Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 2
O que é a amizade?
Visão Izumi
Olhava para o papel, que olhava para mim de volta, não parecia que eu sairia daquele impasse. Fiquei brincando um pouco com a caneta, olhando para os lados, tentei ouvir os outros, mas não consegui nada.
Olhar para o papel em branco me dava aflição, mesmo assim não conseguia escrever nada. Que saco, eu pensei. Olhei para a lousa de novo, lá continuava escrito o enunciado da atividade de hoje, algo bem simples: discorra sobre o significado da amizade para você.
Bem, normalmente eu responderia qualquer coisa, era só aula de filosofia, quem liga para isso? Na moral, filosofia só serve para ficar repensando a vida. Pensar dá trabalho e pior, quanto mais você pensa sobre a vida, mais entende a si mesmo, mais defeitos seus vai conhecer.
Claro, pode, por exemplo corrigir esses novos problemas descobertos, mas dá trabalho e… Foco, idiota. Como podem ver, eu tenho algum problema de me focar, tanto agora quanto antes, por isso enquanto eu olhava para o papel, o tempo foi passando injustamente rápido.
— Se apressem, faltam apenas 15 minutos para acabar a aula. — Filó, a professora de filosofia, disse.
Naquele momento decidi parar de fugir do papel, peguei a caneta e escrevi qualquer coisa que viesse na minha mente. Inicialmente pensei que não tinha nada que eu pudesse falar, afinal, até aquele ponto, nunca tinha feito um amigo.
Acho que alguém com quem se conecte, alguém que sente poder confiar e alguém que ajudaria sem perguntar antes. Não tenho mais aquele pedaço de papel, mas provavelmente escrevi algo como isso.
Não sabia muito sobre, mas do meu ponto de vista como observador, a amizade parecia ser algo muito bonito, definida por 3 palavras: companheirismo, confiança e conexão. Por muito tempo antes disso tive uma percepção um pouco diferente, mas poucos meses antes de conhecer Yuna, ver dois amigos de verdade, me marcou ao ponto de querer algo como o que vi.
Olhei para o lado longamente, era recreio, as pessoas estavam ruidosamente conversando. Não sou um grande fã de muito barulho, mas às vezes ele era até legal de ficar observando.
Não tinha admiração ou inveja deles, apenas estava olhando por um tempo. Nós próximos dias não repetiria o ato, no fim eu não gostava de lugares muito barulhentos, precisava do meu canto silencioso.
Ainda assim era um pouco divertido de ver, apesar de meio idiota… Quando percebi já estava na ultima aula, eu tinha dormido completamente. Por fim voltei para casa. Entrei, já estava para subir direto para meu quarto, quando vi que meus pais tinham saído para viajar de novo, aproveitei para ficar na sala.
Fiquei olhando para o relógio por um tempo, antes que eu percebesse, falar com Yuna tinha se tornado parte da minha rotina. Sentei confortavelmente no sofá, fiquei lendo alguns mangás e aproveitando a casa vazia.
…
— Droga! Eles vão conseguir vencer, volta mais rápido.
— Calma lá, não posso fazer nada.
— Merda! Perdemos. — Yuna diz.
— Acontece.
Meio que rindo respondi, afinal não me importava nenhum pouco com a derrota.
— Vamos jogar mais uma partida, dessa vez a gente cai com um time decente e ganha finalmente. — Yuna diz meio irritada.
— Se diz, eu tenho o dia inteiro então de boa.
Yuna não gosta de perder de forma alguma, nem se for em um joguinho. Se quiser saber como chegamos até aqui, na verdade é bem simples, íamos entrar em call no Discord como sempre, então a Yuna viu que eu estava jogando e quis jogar um pouquinho também para relaxar.
Perdemos a primeira partida por “pouco”, isso foi suficiente para ela querer muito vencer a próxima e aqui estamos. Yuna parece ser do tipo que não pode jogar para relaxar, já que ela meio que sempre joga querendo vencer.
A propósito, estamos jogando um joguinho de arma qualquer. Bem simples, dois times, um tem que invadir a base do outro. Enfim, não sou bom nem ruim, por isso consigo não atrapalhar.
— Ou Hiro, tem como…
Por outro lado, time aleatório nunca é dos melhores, principalmente quando se fala de organização, por isso Yuna parece empenhada em dar instruções. Na verdade se todos a ouvissem poderíamos vencer de fato, não que eu me importasse muito, me contentei em fazer minha parte, não atrapalhar e me divertir um pouco.
Vale dizer, era para ser a segunda vez dela jogando isso, então não sei como aprendeu tão rápido. Talvez ela já jogasse jogos parecidos antes, não sei, ela não parece do tipo que jogaria muito.
…
— Finalmente, conseguimos!!! Vitória.
Yuna ficou realmente empolgada, me pergunto quanto tempo gastamos naquele dia. A título de curiosidade, para ela só contaria vitória de fato, quando ganhássemos mais partidas do que perdemos, ou seja, foi uma longa tarde.
— Sim, boa. — disse.
— Comemore mais.
— Estou comemorando, além do mais é só um joguinho qualquer.
— Eu sei, mas…
— Mas?
— Na verdade… Puts! Como isso é possível?
— O que foi?
— Já são 6 da tarde, como? Quando?
— Bem, ficamos jogando por um bom tempo, haha!
— Mas… Droga! E eu nem me sinto relaxada, eu apenas fiquei mais cansada e irritada, porra!
— Pensa pelo lado bom, você aprendeu várias coisas úteis hoje, por exemplo como mirar armas dentro de um jogo qualquer.
Em resposta a Yuna que estava irritada consigo mesma, eu disse ironicamente. A Yuna é bastante intensa jogando, além do mais em uma partida não tinha tempo para aproximar o microfone ou coisas do tipo, ou seja, não tinha percebido ainda, mas passar aquela tarde jogando, me fez conseguir falar mais naturalmente com ela.
— Suspiro! Não preciso de você me lembrando que joguei o dia fora.
— Por que se preocupar tanto? Foi só um dia.
Pode ser complicado para uma pessoa entender a outra, é curioso como interpretamos as coisas de forma diferente, até se considera algo grande ou não, pode depender do ponto de vista.
— Você tem razão, mas, mas… Enfim não quero ficar perdendo tempo, bem, já foi, na verdade eu queria tirar uma dúvida longa com você, mas fica para outro dia.
— Se quiser podemos fazer de noite.
— Mas já é tarde, não vou ficar te prendendo até tarde.
— Não se preocupe, estou acostumado a ficar acordado até tarde.
— Se diz.
Por algum motivo disse uma grande mentira naquele dia, na hora me surpreendi com minhas palavras. Por um instante até pensei que tinha tomado gosto por estudar, mas não, eu só falei isso, porque a casa vazia, apesar de confortável, era solitária, então queria continuar com a companhia da Yuna o máximo possível.
Depois disso começamos a estudar, mas as coisas ficaram complicadas, ela queria saber sobre elétrica, mas eu(nem ela) tínhamos estudado isso na escola. Resumo da ópera, eu entendi bem, assim tão bem, que me sinto pronto para ganhar na loteria, porque só se for na sorte para eu ter futuro.
Depois da minha autoconfiança ser destruída com sucesso, eu continuei tentando entender, junto com a Yuna de uma forma ou de outra, mas ela parecia um pouco distante, por algum motivo.
— Ei! Ei! Terra chamando, ei! Idiota, tem como prestar atenção? Não sabia que você podia se desfocar, achei que fosse um robô perfeito.
Tentei falar de forma amigável, quase como se estivesse acostumado com isso, mas senti minha voz falhando pela timidez, o que foi bem vergonhoso. Yuna ficou quieta por uns instantes, então em tom de brincadeira respondeu:
— Primeiro não sou um robô! Segundo a culpa não é minha, é só que a droga do meu estômago resolveu me matar hoje, maldita ansiedade.
O que é um amigo? Naquele momento eu tentava voltar na resposta que escrevi. Alguém em quem confie para falar como quiser, por isso eu tentava empurrar minha timidez para baixo e agir como se tivéssemos confiança mútua.
Amigos deveriam se ajudar sempre. Essa era minha percepção de como um amigo da Yuna agiria nesse momento, por isso…. No fim disse meio baixo:
— Sim, na verdade já estava pensando nisso faz um tempo, mas você parece meio ansiosa as vezes, não sei muito sobre isso, mas se eu puder ajudar, êh….
Logo me perdi completamente nas palavras, de forma bastante vergonhoso. Afinal não fazia ideia do que devia fazer. Apenas sabia que eu queria uma conexão, e sentia que se agisse daquela forma, talvez conseguisse.
— Eu entendi o que quis dizer, mas não precisa se preocupar, eu apenas estou me sentindo meio mal hoje, por causa do peixe estragado de ontem, falando sério, mas obrigado pela preocupação, obrigado Izumi.
Não sabia bem como responder, nem se a resposta significava que nos tornamos mais próximos, ou se eu estava apenas sendo estranho.
Logo ela disse que ia tentar descansar, também estava morrendo de sono, apesar de que nem era tão tarde. Peguei o celular, abri algumas coisas, precisava fazer aquilo, apenas digitei ansiedade rapidamente.
A ideia de uma preocupação intensa, excessiva e persistente assim como o medo de situações cotidianas, era difícil para mim de entender. Eu era tímido ponto, para mim tentar falar com alguém, ou ter muitas pessoas em volta era estressante e cansativo. Mas sem contar isso não via nada no cotidiano que pudesse realmente causar tanto medo, mesmo meu medo de falar com pessoas, não era tão compatível com a sensação de ansiedade.
Já falando de outros eventos cotidianos, era um estudante, por isso basicamente não tinha que me preocupar com dinheiro. Não sabia o que iria cursar na faculdade, por isso estava relaxado em saber que havia muitos caminhos a seguir. Uma prova é só um pedaço de papel, não entendo como alguém pode ficar ansioso por isso. Mesmo falar em público, é só conversar com um microfone, por isso podia lidar bem com isso.
Não controlamos futuro e ponto, não conseguia entender o porquê de ficar ansioso então. Pensa um pouco, ficar com medo e frustração por algo que não tem controle, só para mim isso parece a coisa mais irracional do mundo?
No fim isso ascendeu fortemente minha curiosidade, algo que eu simplesmente não podia entender. Então eu abri vídeos no Youtube, fui no Google académico ler alguns artigos científicos e coisas do tipo.
Sempre fui um pouco assim, sinto um lapso de curiosidade ou interesse por algo, então vou até o fim para entender isso. Nesse caso, por sorte e coincidência as duas coisas que queria entender eram a amizade e a ansiedade. Mesmo assim no fim…
— Realmente, não dormir a noite toda é problemático. — disse para mim mesmo, enquanto olhava no espelho.
Não era vaidoso de forma alguma, mas minha cara de morto e a dificuldade de abrir os olhos, dificultava até mesmo para pegar o metrô e ir para escola. De qualquer forma eu dei um jeito, não era nada mortal, nada que um café não resolvesse.