dos seus olhos — dizia Akira.
— Não se preocupem estou bem, vou descansar mesmo, você é bem observador jovem.
Karina se levantou da cadeira com uma leve dificuldade mesmo se apoiando em Kenjirou, Akira logo se prontificou para a levar, recusando com um olhar agressivo, o seu filho sentou-se na cadeira em resposta.
Despedindo-se, ela subiu as escadas indo ao seu quarto para dormir.
— Akira, eu não queria me meter, mas… — Ken deu uma pausa, tentando continuar.
— Sabemos, o Fluxo de Mana de minha mãe é anormal, ela produz uma corrente muito maior do que consegue suportar atualmente.
— Sim, nossa mãe está doente, mas o meu irmão vai curar ela — dizia Shun, despertando do seu sono.
A condição da mãe dos irmãos é um excesso de produção prologando de mana, uma rara condição. O corpo humano produz uma certa quantidade de mana naturalmente, chegando em um pico na fase adulta que vai decaindo ao longo de sua vida, esse era o conceito básico para o Fluxo; ou Fluxo de Mana.
— Existem pessoas com baixos níveis de mana em seu corpo, mas isso não interfere em nada suas capacidades físicas, são pessoas sadias — John pontuava e continuou: Karina, sempre foi uma pessoa forte acima da média, até mesmo entre os homens, o seu corpo tinha um fluxo interno grande, mas ele não decaia através dos anos, ao contrário ficava maior.
Kenjirou ficou chocado com o fato, ele notou desde que chegou na casa que a senhora tinha uma quantidade de mana equiparável do seu filho mais velho, o que é algo grande até para Akira. Era como se a senhora carregasse um enorme peso em seu corpo que só aumentava cada dia, sem intervalos ou descansos, sobrecarregando-a.
Sabendo do porquê ele sentiu uma pequena aflição.
— O corpo dela está fraco, pode colapsar a qualquer momento…
— Sabemos, todos sabemos, por isso eu me tornei um caçador, irei cura-la — Determinado Akira dizia enquanto deu um soco na mesa.
O seu irmão e John assentiram com uma feição seria.
— Ela pode usar essa quantidade de Fluxo para fortalecer seus ossos e músculos, assim como você faz Akira — Kenjirou tentava animar o caçador.
— É mais complexo do que parece, ela não é uma lutadora nem tão pouco uma caçadora. Minha mãe sabe o básico e usa isso num modo constante, percebe o quão desgastante pode ser?
Até mesmo um caçador experiente poderia ter problemas se prolongar seu corpo a um estresse constante de mana, uma civil fazendo isso era preocupante na visão de todos.
— E como você vai curar ela? — perguntou Kenjirou.
— Com uma poção, usando o veneno mortal do Basilisco — respondeu Akira com uma enorme convicção.
Tudo se conectou na mente dele, o motivo de Akira sendo tão jovem se tornar um líder de guilda, uma tarefa administrativa e a missão fracassada de caçar a monstruosidade conhecida como Basilisco. Tudo era apenas para isso, e ele deu sua palavra para ajudar a abater a criatura.