Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 3
Frustrante ansiedade.
Visão Yuna
— Primeiro, eu não sou um robô! Segundo, a culpa não é minha, é só que a droga do meu estômago resolveu me matar hoje, maldita ansiedade.
Estava conversando com o Izumi, por diversos motivos acabei comentando isso sem pensar, Izumi respondeu dizendo:
— Sim, na verdade já estava pensando nisso faz um tempo, mas… — Corto ele.
— Eu entendi o que quis dizer, mas não precisa se preocupar, eu apenas estou me sentindo meio mal hoje, por causa do peixe estragado de ontem, falando sério, mas obrigado pela preocupação, obrigado Izumi.
Eu menti. Não tinha nada contra o Izumi, eu podia entender a honestidade no que ele estava dizendo, mas nada disso me importava muito, não estava nem um pouco a fim de me abrir sobre isso. Logo depois de falar algumas coisas de forma brincalhona, já movi o assunto para a direção que queria, então a chamada acabou, disse que estava cansada e iria dormir, ou algo do tipo.
Tinha dito para ele que ia dormir, para escapar do assunto ansiedade, mas de fato já era tarde, não sou fã de ficar acordada até tarde, faz mal para saúde e eu fico me sentindo muito mal por causa do sono. Me sentei na cama de pernas cruzadas, hoje estava muito ansiosa, por isso valia a pena meditar um pouco.
O dia estava infernalmente quente, além do mais podia ouvir os zumbidos dos pernilongos por todo lado… Droga! Na hora pensei, notando que tinha me desconcentrado completamente. Fui até o banheiro, liguei a luz, me olhei no espelho e disse para mim mesma:
— Eu vou dormir hoje, nem que seja a última coisa que eu faça, me recuso a perder para meu corpo, para a temperatura e para insetos. — Teria sido bem mais fácil se eu não tivesse feito isso, vale dizer.
Comecei pela minha guerra contra os pernilongos. Primeiro tentei o método mais eficiente de todos, apenas os esmagar, o que, obviamente, não deu muito certo. O teto da minha casa é bem alto(3,5 metros), além do mais o quarto é espaçoso, ou seja, era quase impossível acertar. O segundo método foi a raquetinha elétrica, mas é só uma versão upada da mão e não fez muito estrago.
— Foda-se, vou comprar veneno!
Eu, na verdade, falei isso meio baixo no dia, mas para efeitos dramáticos vamos considerar um grito. Fui até a loja de conveniências, comprei o bagulho direitinho, peguei logo uma lata bem grande, que eu me lembre. Chegando em casa passei por todos os cantos, o que deu bastante trabalho.
Morava em uma casa relativamente grande, são dois andares, em baixo fica o quarto onde meu pai dormia, agora o escritório, além da cozinha, dois banheiros a sala de estar e um quarto para visitantes. Subindo as escadas temos o quarto da minha mãe, o meu, o quarto para guardar trecos, mais dois banheiros e mais um quarto meio sem uso.
Por que uma casa tão grande? Bem, já tínhamos comprado ela, antes os quartos até tinham utilidade, já que a família ficava aqui direto e principalmente meu pai trabalhava em casa, por isso ter mais espaço era muito útil.
…
— Ha! Ha! Ha!
Enfim, sair correndo por aí passando veneno em tudo, porque estava irritada com os pernilongos, definitivamente não me ajudou a ficar com sono. Mas lembrei de uma coisa, fazer esportes e ficar cansada, isso normalmente ajuda. Por isso resolvi ficar treinando, no quarto que não serve para nada, já que lá tem uns pesos e espaço, por isso até que dá de boa. Claro não é o ideal, se a academia não estivesse fechada, teria ido nela.
Quando finalmente terminei notei o horário, 1:34 da manhã, percebi que deveria ir dormir logo. Me deitei, eu estava até que calma, mas me senti pressionada a dormir logo, rapidamente percebi esse erro, mas naquele ponto já tinha feito merda.
Uma dica sobre nosso corpo, normalmente nos pressionar a fazer algo não funciona bem, por exemplo: tente não pensar em um elefante rosa, ou tente não ficar nervoso apenas pensando: não fique nervoso. Spoiler alert: não funciona. Pensar em não querer ficar ansioso, ou pensar sobre querer dormir logo, apenas te deixa nervosoansioso por não conseguir fazer isso, coisa que eu conheço bem. Achei que já tinha aprendido a lidar com isso perfeitamente, mas não estava lá muito certa.
Tinha algum nível de ansiedade desde que me dou por gente, nasci assim, claro, isso piorou bastante quando meu pai morreu dois anos antes. Mas depois de ir no psicólogo, pesquisar por mim mesma, tinha certa confiança de me entender, achei que sabia lidar com isso por mim mesma, mas agora parecia que estava errada.
Odiava isso, odiava não conseguir fazer algo sozinha, odiava estar perdendo para o meu corpo e odiava quando ficava ansiosa. Eu tentava me forçar a resolver isso por mim mesma de alguma forma.
Mas não é porque tenho problema em pedir ajuda, ou falta de com quem falar, mas é muito frustrante, sentir seu corpo hiperventilar sem motivo e mesmo assim não poder fazer nada, pensei.
Simplesmente não ter qualquer tipo de controle sobre isso era assustador. E se eu tivesse um crise quando estou sozinha, ter ajuda das pessoas é legal, mas, mas, mas… No fim eu simplesmente não conseguia me abrir de forma alguma.
Imagino que ninguém goste de mostrar seu lado frágil para ou outros, né? Pelo menos eu odiava. Assim como a capitã de um time, precisa ser sempre aquela com postura reta, fingindo acreditar que podemos virar um 77-41 em um tempo de 10 minutos, escondendo seu medo para motivar o time, eu acreditava que deveria ser a mesma quando fora de campo. Pensando melhor, essa foi uma péssima analogia, poucas pessoas conseguem se identificar com isso.
Não pretendia ser assim com todos, seria impossível, mas pelo menos com aqueles que depositavam esse tipo de expectativa em mim. Antes que eu percebesse criei essa persona(desculpa), “queria” atingir as expectativas dos outros, não, é injusto colocar a culpa nos outros, eu apenas criei expectativas muito altas, em cima de mim mesma.
Por isso não aceitaria mostrar fraqueza, me sentia perdendo para alguma coisa ao fazer isso. O que seria essa alguma coisa? Sei lá, apenas sentia isso, acho que nada.
Eu ainda me abria com minha mãe, vale dizer, existiam poucas pessoas em quem confiava para isso, com quem não me sentiria perdendo por mostrar fraquezas. Mesmo assim sempre, me recusava a fazer isso em momentos inoportunos, não pediria ajuda, quando sei que a pessoa em questão está ocupada, ou em um momento ruim também.
— Então você já está aí, sol. — disse.
Me troquei rapidamente e fui correndo para escola, sim, eu consegui passar a noite acordada, e mesmo assim perder a hora para escola. O pior foi ter gastado a madrugada, pensando em desculpas para esconder um fato muito simples: eu tinha medo de me abrir com outras pessoas, mas encontrava centenas de outros problemas para justificar isso, centenas mesmo.
— Ha! Ha! Desculpe o atrasa Prof, eu perdi a hora.
— Tudo bem.
Para piorar eu tinha esquecido de pegar comida, ou trazer dinheiro, cabeça de merda a minha. Por sorte(ou azar), tinha um pão esquecido na minha mala, então a esfomeada pensou por um logo tempo: como ou não como, eis a questão.
Decidi comer no fim, estava realmente morrendo de fome. O gosto estava, bem, prefiro não comentar sobre isso, o importante foi jogar basquete depois, durante a aula de educação física.
Tinha sido capitã do time no nono ano, abandonei o esporte quando entrei no ensino médio, mas ainda era muito boa, arrasar no jogo me deixou empolgada, fazia tempo que não ia com tudo assim… Arg! Resultado: no fim do dia estava quase morrendo, por isso desisti de sair com as amigas, mas de qualquer jeito mantive a rotina de voltar para casa correndo, afinal a rotina é muito importante.
Quando cheguei em casa estava morta, sentia dor de barriga, ainda estava com fome, mas com zero disposição para cozinhar. Minha mãe estava fora, por isso pensei em pedir alguma coisa, mas estava meio sem grana, foda. Por isso me deitei, ia cozinhar alguma coisa mais tarde.
Peguei no sono, então de repente acordei me sentindo muito mal, meu corpo estava meio quente, não conseguia mexer nada. O dia da olimpíada estava chegando. Peguei o celular por força do hábito, nessa hora vi que o Izumi estava online, então em um impulso acabei chamando ele para call, só não sei o porquê.