A Garota e o Contrato da Espada - Capítulo 1
Após seguir as detalhadas instruções da espada, Evelin chegou até um velho galpão abandonado. Ao adentrar o local, a garota sentiu uma certa nostalgia. Quando pequena, costumava sair escondida juntamente de seu pai para brincar de esconde-esconde aqui.
— Aqui deve ser seguro — Disse a espada, cortando o raciocínio da jovem e a trazendo de volta para a atual situação.
— Por um momento eu me esqueci completamente de tudo isso… — Comentou Evelin em voz baixa.
— Como aparentemente você esqueceu tudo que houve depois de fecharmos o contrato, explicarei tudo novamente. Primeiramente, deixe-me se apresentar. Sou Gier, um dos sete demônios de contrato primordiais. Como os outros de minha espécie me julgaram como poderoso demais, eles me prenderam neste orbe vermelho. Posso apenas materializar minha alma como arma — Explicou.
Enquanto ouvia a explicação de Gier, a garota observou bem a espada que carregava em suas mãos. Após retirá-la do chão, ela retornou a forma de espada quebrada, no entanto agora ela está restaurada, menos a parte da lâmina que continua quebrada.
— A forma anterior foi resultado do pedaço da sua alma que absorvi, não tive influência sobre a estrutura dela… — Continuou dizendo, quando foi interrompido por Evelin — Espera, pedaço de alma? O que você quer dizer com isso?
— Quando você me encontrou eu estava muito debilitado, mal podia manter essa forma. Foi por isso que eu pedi um pedaço de sua alma como alimento para que eu pudesse salvar sua vida — Respondeu a espada.
Tudo aquilo era muito novo para ela. Demônios de contrato, Rei do Inferno, espada falante, era tudo muito confuso para Evelin. A garota ergueu a mão livre para coçar a cabeça, quando percebeu um detalhe. Algo que estava incomodando ela desde o início, mas que não conseguia identificar o que era. O seu cabelo, anteriormente prateado, agora estava um vermelho carmesim, parecia que o sangue havia incrustado nos seus fios de cabelo.
— O meu cabelo! — Gritou a garota.
Ela imediatamente largou Gier, deixando ele cair no chão, e começou a segurar seus longos cabelos com as duas mãos.
— Temo que isso seja consequência de nosso contrato — Comentou a espada.
— Como assim contrato? Você fica me falando sobre vender um pedaço da minha alma. Eu… Eu não entendo isso — Questionou indignada.
— Como eu disse, eu sou um demônio de contrato. É de minha natureza fazer contratos. Olhe para o dorso da sua mão esquerda. Vai encontrar o tal contrato e nele terá mais informações sobre o mesmo.
Seguindo a ordem de Gier, a garota observou as costas de sua mão esquerda. Ela ainda estava completamente suja de sangue, então ela esfregou um pouco e viu algo mais estranho que o seu cabelo mudar de cor. Havia algum tipo de tatuagem, com diversos símbolos estranhos lá. Ocupava quase toda a área do dorso da mão.
— Desde quando eu tenho uma tatuagem? Ainda mais uma de mal gosto… — Indagou Evelin.
— Garota tola. Isso não é uma tatuagem e sim nosso contrato. Os humanos realmente perderam os saberes demoníacos? Apesar de ser uma mestiça, você não sabe ler contratos… — Corrigiu a espada, que pareceu entrar em algum debate interno.
Enquanto isso, a garota observava os desenhos estranhos na mão.
— Se você realmente não tinha os saberes demoníacos até agora, há mais um bocado de coisas que você nunca reparou em si mesma… — Comentou Gier.
Ao ouvir isso ela ficou curiosa sobre essas “coisas”, foi quando sentiu algo estranho nas costas. Olhando para trás, outra “coisa estranha” foi vista no seu corpo. Saindo de seu cóccix havia uma longa cauda, com um grande tufo de pelos na ponta.
— Meu deus do céu! Eu tenho um rabo! — Exclamou assustada.
— Vamos parar com essa conversa irrelevante. Sinto em seu coração diversas dúvidas, mas um sentimento sobressai todas. Você quer vingar sua família — Interrompeu a espada.
Evelin engoliu seco. Olhou para a espada caída no chão e concordou com a cabeça.
— Certo. No seu nível atual seria impossível até mesmo chegar ao inferno. Você deve ter notado que depois de toda aquela matança você sente o seu corpo melhor. É disso que precisamos para ficar mais forte. Matar — Continuou.
Ela engoliu seco novamente, ela realmente se sentia melhor, apesar de não querer admitir. Aceitar esse sentimento implicaria que ela gosta de matar.
— Matar… — Confusa acabou pensando alto.
— Você ouviu isso? Acho que tem alguém aqui… — Disse uma voz estranha, que tirou Evelin de seus pensamentos.
Ela ouviu a voz de alguém entrando no armazém. Pegou Gier que estava caído no chão e se escondeu atrás de uma parede. Observou dois rapazes entrarem. Um deles era mais alto e magro, carregava uma pistola em suas mãos, enquanto o outro era mais baixo e gordo. Reparando melhor percebeu que o segundo carregava o que parecia ser uma garota desacordada.
— Nunca tem ninguém aqui, deixa de ser cagão e segura ela direito — Disse o mais alto.
— Mas chefe… — Resmungou o outro.
—Fica quieto. Agora a diversão vai começar.
Parece que os dois estavam planejando fazer algo muito de errado com a garota desacordada. Evelin já havia visto sobre esse tipo de coisas em jornais, mas por ser muita ingênua nunca imaginou que o ser humano poderia fazer algo tão baixo com alguém que nem pode resistir. Sentiu uma sensação estranha, era um misto de nojo e raiva. Sem nem pensar direito, ela se levantou e foi na direção deles.
— Ali chefe! Eu disse que tinha alguém aqui! — Gritou o mais baixo apontando na direção de Evelin.
— O que foi garota? Quer participar também? Foi mal, você parece novinha de mais pra mim. Então vaza daqui — Disse o outro rapaz.
Evelin continuou andando.
— Ei! Vadia mirim! Eu disse pra ir embora! — Continuou, agora em tom de ameaça.
Ele apontou sua arma na direção dela, que por sua vez continuou andando.
— Vai embora! Eu não to brincando!
Um disparo de aviso e ela continuou andando.
— Eu mandei você sair daqui!
Outro disparo, mas esse não foi de aviso. Quase que por puro reflexo, ela brandiu a espada quebrada, que em resposta se transformou em uma longa espada negra com detalhes vermelhos, bem a tempo de refletir o disparo.
— Ai! — Gritou o rapaz que estava com a garota.
O outro olhou para trás tentando descobrir o porquê do grito. A bala refletida atingiu a perna dele.
— Mas que mer… — Começou a dizer ao ver seu amigo baleado, quando foi interrompido pela espada de Evelin atravessando seu pescoço, decapitando o bandido.
— N-Não me mate, por favor! E-Ele me obrigou! — Suplicou o bandido restante, após ver seu chefe ser morto.
Ao ver que Evelin não dava nenhum sinal de querer deixar ele viver, decidiu abandonar a garota desacordada e ir embora.
— S-Socorro! — Gritou enquanto tentava fugir mancando com uma perna baleada.
Antes que pudesse sair do armazém, em um instante a garota arremessou a espada que acertou em cheio o pescoço dele. Por um momento ela apenas observou o corpo do bandido cair sem vida no chão e ficou presa em seus próprios pensamentos. Quando finalmente pareceu chegar em algum consenso com si mesma, caminhou lentamente até o corpo e recuperou a espada. Assim que ela encostou, Gier retornou a sua forma original.
— Se para vingar meus pais preciso matar. Farei um favor ao mundo e eliminarei esses vermes, que fingem ser pessoas — Conclui Evelin.