A Herdeira do Gelo - Capítulo 10
Sabendo que o que os orcs planejavam era uma armadilha, eles bolaram um plano para os surpreendê-los. Tal plano parecia ter sido um sucesso, mas enquanto batalhavam contra os orcs, um novo inimigo aparece. Os orcs se vendo diante dessa nova ameaça, deixaram de lado sua batalha contra os cavaleiros e sem pensar duas vezes foram em direção à horda.
— O que esses idiotas estão fazendo? Eles acham que tem mais chances contra eles do que com a gente? — protestou Orlen, indignado.
— Corram e se escondam entre as árvores! — gritou Kanan.
Usando a distração dos orcs eles correram em direção às árvores e se esconderam, Orlen e Kanan haviam corrido para as árvores da direita, enquanto Yara e Lynn foram para as árvores da esquerda.
— Nós vamos nos separar? O que faremos agora? — perguntou Yara, sem saber o que fazer.
— Cuidado Yara, não podemos nos revelar — sussurrou Lynn.
Agora, depois de separados, Kanan deu um sinal com as mãos e em seguida correu em direção a Valravam, ao lado de Orlen.
— Entendi. Eles tentarão interceptar a horda, pois caso essa horda chegue em Valravam… Será o fim — disse Lynn, parando para olhar em direção a Valravam e imaginando os gritos de desespero das pessoas ao longe.
— Mas e o que a gente faz?
— Nós iremos contra a horda e descobriremos de onde estão vindo, e traremos Eris de volta, essa é a nossa missão. — Lynn pareceu se distrair por um momento, mas logo voltou a tomar o foco.
— Isso… Não seria meio arriscado? Bem, nenhum de nós pode falhar, não é? Não consigo nem imaginar o que aconteceria com todas aquelas pessoas inocentes se tiverem suas casas destruídas, não só pessoas, como famílias morrerão… Isso não pode acontecer! — Yara segurou sua lança com força.
— Não… Isso não irá acontecer! Temos Christa defendendo a cidade, Kanan confia nela e eu também confio! O povo está sob boas mãos, eles ficaram bem — Lynn sorriu para Yara, a fim de mostrar que a situação estava sob controle.
Os orcs continuavam avançando contra os mortos vivos mesmo sem chance alguma de vitória, e mesmo que os derrotassem eles sempre se levantavam, era impossível enfrentar uma coisa como aquela. Aos poucos os orcs iam ficando exaustos e perdendo suas forças, de um em um eles estavam sendo aniquilados, da maneira que a batalha estava percorrendo era certa a derrota dos mesmos.
Ao os observar de perto Yara pode reconhecer a verdadeira força de seus inimigos, porém ela sabia que o que estava para enfrentar não era nada comparado a isso. Sentiu um calafrio em sua espinha, mas não sentiu medo, de alguma forma, aquela aura assustadora lhe parecia familiar, um sentimento de conforto misturado com medo.
Mesmo depois de horas caminhando entre as árvores, a horda parecia não ter um fim, estando exaustas de tanto caminhar enfim elas enxergaram uma forte e ofuscante luz logo a frente, quando se aproximando então, pudera se ver um homem descalço, usando um capuz que cobria todo o seu rosto, com vestimentas velhas e desgastadas estando sozinho em um campo aberto, enquanto com as mãos no bolso.
— O Homem encapuzado! Eu sabia! — falou Yara em voz alta, sua voz ecoando sobre os arredores.
— Shhh… Fale baixo, ele pode perceber a nossa presença! — murmurou a amiga baixinho, torcendo para que não tivessem sido notadas.
Segundos depois o homem olhou para a direção em que estavam e somente com seu olhar puderam sentir uma presença esmagadora emanando fortemente dele, e então ele perguntou:
— Quem está aí?! Sei que está aí escondido entre as árvores, posso sentir sua presença daqui, você não pode se esconder para sempre. Se se revelar agora eu poderei pensar na possibilidade de deixá-lo vivo, mas só talvez.
— Droga! Ele nos descobriu! Estamos mortas — disse Lynn, deixando sua espada cair acidentalmente, e um som estridente vazou de trás das árvores.
— HAHAHA! Então o meu palpite estava certo? — gargalhou-se ele em uma risada psicótica.
— Não temos outra escolha… — falou Yara, enfim se revelando.
— Que maravilha… — respondeu ele. — Eu achava que você seria um pouco mais persistente, mas não se preocupe, sua morte será rápida e indolor.
— Como soube que estávamos escondidas atrás das árvores? — indagou Lynn, também se revelando.
— Eu não posso sentir a presença de vocês de verdade, o que disse foi apenas um blefe para comprovar minhas suspeitas de que tinha alguém me observando, e bem… Pelo jeito funcionou!
— É mentira, você sabia desde o início — retrucou ela.
— Espera… Lynn? É você? — perguntou ele, surpreso, sua expressão mudando de repente.
— Conhece ele? — Yara olhou para a amiga, esperando uma resposta.
— Como sabe o meu nome? Quem diabos é você? Me diga agora ou eu serei obrigada a forçá-lo a falar! — protestou, consequentemente empunhando sua espada contra o homem misterioso.
— Você não se lembra de mim Lynn? Olha, é realmente uma pena, porém eu não culpo você por não se lembrar de mim, mas você não deveria se esquecer tão facilmente de um velho amigo — respondeu o homem encapuzado, soltando uma pequena risada sádica.
— Fique onde está! Não se mova! — ordenou Lynn.
— Droga, o que eu estou lhe dizendo? Já faz um bom tempo desde que nos vimos pela última vez, era óbvio que você não iria se lembrar de mim, você ainda era uma garotinha quando nos encontramos, agora veja só o que você se tornou.
— Foi você quem capturou Eris? Aonde ele está?! Onde estão os outros?! — perguntou Lynn.
— Uma pergunta de cada vez criança, não tenha pressa, talvez esse nome possa refrescar sua memória… — Ele ficou em silêncio por alguns instantes. — Eu me chamo Kian, o rei dos mortos! — exclamou, tirando as mãos do bolso e abrindo os braços como se estivesse para receber um abraço caloroso de alguém.
— K-kian? N-n-não pode ser! O que você está fazendo aqui?! — seus olhos se encherem de medo e desespero.
— Agora você se lembra, não é? — retrucou ele em tom sarcástico. — Sabe, se não fosse por você, Kanan nunca teria descoberto os meus planos, tudo o que eu busco agora é vingança, você sequer pode imaginar pelo inferno que eu passei depois daquilo? Você não faz ideia do que eu passei…
— É por isso que está fazendo isso então? Por vingança? Você é um monstro! — Yara o interviu.
— Sempre me chamam de bruxo, mas de monstro é a primeira vez — respondeu, com risadas cruéis vazando de sua garganta. — Olha minha criança, se quer mesmo saber, eu não guardo rancor nenhum pelo que fizeram comigo, mesmo que por partes isso seja por vingança, na verdade o real motivo de eu fazer o que eu faço não é porque eu tenho um objetivo em mente, e sim porque eu posso! O mundo favorece os mais fortes! Eu aprendi isso da pior maneira, mas agora que eu tenho a força e o poder, posso fazer o que eu quiser!
— Eu não deixarei que você machuque essas pessoas! — protestou Yara, e então correu para desferir um ataque frontal no homem.
Cerca de uma hora atrás…
Orlen e Kanan precisavam encontrar uma forma de mudar a trajetória da horda e impedir que ela alcançasse Valravam, antes que seja tarde demais. A horda marchava em linha reta em direção a cidade, passando por cima de tudo que entrasse em seu caminho.
Agora, tendo tomado distância da horda, Orlen e Kanan se encontravam a alguns quilômetros de distância dali, enquanto pensavam em um plano para deter a tal horda de mortos-vivos.
— Capitão, o que faremos? — perguntou Orlen.
— Veja bem, estes são inimigos da qual nunca lidamos antes, o que estamos lidando não é um simples inimigo, estamos lidando com um bruxo — observou Kanan.
— Um bruxo?… Como pode ter tanta certeza?
— Estes corpos estão aos pedaços, a única forma de eles conseguirem se manter de pé é usando magia — afirmou ele. — Lembre-se da primeira regra, olhe ao seu redor e analise todo o ambiente e veja o que podemos usar ao nosso favor, a natureza é nossa maior aliada.
Orlen olhou ao redor e viu apenas alguns pequenos arbustos e muitas árvores, algumas maiores e outras menores, com troncos não tão grossos que poderiam ser facilmente cortados com algum tipo de arma cortante.
— Mas capitão… Eu só vejo árvores… Como isso poderá nos ajudar?
— Exato! Teremos que usar as árvores para bloquearmos seu caminho, os obrigando a mudarem de rota, porém nosso tempo é curto, depressa! Me ajude a derrubar essa árvore! — correu Kanan, apressado.
— Sim, capitão! — assentiu Orlen, correndo logo atrás do mesmo.
Então, usando toda sua força para tentar derrubar uma das árvores com sua espada, Kanan acertou um forte e poderoso golpe, mas a árvore não cedeu. Quando estava prestes a dar o seu segundo golpe, Orlen o puxou para trás e falou:
— Deixe isso comigo.
Orlen segurou a espada de Kanan e quando este se afastou, se preparou para dar um golpe contra a árvore, com a espada em mãos, segurou firme e esperou. Até que, soltando um grito estridente feito um rugido, ele liberou toda a sua força e golpeou a árvore como se estivesse golpeando um inimigo, a fazendo ceder sem mais resistência.
Isso não pareceu surpreender Kanan, que nem sequer mudou sua expressão e somente deu alguns tapinhas no ombro do amigo. Então, o ajudou a arrastar o enorme tronco até a trilha para bloquear a rota de seus inimigos.
— Agora o que nos resta é esperar… — disse Orlen, ansioso.
Já com o plano em prática, eles se encontravam à espera da horda, que parecia andar em uma velocidade extremamente lenta. Graças a isso, eles tiveram a chance de bolar um plano e agora precisavam aguardar para ver se ele daria certo ou não.
Cerca de 40 minutos se passaram e a horda estava mais próxima do que nunca, se aproximando como um tsunami furioso de monstros.
— Acha que irá funcionar? — Orlen pareceu nervoso.
— Tem que funcionar.
A horda se aproximou, parando de repente, de frente ao tronco derrubado, deixando o ambiente com um ar tenso. Quando enfim pareceu que eles estavam mudando sua trajetória e dando meia volta, algo pareceu não estar certo.
— Não… Algo está errado… — Kanan logo percebeu que seu plano havia falhado.
Os mortos vivos que pareciam estar mudando de rota, na verdade apenas contornaram o tronco como se o obstáculo não fosse nada e agora voltando a sua trajetória inicial, se mantinham firmes em seguir o seu objetivo.
— Eles estão contornando o tronco! — gritou Orlen. — Capitão! Nosso plano falhou! O que faremos agora?!
— Eu sei Orlen… Eu sei… É por isso que temos sempre um plano B! Se isso não os parar, nós mesmos iremos para-los!
— Entendi… Agora tudo está nas mãos de Yara e Lynn, precisamos ganhar tempo para elas, o máximo de tempo que conseguirmos!
De volta a Yara e Lynn…
— Espere Yara! — Lynn a impediu, pedindo para que esperasse.
O homem a quem se intitulava Kian, o rei dos mortos, colocou uma de suas mãos sobre o solo e usando as palavras “Despertem agora”, ele levantou um pequeno exército de mortos vivos, surgindo do solo como uma semente que quando plantada sob o solo tem suas raízes tomando-se forma. Tudo o que Yara precisava fazer era cortar a raiz para impedir que a horda chegasse à cidade, mas para isso ela teria que enfrentar o inimigo que estava diante dela.
Aguentem firme Orlen e Kanan… Não morram!…
— Eu cuidarei dos da esquerda, o resto é com você! — disse ela, partindo para o ataque logo em seguida.
Yara assentiu com a cabeça.
Com uma sincronia quase que perfeita, Yara e Lynn lutavam lado a lado, como se estivessem em uma apresentação de dança, mas sem uma plateia para as aplaudirem. Elas eram sua própria plateia e Kian era quem orquestrava essa dança.
— Magnífico… Isto é simplesmente magnífico!… — Kian as admirava ao longe, sua voz ecoando de algum lugar além de seu exército.
Logo quando deu vida ao seu pequeno exército de mortos-vivos, sua presença desapareceu por completo. Se escondendo entre aqueles cadáveres podres e ambulantes.
Mesmo após terem seus corpos destruídos e despedaçados, eles retornavam à vida, parecendo não ter fim, e Yara já previa o pior.
— O que faremos?! Eles não param de surgir! Se continuar assim logo ficaremos exaustas! — gritou Yara.
— Eu posso cuidar deles sozinha, vá em frente, acabe com esse idiota Yara! — respondeu Lynn, confiante.
Ela atravessou o mar de mortos-vivos e logo se viu perdida no meio de um enorme exército de monstros. Eles eram muitos e a mesma já havia perdido Kian de vista, entretanto ela podia sentir sua presença mesmo no meio de tantos inimigos, sua presença se destacava entre todos, sua presença era única, algo nunca visto antes.
— Eu acho que você não deveria se preocupar comigo… — Kian pareceu perceber que Yara o notara. Estava em cima de uma árvore, esperando para que suas marionetes fizessem o seu trabalho.
Como ele chegou lá tão rápido? Era tudo uma distração desde o início? Ele usou os mortos-vivos como distração para se mover sem que tivéssemos o notado, ele é mesmo inteligente… Entretanto, se seu plano é manter a distância, é provável que saiba que em um combate a curta distância suas chances são mínimas.
— Tcs… Quem é essa pirralha? Devo tomar cuidado com ela, creio que de alguma forma ela possa sentir a minha presença — observou Kian, impressionado. — De fato, ela é forte. Sinto uma presença esmagadora emanando dela…
— Sei o que está pensando. — A garota olhou para onde ele estava, lançando-lhe um olhar afiado.
“Quem ela pensa que é pra falar assim comigo?” — logo pensou ele.
— Deve estar se perguntando como eu posso fazer isso, não é? Nem mesmo eu sei.
— Que surpresa… Não tenho tempo para conversinhas, morra logo de uma vez! — retrucou, fazendo surgir do solo quatro grandes orcs.
Sem pensar muito, Yara prendeu sua respiração e fechou os seus olhos, com uma concentração inabalável e a confiança de que isso fosse dar certo, fincou sua lança no chão e quando soltando sua respiração ao abrir os seus olhos, um poder fora liberado. Tudo em um raio de dois metros, inclusive os orcs se transformaram em gelo, impedindo-os que retornassem.
— O que?! Como isso é possível?… — Kian ficará perplexo.
Tal ação despertou mais uma memória em sua cabeça, de volta ao berçário alguém apareceu interrompendo o ritual que era feito na criança recém nascida, foi então que essa pessoa falou:
— O que estão fazendo?! Parem tudo, agora!
— Você não vê? Eu estou abençoando essa criança, irmã! — falou a voz de sua avó.
— Não!… Isso não é uma criança, isso é um monstro! Com isso você estará nos amaldiçoando! Nosso povo irá sofrer, e a ruína de nosso povo será essa criança! Essa criança carrega um poder assustador consigo, esse poder só nos trará mais desgraça, nós deveríamos matá-la! Me dê essa criança! — A mulher tomou a criança de seus braços, com tamanha agressividade.
— Está errada! Esta criança será a nossa salvação! Você verá minha irmã! Está tudo escrito nas escrituras, é o seu destino libertar o nosso povo da desgraça! — retrucou Maíbi, pegando a criança para si.
— Vocês estão cegas… As escrituras estão erradas, as profecias, é tudo uma farsa! Como não podem ver que durante todo esse tempo as tradições que seguiam eram uma mentira, os deuses não são bons, a verdade é que eles são cruéis, e não há nada o que possam fazer para mudar sua natureza!
— Quionne nos salvou de uma iminente guerra! Como você pode nos dizer isso mesmo depois de ela ter salvado o nosso povo? Foi ela quem nos trouxe a paz por muitos anos! — exclamou-se uma outra mulher, também presente no local.
— Cegos por uma mentira… Quionne tentou fugir de sua natureza, mas cedo ou tarde ela a perseguira, essa é a maldição que os deuses carregam, deixando a desgraça e o sofrimento por onde passam, o sangue dos deuses que hoje corre nas veias dessa criança é o mesmo sangue que amanhã será derramado por ela, um verdadeiro monstro nunca deixa de ser um monstro!
— Eu sou… Um monstro?… — perguntara para si própria assim que retornou de volta à realidade.
Uma fumaça começa a ser vista de muito longe dali, ao sul de onde vieram, acompanhada de gritos de medo e desespero. O que mais temiam aconteceu, a horda havia passado pelo bloqueio.
— Isso é… — Lynn começara a falar, mas quando enfim entendeu o que estava acontecendo, sua voz se perdeu com o silêncio.
— Kanan e Orlen falharam… — falou a amiga baixinho.
20 minutos antes…
— É um bruxo poderoso… Ele consegue reerguer seus soldados mesmo depois de mortos, Isso é simplesmente incrível! Por que de repente me sinto tão empolgado? — disse Kanan empolgado, sentindo a adrenalina correr pelas suas veias.
Orlen e Kanan na tentativa de conseguir tempo para Lynn e Yara após seu plano ter falhado, se encontravam extremamente cansados.
— Não adianta… Estamos ficando sem forças para lutar e eles não param de surgir, capitão! — Orlen arqueou, segurando seu peito com uma de suas mãos.
— Vamos recuar. Fizemos tudo o que podíamos, não vamos ganhar nada se morrermos aqui.
Ele assentiu, concordando com a ideia.
Passado-se cerca de 20 minutos, encontraram Christa nos portões da cidade assim que chegaram, explicando toda a situação e se preparando para defender o portão.
— Preparem-se arqueiros! Iremos proteger esse portão a todo custo! Atirem em qualquer coisa que se aproximar dentro de seu raio de visão, em hipótese alguma hesitem! — exclamou Christa, soando como uma grande líder.
Mais uma vez de volta a Yara e Lynn…
Após ter presenciado seu poder de perto, Kian cessou o seu ataque, usando as palavras “Voltem agora!”, tomando-se de volta para si todos os mortos-vivos, e em seguida desceu da árvore e falou:
— Certo, darei o que querem. Sem mais resistência.
— O que? Fácil assim? Por que parou o seu ataque? — perguntou Yara confusa.
— Não vamos acreditar no seu joguinho Kian! Sabemos que você ainda tem alguma carta na manga! — protestou Lynn, se recusando a acreditar no que ele falava.
— Você não confia no seu velho amigo Lynn? Ora, mas que deselegante, esperava que ao menos pudéssemos conversar mais um pouco… — retrucou ele. — Como era o nome mesmo? Eris? Se quer tanto vê-lo eu farei o favor de trazê-lo até você, nada mais belo do que um encontro entre amigos, não é mesmo?
Desta vez, ele apenas levantou o seu braço e usando as palavras “Desperte agora!”, um único morto-vivo se levantou, usando uma armadura de um cavaleiro e um arco em mãos.
— Não… Não… Não… — disse Lynn repetidamente enquanto entrando em estado de choque.
Tudo aconteceu muito rápido, mas Yara já havia entendido o que estava acontecendo, aquele era Eris, o cavaleiro do qual estavam procurando.
— Não está feliz em vê-lo? Qual é, eu achei que vocês fossem amigos, o que foi que aconteceu? — provocou Kian.
— Você o matou… — falou Yara olhando para baixo, frustrada por ter chegado tarde demais. — Eu não conhecia ele, mas sei que ele era uma boa pessoa, não irei perdoá-lo pelo que fez!
— Não seja boba, e o que você irá fazer? — perguntou ele, zombando da garota.
— Logo você verá.
Ela pegou sua lança e correu para atacá-lo, mas algo a interrompeu. Uma voz sibilou em sua cabeça, uma voz calma e ao mesmo tempo assustada, a voz dizia:
— Por favor, me mate! Seu poder é assustador!… Eu tenho consciência das coisas que faço, somos todos escravos eternos de seu poder, tenho medo de machucar Lynn, por favor, me mate… Eu estou com medo! Eu tenho medo das pessoas que posso machucar…
— Lynn! — Yara chamou o seu nome, se virando para a mesma.
Lynn estava em estado de choque, tentando de todas as formas processar o que estava acontecendo, porém tudo o que conseguia fazer naquele momento era chorar enquanto olhava o que restou de seu amigo em sua frente, até que ouvindo a voz de Yara ela olhou para a amiga e uma flecha foi atirada em sua direção.
— PARE! — Ela gritou, mas já era tarde demais, quando redirecionou sua visão de volta para Kian, o viu fugir e desaparecer entre as árvores.
A flecha atirada acertou Lynn em cheio no peito, perfurando sua armadura, entretanto ela nem sequer reagiu e começou a caminhar com um pé de cada vez em direção a aquele que antes havia sido alguém importante.
Outras duas flechas foram atiradas na região de seu peito, também perfurando sua armadura. Olhando para baixo Lynn percebe o sangue escorrendo de seu corpo e é nesse instante que seu cérebro consegue processar o que estava acontecendo, ao notar a poça de sangue que se formara no chão, ela teve a certeza de que iria morrer.
Sabia que aquele que estava na sua frente não era Eris, mas algo a dizia que parte dele ainda estava lá, ela podia senti-lo, podia sentir a sua dor, podia sentir que estava sofrendo. No instante em que tomou a primeira flecha, viu os olhos de Eris marejados pelas lágrimas de culpa, tendo a certeza de que ainda tinha certa consciência.
— Você ainda está aí… Eu sabia — Ela sorriu. — Não chore, tudo ficará bem — com muita dificuldade, caminhou até ele, fazendo um rastro de sangue por onde andava, e por fim colocando suas mãos em seu rosto e limpando suas lágrimas.
Sua visão se escureceu e então sentiu seu corpo ficando mais leve, quando estava prestes a tocar o chão, Yara correu e a segurou, caindo de joelhos com a amiga em seus braços.
— Yara… — murmurou, com o pouco de força que ainda lhe restava.
Assim que ela soltou a amiga no chão, Eris fechou os olhos e esperou para que ela o libertasse daquele sofrimento. Yara o fez, colocando sua lança sobre o chão e usando seu poder, como fez com os Orcs. Seu corpo logo se tornou gelo e antes que sua alma fosse embora, ele falou:
— Obrigado.
Correu de volta para a amiga na tentativa de a socorrer, tirando as flechas de seu peito com cuidado e tentando estancar o sangue de alguma forma.
— Me desculpe! — lamentou Yara, não contendo as lágrimas.
Antes que seus olhos se fechassem, Lynn sorriu para Yara e falou:
— Sorria, seu sorriso é lindo…