Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 16
Algumas memórias
Visão Yuna
Me senti levemente irritada, envergonhada e sem reação, droga! Repetia na minha mente, como eu consegui esquecer que o Izumi estava lá? Não sei, realmente não sei como, mas ele nunca teve muita presença, ficou em silêncio o tempo todo, por isso, por um instante acabei me descuidando, mesmo assim… Aquilo era muito vergonhoso!
— Esse é um lugar muito marcante para mim. — Olhei para o chão, meus ombros ficaram tensionados mesmo assim comecei a falar, por algum motivo.
— … — Izumi parecia ouvir atentamente.
Sentei no morro, a grama ainda estava levemente molhada, por isso não foi uma boa ideia. Continuei falando, enquanto minha voz falhava um pouco, já que estava desconfortável em abordar o assunto.
— De certa forma quando sento nesse morro, eu sinto que posso soltar todas as minhas angústias. — Apenas uma curiosidade, houve um tempo em que soltava essas angústias gritando com todas as minhas forças, já que quase ninguém ia nesse lugar, no qual estávamos.
Parei, então, de falar um pouco, mas isso não me fez relaxar, uma vez que eu tinha começado, achei que deveria pelo menos acabar de contar, por mais vergonhoso que fosse. Ps: fiquei com a cara levemente vermelha.
— Mas, depois, descobri uma nova forma, lendo, ou melhor, escrevendo, é só isso, uma pequena e ridícula fuga, meu mundo especial, minha nárnia, para onde posso fugir de tudo. — disse de uma vez de forma rápida, como quem quer se livrar logo de um problema.
— Desculpa, eu não sei o que dizer.
Suspiro! Quanta honestidade! Mas em defesa do Izumi, toda a situação tinha realmente o impactado fortemente, mesmo assim…
— Puft! De todas as coisas… Hahaha! De todas as coisas que podia ter dito… Hahaha! — gargalhei com toda minha alma, para esconder minha vergonha.
— Isso… — Izumi se retrai.
Ok, foi um pouco cruel rir tanto naquela hora, mesmo assim usei disso para retomar minha própria calma, então conseguir reassumir algum nível de controle, empurrando tudo para o fundo da minha mente me sentia aliviada.
— Po-por acaso posso ler? — Izumi, em um contra-ataque inesperado, disse.
Pensei em dizer não, mas, no fim…
— Sim…
Não lembro corretamente o que disse, ou o que aconteceu exatamente. Izumi ficou feliz com minha afirmativa, mas não conseguia entender minha forma de pensar, droga! Não sabia nem se estava irritada comigo mesmo por aceitar, ou feliz por conseguir me abrir.
Não estava acostumada com esse tipo de situação, incerteza, vergonha, são sentimentos que eu raramente presenciava, mas é só que a situação era muito anormal, nunca tinha falado sobre isso com qualquer amigo, no máximo com minha mãe, mas só em parte.
— Eu vou ler até amanhã! — Izumi diz empolgadamente.
— Tem certeza, além de chato é um longo texto.
— Não importa, em último caso eu vou colocar em algum leitor digital e ouvir tudo, mas com certeza vou dar minha opinião. — Izumi continuava se forçando a agir empolgado, ele apenas queria me deixar confortável e demonstrar que se importa, por isso, novamente, não pude deixar de achar fofo a forma desajeitada como ele faz isso.
— Relaxa, gaste o tempo que for necessário. — disse.
— Você acha que eu faço algo útil na vida, para não ter tempo para dedicar para uma amiga. — Izumi disse com orgulho, mas isso pega bem mal, só faltou ele falar algo tipo: estarei sempre aqui para te ajudar, até porque não tenho outros amigos mesmo, suspiro! Acho que podemos considerar apenas uma Izumisse padrão, mais importante, o termo Izumisse até que soou bem, verão ele de novo, portanto.
Foi um dia realmente vergonhoso, nunca tinha me sentido tão exposta, falar sobre si mesmo é algo assustador. Meu corpo enrijecia, a voz ficava presa, a mente tentava achar uma escapatória, meu foco sumia, a cada palavra dita repensar tudo o que falei. Assustador. Foi uma curta experiência de conversar sobre, mas mesmo assim foi marcante, me sentia pensando e notando coisas que sempre soube no fundo, ao colocar em palavras nós… Droga! Simplesmente lembrar desse dia ainda me deixaria meio instável no futuro, bem, apesar de também ser um dia que sempre lembrarei com muitas risadas.
…
Fui para a academia antes de passar em casa, já era noite, mas eu precisava descarregar. Coloquei uma música alta no fone, fui à esteira, coloquei na velocidade que costumava correr, mas não era nem perto de suficiente, por isso fui aumentando, aumentando e aumentando.
Descarregar a adrenalina é sempre gratificante, esportes em geral são divertidos e gratificantes, além de relaxantes, apesar disso não é bom exagerar, pelo menos minha perna agradeceria muito se eu não tivesse exagerado.
Depois me arrastei para casa, nunca tinha conseguido esse feito, mas minha perna já estava doendo quando sai da esteira, não podia deixar de imaginar como seria no dia seguinte. De qualquer forma, estava morta, entrei em casa, nem falei com minha mãe, apenas fui para o chuveiro, limpei o suor, coloquei o pijama e cai morta na cama.
…
Quando eu acordei me deparei com várias notificações, 50 comentários, mais mensagens no whatsapp, ele realmente comentou em todos os capítulos, no fim eu adorava responder comentários, então foi até divertido. Assim eu gastei minha manhã de domingo fazendo isso, além de responder todas as outras várias pessoas que me mandam mensagem normalmente, sempre deixo para abrir as redes sociais de manhã e depois me afastar, para não ficar perdendo tempo demais nelas.
— Ei! Yuna eu vou na academia, vai querer ir junto? — minha mãe pergunta.
— Não, eu já fui ontem de noite e vou sair com umas amigas também.
— Ok, vou indo.
Agora a única coisa que faltava, era a mensagem de whatsapp do Izumi, a qual enrolei para responder, porque pensar sobre seu conteúdo me dava preguiça(medo/vergonha).
A propósito, a mensagem era:
Izumi: eu adorei, se quiser eu até posso te atrapalhar… Ahan! Quer dizer tentar ajudar? Se quiser, claro.
Olhei para aquilo por um tempo, mas como já tinha visualizado, a educação manda responder, por isso, por algum motivo, escrevi isso:
Eu: Ei! Quero ir à livraria, sei lá, tipo agora se der.
Izumi: Sim, onde?
Eu: Aqui.
Mandei a localização pelo google maps, escolhi uma perto da minha casa para ser conveniente e porque minha perna estava doendo muito, simplesmente não rolava andar muito.
Izumi: Ok, é perto do metrô, eu chego em 20 minutos.
Eu: Ok, já pode ir saindo, vou estar lá.
Izumi: Sem problemas.
Como eu esperava, assim que pedi, ele foi sem pensar duas vezes, fui até um espelho, me olhei por um momento, enquanto murmurava:
— Agora acho que eu deveria me arrumar, acho fofo ele estar tão afim de me ajudar, mas eu não preciso disso de fato, no momento eu estou bem, é apenas que me lembrar do passado ainda incomoda um pouco, sim, sim, eu estou perfeitamente bem, como sempre.
Estou completamente bem, acho que repetia isso na minha cabeça como um mantra naquele tempo, algo no mínimo risível, melhor, algo para se dar gargalhada, parecia até, que estava tentando convencer a mim mesma.
De qualquer forma abri um grande sorriso, é como dizem, o sorriso é a melhor das armaduras, enfim, decidi ficar um pouco mais radiante, para ofuscar certas coisas. Passei maquiagem, me arrumei, e fui para ter apenas uma conversa amigável, ahh! Antes que me esqueça, também desmarquei com minhas amigas.
— Talvez se fosse a dois anos atrás fosse bom ter um ombro para chorar, mas agora eu prefiro apenas um amigo com quem me divertir, né? — murmurei para o espelho.
Então, por fim, antes de sair havia uma única questão difícil de responder na minha mente: sobre querer me ajudar a escrever, ele estava falando sério ou brincando? Tipo, foi do nada, além do mais ele fez isso com tom de piada, mas, por outro lado, podia ser apenas ele usando uma piada, para disfarçar a timidez de dizer isso de fato, mesmo assim, porra! Não use piadas para falar o quer, apenas porque estava tímido, isso me fez ficar sem entender direito!
Visão Izumi
Disfarcei minha vontade real em uma piada, seria muito vergonhoso se ela odiasse a ideia, por isso eu mandei uma mensagem com tom de brincadeira.
Por que sugeri isso? Na verdade, simplesmente, porque parecia muito divertido,
Além de que era uma forma de poder me manter próximo da Yuna, assim poderíamos continuar sendo amigos… Tá, tá, TALVEZ eu fosse um pouco inseguro demais.
Fui correndo, acabei chegando em 23 minutos a livraria, antes de entrar fiquei um pequeno tempo retomando meu fôlego. Inclusive, ficar sem fôlego é realmente desconfortável, é como se eu estivesse tentando secar o mar na base do baldinho, não importa quão rápido eu faça o movimento, parece que não faz diferença nenhuma, assim como não importa quão rápido tente respirar continua sem ar, quando está sem fôlego.
— Está procurando algum livro em específico.
Uma muito prestativa e bonita atendente pergunta com um sorriso. Isso não é justo! Reclamei mentalmente, a atendente surgiu do nada, como eu poderia lidar com um ataque surpresa desses? Muita covardia, enfim…
— Eh… — Tentem chutar qual foi minha capacidade em responder a pergunta?
Olhei em volta, a Yuna ainda não tinha chegado, ao mesmo tempo não conseguia responder a moça, mas em minha defesa, normalmente eu fazia uma preparação mental prévia, antes de entrar numa loja, prevendo que um atendente falaria comigo, mas nesse caso tinha ido correndo, por isso esqueci desse detalhe… Ok, mesmo tentando me defender, isso só soou pior, suspiro!
— Izumi! — Yuna como um anjo salvador de repente chegou.
— Yuna. — disse.
— Olá, tem alguma mesa disponível no café, queríamos comer enquanto discutimos um pouco alguns livros…. — Yuna disse algo do tipo com a atendente, então elas começaram a conversar, inclusive, a biblioteca era legal, ela tinha uma lanchonete e mesas para sentar.
— Foi mal eu cheguei meio atrasada. — Yuna disse.
— Sem problemas.
— Ok, vamos nos sentar ali.
Segui Yuna, que estava com uma mochila grande, por que? Não sei, nem tinham tantas coisas, bem, Yuna é alta, se não fosse por isso, a cena poderia ter sido engraçada, não pude deixar de imaginar como seria uma pessoa baixinha tentando carregar uma mala grande, seria tipo um copa do mario, famosa tartaruga bípede.
Enfim, sem enrolar muito, Yuna colocou a mala na mesa e começou a tirar algumas coisas, que depois viraram várias, o que gradualmente virou uma grande bagunça, logo em seguida Yuna começou a arrumar tudo, organizando sistematicamente na mesa seu computador e coisas do tipo.
Até aquele ponto, estava focada nas coisas, na mochila, no cheiro de pão de queijo, além de no fato de terem várias pessoas ali, o que me deixava com vergonha, mas…
— Então vamos dar uma olhada nisso? — Yuna disse com um sorriso.
Boom! Ok, não sei se explosão é a melhor onomatopeia para isso, humm! Foi mais algo como, BOOOOOMMMM! Sim, uma explosão do caralho, agora sim. Enfim, idiotices a parte, meu coração acelerou, por que ela tinha que estar tão bonita? Isso é hack, só pode!
Não só isso, logo me senti sendo empurrado por uma correnteza muito forte, o fluxo dos acontecimentos me dominou de várias formas.