Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 29
Teimosos, sábios, importantes. Meus avós
Visão zumi
— Claro, se fosse outra pessoa me chamando disso eu a mataria.
Existiam momentos em que não conseguia saber se Yuna estava falando sério ou não, eu queria acreditar que era apenas ironia, mesmo assim não posso negar que senti uma pontinha de medo dela estar falando seriamente.
— Mas quando é você não tem problema, porque… Izumi, você é especial.
Mas o realmente importante foi o que ela disse em seguida, fiquei instantaneamente tímido, não sabia bem como reagir, por isso respondi com algo aleatório, sorri para ela, então em um ato natural nos levantamos, pagamos a lanchonete e continuamos andando um tempinho juntos.
Você é especial. Aquelas palavras continuaram soando na minha cabeça, tinha muito problema em aceitar ou entender elas, afinal eu não tinha feito nada que me tornasse especial.
Na verdade, particularmente me consideraria bem inútil, tudo que tinha feito era agir como um totem antiestresse e ouvir. De qualquer forma, não tive muito tempo para essas reflexões, já que Yuna logo me interrompeu dizendo:
— Pode me emprestar sua mão?
— Não, você vai quebrar ela de novo — disse brincando.
— Relaxa, na verdade, só quero que me acompanhe um pouco mais.
— Ok, ok.
— Onde vamos?
— Para minha casa, só queria falar com você por mais um tempinho.
Yuna se aproximou um pouco mais, o que me deixou um pouco envergonhado, mas já estava acostumado com ela, ao ponto que me sentia bastante confortável, por isso apenas puxei assunto e fomos conversando como sempre, até chegarmos perto da casa dela.
— Ai! Minha mão.
— Foi mal.
Yuna tinha de repente apertando minha mão, ela parecia um pouco tensa de novo, por isso perguntei:
— O que vai fazer agora?
— Brigar com meu avós… acho?
— Não seria conversar amistosamente e chegar a um consenso sem problemas?
— Sim, sim, sem dúvidas… — Yuna disse olhando para o lado de uma forma que não parecia convincente.
— Sem brigar!
— Vou tentar, juro!
— Além do mais você ainda não soltou minha mão.
— Desculpa! — Yuna disse sem parar de me esmagar.
— Suspiro! Vai dar tudo certo.
— Eu sei, mas…
Visão Yuna
— Suspiro! Vai dar tudo certo.
— Eu sei, mas…
— … — Izumi me olhou calmamente.
Não conseguia deixar de achar que tudo daria errado, não tinha tantos motivos assim para achar isso, mesmo assim achava, não conseguia me livrar do meu pessimismo.
Por outro lado, nunca fui de enrolar depois que decidi fazer algo, por isso depois de alguns minutos tentando relaxar, respirei fundo e enchi meu ser de determinação.
— Vou indo.
— Boa sorte e sem brigar, ok? — Izumi disse de forma fofa, enquanto fazia carinho na própria mão escondido para que eu não notasse, a propósito desculpa mão do Izumi, definitivamente não fui gentil com você.
— Obrigado! — disse.
— Humm! — Izumi pareceu um pouco surpreso ao ouvir, por isso quis repetir várias vezes.
— Obrigado, obrigado, obrigado, sério, valeu.
— … — Izumi olhou um pouco frustrado para mim, como quem dizia que queria fazer mais, ou estar comigo, ele era muito dedicado.
— Te vejo mais tarde — disse tentando transmitir confiança.
Entrei em casa, já era mais ou menos o horário que minha aula acabaria, por isso minha vó nem estranhou, apenas começou a servir o almoço. Comi, tive uma refeição em família divertida e relaxante, sem tocar em nenhum assunto complicado, então do nada com um sorriso no rosto disse:
— Queria falar sobre minha mãe.
Os dois ficam um pouco mais tensos, sim, não era a única que ficava tensa para tocar nesse assunto delicado, mas não iria recuar mais.
A propósito, até hoje não disse o motivo dos meus avós paternos e minha mãe se odiarem, na verdade, minha família era cheia de brigas, seria difícil achar algum parente que gostasse um do outro nela, bem, apesar disso eu era próxima da maioria dos meus tios, primos e mais.
Ok, resumindo toda a história, meus avós eram contra o casamento, nunca gostaram da minha mãe e em tese ela teria traído meu pai nos primeiros meses de namoro, isso era o que sabia. Desde que nasci eles já estavam tretados e nunca quiseram me contar a história inteira, por isso não tinha muita certeza dos detalhes, só sabia o geral.
Agora que já estão relativamente contextualizados, vamos lá, tinham várias coisas que queria conversar com os dois, mas a maioria das coisas poderiam ser feitas depois, sim, preferi tomar a iniciativa de limitar os assuntos problemáticos nos quais tocaria ao dizer:
— Não acho que vão querer me contar os motivos da briga em detalhes, melhor, mesmo que queiram não me importo com suas razões, infelizmente sei que não vou conseguir fazer vocês se reconciliarem só porque quero.
— … — Os dois já começaram a ficar retraídos.
— Não tenho como acabar com o conflito, mas também não podem esquecer que eu amo minha mãe, odeio que falem mal dela na minha frente, ok?
— Não é bem assim, é só que ela precisa trabalhar menos e dar mais atenção para…
— Eu sei, não estou dizendo que tudo que falam é mentira, mas não quero ouvir vindo de vocês, é um incômodo, também não sou burra, então não tentem disfarçar as coisas de forma porca, ok?
E esse era o problema que sempre me impediu de me envolver nas brigas de família, sou uma pessoa um pouco agressiva quando falo, tinha uma dificuldade imensa de falar as coisas de forma mais gentil. Por outro lado, meus avós estavam mais no lado Izumi da força, a diferença é que eles não tinham um coração jovem e bom como o dele.
Inclusive, foi só pensar no garoto, que veio a minha mente a imagem dele dizendo: “boa sorte e sem brigar”. Respirei um pouco, me acalmei, olhei ao redor e rapidamente peguei uma calculadora que estavam em cima da mesa e a coloquei estrategicamente dentro do bolso, aí voltei a falar:
— Desculpa, também amo muito vocês, por isso espero que possamos sempre nos dar bem.
Sorri, enquanto levei minha mão no bolso e apertei a calculadora, apenas para me livrar de qualquer raiva ou ansiedade que estivesse sentindo, inclusive, foi assim que perdi minha calculadora e descobri que a mão do Izumi devia ser muito resistente.
— Bem…
Mais uma vez eles tentaram formular uma resposta, mas sabia que não tinha como resolver aquilo naquela hora, realmente era algo que precisava fazer, porém ainda levaria tempo para conseguir conversar com eles sobre, por isso os cortei já planejando interromper a conversa.
— Não se preocupem, por hoje era isso que queria dizer, só mais uma coisa, na verdade, só toquei nesse assunto, porque minha mãe sofreu um acidente de carro e está em coma no hospital, agora.
— Um acidente de carro… — Minha vó reagiu bastante ao fato de ser um acidente de carro, já meu avô disse:
— Se precisar da nossa ajuda, podemos… êh
— Não se preocupe, prefiro que não se envolvam. Resumindo, a situação não é grave, ela recebeu atendimento rápido, foi internada na cidade mais próxima do acidente e deve acordar a qualquer momento. Mesmo assim estou muito preocupada, por isso combinei com o Goji, um amigo próximo da família, vou visitar o hospital em que ela está e passarei um tempo por lá — disse sem dar espaço para discordância.
— Sim, claro, espero que dê tudo certo.
— Obrigado, na verdade, queria que…— Pensei em pedir um abraço, mas não consegui, novamente ainda tinha bloqueio em admitir fraqueza, por isso só disse: — Eu amo vocês, ok?
Os dois sorriram como resposta, não sabia se falar sobre tudo tão rapidamente era uma boa ideia, mas precisava tocar no assunto em algum momento, agora só restava algumas últimas coisas, me arrumar e esperar o Goji.
Ok, também preciso dizer quem era Goji, resumindo era um amigo muito próximo da minha mãe, tipo um irmão, só que diferente dos irmãos de verdade que ela tinha, que a odiavam e não iriam me ajudar nessa hora, Goji era muito confiável.
A propósito, em parte não era exatamente culpa da minha mãe, mas ela brigava bastante, além de estar sempre muito ocupada, por isso quase não tinha amigos e era afastada da família, então nessas horas tinham poucas pessoas com quem contar. Tá, pensando do ponto de vista mais prático, se não houvesse eu e o goji, ela teria ficado internada, iriam acabar ligando para o trabalho dela, a chefe dela ter pagado o hospital num primeiro momento e quando acordasse ela reembolsaria.
Enfim, me troquei rapidamente, arrumei as coisas, olhei o celular, Goji disse que ainda demoraria pouco mais de uma hora, por isso decidi sair de casa para andar um pouco com minha mochilinha e acabei chamando o Izumi, porque ainda queria ele por perto.
Sim, abusei um pouco da bondade dele, sabia que se chamasse ele viria, mesmo tendo acabado de voltar para casa.