A Eternidade de Ana - Capitulo 15
Capítulo 15: Mercenários?
— Então você não tem mana? — Uma voz masculina jovem perguntou, pensativa.
— Isso.
— Mesmo assim venceu as criaturas? — Os olhos cor de mel da segunda voz pareciam brilhar enquanto ela perguntava de maneira tímida.
— Sim.
— E se tornou uma rainha mercenária? Assim do nada? — Perguntou outra voz, não tão confiante nas palavras ditas por Ana. Apesar disso, sabia que o emblema bronze que segurava em suas mãos era uma prova irrefutável.
— Também fiquei surpresa.
— E quer que a gente também vire mercenários? — A quarta voz parecia sonhadora e questionou ela em tom infantil, contrastando com seu grande porte.
— Não é bem assim, parece que posso ter caçadores sob meu comando, desde que estejam bem com isso. Claro, não há problemas se quiserem virar mercenários.
Cinco pessoas conversavam animadamente no topo das muralhas da cidade, o dourado sol da manhã tornava suas sombras longas e distorcidas sobre a grama orvalhada.
— Ana, eu entendo o que você está dizendo, mas… Somos muito fracos — Mordendo fortemente os lábios, Júlia olhou para seus companheiros — Na última vez tivemos sorte, mas seremos um atraso para você. Apenas Alex é rank E, e mesmo assim apenas a base, no momento ele mal se diferencia de um rank F.
— Não se preocupem com isso, minha falta de mana é uma limitação clara, então ter mais pessoas é uma adição bem vinda, não quero morrer atoa. Além disso, percebi que pagam razoavelmente menos por missões solo… — Respondeu Ana com um suspiro decepcionado.
Os companheiros se encararam com as palavras da garota, um sorriso torto de desistência aparecendo nos lábios de todos. Os quatro haviam perdido seu local dentro da guilda dos Cavaleiros Solares depois da última missão e foram recusados quase que imediatamente pelas outras duas guildas da cidade devido a seu histórico. Uma oferta que pagasse bem era algo extremamente tentador para o grupo de desempregados, mas o trabalho do submundo não era bem visto.
— Bem, não vou obrigá-los, mas acontecimentos recentes me fizeram refletir sobre como quero viver nesse novo mundo. Não estava nos meus planos me tornar uma das rainhas, mas aconteceu, então não tenho motivos para não aproveitar. Pretendo formar um grupo de elite, e vocês não demonstraram medo mesmo sabendo que provavelmente iriam morrer. Há muito espaço de crescimento, quero vocês como meus cavaleiros.
Ela levantou-se lentamente enquanto terminava suas palavras. Apoiando uma das mãos descontraidamente na beirada dos muros, ela olhou para as grandes nuvens no céu. Raios de sol batiam em seu rosto, transmitindo um sentimento imponente que fez os olhos dos jovens se perderem em sonhos de grandeza. No entanto, mal sabiam eles que a bela cena que presenciaram tratava-se de um improviso rápido para esconder o forte rubor nas bochechas de Ana.
“Eu pedi para se tornarem meus cavaleiros… é legal, mas tão vergonhoso! Não sei se vou aguentar isso. Me desculpe, Madame”.
Apesar disso, ela pôde notar que o discurso teve o efeito esperado. Ana sentia as vibrações que seus corações transmitiam. Esperança de viver uma aventura, ganância pelo dinheiro e fome pelo poder. Eles sabiam que ser um grupo de elite neste novo mundo significava estar no topo da sociedade, e não podiam deixar de lado uma oportunidade que não voltaria a aparecer, mesmo estando relutantes.
Virando-se para os lados para confirmar a escolha dos demais, Alex prostrou-se sobre um joelho, dizendo em nome de todos.
— Se é assim, nós iremos te acompanhar.
Ana permaneceu imóvel. dando apenas um aceno de reconhecimento a escolha de seu novo grupo. Seu rosto cada vez mais rubro enquanto encarava heroicamente o horizonte.
Uma ostensiva luz branca chegou a seus olhos, ofuscando a maior parte de sua visão. Apesar desse nível de distração não ser o suficiente para impedi-la, era certamente um incômodo.
“Preciso me acostumar a lutar contra magos.”, focando a atenção em seus ouvidos, ela pôde ouvir o ar sendo cortado ferozmente em sua direção.
Movendo o pé esquerdo para trás num deslize quase imperceptível, ela desviou por uma pequena margem da lança que mirava em seu peito. Seu outro pé chutou a ponta da arma, fazendo voar para o lado. Com uma vara de madeira que pendia preguiçosamente em sua mão, Ana acertou os pés de seu atacante.
— Ai! mas que droga, você não precisa ser tão violenta — Alex resmungava ao receber o golpe repentino. Apesar de parecer um golpe relaxado, deixou um forte ardor em suas panturrilhas.
— Mantenha seus pés alinhados e seus joelhos levemente dobrados. Eu já repeti isso várias vezes, seu centro de gravidade tem que ficar baixo para ter um corpo equilibrado durante um ataque de lança — Com a vareta, dois outros golpes acertaram os braços do homem deprimido — Braços firmes. Seus ataques precisam ser tão precisos quanto poderosos.
— Mas que merd… — Alex cambaleou com o impacto inesperado, no entanto, a surpresa brilhou em seus olhos. Ele absorveu a correção, realinhando sua postura conforme as instruções de Ana, sentindo a diferença imediatamente em seu equilíbrio e prontidão.
Durante a explicação, ela notou duas flechas sendo disparadas em rápida sucessão, visando suas pernas. Ela alinhou sua postura, preparada para repelir o ataque inesperado, quando um vento misterioso fez com que as flechas dançassem no ar como serpentes.
“Isso é realmente interessante!”, ela disparou o graveto em direção a Marina. Sem reflexos suficientes, a jovem maga foi acertada no meio da testa, apenas caindo para trás sem emitir nenhum som.
As flechas dançantes, perdendo o poder que as guiava, deixaram de ser uma ameaça, acertando apenas a grama. Júlia não estava parada enquanto tudo isso acontecia, chegando de entre os arbustos em uma nova tentativa de ataque surpresa com seu grande martelo.
Seus olhos avaliavam o espaço entre ela e a garota ruiva, calculando o momento perfeito para avançar. Um martelo não é uma arma que pode ser brandida rapidamente, e isso era algo que ela precisava aprender. Ela disparou em direção ao ataque, e com apenas uma mão segurou o centro da arma enquanto Júlia preparava o movimento. A diferença de força era óbvia, o martelo ficou estático no ar.
— Muito ameaçador, mas e agora, o que você faz?
— É…eu… me deito? — perguntou a garota, já começando a afrouxar o aperto no martelo.
— Não, você morre — disse Ana com um suspiro. Com um rápido jogo de pernas, ela tirou o equilíbrio de Júlia, fazendo-a cair bruscamente no gramado. O martelo que ainda estava no ar pousou a centímetros da sua cabeça, fazendo com que a garota assustada arregalasse os olhos.
Ana sentou-se ao lado dela e encarou os demais membros caídos. Apenas Felipe não participou do treinamento, seus ferimentos mal estavam cicatrizando, não parecia que ele conseguiria se movimentar adequadamente por um tempo.
— O trabalho em equipe não está ruim, mas vocês são muito lentos. Não digo só em velocidade, precisam aprender a prever o fluxo que a batalha está tomando e agir de acordo.
— Você é injusta! Uma rainha está criticando aventureiros rank F… — Júlia resmungou, como sempre.
— Você não acha vergonhoso usar essa desculpa depois de ter perdido de alguém que nem mesmo foi fortalecido pela mana? — Um sorriso provocador surgiu nos lábios de Ana. Ela sabia que eram palavras injustas, eles estavam ótimos para um grupo que acabou de sair da adolescência. Comparar com ela, que treinou por séculos, era quase um bullying. Ainda assim, ela sentiu que ferir o orgulho agora era o melhor caminho para o crescimento.
— Isso… você está certa…
Ana se levantou e pegou novamente a vareta de madeira Seu olhar passou em um de cada vez, rindo internamente do olhar triste de cada um deles. Indo para a frente do grupo, ela demonstrou um golpe conectado a um alvo imaginário, movendo-se com uma precisão cirúrgica.
— Cada movimento deve contar uma história — ela explicou. — Uma de intenção, foco e decisão. Não apenas golpear, mas comunicar sua vontade de vencer ao mundo.
Cada conselho de Ana era pontuado pelo som da madeira cortando o ar, pelo sibilar suave da grama sob seus pés, e pelo ocasional riso ou suspiro de realização quando um movimento era finalizado..
— Bom, é só uma questão de habilidade, com treino suficiente a tendência é vocês ficarem melhores que sua mestra. O tempo de descanso acabou, vamos mais uma vez.
O vento suave que balançava as folhas ao redor parecia sussurrar palavras de encorajamento, enquanto a luz solar, filtrando-se por entre as árvores, envolvia o grupo num abraço quente, quase como se a própria natureza estivesse ali para reafirmar a fé que Ana transmitia em suas palavras.
“Ela realmente acredita que podemos fazer isso”, percebeu Júlia. As reclamações que prendia em seu coração lentamente se desvaneceram.
O ânimo de todos foi restaurado com a curta performance de Ana. Eles sentiram o peso do universo em cada ataque, era palpável que este era o começo de algo novo, não apenas um treinamento, mas a formação de novas lendas, e eles faziam parte delas.
— Alex, dessa vez eu irei te atacar. Firme os pés!
Ela chutou a lança para ele. Os músculos do grande homem se tencionaram de imediato ao manter a postura explicada no embate anterior, preparando-se para a investida.
— Júlia, você apenas observa, irei usar seu martelo por um instante. Tente absorver tudo o que ver, irei lutar com você em seguida.
O martelo foi levantado facilmente pelas suas mãos esguias. Júlia pôde notar já neste movimento a calmaria que contrastava com a grande arma. Uma compreensão repentina começou a formar-se, deixando-a ansiosa pelo que veria.
— Maria, você parece ter uma compreensão muito boa da mana, sua velocidade de manipulação está acima do comumente visto, mas sua forma de aplicar a magia é muito simples. Condense o ar para criar escudos sólidos, altere a refração da luz para criar ilusões, distrações mais detalhadas ou, sei lá, tornar-se invisível! Você tem possibilidades infinitas em mãos, pode ajudar tanto em combate quanto na aplicação de táticas versáteis para a equipe. Seja criativa!
Maria não demonstrava, mas estava triste por Ana não ser uma maga. Felizmente, ao contrário do que pensou, suas palavras também trouxeram iluminação para as formas com que poderia ajudar a equipe. Um radiante sorriso surgiu em meio a seus olhos tímidos.
— E Felipe, me dê uns dias, em breve conversaremos sobre sua prótese.
Ele ficou confuso com as palavras da garota. “Ah, então na verdade ela sabe quem fez a armadura de antes…”, agradecendo com um pequeno aceno, ele se preparou para observar a simulação de luta, tentando entender os ensinamentos mesmo sem poder praticá-los.
E então, Ana lançou-se para frente. O treinamento de seus novos companheiros começou novamente.
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