A Garota e o Contrato da Espada - Capítulo 13
Sentada no topo de um guindaste, estava uma jovem com lindos cabelos ruivos balançando ao vento, com um rosto delicado e puro, que era manchando com uma grande cicatriz que ia da parte direita da sua testa até sua bochecha esquerda. Demonstrava uma expressão melancólica enquanto observava o mar cheio de pequenos navios cargueiros.
— E agora? — Indagou Gier quebrando o silêncio.
— Hum? — Murmurou Evelin ao sair de seu transe.
— O que vamos fazer agora? Completamos a missão daquele cara.
— Esse atrás de nós?
—!!! — A espada se assustou ao sentir uma presença surgir próximo a eles sem que ele percebesse.
De pé, próximo a Evelin, estava o mesmo homem encapuzado que havia encurralado eles na floresta. Apesar de estar um dia ensolarado, era impossível de se ver o que estava escondido nas sombras embaixo daquelas vestes.
— Parece que você agora consegue sentir minha presença — Comentou o rapaz.
— Eu acho que era algum poder daquele demônio que eu acabei de devorar — Respondeu a garota.
— Sim, ele é um daqueles que chamamos de “rastreadores”. Eles possuem habilidades únicas para localizar pessoas e… — O encapuzado pretendia continuar sua explicação, quando foi interrompido.
— O que você quer de mim? Por que quis que eu matasse um amigo do meu pai? — Indagou Evelin.
— Então, eu na verdade não pretendia que você matasse ele. Achei que quando você conhecesse o protegido de seu falecido pai, iria se juntar a ele em busca de sua vingança.
— Foi você que quase me matou e depois mandou eu vir aqui assassinar esse cara. Qual o seu problema?
A garota se levantou para observar mais atentamente aquele homem. Ele vestia um longo capuz marrom com uma aparência bem surrada, além desse longo tecido que cobria quase todo o seu corpo, a única coisa visível era o seu braço esquerdo. Como ela já havia visto na noite do ataque, o rapaz possui uma pele morena, agora com a luz, Evelin também percebeu diversas tatuagens que cobriam quase toda a pele amostra.
— Eu achei que dando aquele susto, você fosse querer deixar ele vivo, sabe, eu quis ser o cara mal, para você perceber que aquele era o mocinho — Explicou ele.
— Esse merda era o mocinho? — Perguntou a garota apontando para o corpo decapitado ao seu lado — Esse estrume ofendeu minha mãe só porque ela era humana. Como posso confiar em alguém assim? Vermes como ele devem ser exterminados.
— Entendo, é comum entre os demônios, menosprezar os humanos. Bem, parece que eu te julguei errado então. O problema no porto já foi resolvido, vou indo embora …
O homem fez menção de se retirar, mas foi interrompido pela garota segurando seu braço.
— Espera! — Disse ela — O que eu faço agora?
— Por que eu deveria saber isso? — Indagou ele — Eu por acaso sou seu dono ou algo assim?
Evelin não gostou do que ouviu, em resposta apenas fechou a cara e desviou o olhar.
— Olha, eu sei que você quer evitar contato com o mundo humano, mas acho que você deveria assistir ao jornal de vez em quando — Após falar isso, o misterioso encapuzado sumiu em um estalar de dedos.
A garota ficou perplexa com o que ouviu, “Jornal? Por que ele quer que eu veja o jornal?” pensava ela. Confusa sobre o que deveria fazer agora e como reagir a todos esses novos incidentes, Evelin resolveu aproveitar que já estavam na cidade e decidiu visitar onde costumava ficar sua casa. Ela costumava morar em uma parte rica da cidade, que não ficava muito distante do porto. Tentando conhecer novos lugares da cidade onde nasceu, decidiu usar o caminho que passava pelo centro da cidade.
Era de tarde em um dia de semana e o centro estava bem movimentado, diversos tipos de lojas que nunca havia visto antes estavam abertas e anunciando suas mercadorias. Em uma grande loja de eletrodoméstico, haviam algumas televisões ligadas na vitrine, uma delas chamou a atenção de Evelin. O aparelho estava sintonizado em um canal aberto da região e algo importante parecia ser transmitido no jornal. Estavam entrevistando uma linda mulher de pele pálida, com belos olhos que se pareciam com duas grandes esmeraldas, muito bem acentuados com a maquiagem. Apesar de aparentar não ter muita idade, possui-a longos cabelos brancos que esvoaçavam com o vento. Um lindo vestido preto, com um tom fúnebre, marcava as curvas de seu corpo avantajado.
— A senhorita é quem irá liderar a empresa Vertrag a partir de agora então? — Perguntou uma repórter.
Assim que ouviu o nome de sua família ser citado, Evelin começou a prestar atenção. Ela já estava acostumada a ver notícias sobre sua família passando na televisão, mas a pessoa que se apresentava como “herdeira” do legado de seu pai chamou-lhe atenção.
— Sim, toda a papelada já foi concluída e assinada. Devo tomar posse da empresa hoje mesmo — Respondeu a mulher com um forte sotaque estrangeiro — Eu, Yuki Vertrag, sai correndo da Alemanha ao saber da fatalidade que meu irmão sofreu, para poder garantir que seu nome e honra não sejam perdidos.
Após ouvir o nome, as suspeitas da garota se confirmaram, a mulher que se dizia ser sua “tia”, era Yuki, A Rainha do Gelo. Evelin ficou em estado de choque, nunca imaginaria que algo assim pudesse acontecer.
— Os bandidos que assassinaram o senhor Vertrag ainda estão à solta. A senhorita não tem medo de sofrer retaliação por parte deles? — Indagou a entrevistadora.
— Eu abomino esse tipo de gente e não tenho medo desses vermes — Respondeu Yuki enfaticamente — Minha própria equipe de investigadores que eu trouxe da Alemanha já estão no caso. Eu garanto que não deixarei que eles saiam impunes!
Depois desse pronunciamento, os presentes na cena começaram uma salva de palmas. Ouvir a própria mandante do assassinato de seu pai dizer algo assim, enfureceu Evelin. Sem que percebesse, seu corpo começou a esquentar.
— Evelin, se acalme… — Começou a dizer Gier mentalmente para a garota, quando a voz da repórter o interrompeu.
— Enquanto a sua sobrinha? Evelin Vertrag, o que a senhorita tem a declarar? — Indagou ela.
— Toda vez que penso na minha pequena sobrinha escondida em algum lugar com medo, eu… — Dizia a Rainha, quando fez uma pausa na fala, deixando uma lagrima rolar em seu rosto — Evelin, se você estiver ouvindo isso em algum lugar, por favor, volte para mim…
Ao ouvir aquela atuação, Evelin entrou em fúria. Em um movimento inconsciente, ela socou a televisão. O vendedor ao ver o ato, decidiu abordar ela.
— Ei! Vai ter que pagar… — Começou a dizer o homem, mas quando olhou para o rosto da garota em sua frente, ficou paralisado.
Lágrimas marcavam o rosto de Evelin, contrastando com o olhar assassino que ela projetava sobre a televisão quebrada.
— Eu… — Murmurou — Eu vou fazê-la sofrer até que suplique pela morte…