Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 23
O freio que te impede tanto de morrer quanto de chegar ao seu destino.
Visão Izumi
— O que houve? — perguntei.
— Parece que você realmente está interessado.
— Isso… — Olhei para o lado um pouco envergonhado.
— Enfim, ela contou para você sobre a família?
— Não.
— Já esperava, bem, a mãe da Yuna e os avôs estão brigados e… — Yumi começou a contar rapidamente, como se estivesse lendo um relatório.
Olhei para baixo, apertei um pouco a mão, me sentia frustrado por não saber de nada, me sentia curioso, me sentia… Não sabia direito, eram sentimentos confusos, não estava acostumado a tantos sentimentos com coisas fora anime, a diferença é que com anime eu só tinha que assistir passivamente, já com a vida…
— Por que está me contando isso? — perguntei.
— Bem, imaginei que você fosse querer saber, só isso.
— Sim, eu quero, óbvio que quero — disse com convicção.
— Sim… — Yumi olhou um pouco surpresa pela minha mudança de postura. — Ok, parece que você ama ela mais do que eu esperava.
— Não sei sobre isso, mas no mínimo estou muito curioso.
Não tinha ideia do que estava sentindo, não tinha ideia do que deveria fazer, não tinha ideia do que ia acontecer. Então pergunto: quando não sabemos o que fazer, o que devemos fazer? Seria difícil dar uma resposta, para mim, lidar com a incerteza era diário, eu nunca tive certeza de nada. Ignorar, procurar em outra pessoa a resposta, fugir ou buscar mais informações, essas eram minhas principais formas de lidar com a incerteza.
Estava muito curioso, queria saber, mas por quê? Evitei pensar nisso na hora, porque senti que se começasse a refletir demais sobre, acabaria passando 7 dias acordado, esqueceria de comer e morreria pensando sem encontrar uma resposta. Ok, talvez tenha exagerado.
Enfim, em um primeiro momento apenas fiquei ouvindo e resumindo as informações na minha cabeça, por exemplo: Yuna e sua mãe eram muito próximas, mas às duas acabaram ficando distantes por falta de tempo. Yumi também contou sobre como Yuna não tinha avós maternos, e que os paternos estavam tretados com a mãe dela, ou algo do tipo.
Enquanto ouvia tudo, sentia minha mente indo para outro mundo. Eu poderia fazer alguma coisa? Não sabia, como poderia saber, além disso, era apenas eu, uma pessoa incompetente e insignificante.
Não sabia nem direito o que queria, droga! Me sentia em um labirinto com muitas opções, tentava calcular todas as combinações possíveis, mas acabei com um fatorial de infinito.
Inclusive, no labirinto tinha um demoniozinho fofo, cujo nome era Laplace, mas ele apenas disse: se vira, que é você quem decide. Por isso fiquei por minha conta e risco, andando por aquela merda de labirinto e sem cordinha para saber o caminho de volta.
Por fim, para evitar enlouquecer, decidi arbitrariamente reduzir minhas escolhas a 4: coletar mais dados, fugir, ignorar ou usar hack. Depois que pensei nisso, a tela do pokémon apareceu, e lá estava ela, como se fossem ataques e na minha frente o inimigo: Mr. Labirinto.
Primeiro pensei em usar o fugir ou ignorar, mas eram muito pouco efetivos, mesmo que fossem meus golpes mais fortes, por isso como última escolha eu decidi por coletar dados, já que hack não parecia ter graça.
— Ei! Terra chamando! — Yumi gritou.
— Glup! Desculpa, estava enfrentando o Mr Labirinto, não ouvi quase nada do que disse, mas… êh… — Tentava encontrar palavras para dizer, mas o rosto da Yumi ficava cada vez mais bravo, por isso apenas abaixei a cabeça tremendo um pouco, mas naquele momento tive um pequeno estalinho.
— Yumi! — disse.
— Que?
Respirei fundo, então abri minha pokédex de sentimentos, eu podia ter um péssimo catálogo quando o assunto era amor, raiva ou quase todas as emoções, as quais tinha dificuldade de entender, mas tinha um que conheciam muito bem, o medo.
Sempre fui alguém covarde, por isso conhecia muito bem aquela sensação, já tinha catalogado quase todas as suas variantes, afinal tinha convivido muito com ele durante minha vida. De início, por ser uma versão nova demorei para notar, mas o que eu estava sentindo era só um medo novo, afinal assim como as comidas têm a versão comestível e a chique, os sentimentos também, existe o temor do dia a dia e o medo gourmet.
Enfim, finalmente entendendo o que estava sentindo, registrei na minha pokedex, [medo de fazer merda] digievolui.. Digo, evolui, para [medo de se arrepender]. Acabei, agora só precisava…
— Ei! O que você queria dizer? — Yumi perguntou brava, só porque chamei ela, então travei pensando sem dizer nada, mesmo assim apenas respondi:
— Pera tô processando ainda.
— Como assim?
Ignorando Yumi, voltei para a pokédex, finalmente o novo sentimento estava registrado, então fui logo na sua descrição, lá devia estar a aba(forma de lidar com), ao abrir ela encontrei: desconhecida. Vendo que aquilo tinha aparecido, olhei com cara de choro para Yumi, que apenas disse:
— O que foi agora?
— A aba está em branco, eu tinha certeza de que isso ia resolver tudo, sinf!
— Que aba?! Fale alguma coisa que faça sentido! — Yumi era assustadora demais para minha mente fraca, por isso me encolhi.
— Desculpa, mas enfim….
Suspirei! No fim ainda não tinha uma resposta, não havia o que ser feito, mas uma coisa eu meio que sabia, estava curioso, mas queria ouvir diretamente da Yuna.
— Yumi, não quero saber as coisas por você, — disse firmemente. — Mas, se possível, poderia me responder uma pergunta?
— Isso… — Yumi pareceu surpresa novamente, afinal a encarei diretamente nos olhos, no entanto ela respondeu no fim: — Claro, diga.
— Sim, na verdade, são duas perguntas, tudo bem?
— Sim, tanto faz!
— Glup! Primeiro, se você tivesse que entregar um trabalho de escola, mas precisasse muito da nota e não estivesse confiante sobre o resultado, o que faria?
— Êh… Por que do nada? — Yumi por algum motivo achou minha pergunta estranha, por que será? De qualquer forma, ela respondeu com: — Perguntaria para alguém em que confio se está bom, sei lá, talvez para Yuna.
— Entendi, segunda pergunta, por que ela não me contou nada? Melhor, não acha que ela não me contou nada, porque não quer alguém como eu atrapalhando?
— Puft! Você é bem pessimista, hein? Não precisa ter um olhar tão pesado, não se culpe muito, eu só sei uma boa parte, porque estava na mesma escola que ela quando tudo aconteceu e ela acabou contando para todos, mas… — Yumi parou de falar por um tempo, observei em silêncio esperando suas próximas palavras.
— …
— Yuna odeia ser a coitada, ela não lida bem com várias pessoas querendo a ajudar, melhor, ela não lida bem com pessoa a ajudando com algo pessoal ponto, ela só aceita se abrir sobre seus sentimentos, depois que sente já ter lidado com tudo por si mesma, ela é assim com todo mundo, esse é um dos lados problemáticos da Yuna.
— Entendi, posso fazer mais uma pergunta? — disse.
— Claro que pode, não fique pedindo toda vez!
— Yumi, se sabe sobre tudo isso, por que… — respirei fundo e perguntei com uma voz que era quase um grito: — Por que está perdendo tempo falando comigo?
— Que! — Yumi disse surpresa pela minha pergunta e forma de falar.
— Sabe, você disse que essa forma de agir da Yuna era problemática, né?
— Sim.
— Então não tem porque perder tempo comigo, você é amiga dela, então…
De repente o pequeno pico emocional passou, vi várias pessoas olhando para mim, então me encolhi tanto, que os átomos do meu corpo se colapsaram em uma estrela de neutron, bem, pelo menos não foi o suficiente para virar um buraco negro.
— Desculpa, é só que eu fiquei um pouco irritado, desculpa, eu…
— …
Yumi continuou me encarando, na real, ela estava apenas pensativa, porém naquele dia imaginei que ela tivesse ficado muito irritada. Não conseguia me manter firme, minha timidez me fez querer fugir naquele instante, não era capaz de lidar com pessoas irritadas comigo.
— Por que ficou tão irritado?
— Eram apenas conclusões precipitadas, não tenho como saber, por isso não precisa se preocupar com minha opinião irrelevante.
— Droga! Só diga logo o que pensou.
— Ok! — respondi no susto.
— …
Ela me encarou diretamente, ok, eu precisaria expor o que estava pensando, mas não tinha nenhuma coragem restante no meu ser para ser usada, por isso tentei lembrar de todas as coisas que já me irritaram na vida, então converti a raiva em bravura e finalmente consegui dizer:
— Eu apenas achava que amigos eram sempre as primeiras pessoas a apontar defeitos uns nos outros, apenas quando alguém nos diz sobre nossos erros, que podemos os notar, por isso esses seres tão importantes e necessários, como anjos da guarda que…
— Só por curiosidade, em que mundo você vive?
Em minha defesa, eu era um pouco inocente demais, idealista e alienado, era, mas… Esquece, eu só nunca tinha pensado em coisas como: nível de intimidade, medo de perder a amizade, muito menos em mentiras, para mim o conceito de amigo falso era algo inexistente.
— Mas…
No fim do dia, também me sentia muito frustrado, meio que, vendo como minha visão idealizada de amizade talvez não existisse, ou fosse rara, não que Yumi fosse alguém ruim, ela apenas não se arriscou a se envolver mais, não sabia dizer se era algo errado.
— Esquece, na verdade, eu provavelmente não sei de nada, desculpa… — disse no fim abaixando a cabeça.
— Não, talvez você esteja certo, acho que não sou uma amiga tão boa assim, haha!
— Se concorda com o que eu disse, então por que está aqui? Isso não faz sentido!
— Não sabia que você podia agir dessa forma, achei que fosse alguém calmo, nunca tinha te visto irritado sobre algum assunto — Yumi disse.
— É porque normalmente, são coisas relacionadas a assuntos que não me importam. — O que era quase tudo.
— Entendo, então você é um pequeno apaixonado no fim.
— Não sei sobre isso, só sei que tudo isso me irrita muito… Desculpa, na verdade eu não faço ideia, mas… Hum! Droga! Não sei direito, mas não me importo muito com você ou porque você não agiu, não sei se é certo ou não, mas vou indo, preciso me acalmar, depois vou tentar falar com a Yuna, até.
Depois que disse isso fui andando para casa, por que? Sei lá, fiquei muito “bravo” e queria pensar sobre várias coisas, sim, agora lhe apresento o poderoso Angry Izumi, cuja maldade e braveza surpreenderia o mundo. Até que cheguei em casa, pensei no rosto da Yumi irritada, me arrependi de ter saído sem mais nem menos, me escondi dentro dos cobertores tremendo, então na minha mente apareceu a mensagem: Angry Izumi foi derrotado por… ninguém?
Se estiver curioso, muito tempo depois, quando perguntei o que a Yumi pensou naquele dia, ela apenas respondeu: sim, você surpreendentemente conseguia ser tão estranho na vida real, quanto na internet, de resto não me lembro muito bem.
Enfim, já estava mais calmo, por isso decidi mandar uma mensagem para Yuna, para nos vermos, queria me encontrar com ela, mas ela nunca visualizou aquela mensagem… Ok, talvez nunca tenha sido muito exagerado.
De qualquer forma o tempo se passou, não aguentava não saber o que fazer, era muito frustrante. Sai de casa, comecei a andar pela cidade sem nenhum objetivo, não sabia o que fazer, então…