A Eternidade de Ana - Capítulo 18
Capítulo 18: Missão
Dez tentativas, dez falhas. Os materiais foram se esgotando aos poucos, acabando antes de perceberem. Um braço que dobrava-se sem o usuário pedir, um braço que não conseguia controlar os dedos, um braço que simplesmente explodiu! Cada falha serviu como aprimoramento para a próxima tentativa, mas o metal pouco durável precisava ser descartado após ser derretido duas ou três vezes.
— Bem, ao menos fizemos “isso”, é uma vitória, não é? — cinco esferas emanando uma suave luz azulada pendiam no cinto de Ana. Era sutil, mas uma força ameaçadora podia ser vista emanando delas.
— Isso se não explodir na sua mão ao tentar usá-las… — a resposta sarcástica veio acompanhada de um suspiro. Felipe era uma casca do que foi a alguns dias atrás; seu corpo, o qual ainda estava em recuperação dos ferimentos, estava com aspecto desnutrido e olheiras profundas marcavam seu rosto.
As esferas eram apetrechos rústicos criados com materiais que sobraram, bombas improvisadas e não testadas. Maria havia entregue os livros restantes a alguns dias, então Ana pôde devorar o conhecimento avançado de engenharia mágica que tanto queria.
Claro, não era nada extremamente diferente do nível intermediário que já havia visto, a humanidade ainda estava engatinhando nesta nova área. No entanto, tais livros continham o conhecimento que ana mais ansiava: a explicação de como as runas eram feitas! Para um observador sem estudo, podem parecer apenas desenhos sem sentido, mas a verdade é que são inscrições detalhadas e complexas cuidadosamente feitas.
Existem runas de todos os tipos, como se fossem uma solidificação das possibilidades infinitas da magia. Os livros intermediários apresentaram alguns exemplos de runas já estudadas, como a de controle, a qual permitia controlar itens apenas com pensamentos, e a de movimento, que tornava possível a movimentação de materiais rígidos mesmo sem mecanismos complexos por trás, ambas runas utilizadas na prótese do braço que estavam fazendo.
Runas funcionam quase como circuitos lógicos, sendo componentes por onde a mana flui para alcançar um objetivo específico. Elas simulam as veias de manipuladores de mana, transcrevendo em itens os fluxos necessários para alcançar determinado evento.
Em Aurórea, a criação de novos padrões era algo exclusivo dos leitores, pois enxergavam o que estava acontecendo quando usuários lançavam magias, mas após a retomada do uso da tecnologia tornou-se possível identificar isso de forma muito mais simples, com equipamentos como venoscópios e ultrassons, fazendo novas runas surgirem aos trancos e barrancos.
A garota revirou os olhos para a resposta de Felipe. “Ele não entende que o progresso exige sacrifícios! Deveria estar feliz por termos quase chegado a um bom resultado”, em meio a seus pensamentos, se dirigiu para um caixote que estava no canto da sala.
Um homem de aparência suspeita o havia entregue poucas horas atrás, então Ana ainda não havia visto seu conteúdo, mas o animado bilhete na tampa deixava claro do que se tratava.
— Ei, você já consegue usar uma espada?
— Não muito bem, meu equilíbrio ficou uma porcaria com um braço a menos — respondeu Felipe, confuso pela troca repentina de assunto.
— Ótimo!
A tampa do caixote caiu pesadamente para trás. Dentro dele, em um berço de pano, duas pistolas e uma escopeta curta estavam repousando. O design era simples, mas elegante, como se fossem feitas no pré apocalipse, mas estranhas veias rosas passavam por todo o corpo das armas, fazendo-as pulsar como se estivessem vivas.
— Bang! — disse ela, apontando a escopeta de forma brincalhona para o jovem — Você usará isso por enquanto, eu não vou pagar pra alguém ficar parado. É melhor que não a destrua, vou usar como material de estudo assim que voltarmos.
— Armas de fogo? Não sei se eu qu… — Felipe parou suas palavras em meio a frase — Esquece, obrigado, Ana. Farei um bom uso dela.
“Não é um caminho que me agrada, mas é a única forma de eu participar das missões no meu estado atual”, cerrando os dentes, ele começou a examinar lentamente cada pequena parte do dispositivo. As intrincadas runas internas o fizeram tremer, lembrando do sofrimento da última semana.
Eles já haviam passado oito dias na forja, o momento de encontrar Madame para pegar os detalhes da missão obrigatória finalmente chegou.
Oculto do barulho e da agitação do bar principal, a sala privativa vibrava com uma energia reservada apenas aos que navegavam pelo submundo. Madame se acomodava em meio a almofadas, rodeada por tapeçarias que contam histórias de batalhas passadas e armas épicas que adornam as paredes. Uma garrafa de whisky antigo repousava sobre a mesa de madeira escura, lançando reflexos dourados sob a luz suave dos candelabros.
— Estou aqui — com uma animação contida, Ana anunciou sua chegada.
Sorrindo levemente, Madame indicou as cadeiras à frente da mesa com um gesto elegante. Enquanto Ana se acomodava, Madame serviu a bebida, um líquido âmbar que escorreu pelo copo com a promessa de acalmar os nervos.
— Vamos ao que interessa — começou ela.
— Hoje você parece menos… “mágica”.
— Recebi notícias não muito agradáveis, parece que uma velha amiga não vai voltar viva de sua última missão.
— Entendo… meus pêsames por isso.
— Oh, não se preocupe, ainda não é algo certo. E mesmo se acontecer, essa é a vida que escolhemos, sei que ela irá partir feliz com a vida que teve — com um breve gole da bebida, ela continuou — Bem sempre a margem para milagres. E hoje a chance de trazer esse milagre é sua!
— E posso recusar essa chance? — Ana respondeu sorrindo, mas sentiu um mal presságio com as palavras da mulher à sua frente.
— Infelizmente não.
Sem mais palavras desnecessárias, Madame desenrolou um mapa sobre a mesa, as linhas eram bem traçadas, mas careciam de detalhes. Apontando para locais marcados com cuidado, ela começou a explicação.
— Este era um mapa do novo mundo que ainda está sendo produzido pelos nossos batedores. Tem um rascunho de todas as regiões circundantes. Para ser sincera, eu pensei em uma ótima linha de missões para você. Não gostamos de desperdiçar possíveis talentos, então cada ponto marcado é uma peça de um quebra-cabeça maior, missões que exigirão habilidades brutais, mas que também deveriam servir como um treinamento para que você possa alcançar seu auge.
— Deveriam? — a garota perguntou ao notar as palavras conjugadas no passado, seus olhos fixos nos poucos detalhes do mapa, decorando-o em tempo real. A realidade de sua próxima jornada começava a tomar forma.
— Sim, deveriam, os planos mudaram. Como eu disse, surgiu sua chance de produzir um milagre. Recebemos as últimas notícias de nossa agente em Kurt, lar dos canyons degradados, e voc…
— Kurt? — perguntou Ana, interrompendo a conversa. Seu olhar deixava claro a confusão pelo estranho nome.
— Sabe como é difícil dar nomes para os lugares que nunca existiram? Atualmente somos os pioneiros na exploração, então temos uma regra clara, quem mapeia, decide. Culpe o cartógrafo…
— Terei isso em mente — um sorriso bobo cobria seu rosto.
— Você tirou toda a tensão da conversa! — Madame se jogou para trás e encheu seu copo novamente, a bebida deixou um doce adocicado no ar. Com um suspiro e um sorriso pela fala aleatória de Ana, ela continuou — Continuando… em seu último contato, havia se jogado de cima de um dos canyons enquanto fugia. Pelo jeito conseguiu se esconder, mas estava muito machucada… como não recebemos mais nenhum contato, acreditamos que está morta.
— E qual meu papel nisso tudo? — perguntou Ana.
— Não temos muitos reis e rainhas disponíveis no momento, então preciso que você a encontre. Para ser mais específica, preciso que encontre a bolsa que ela carregava.
— Supondo que ela realmente esteja morta… devo apenas encontrar o corpo, pegar a bolsa e voltar? Simples assim?
— Nem tão simples. Ela estava fugindo de sombras, e provavelmente ainda vão estar buscando a bolsa. Podemos confirmar que não foi aberta devido a uma marca de mana, mas não é precisa o suficiente para sabermos sua localização exata. Claro, também os monstros da região, variando entre classes E e C…
“Maldita missão suicida, estou sendo usada como um descartável para tentar recuperar a porcaria de uma bolsa”, pensou ela enquanto se levantava, arrumando as roupas para sair.
— Entendido. Suponho que se eu encontrar essas tais “sombras” vou morrer, certo?
— Isso depende de você, mas provavelmente sim. — Madame não tentou esconder o fato de Ana. Pela expressão da garota, ela já sabia a resposta mesmo antes de ter perguntado — Aqui está o relatório com os dados básicos da nossa mercenária, do local e dos inimigos. Ana, ela é uma de nossas rainhas de classe Ouro, além de uma grande amiga. Se ela estiver viva, traga-a de volta.
Era possível sentir sinceridade em seu pedido, não havia motivos para recusar. Ana saiu da sala, se despedindo com um aceno silencioso. Ela precisava do patrocínio da companhia para ter a vida que queria, mas sentiu um forte desgosto pela possibilidade de morrer em sua primeira missão.
“Terei que repensar se continuo sendo uma rainha”, a garota encarava o relatório em suas mãos de forma desinteressada enquanto se perdia em seus pensamentos, quando uma das linhas que pensou ser de pouca utilidade chamou sua atenção. “Isso só pode ser uma coincidência, certo? Merda…”
No papel amarelado em suas mãos, os dados da outra rainha mercenária pareciam se destacar.
“Margareth – Ouro Aficionado – Leitora”.
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