A Ordem Espiritual - 11
Para Sempre, Apóstolos Do Caos
Num movimento rápido, Masaru Jigoku desaparece dos olhares de Azaael, escapando das chamas lançadas horizontalmente em sua direção, que devoram o ar como uma meia-lua crescente, marcando o início daquele confronto.
Diante disso, o demônio olha à sua volta, movendo seus olhos para a esquerda e para a direita, buscando antecipar o rapaz, mas não sente um fio sequer de sua energia espiritual.
“Ele é rápido como o pirralho!
He! He! Isso vai ser divertido!”
Apenas as chamas que ele conjurou são audíveis, grudando-se aos destroços no solo. Elas recitam a melodia do abismo e expelem um ar tão gélido que queima mais que a própria chama da criação.
Até que, cortando o ar, Masaru enfim revela onde está, gritando: — Ei!
Ele flutua sobre o ar, de costas ao destino, enquanto seu dedo indicador está apontado para Azaael, mirando em suas costas. E em sua face, há uma eloquência sem limites, enquanto a ventania balança os fios de seus cabelos.
E com um único disparo, quando finalmente o demônio se vira para encará-lo, uma pressão de vento empurra a entidade, fazendo seus cabelos voarem para trás. Ele luta para manter o equilíbrio, pisando firme para não ser arremessado.
Detritos são jogados, acertando ao redor de Gabriel, que apenas assiste àquele embate com um sentimento de dúvida.
“Droga… será que estou fazendo o certo?
Esse maluco vai acabar se matando!”
— Ele usou a ventania que gerou para criar um feitiço… — murmura Azaael, sentindo pela primeira vez como é perder o equilíbrio. Ele então força suas pernas contra o solo, firmando-se enquanto a pressão do vento diminui.
Sua energia negra então flui de cima para baixo, dragões parecem surgir do movimento das ondulações, enquanto o caos se revela como sua essência.
E então, como um míssil, ele se dispara para frente, sendo refletido nos olhos do exorcista, que vê a face fervorosa da entidade cada vez mais próxima.
Em questão de milésimos, ele acerta um soco que, por sorte, é defendido pelos braços do exorcista em um movimento rápido e destruidor. O som de ossos se quebrando reverbera, enquanto o lugar parece responder com uma espécie de terremoto. O exorcista é lançado até os confins do distrito.
Uma onda de choque se espalha, varrendo tudo no caminho, enquanto Gabriel observa tudo com certo temor em seu rosto. Por que ele estava deixando as coisas chegarem àquele ponto? Justo ele… Seu corpo se move involuntariamente, mas ele persiste em ceder ao pedido do garoto, a única pessoa que o fazia ceder aos seus desejos, quem ele via como seu irmão mais novo.
Que, eventualmente, para alguns quilômetros adiante, quando colide com o que resta de um edifício, faz o local desabar por completo com um estrondo ecoante.
Uma montanha de pedras surge do desmoronamento, caindo sobre ele e espalhando uma densa nuvem de poeira que cresce ao redor.
— Azar o seu por ser apenas um humano! — resmunga Azaael, aterrizando com destreza.
Estava confiante de que o havia colocado em maus lençóis, até que percebe uma fagulha de energia surgindo dos escombros, que explode completamente o amontoado de concreto, desintegrando-o como se fosse nada.
Masaru emerge ileso, seus braços, que haviam sido quebrados, estão praticamente intactos, com meros arranhões, e uma luz irradia de sua aura, trazendo grande imponência ao seu ser enquanto ele encara Azaael.
— Belo soco! Mas agora é minha vez!
Suas palavras alcançam os ouvidos da entidade, que as sente como ruídos, levemente a incomodar.
“Como esperado, ele pode gerar luz… e consequentemente, se curar.”
Novamente, o som de crepitar reverbera, uma pequena fagulha de chamas negras dança nas pontas dos dedos da mão direita de Azaael, e ele lança o desafio: — Me acerte! Antes que eu te transforme em cinzas, moleque!
A aura do exorcista ferve, suficiente para realizar um gesto quase imperceptível para o demônio: antes mesmo de ele realizar outra ação, percebe um raio de luz vindo em sua direção. Por pouco, ele desvia, inclinando-se para a esquerda e sentindo o calor corroer sua pele só por passar próximo a seu ombro.
“Quando?”
Então, já sobre ele, Masaru percorre milhares de metros em segundos, com um sorriso estampando em sua face e, com o punho pronto para o golpear do ar.
— Fortis et magnificatus! — entoa, suas palavras fazem a energia que envolve o seu punho cintilar.
Ele finalmente devolve o golpe, raios de energia sendo expelidos e novamente uma onda de choque percorrendo todo o distrito. Diante desses ataques, o lugar lentamente parece derreter, como se estivesse prestes a ruir na próxima tempestade que espreita.
Percebendo o impacto, Gabriel salta para trás e, erguendo sua mão, cria uma barreira de pura energia espiritual, protegendo o carro e impedindo-o de tombar.
“Eles liberam energia como loucos!”
Enquanto a neblina se dissipa, Masaru percebe ter atravessado o braço de Azaael, que range os dentes ao ver que seus ossos e carne foram evaporados.
Esse gesto, esse ato, é o desafio ao predador, que busca amedrontá-lo com uma visão: ele vê o dragão, suas escamas vermelhas de sangue, abrindo suas asas majestosamente diante de seus olhos, e logo volta à realidade.
Resta apenas do cotovelo para baixo de seu braço, mas em um movimento ágil, o membro se regenera em instantes, e chamas negras irrompem dele, pegando o rapaz de surpresa aproveitando esse momento de torpor. Uma fogueira abissal se estende aos céus, como o rugido de uma besta.
Mas saltando para trás, ele escapa por pouco, com as chamas mais astutas consumindo as pontas de seu sobretudo, e deixando seus dedos queimados, a carne levemente enegrecida pelo chamuscar que logo se encerra.
Novamente, sua aura brilha e, em um salto, ele desvia de um golpe subsequente, um enxame de chamas negras que consome tudo onde estava.
Diferente de antes, ele não consegue curá-los, e então, Azaael, convencido, lhe indaga: — Chamas negras são o primor máximo no uso das trevas, não há como regenerar onde foste atingido, rapaz!
Um silêncio reverbera diante das palavras proferidas, e então, uma risada nada lúcida revela o humor distorcido do exorcista.
— É? Foda! Então devo mudar minha estratégia — ele responde, dando alguns passos para trás, afiando seu olhar, mudando do gracejo a um fio de esperança.
“Eu não estava ligado que essa coisa era tão forte!”
— Estratégia? — a entidade Ironiza, e então, em sua mão, conjura novamente suas chamas negras, que levemente se endurecem, criando uma espada abissal em sua palma, — Apenas me mostre seu potencial, porque eu irei demonstrar todo o meu! — ele indaga, arqueando as costas, a empunhando.
— Certo! — Masaru responde, soltando um suspiro profundo, como se fosse um lutador de boxe diante do próximo round, firmando seus pés e fechando seus punhos à frente de sua face.
O vento balança seus cabelos e espalha detritos no ar, só o seu zumbido contemplativo é audível, e então, os dois se lançam um contra o outro.
Com destreza, Azaael empunha a lâmina, uma espada longa de trevas profundas e afiadas, semelhante às espadas medievais, enquanto Masaru habilmente desvia dos golpes que podem parti-lo ao meio.
À medida que as trevas se espalham pelo ar próximo ao seu rosto, uma dança arriscada se desenrola, onde cada tentativa demoníaca ameaça esgotar sua vida, enquanto ele anseia por uma brecha.
Ele efetuava socos e chutes que tentam golpear o peito e a face da entidade, mas são bloqueados pela lâmina do demônio, enquanto ele simultaneamente contra-ataca, aproveitando cada abertura criada.
Até que, em um desses momentos de vantagem, sua lâmina enfim corta a carne do exorcista. Em um movimento ágil, a lâmina penetra a sua pele, rasgando os ossos, sendo freada pela sua rigidez antes que pudesse atingir sua cabeça ou seu peito.
— Que foi? Perdeu a adrenalina? — ele provoca, empurrando com toda a força a lâmina, — Eu vou te partir ao meio, como um animal abatido! — ele indaga, e suas veias brotam por todo o seu corpo, ele reunia toda a força que tinha para tentar finalizar.
— Grr… — e em um instante, antes que possa ser atingido com letalidade, Masaru ergue a mão esquerda próxima ao seu braço quase partido. Destacando o dedo mindinho, usa toda sua maestria como exorcista e, da água presente em seu sangue, faz um jato perfurar a si de dentro para fora e atingir a face de Azaael, — O que disse? — ele resmunga, saltando para trás, escapando do alcance dele.
Seu sangue derrama a seus pés e sob os destroços, tingindo o cenário de vermelho, e seu braço, fraturado e quase arrancado, balança.
Azaael quase cede para trás, metade de sua face desfigurada, até que um sorriso imerso em sangue surge e ele firma sua lâmina, a empunhando com fervor.
— Maldito pirralho!
A cada instante em que aquela batalha perdura, sente um adversário surgir diante de seus olhos.
— Você é dos bons! Não ouvi um lamento de dor! Me diga, qual o seu nome, hein?
Masaru suspira, também sorrindo, e em um olhar psicopata, profere: — Não precisa saber meu nome! Só que eu sou, o exorcista mais forte!
O embate é entre os únicos que sentem prazer na realidade desse mundo. É um embate de suicidas, amantes da demência que o mundo proporciona.
Distrito de Saisho, o primeiro.
Do outro lado de Nova Tóquio, uma van cinza escura, um modelo bastante antiquado, mas comum nas rodovias da grande metrópole, estacionou em frente a um prédio abandonado, deteriorado pelo tempo, com vieiras crescendo pelas paredes.
— Sete mil ienes… — murmurou Romero ao sair da porta de trás da van em um salto para frente, enquanto segurava uma mala em seu braço direito.
— Foi o máximo que consegui neste distrito, chefe. Os outros exigiam informações demais… — respondeu um homem de cabelos roxos, vestido como um gótico, que saiu do banco do motorista para ficar ao lado do exorcista, — Você detestou, não é? — continuou, um tanto envergonhado.
— Está bom, Sr. Milk… — disse Romero, enquanto olhava do térreo ao terraço do edifício, — Assim como este mundo, é temporário… — ele proferiu, adentrando em seguida, junto ao homem que o encarava com certa paixão.
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