A Dura Vida de um Recepcionista da Guilda - Capítulo 04
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- Capítulo 04 - A dama do escudo, Santa Latora.
— Como fomos perder o observador? — questionou Nia, com usa capa inquieta.
— E-eu vou lá saber! A Dafne que é a caçadora aqui! — exclamou Karla, coçando a cabeça com frenesi.
As duas estavam mais para trás, enquanto a elfa procurava por sinais pelo caminho que haviam trilhado.
— Apesar de ser tão fechada, essa floresta tem muita vida — disse Karla. — É tão diferente da minha terra natal.
— Você nasceu nas terras de Abbelone, não é? — questionou a maga, continuando. — Essa floresta é tão rica por não sofrer ação humana.
— Entendi…
As garotas caminharam por umas boas horas, até que Dafne quebrou a conversa entra as colegas.
— Aqui! Essas pegadas são dele! Capaz que se perdeu por causa dessas gramíneas!
— Como é que é? Ele se perdeu por conta de grama? HuhuhAHAH, pelo machado de Skabalt, que burrinho.
Karla não continha sua gargalhada, não conseguia processar o que uma coisa tinha haver com a outra.
— Consegue ver essa ponta cerrada? Essa grama levanta uma substância entorpecente ao ser atingida. Como passamos na frente dele, ele deve ter respirado muito dessa coisa!
A gargalhada morreu ali. O cenho das três se fecharam. Não tinham muito tempo antes de Alef virar comida de algum predador da floresta.
Rápida como um esquilo procurando comida, Dafne subiu nas árvores para procurar outros rastros.
Apontando para uma direção ao leste, percorreram o mais rápido que podiam, parando de imediato perto de uns arbustos.
— Esse cheiro… — disse Nia, balançando seu nariz em várias direções.
— Isso é cheiro de sangue! Vamos logo! — exclamou Karla
.
Empunhando sua espada, rapidamente abriu caminho em direção ao cheiro de ferro que pairava no ar.
Quando menos esperavam, deram de cara com o imenso corpo de uma fera negra deitada no chão.
Por cima do corpanzil, puderam notar uns fios de cabelo loiro dançando com o vento gélido que correu o local.
— Nã-não pode ser… Alef! — exclamou Dafne.
Correu como nunca, arfando e sentindo uma pressão enorme no peito, pulando o corpo da fera e descobrindo o corpo sem vida do recepcionista.
— Não! Não pode ser! Karla, me ajuda aqui! Nia, Amaryllis, agora!
Rapidamente tirou seu cajado que fica por debaixo da capa e começou o canto de invocação. Karla rapidamente pegou o corpo duro do garoto e se aproximou da maga.
Ao analisar o lugar da luta, Dafne não conseguia entender nada de como Alef poderia ter arrancado a cabeça do animal.
Se aproximou do jaguar e encontrou um pequeno prisma vermelho, ao lado de onde estava o corpo de Alef.
Pegou o cristal e colocou dentro de sua algibeira de forma carinhosa, como se tivesse herdado um tesouro.
Amaryllis dançou o que parecia uma eternidade, mas os ferimentos não fechavam. Por fim, sua saia já estava sem pétalas.
— Pode voltar, Amaryllis, obrigada… — disse Nia, cabisbaixa.
A fada se enrolou e desapareceu em uma flor meio morta. A garota levantou o capuz, revelando um par de orelhas felinas. Usando a manga do manto, se pôs a tapar os soluços de choro.
O rosto de Dafne estava vermelho como um pimentão. Mas dessa vez não era de vergonha, era de tristeza.
— Dafne, esse é o fim. Teremos que dar um jeito nele.
A elfa se curvou sobre o corpo duro, dando pequenos socos em seu peito.
— Você ia acompanhar a gente até o fim! Era o seu trabalho! Você me viu… daquele jeito! Seu idiota!
Nia chorava de forma baixa, mas Karla apenas tinha um olhar fixo no corpo. Puxou por debaixo da cota de malha uma pequena faca e cortou o próprio polegar.
Usando o dedo indicador da outra mão, molhava a ponta do dedo como pincel, fazendo pequenos sinais no rosto do jovem.
— Dafne, abra a camisa dele, preciso escrever no peitoral.
— Ahn? Mas porquê?
— É uma tradição da minha tribo para aqueles que morrem em combate. Ainda não entendi como, mas Alef derrotou sozinho esse jaguar. Ele fez por merecer.
— T-tá!
Rapidamente, a garota enxugou as lágrimas e começou a tirar o colete e a camisa dele.
Karla continuou sua escrita, o sangue do polegar já começava a coagular. Dafne puxou uma flecha da aljava e com um movimento, cortou uma ponta do dedo.
A guerreira olhou para o rosto avermelhado da amiga, ambas trocaram um sorriso e continuaram a escrever.
— Ele merece, né?
— É… — respondeu Karla em um tom seco.
Nia se aproximou do cerimonial, suas orelhas deram pequenos saltos agitados, como se ela quisesse dizer algo.
— O que foi Nia, quer fazer também? Pode usar meu sangue. — disse Dafne.
— Vocês não pintaram o rosto? — questionou a maga.
— Ahn?
As duas voltaram os olhares para o rosto de Alef, agora completamente limpo.
— Ué, eu tenho certeza que escrevi.
— E-eu vi! Você começou pelo rosto!
Ao terminarem de olhar pro rosto do rapaz, voltaram a atenção ao peito e se chocaram ao ver que estava completamente limpo.
Ao mesmo tempo, deram um salto para trás e caíram de bunda.
— E-ei, Dafne, o que está brilhando na sua bolsa? — questionou Karla.
— Minha bolsa?
Nia, que apenas acompanhava a comoção, se dirigiu em direção da bolsa da amiga, retirando o cristal que ela havia guardado consigo mais cedo.
O objeto soltava uma intensa luz carmesim de seu núcleo. Ela analisou um lado, depois o outro. Colocou contra a luz para ver se notava algo, mas não podia ver nada, somente o brilho.
— Onde você encontrou isso? — questionou a maga.
— Es-estava perto do corpo dele, quando Karla o tirou do lugar.
Nia começou a caminhar em direção ao corpo do Alef e colocou o cristal em seu peito.
Com uma luz que preencheu a escuridão da floresta, a pedra começou a torcer e se rachar por cima do peito dele.
Crack!
E com esse último barulho, a gema se rompeu em definitivo, se esfarelando como sangue coagulado.
Uma forte puxada de ar seguiu. Na penumbra da floresta, um par de olhos vermelhos começou a se erguer do chão de forma distorcida.
— Que magia é essa! Fiquem atrás de mim! — exclamou Karla, rapidamente pegando sua espada e ficando em postura de luta.
Snap!
Um chama surgiu nas ponta do dedo de Nia, iluminando vagamente o corpo que se contorcia a sua frente.
— Aaaaaaaaaaaargh!
O corpo se abraçou e em seguida, um turbilhão de sangue começou a jorrar de suas costas feridas.
As árvores balançavam como se atingidas por uma tormente. Os pássaros e animais começaram a se agitar e fugir do lugar.
— Quem é você, maldito?! — exclamou Karla, relutante de atacar o corpo do colega.
— Espere, Karla. Esse pode ser interessante — disse-lhe Nia.
— Sua testa de ferro! Ele pode nos matar, não está vendo?
— Não, ele não vai. Confia… — respondeu, arrumando a gola do sobretudo.
Dafne estava calada, um suor frio corria sua testa, descia sua testa e caia na blusa, marcando o que havia por debaixo.
As três mantiveram suas posições e segundos depois, num último estalo sinistro que preencheu a floresta, o corpo de Alef caiu ao chão.
— A-acho que acabou. Será que ele está vivo? — questionou Dafne.
Karla a fitou nos olhos e meneou a cabeça. Enquanto as duas se questionavam, Nia caminhou calmamente até o corpo, que estava deitado de forma fetal.
Ao se aproximar, pegou seu cajado e fez um segundo encantamento, Amaryllis surgiu na sua frente com uma expressão exausta.
— Eu sei que é te pedir muito, mas por favor, dance uma última vez.
A pequena fada não tinha o mesmo semblante alegre das outras vezes, desta vez continha uma única pétala em seu vestido.
— Obrigada por tudo, com isso, seu contrato comigo se encerrará.
A criatura deu um leve sorriso e se arrumou alisando sua última pétala, pronta para um último espetáculo. Sobrevoou o corpo caído de Alef e deu suas últimas piruetas.
A pétala caiu do vestido, assim como seu cabelo rosado. Fio a fio, se tornaram finos como pó, cobrindo as costas do garoto.
O rasgo nas costas era enorme, mas o sangue não fluía, como se não quisesse sair dali.
Em uma última pirueta, Amarillys se aproximou de Nia, mas ao invés de se abraçar e sumir dentro da flor, ela virou uma pequena semente.
— Ah… Ah…
— Ele vive — disse Nia para as amigas que observavam a ação, lentamente se afastando do grupo.
As duas outras garotas se aproximaram e olharam para o rapaz. As garras da fera ficaram marcadas em suas costas, como uma enorme tatuagem.
— Ei! Alef! Pode me ouvir? Tá vivo aí? — questionou Karla.
Dafne permaneceu calada, seus olhos voltaram a se encher de lágrimas.
Pegando o garoto pelos braços, ergueu seu rosto da terra. Ele estava respirando de forma ofegante, mas com certeza estava vivo.
— Bem meninas, vamos voltar. Precisamos chegar no porto, o quanto antes — ordenou Karla para as demais.
Dafne, que estava ao seu lado, concordou veementemente. Nia estava mais afastada, segurando a pequena semente em mãos, realizando um pequeno encantamento.
— Vamos — respondeu a maga, guardando a semente nos bolsões do casaco.
A elfa rapidamente subiu em uma árvore e localizou o rio, com um salto se atirou da árvore e pôs a guiar as outras em direção ao rio.
O corpo de Alef parecia um javali pendurado no ombro musculoso de Karla, sua respiração oscilando de acordo com os passos dados pela guerreira.
As outras duas despachavam com facilidade qualquer criatura que ousava as atacar, a missão de resgate era absoluta.
— Ei, Nia. Porque a dança da Amarillys não recuperou os cortes nas costas dele? — questionou Dafne.
— A cura de Amaryllis é absoluta, você sabe. Já salvamos da morte até mesmo a Karla. Aquilo… aquilo é sobrenatural. Não sei dizer.
Chateada com a resposta, voltou o foco para o caminho a frente. As três não pararam nem um minuto de correr noite adentro.
Algumas folhas caiam constantemente sobre a cabeça delas, mas não prestaram atenção, exceto Dafne.
— Tem algo acima de nós! É enorme! — exclamou Dafne, alertando as parceiras.
— Certo! Chamas que residem dentro do meu peit-
De forma abrupta, Karla cortou na frente e interrompeu o encantamento de Nia.
— Não faça isso, você ainda está fraca de ontem e por ter chamado Amaryllis duas vezes, eu cuido disso.
Dafne lançou um disparo para cima e um grunhido medonho acompanhou.
— Merda! É outra giga-aranha! Essa floresta deve estar cheia de-
Sem poder terminar de falar, a enorme aranha caiu do céu, rompendo enorme galhos pelo caminho e caindo no chão com um impacto fortíssimo.
Karla deu um passo exitante para trás. Seu rosto começou a se esbranquiçar de medo e repúdio.
Seu pé começou a falhar e sua postura a se curvar. Deu um passo para trás e escutou a respiração de Alef, fazendo-a parar onde estava.
— Karla? — questionou Dafne.
— Essa luta é minha. Não quero ter que fazer o rito em mais ninguém…
Com cuidado, colocou o jovem no chão e desembainhou sua longa espada da cintura.
Se virou para o oponente e focou toda a sua concentração na espada que segurava.
— Modo fera! Posição do leão ascendente!
Sua expressão mudou completamente, toda a palidez de antes deu espaço para um cenho franzido e dentes cerrados, com enormes presas a mostra.
Uma aura vermelha de pura violência emanava de Karla, que estava segurando a gigantesca espada com uma mão, apoiando a outra no chão, como um cão pronto a atacar.
A aranha deu o primeiro passo, avançando ferozmente sobre a espadachim. Karla não se curvou e começou a correr em direção a besta.
— Eu nunca mais vou falhar com meus parceiros!
Ela deslizou pelo chão, evitando as patas da criatura que a abraçariam até ser devorada. Ao mesmo tempo rasgou toda a enorme espada pelo abdômen da criatura.
A aranha soltou um sonoro rugido distorcido de dor. Virou-se lentamente para Karla, mas não havia nada ali.
— Rugido estrondoso!
Da lateral cega da criatura, a guerreira soltou um poderoso golpe de cima para baixo contra a cabeça da criatura, que se desprendeu do corpo e rolou pelo chão.
— Suba aos céus, senhor das feras.
Ao terminar sua fala, fez um movimento para tirar o sangue do oponente da lâmina, retornando-a a sua cintura. Um feixe de luz ascendeu aos céus, iluminando a escuridão.
Caiu de joelhos no chão, sangue descia pelas suas mãos como uma cachoeira, seu cenho franzido entregava a dor que sentia.
— Bem… vamos nessa? — disse a guerreira arfando de forma pesada.
— Você é maluco em fazer isso sabendo que a Amaryllis não está aqui… — murmurou Nia, procurando alguma coisa dentro de sua algibeira.
Karla caiu de bunda no chão e ergueu as mãos de prontidão. Sua aparência de cansaço depois da luta era inegável, mas mesmo assim estava com um sorriso no rosto.
— Ah, achei. Fique quieta, vou desinfectar e fazer um curativo. Deve durar até chegarmos na cidade — disse a maga.
Dafne se aproximou de Alef, o virou de lado e colocou as mãos dentro da mochila. Rapidamente retirou o mapa.
— Não devemos estar longe. Acredito que se corrermos, chegaremos logo após o amanhecer — informou a arqueira, olhando atentamente ao mapa.
Ao terminar de atender Karla, ela tinha uma grossa camada de ataduras na mão, e mal conseguia fechar os punhos.
— Como você espera que eu use minha espada assim? — questionou a amazona, encarando suas mãos.
— Como falei, a Amaryllis não está aqui, quem quis bancar a heroína foi você — respondeu a maga de forma amarga.
Puta da vida, Karla recuperou o corpo caído de Alef e se pôs a marchar atrás das companheiras.
– – – – –
A noite longa havia tomado a energia das garotas, o ritmo já era bem mais lento. Se arrastando, o sol começou a brilhar no topo das árvores.
— Eu estou vendo alguma coisa! — exclamou Dafne de forma animada.
A garota apontava para uma luz azul que emanava pela sombra das árvores. Depois de uma noite longa, achar alguma coisa além de terra e árvores era um tesouro.
A luz emanava de uma estátua. A figura macabra retratava uma mulher de cabelos longos, com uma espada cravada em seu seio, enquanto um broquel está amarrado em seu braço.
— Que figura é essa? — questionou Nia, não esperando uma resposta das amigas.
— Deve ter algum detalhe nela… — disse Dafne, se aproximando da estátua.
Karla havia deitado Alef no chão e prosseguiu para se sentar ao lado, encarando sua mão de forma silenciosa.
As garotas continuaram a procurar alguma informação na estátua, mas não havia nenhuma placa no local.
— Essa é a estátua… da Santa Latora.
Uma voz pouco ouvida ressoou dentro do santuário. Alef se esforçou para se sentar, mas caiu no chão como um macarrão encharcado.
— Alef! — exclamou Dafne, correndo para o lado do jovem. — Você está bem?
— Acho que sim — respondeu o garoto arfando de forma pesada.
Nia apenas acenou com a cabeça em direção ao jovem e continuou a inspecionar a figura.
— Que bom que você está bem, ficamos muito preocupadas — disse Karla em tom sutil, diferente do seu habitual.
Alef tentava desesperadamente se sentar, mas seu corpo estava muito fraco, sua cara franzida e seus lábios mordidos entregavam sua dor.
— Esse é o Templo de Santa Latora — enfatizou Alef.