Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 26
Amizade é um contrato de companhia para momentos ruins
Visão Izumi
Logo chegamos na casa dela, não queria a deixar sozinha, mesmo assim entrar seria complicado, por isso naturalmente disse para ela entrar sozinha, mas…
— Espera! — Yuna falou meio que no susto segurando minha camiseta com força, então depois de hesitar por um tempo, ela continuou falando: — Não me deixe sozinha, por favor.
Acho que fudeu, pensei. Sério, o que eu deveria fazer naquela hora? Minha mente travou um pouco, mas logo voltou a funcionar a todo vapor. Primeiro, me senti um pouco culpado por pensar nisso, mas a cara, gestos tudo que Yuna fez enquanto pedia isso, foram todos muito fofos, muito mesmo! Ahan! Focando no mais importante, passei levemente minha mão pela cabeça dela, que aceitou com um sorriso o carinho.
— Ok — respondi.
Não tinha como eu conseguir responder de uma forma diferente, o problema era o que fazer sobre os parentes dela. Pensei em várias possibilidades, queria uma boa desculpa para passar a noite na casa dela sem parecer estranho, mas… Droga! Mesmo minha mente aleatória não conseguiu achar uma boa desculpa.
Pensei em usar algum trabalho da escola como motivo, falar que deu problema em algo relacionado a tecnologia, porque achei que os avós dela não iam perguntar muito. Talvez dizer que meus pais estavam fora e Yuna tinha me oferecido para ficar lá por algum motivo. Dizer que aliens agiotas estavam me perseguindo com calculadoras voadoras a base de pseudo-gravidade 0, porque não paguei o dízimo do deus triângulo equilátero, por isso precisava me esconder. Levar a Yuna para minha casa. Pedir ajuda para Yumi de alguma forma. Entre outras várias soluções, claro, a terceira seria a mais funcional, né?
No fim toquei a campainha da casa, fiquei rezando para… Sei lá, uma solução mágica cair do céu. Infelizmente, apesar das minhas preces, não caíram aliens rosas do céu, mas, para minha sorte, ninguém atendeu a campainha, foi aí que lembrei, era tipo de madrugada, não tão tarde, mas os avós dela já estavam dormindo.
No fim consegui entrar sem nem ter muito trabalho, então fui com Yuna silenciosamente até o quarto dela. A garota parecia cansada, por isso assim que viu uma cama pulou nela e deitada ficou.
Sorri um pouco ao vê-lá descansando, apenas silenciosamente consegui um cobertor estratégico, desliguei a luz e…. Poderia dizer que saí do quarto, mas bem, travei, por quê? Simples, não sabia o que deveria fazer, por exemplo, poderia ficar na sala, no quarto dela, ir embora, qual seria a melhor opção? Não sabia, por isso fiquei um curto tempo(só 10 horas) travado na porta, incapaz de decidir.
Visão Yuna
Entrei no meu quarto, caí na cama, então o sono me venceu, simplesmente dormi ignorando o mundo à minha volta.
O sol mais uma vez raiou, a luz que de repente entrava no meu quarto logo me acordou. Logo senti meu bafo, álcool, talvez eu tivesse exagerado, só talvez, ok? Enfim, aos poucos as memórias da última noite iam voltando, mas estava com tanto sono e dor de cabeça, que nem processei direito.
Claro, ainda assim senti minha pele queimando só de lembrar em como chorei, nunca tinha deixado ninguém me ver chorando, aí cometi o mesmo erro duas vezes, ok, não era um erro, mas para mim naquela época, mostrar fraquezas para outras pessoas era mais doloroso que levar uma facada.
Enfim, estava cansado, por isso não pensei tanto nisso. Meus olhos finalmente se acostumaram com a luminosidade, então vi no meu quarto um garoto fofo, que estava perto da porta olhando na minha direção, um pouco envergonhado, tímido e indeciso.
— Merda! — murmurei.
Foi quando lembrei que costumo dormir só de camisa ou pelada, conferi, suspirei aliviada, como tinha capotado assim que deitei, continuava de perfeitamente de roupa, enfim, cumprimentei Izumi:
— E aí?
Mas ele demorou um pouquinho para responder, enquanto me encarava diretamente por isso…
Visão Izumi
— E aí?
Ela era muito linda, seu rosto de paz dormindo poderia aquecer o coração de qualquer um, principalmente quando abria os olhos lentamente, quando olhava para mim diretamente. O sol começava a surgir na janela, o que aos poucos iluminava o quarto e principalmente, iluminando a linda Yuna, seu cabelo parecia brilhar e…
— Ei! Não fique encarando tanto.
— Desculpa, êh…
Tentei desviar o olhar ou o assunto de alguma forma, contudo minha mente já não podia funcionar normalmente, afinal Yuna tinha puxado um travesseiro para perto, se escondendo atrás dele, então olhando para o lado meio tímida , enquanto dizia aquilo.
Fofo, muito fofo, tão fofo que quebrava a realidade, sim, foi tão fofo que ela acabou criando uma singularidade e…
Visão Yuna
Mas ele demorou um pouquinho para responder, enquanto me encarava diretamente, por isso disse algo como: “não fique me encarando”, apenas fingindo estar envergonhada, só queria ver como ele ia reagir.
— Desculpa, êh… — Izumi disse meio desesperado, antes de travar, quase gargalhei vendo aquilo.
Foi um despertar surpreendentemente relaxante, o que até me fez esquecer por um tempo de várias coisas.
Claro, ainda me sentia bastante desconfortável em lembrar da forma vergonhosa como tinha agido na última noite, mas o Izumi sendo fofo me relaxou, ainda que eu quisesse muito poder apagar da minha memória da madrugada passada.
De qualquer modo, seria ruim apenas deixar o Izumi ali travado, na verdade, ainda tinha o problema dos meus avós e dele estar em casa, mas deixei para lidar com isso depois, primeiro precisava destravar o garoto, nada muito complicado, apenas pensei em usar o mesmo método que usamos para TV.
— Tei!
— Ai! Isso dói, o que eu fiz de errado?
— Nada, só que o sinal estava ruim, achei que isso fosse resolver.
— Não! Essa é uma ideia errada, não faça isso comigo nem com TVs! — Izumi reclamou, entendendo minha brincadeira.
— Puft!
Rimos um pouco, sorrimos, então veio o silêncio um pouco desconfortável, eu queria pedir desculpas por causar problemas, então encontrar alguma boa desculpa para o mandar embora, mas não conseguia achar as palavras certas para convencer o Izumi a não se preocupar comigo.
Sim, ainda não tinha exatamente aprendido a lição sobre falar dos meus sentimentos, continuava querendo só esconder tudo dos outros.
Inesperadamente, antes que eu encontrasse o que dizer, Izumi olhou diretamente para mim, então disse:
— Verdade! Lembrei que eu queria te perguntar algo.
— Diga.
— Então um amigo meu… — Izumi começou a dizer, mas percebi na hora que ele estava inventando uma história.
— Pare, seja honesto.
— Ei! Onde está a mentira?
— Izumi, que amigo?
— Isso foi maldade.
— Ok, foi mal, mas não precisa dar nenhuma volta, pode confiar em mim para dizer qualquer coisa.
— Ta! — Izumi disse “bravo”. — Sabe, mais do que eu confiar em você, Yuna, você deveria confiar mais nas pessoas!
— Bem, sobre isso, estava até que bem e em minha defesa, se não tivesse sido bem um acidente de carro, justo em um dia ruim eu teria ficado de boa, enfim, não se preocupe, foi só ocasional, mas ficarei bem! — disse sorrindo
— Sem mudar de assunto! Não tente resolver tudo sozinha!
Izumi me derrubou na cama enquanto falava, bem, ele era fraquinho, por isso só conseguiu me derrubar porque fiquei surpresa. Era a frase mais clichê de todas, porém a forma como Izumi disse a tornava impactante, não que ele precisasse gritar, ele falou com a voz para dentro como sempre, mas ele era tão honesto.
— Você tinha dito que éramos amigos, então deveria confiar em mim também, por favor, se não for assim não podemos nos chamar de amigos, né? — Izumi disse um uma voz mais para dentro, mas era claro no seu tom sua convicção no seu ideal de amizade, apesar de inocente, ele era muito… Puro? Talvez esse seja o melhor adjetivo.
Apenas fiquei em silêncio ouvindo, a forma como ele falava era até um pouco triste, entendi mais tarde, que para o Izumi eu não ter confiado nele, era como dizer que não o considerava meu amigo.
Então depois que ele disse tudo que queria, Izumi pareceu perceber a situação em que estava, então voltando ao normal, saiu de cima de mim, pediu desculpas e se escolheu no quanto do meu quarto, tão tímido que parecia que ia sumir.
— Desculpa, desculpa, se eu não fizesse assim não conseguiria dizer, desculpa…
— Suspiro! — Me aproximei do Izumi, então fiz um cafuné no seu cabelo. — Você é uma pessoa bem fofa.
— Isso…
— Não estou irritada, não precisa pedir desculpa, na verdade, acho que eu sou quem deveria se desculpar — disse gentilmente.
Me sentei ao lado do Izumi, me encostei um pouco sobre ele, que aceitou o gesto se mantendo calmo, normalmente ele esboçaria mais reação comigo por perto, mas estava surpreendentemente sério naquele momento.
Nunca tive certeza do motivo, mas simplesmente pedir ajuda para alguém, falar sobre o que estamos sentindo, como as pessoas fazem essas coisas? Contar sua vida e fraquezas para outros, era algo no mínimo assustador, as pessoas que simplesmente contam sobre sua vida para os outros pareciam todas loucas.
Não que eu tivesse algo tão grande guardado no meu peito, ou um passado trágico de protagonista, a situação com minha mãe e minha ansiedade foram apenas um combo ruim, mas num geral eram apenas pequenas coisas que não sabia como dizer, ou sequer por onde começar.
— Não se preocupe, eu realmente confio em você, mas não sei nem por onde ou como começar a falar.
Lembro bem de como reclinei meu corpo sobre o dele, então olhei um pouco para o chão e disse baixo, foi quase como se eu fosse tímida, poderia ser chamado de modo: shy yuna e sim, fui um pouco contaminada pelo senso de humor e mente maluca do Izumi.
— Acho que não tem problema não saber, na verdade, também não faço ideia de como responder, nem de como agir agora, mas… Pensando bem, eu sou, meio que, completamente inútil, seria melhor que fosse outra pessoa nessa hora, né? — Izumi disse honestamente, variando tanto de emoções enquanto falava, que eu não consegui deixar de dar um sorrisinho achando fofo, principalmente seu olho meio lacrimejando que ia de repente para um olhar feliz e de novo para um triste.
— Honestamente, não entendo como você consegue ser tão vulnerável.
— Êh… Desculpa, também não faço ideia, não penso tanto assim antes de falar, quer dizer, normalmente eu acho me comunicar com qualquer pessoa difícil. Não sei se faz diferença entre conversar sobre sentimentos ou pedir um pão de queijo, é assustador em qualquer caso para mim, bem, eu acho que confio muito em você, não tenho ideia se isso é algo ruim de alguma forma, o que acha? — Izumi disse meio nervoso, era um pouco diferente de quando ele ficava tímido, nunca tinha visto aquela versão dele que falava até demais por bervosismo, mas também achava um pouco fofa.
— Você parece alguém que seria enganado e usado por outras pessoas.
— Não se preocupe, não tem nem valor em me enganar, então ninguém se daria ao trabalho.
— Puft! Claro que teriam motivos, mas mesmo se isso fosse acontecer eu poderia te proteger, relaxa.
— Hehe! — Izumi aceitou sorrindo meu cafuné, mas logo notou que estávamos nos desviando do assunto principal e disse: — Ei! Mais importante, eu também queria conseguir te proteger de alguma forma, nem que seja só um pouco! — Izumi disse, hum, definitivamente a visão de amizade dele era um pouco romântica, aquilo soava quase como uma declaração de amor, mas não vamos pensar muito sobre isso agora, até porque…
— Netinha, já está na hora de acordar, você tem escola hoje.
Fiquei tensa na hora, a voz era da minha vó e surgia do nada, me lembrando da situação em que estava. Para evitar problemas disse que já ia descer, entrei no banheiro, troquei de roupa, desci distrai minha vó um pouquinho, mandei Izumi descer e me encontrar lá fora numa praça perto da minha casa, por fim sai dizendo que ia para escola.