A Garota e o Contrato da Espada - Capítulo 11
Em meio um pequeno lago, algo criava ondas em suas calmas águas. Evelin, sobre uma pedra, com dificuldade movia seus braços conforme as ondas iam e voltavam. Desde a derrota do vice general de Yuki, a garota seguia um frio treinamento desenvolvido por Gier, para que ela pudesse desenvolver suas habilidades recém-adquiridas.
— Você não acha que eu deveria fazer mais que apenas criar ondinhas…? — Indagou Evelin ofegante.
— Não percebes que tem dificuldade até para fazer “ondinhas”? Olhe o seu cansaço — Respondeu a espada, que residia caída aos pés da garota.
— É claro! Você quer que eu mova o lago inteiro em sincronia, criar finos chicotes de água deve ser menos cansativo que isso!
Desobedecendo as ordens da espada, Evelin levantou de dentro do lago o que parecia ser alguma cobra feita de água. Com um movimento brusco, ela atacou uma folha que caía no ar. Apesar de o movimento ser simples, sentiu uma dor intensa percorrer seu corpo, sentia que seu sangue tentava sair de dentro dela.
— Eu te avisei — Comentou Gier de forma ríspida — Não é comum alguém conseguir usar magia de sangue e de água. Ambas são muito parecidas, você usou as duas ao mesmo tempo sem querer e quase arrancou todo o seu sangue de suas veias. Com movimentos simples, como fazer “ondinhas”, deve ajudar a saber diferenciar ambas as magias.
Evelin levantou com cuidado, ainda com dores em todo o seu corpo, e voltou a fazer ondas na quietude do lago. Com o tempo,foi cada vez mais se concentrando apenas nas ondas, e acabou ficando dias a fio fazendo a mesma coisa. Após perder as necessidades de dormir, comer ou ir ao banheiro, a garota perdia facilmente a noção do tempo, nem ao menos sabia quanto tempo havia se passado desde o fim de seu treino com Kaori.
— Acho que talvez agora você possa tentar fazer algum outro movimento. De preferência nada tão drástico quanto um chicote — Comentou Gier depois de um certo tempo.
Fazendo pequenos movimentos precisos com as mãos, Evelin montou uma espiral que subia do lago até alguns bons metros de altura, formando um grande cone de água. Agora fazendo movimentos mais amplos usando todos os músculos de seus braços, em meio uma estranha dança, diversas fontes de água saiam do lago e faziam complexos formatos no ar. Após um longo tempo se divertindo com as formas abstratas feitas de água, Evelin finalmente relaxou um pouco.
— Bem, se minha vingança der errado eu ainda posso fazer algum tipo de show de mágica para ganhar a vida — Brincou ela.
— Isso está fora de questão. Demonstrar seus poderes para humanos comuns é algo que você nunca deve fazer, nem mesmo por dinheiro — Respondeu Gier.
— Eu sei, era só uma piada…
Um grande silêncio se instaurou entre os dois, enquanto Evelin apenas observava a lua cheia no céu. Memórias sobre os dias que ficava acordada até mais tarde apenas para ver a lua cheia com seu pai, apareceram em sua mente. Apesar de a vingança ser em nome de sua família assassinada, ela raramente pensava neles. Normalmente, apenas planos de batalhas sangrentas eram tudo que ela pensava recentemente, a garota quase nunca se lembrava dos motivos de tais atos.
Sentada, enquanto observava a trajetória que a lua fazia no céu, algo afiado golpeou a garota pelas costas. Ignorando a pontada de dor ao ter algo penetrando sua pele, Evelin levantou em um salto com Gier em mãos. Observava atentamente tudo ao seu redor, escuridão não era um problema graças a sua magia de sangue, podia enxergar claro como dia, apesar de o sol não estar mais no céu, entretanto, mesmo com a visão aguçada, ela não conseguia ver ninguém se espreitando entre os arbustos.
— Eu não vejo, ouço ou sinto a presença de alguém, como isso pode ser possível? — Indagou ela mentalmente para a espada.
— Assim como Kaori comentou antes, existem seres capazes de esconder sua presença. Para alguém se esconder tão bem de você, com certeza é muito forte — Respondeu Gier.
— Mais forte que o cara dos chicotes?
— Temo que sim…
Sem nenhum aviso prévio novamente, outro golpe acerta Evelin, desta vez em sua perna. Devido a dor, ela acaba fraquejando e caindo de joelhos no chão, aproveitando tal movimento a garota entra nas sombras e inicia uma fuga. Enquanto corria com dificuldade dentro das sombras, sentiu um grande impacto atingir sua cabeça. Alguém a atacou por fora das sombras. Após a confusão devido ao impacto, Evelin perdeu a concentração e foi expelida das sombras.
— Como… — Começou a murmurar, no entanto os ataques não cessaram.
Um vulto encapuzado, com apenas um grande e forte braço de pele escura pra fora da veste, atacou a garota novamente, com um forte soco no estômago. Logo após o golpe, o vulto se afastou, deixando Evelin caída no chão, enquanto cuspia sangue. Sem tempo para lidar com a dor, a garota se levantou empunhando sua espada à procura de seu alvo.
— Evelin… Isso é um humano… — Murmurou Gier mentalmente para ela.
— Como?! — Indagou Evelin em voz alta
— Eu não sei, ele não tem mana. Uma criatura com forma humanoide sem mana só pode ser um humano.
— Tsc — Resmungou a garota, que com um grande e amplo movimento com a espada, derrubou todas as árvores que estavam em um raio de cinco metros dela.
— Apareça maldi-! — Começou a gritar, quando um forte golpe na nuca fez com que ela mordesse a língua.
Com grande velocidade, Evelin golpeou com a espada na direção do golpe, no entanto já era tarde. O misterioso humano tinha uma incrível velocidade e força, conseguindo atacar e recuar em segundos. Após cortar o ar, a garota foi capaz de ver seu agressor parado a alguns metros de distância a observando.
— Tenha modos com aquele que salvou sua vida — Disse o vulto com uma voz grossa e imponente.
— Salvou minha vida? Você me atacou sem nenhum aviso e chama isso de salvamento?! — Vociferou a garota com raiva, partindo para um ataque direto.
Logo após Evelin pensar em atacar, o humano já havia desaparecido de novo. Foi quando sentiu um forte golpe, dessa vez em suas mãos. Devido ao forte impacto, acabou derrubando Gier no chão, que logo retornou a forma de espada quebrada.
— Isso foi apenas um teste para saber se meu investimento estava progredindo. Conseguir um quimono tão poderoso como esse foi algo realmente difícil — Explicou o homem encapuzado.
Ao ouvir a explicação, a garota lembrou imediatamente sobre o amigo de Kaori, que foi responsável pela entrega do quimono e o salvamento que a garota demônio fez contra a vontade. Paralisada e confusa, ela apenas observava seu oponente parado logo a sua frente.
— Parece que você entendeu quem eu realmente sou. Infelizmente, como pude perceber nessa atuação ridícula que você acaba de me mostrar, vejo que você continua muito fraca — Continuou ele.
Ao ouvir o comentário desse humano misterioso, Evelin tentou outro ataque, no entanto, algo a mantinha congelada no lugar. Nenhum de seus músculos respondiam às suas ordens.
— Mas acho que deve ser o suficiente por agora. Preciso que mate alguém por mim. Um demônio anda aterrorizando o porto, use essa oportunidade para conseguir mais poder e experiência.
A garota continuava tentando se mexer, ou ao menos retrucar o que ele dizia, mas ainda não conseguia se mover ou falar.
— Ele sempre ataca o porto à noite, então sabe como encontrá-lo — Terminou o homem.
Em um piscar de olhos, o humano misterioso desapareceu, deixando para trás Evelin, que agora podia se mover novamente. Assim como apareceu, foi embora sem deixar um rastro sequer. Restando apenas perguntas sem respostas.