Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 11
Irresoluto, indeciso, inocente e distante.
Visão Izumi
A primeira vez na vida, que cheguei à conclusão de que tinha um amigo realmente demorou, hein? Se você pensar sobre isso, é bem raro para crianças serem tímidas, mesmo assim não fiz qualquer amigo naquele tempo. Passei pelo portão para entrar na escola, o mesmo portão pelo qual eu passei desde os 6 anos de idade, quando comecei a ir para escola.
— Hey! Izumi…
Hiro, além de ser a pessoa que estava me chamando naquele momento, era parte do motivo para eu querer fazer amigos, no caso o 1° empurrão foram os animes e o segundo ele. A título de curiosidade, ele era um pouco como uma fogueira em um dia frio, afinal o cabelo platinado dele brilhava tanto quanto uma, quando a luz bate, além de claro, porque as pessoas se sentem aconchegadas ao redor dele, mas isso é menos importante.
Por que eu nunca me tornei amigo dele? Não sei, não tenho nenhum motivo em particular, além do mais, apesar de popular, ele não tem tantos amigos de verdade assim, provavelmente… Não sabia com certeza sobre isso, mas… Enfim, não estava entre aqueles que sequer falavam com ele, até porque tinha criado o hábito de ficar afastado das pessoas.
Inclusive, lembro de alguns problemas que tive por isso, afinal quando tinha lá pelos meus 7 anos, os professores não gostavam do fato de eu sumir. Nunca entendi, por algum motivo, eles achavam uma má ideia, deixar uma criança andar pela escola sozinha, procurando lugares sem ninguém, por que será?
Claro, eles acabam desistindo por exaustão e porque eu sempre voltava sem ser encontrado. A propósito, você sabia que se não souber as regras de um lugar, basta que não seja visto por ninguém, aí independente do que fizer, certo ou errado, não receberá sermão ou elogios, não é mágico? Não, obviamente não, mas funcionava bem.
Se ninguém nunca me disse especificamente, que eu não podia fazer algo, como eu saberia que eu não posso fazer xixi em qualquer planta que eu encontrar, apesar de ter pessoas em volta? Não responda, nem pergunte sobre isso, preferia não entrar em mais detalhes, é vergonhoso.
Obviamente nunca mais fiz isso… Com outras pessoas vendo.Acho que ninguém gosta de ser repreendido, ou pelo menos no meu caso, eu odiava. Mas voltando um pouco mais, morava com meus avós na infância e eles não tinham uma visão das melhores, por isso não levava muitas broncas.
Por sorte, eu sempre gostei de explorar… Tá, na verdade talvez fosse mais adequado dizer que eu não tinha muitos hobbies, então essa era a única coisa que tinha para fazer. Fato é, que rapidamente tinha o mapa da escola inteiro na minha cabeça, além de um corpo pequeno e difícil de encontrar, por isso não culpo meus professores por desistirem por exaustão.
Inclusive, esse mapa mental ainda foi bem útil, ou não, se você pensar que ter ele, apenas me permitiu continuar sozinho por anos. Claro, não que eu ficasse sozinho o tempo todo, só 15 horas por dia… Ahan! Quer dizer, também tiveram situações em que me comuniquei com pessoas(acho), por exemplo, entre o 4° e 6° ano, eu “aprendi” quase toda a matéria de matemática do ensino fundamental.
Apesar de não lembrar muito de como eu passava meus dias antes de conhecer os animes, acho que andava por aí e passava a maior parte do tempo dentro da minha cabeça, isso parece chato? Nem tanto, por exemplo, se você apenas olhar para uma folha, a forma com as ranhuras, formam padrões aleatórios, me lembra um pouco de um mapa, dessa forma temos uma cidade em uma folha, ligados por tubulações de transporte super rápido e pronto, o dia acabou depois de pensar em como cada bairro seria, seu nome e tipos de pessoas que moram lá.
Claro, se você posicionar a folha contra o sol, olhar ela de lado, colocar na boca, e muito mais, existem milhares de formas de olhar para uma folha, e não tem como eu lembrar de todas as que eu pensei, mas é apenas uma folha? Ok, Sr. Exigente, se uma folha não é o suficiente, misture as primeiras duas coisas que ver, no caso do primeiro exemplo foi uma folha e um mapa, pronto, agora temos conteúdo para uma semana…
De certa forma, precisava de muito pouco estímulo ou informação, por isso não era particularmente curioso, também nunca gostei muito de perguntar coisa, minha voz sempre foi naturalmente baixa, meus avós eram meio surdos e sempre odiei repetir as perguntas, por isso eu descobria apenas uma coisa por dia e entrava novamente no meu mundo, dentro da minha cabeça.
Até o dia que conheci a biblioteca, melhor, as garotas lá, que ficavam estudando para prova, pronto! Finalmente voltamos para como aprendi toda a matéria de matemática. Naquele tempo eu já não ficava com os garotos da minha classe a muito tempo, me irritava como as brincadeiras deles eram idiotas, algo como eu sou o homem aranha com poderes intergaláticos, eles nunca se preocupavam com regras, limitações e inimigos a altura, as brincadeiras que eles inventavam eram chatas e pouco pensadas… Tá, tá, eu sei que o chato era eu, mas… Velho, qual é a dificuldade de pensar nos poderes, quanto tempo demora para recarregar, quantidade de mana usado por ataque, distância que pega, organização política do mundo em que estamos e coisas do tipo?
Ok, eu perdi o foco de novo, suspiro! De forma resumida, na época elas estavam estudando matemática, e de alguma forma me aproximei delas. Eu, então, fiquei curioso para entender o que elas faziam. Elas me explicaram na brincadeira(suponho), eu entendia, depois de um tempo conseguia estudar com elas de fato, de uma forma ou de outra.
Era conveniente aquilo, apesar de não ter durado tanto, além de me garantir uma forma de passar o tempo, me dava uma desculpa para ficar na biblioteca. Os professores se preocuparem se eu ficasse o tempo todo sozinho num canto, ao notar esse fato passei a tentar não ser visto sozinho.
Enfim, me lembro pouco daquele grupo, na verdade, além de responder perguntas sobre matemática, não conseguia interagir com elas, me sentia flutuando nas conversas e rapidamente voltava para dentro da minha mente, mas eu era uma criança, então elas me deixavam ficar por perto, ou algo do tipo.
Depois de um tempo elas foram parando de ir à biblioteca, não tinham que estudar mais, eu imagino. Mas ainda sobrou a garota pokemon, e desculpa pelo apelido, mas não lembro o nome dela, só lembro que ela era meio nerd, gostava de pokemon, ficou estudando comigo até se formar e foi assim que eu no 6° ano “sabia”, meio que, a matéria até o 9°. Naturalmente, por isso, eu parei de prestar atenção completamente nas aulas, até ficar de recuperação no nono ano, ficar desesperado e me tornar um nerd no primeiro do ensino médio, até eu ficar de saco cheio e voltar a ser um otaku vagabundo.
Ok, acho que ainda faltam alguns anos importantes nesse meio, bem, meio que remindo, quando era criança, passava os dias brincando e afastado de todo mundo, porque não consegui entender esse tal de senso comum, nem aguentava as brincadeiras chatas dos garotos. Depois teve o período estudioso, depois veio vagabundo, mas não, quem introduziu anime para mim, não foi a garota pokemon.
Eu continuei achando que os professores poderiam ficar preocupados caso eu ficasse sozinho, por isso quando perdi as garotas da matemática, comecei a me enturmar com os nerds, para não ficar sozinho. Por que os nerds? Obviamente, porque é muito mais fácil falar com uma pessoa, quando não tem concorrência.
Nunca cheguei a ser amigo deles, mas um me apresentou animes, acho que no oitavo, foi quando me viciei, até então eu nem usava o computador ou tinha um celular, por que? Simplesmente porque tinha preguiça, lembra, bastava uma folha para eu passar o dia brisando, e nem estou falando de folhas ilegais de plantar, por isso mesmo em todos esses anos, apenas nunca tinha acontecido do computador chamar minha atenção.
Enfim, de certa forma, é muito mais fácil imaginar 2d do que 3d, por isso os animes eram perfeitos para mim. Você já tentou criar uma série com atores reais na sua cabeça? Honestamente, manter seus rostos coerentes é muito difícil, mas a simplicidade do 2d, simplesmente, explodiu minha mente de possibilidades e me viciou completamente. O resultado foi quase repetir? Foi, mas acontece e eu ainda tirei 9.8 na recuperação, mesmo só precisando de 9, para fechar o ano.
A propósito, na minha escola funcionava assim, três trimestre, nota mínima 6 e se você conseguir fechar 18 no final do ano passado. Ai eu tirei 6 no primeiro trimestre, 3 no segundo, mas não pude fazer recuperação já que estava viajando na época da recuperação, e por fim um lindo 2 no terceiro, depois 9.8 na recuperação e passei de boa.
— Izumi, acorda!
A professora gritou, então o meu eu perdido do passado acordou, olhou em volta meio sem entender nada, minhas memórias do passado que voltavam param por aí.
Por muito tempo, não tive qualquer interesse em fazer amigos, era muito complicado. Conversar é difícil, nunca consigo decidir o que dizer, se posso dizer ou não, e mesmo se disser as pessoas ainda tem que ouvir. As pessoas também são muito complicadas de entender, sempre acabo me enganando sobre elas, de certa forma acho que isso é o que se ganha, quando você pular o tutorial chamado infância. Por fim, nunca tive a resolução para mudar, por isso fiquei muito feliz de conhecer a Yuna.
— Mas eu já sei a matéria e estou com sono, só dessa vez vai? — respondi a professora.
— Preste atenção.
— Ok, foi mal, foi mal.
— Suspiro! Mas que peste. — ela diz dando de ombros ironicamente.
Apesar de tudo, me dava muito bem com os professores, adorava pessoas que me ensinavam as coisas de forma fácil e objetiva, e ainda respondiam as perguntas na hora, normalmente com ânimo, ainda. Completamente diferente desse tal de vida que bate na gente para ensinar, qual a dificuldade de chegar para conversar de boa? Não precisa dar limões, limonada nem nada do tipo, só bora sentar, tomar algo, que não seja um cafezinho, então conversar numa boa, a culpa não é minha, se a vida não vem explicar bem, nem vem com livro didático, né? A culpa é 100% sua, senhora vida, que é péssima em ensinar.
Inclusive, naturalmente não prestei mais qualquer atenção à aula, a ideia de bater um papo com a vida foi muito divertida, eu não conseguia parar de pensar sobre isso, imagina receber whatsapp da vida, ou melhor, será que a vida usa figurinha, gif, emoji, ela abrevia as palavras ou é uma velha chata?
Senhora vida, figurinha ou gif, eis a questão?