A Garota e o Contrato da Espada - Capítulo 2
Após a primeira luta de Evelin, ela passou um tempo vagando pelas ruas. Aprendeu algumas coisas novas, como conversar com Gier de forma telepática usando o contrato. Visitou secretamente a sua casa e viu grande movimento de policiais, no entanto depois de uns dois dias eles param de ir até lá. Enquanto vagava pelas ruas ouviu uma notícia na televisão.
— Na última noite de sexta-feira, a casa da família Vertrag foi atacada e destruída. No local foram encontrados os corpos do Sr. e Sra. Vertrag junto com o de seus empregados. De acordo com a perícia, provavelmente havia mais corpos, mas foram retirados da cena antes da polícia chegar. Enquanto isso, a filha da família, Evelin Vertrag, segue desaparecida — Dizia uma bela moça que trabalhava como apresentadora no jornal local.
No canto da tela apareceu algumas imagens da mansão destruída para ilustrar a fala da repórter e por fim, uma foto de Evelin apareceu no jornal.
— Parece que vai ser mais difícil ficar escondida agora — Disse mentalmente para Gier.
— Devíamos criar algum disfarce. Será mais seguro. Não queremos nenhuma entidade se intrometendo nos nossos assuntos — Respondeu a espada.
— A mudança na cor do meu cabelo não é o suficiente?
— Não. Vamos até um lugar vazio que tenha um espelho e poderei resolver isso.
Tentando lembrar de algum lugar que correspondesse às exigências da espada, Evelin se lembrou do banheiro de um parque que passaram perto. Nesse horário da noite, o local deveria estar vazio. Dito e feito, ao chegar no parque ele estava deserto.
— O banheiro deve ser um bom lugar… — Começou a dizer, quando Gier gritou dentro da mente da garota — Não fale em voz alta!
O grito repentino causou uma dor de cabeça instantânea nela.
—Foi mal… Mas aqui está vazio, ninguém vai nos ouvir — Reclamou Evelin, dessa vez disse mentalmente.
— Foi o que pensamos no armazém. Não preciso lembrar-lhe do que houve, certo? — Perguntou Gier de forma ríspida.
— Certo…
Apesar do êxtase momentâneo após a batalha, ela ainda sentia um remorso por ter matado e evitava lembrar o que fez. Evelin ainda não tinha se acostumado a matar pessoas e preferia não se acostumar.
— Bem… Vou entrar e ver se está vazio — Disse tentando fugir de seus pensamentos nebulosos.
Como era de se imaginar, o banheiro estava vazio. Assim como o parque, não havia sinal nenhum de vida. A garota se olhou no espelho sujo e viu o seu rosto. Ele estava completamente sujo de lama e sangue, mas, mesmo assim, era possível ver algumas olheiras embaixo dos olhos.
— Já estamos aqui e agora… — Começou a dizer Evelin, quando Gier interrompeu-a — Assim.
Sem nem mesmo sentir o movimento, ela sacou a espada e fez um grande corte no rosto usando o pedaço de lâmina quebrada.
— Ai! — Exclamou de dor.
Ainda desnorteada, Evelin soltou a espada e colocou suas duas mãos no rosto tentando parar o sangramento.
— Não se preocupe. Com seu nível atual isso deve cicatrizar bem rápido — Tranquilizou Gier.
— Do que você está falando?! Você acabou de cortar o meu rosto! — Exclamou a garota, ainda com as mão na face.
—Devo lembrá-la de sempre falar comigo telepaticamente. Deixando isso de lado, a cicatriz vai melhorar muito o seu disfarce — Tentou explicar a espada.
—Você devia ter me avisado! Droga! — Contrariando Gier, ela continuou falando em voz alta.
Apesar de reclamar, percebeu que a dor tinha quase que ido por completo. Foi quando resolveu ver como ficou. Primeiro passou uma água no rosto, teve certeza que a ferida havia fechado, quando não se incomodou com o toque da água. Depois se olhou no espelho. Viu refletido o seu rosto, agora limpo, porém com uma grande cicatriz que começava na testa no lado esquerdo e descia até a bochecha direita. Ela realmente estava bem diferente agora.
— Acho que o disfarce deu certo, nem eu mesma me reconheço no espelho… — Disse mentalmente.
—Deve ser o suficiente por enquanto. Vamos achar um lugar pra passar a noite. Talvez os policiais tenham saído da sua casa — Comentou Gier.
Ao sair do banheiro, Evelin sentiu algo estranho. O ar estava bem mais frio que antes.
— Ela nos achou… Fuja daqui imediatamente — Disse a espada repentinamente.
— Por… — Começou a questionar Evelin, quando foi interrompida por Gier — Fuja!
A garota fez menção de correr, mas era tarde demais. Uma parede de gelo surgiu em sua frente.
— Quando vi que os rapazes tiveram suas almas devoradas, me perguntei quem seria capaz de fazer algo assim. Nunca que pensaria que fosse… “Isso”, que fez tudo aquilo. Acho que no final eles eram bem fracos pra perderem desse jeito — Disse uma voz feminina com tom de desprezo vindo de trás da garota.
Ao ouvir a voz, Evelin se virou e Gier já estava novamente na forma de espada negra. No meio do parque, flutuando pelo menos meio metro do chão, estava uma linda mulher. Corpo com curvas bem definidas pelo vestido branco justo. Pele tão pálida que chegava a ter um certo tom de azul. Um longo cabelo branco que se esvoaçava ignorando completamente a gravidade.
— Chega ser engraçado. Ver um dos sete primordiais preso nessa forma e ainda por cima sendo capacho de uma mestiça qualquer — Continuou a mulher de gelo.
— Limpe sua boca para falar de mim! — Esbravejou Gier.
Evelin sentia um sentimento de raiva, apesar de não saber porque, e segurava com firmeza a espada. Novamente, apesar de estar de frente com o perigo, não sentia um pingo de medo.
— Quem é essa? — Questionou a garota em voz baixa.
— Yuki, a Rainha do Gelo. É uma dos generais do Rei do inferno — Explicou a espada — Tome cuidado com ela.
Yuki levantou uma mão e com um estalar de dedos, gelo começou a surgir nos pés de Evelin e foram subindo sobre o seu corpo.
— Reaja, rápido! — Gritou Gier.
A garota tentou quebrar o gelo com a espada, mas ele era duro demais. Continuou resistindo, no entanto seu corpo estava sendo congelado aos poucos. “Não pode ser…” Pensou a garota. O gelo finalmente prendeu seus braços.
— Isso realmente foi fácil, será que ganho uma promoção depois de derrotar um dos sete primordiais? — Questionou Yuki em tom de superioridade.
O gelo já estava na altura do pescoço. “Eu tenho que sair daqui!” Pensava Evelin, mas já era tarde demais. Ela não conseguia respirar mais. “É assim então? Vou morrer desse jeito, sem nem ter chegado perto da minha vingança…” Questionou enquanto sentia que sua consciência ia se esvaindo. “Não! Eu me recuso!”.
— Melhor eu levar o corpo da mestiça pra… — Começou a divagar a mulher de gelo quando sentiu um calor repentino.
O corpo de Evelin havia se incendiado, se libertando do gelo. Quando todo gelo derreteu, o fogo se manteve apenas na lâmina da espada.
— Se vai ser assim, vou levar isso a sério — Resmungou Yuki, que estalou seus dedos novamente.
Dessa vez o gelo focou apenas na espada, apagando o fogo.
— Esse foguinho de mestiça não é nada perto do meu poder! — Exclamou a mulher.
Mesmo com Gier congelado, Evelin avançou em um ataque.
— Eu já disse que não adianta! — Disse ela, enquanto preparava uma parede de gelo. No entanto, sentiu novamente um calor repentino, dessa vez bem mais quente.
O corpo da garota tornou a se incendiar, no entanto, dessa vez era uma chama verde muito mais intensa que a anterior. A espada estava livre novamente.
— Aaah! — Gritou Evelin e Gier em uníssono.
Com fogo de maior potência, eles foram capazes de atravessar com facilidade o escudo de gelo, acertando em cheio o ombro de Yuki.
— C-Como…? — Balbuciou a mulher tentando estancar o sangramento em seu ombro — Vocês vão se arrepender disso…
Em uma fumaça repentina, a mulher desapareceu. Apesar de o fogo ter apagado, ainda saía fumaça do corpo de Evelin. Ela respirava pesadamente, seu corpo inteiro doía. Suas pernas não aguentaram a pressão e cederam. Ajoelhada no chão se mantendo levantada com o apoio da espada, começou a tossir sangue.
— Eu lhe devo desculpas… — Disse Gier.
— Como… Assim…? — Perguntou a garota confusa.
— Assim como Yuki, eu subestimei você por ser mestiça. No entanto, hoje você demonstrou ter um potencial inesperado — Respondeu.
— Do que você tá falando…? Eu quase morri, se ela não tivesse desistido… — Começou a dizer Evelin, quando a espada interrompeu ela — Não, ela não apenas “desistiu”. Yuki fugiu de medo ao ver o seu poder. Já me surpreendi quando você usou o poder do fogo, mas depois você usou o fogo primordial…
— Fogo primordial? Tá falando do fogo verde? — Indagou ela.
— Sim. Aquele era o fogo primordial, o fogo capaz de derreter a própria realidade…