Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 5
Uma chamada pelo Discord
Visão Izumi
Estava em mais um dia qualquer, sem fazer nada, quando de repente a Yuna me ligou. Naquele ponto conversamos quase todo dia, isso era quase rotina, mas ela nunca tinha feito isso naquele horário, achei estranho, já que ela parecia um pouco fissurada com a rotina.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.
— Nem, nada, apenas queria falar com você. — Yuna disse com uma voz estranhamente mais baixa e fraca que o normal, mas acabei culpando o fone.
— Isso… Êh
Só como eu deveria reagir a isso? Acabei não sabendo direito o que fazer, quando ela falou algo assim tão diretamente, simplesmente não sabia como puxar assunto. Me escondi embaixo das cobertas, por reflexo. Suspirei fundo, me “acalmei”, então tão confiante e imponente quanto um rato disse:
— Humm! Bem, tenho o dia inteiro livre, já que não faço nada, na verdade, acho que vai ser divertido.
— Desculpe, não ouvi.
— Êh…
Meu coração deu uma paradinha naquela hora. Odiava repetir algo que já disse, principalmente quando é algo vergonhoso. Fiquei com vontade de me esconder atrás de algo, senti aquela sensação do calor subindo, as bochechas ficarem vermelhas, ao maior estilo personagem tímido de anime. Eu só queria um lugar para enfiar a cabeça e ficar lá para sempre.
— A propósito, eu já estou quase acabando aquela novel que você recomendou, como chama mesmo?
— Dungeon Defense, ela é muito boa, né? — disse animado.
Acabei me empolgando, eram muito raros os casos em que eu tinha alguém para conversar sobre coisas que gostava assim. Apresentar pessoas ao mundo otaku, também parecia me dar uma sensação de animação extra, por isso foi inevitável que minha empolgação suprimisse completamente meu racional no dia, o lado bom foi me livrar da timidez, ou parte dela.
— Sim. — Yuna respondeu.
— Já chegou na parte que ele mata aquele outro rei demônio? Adoro como ele é inteligente, provocar o cara, apenas para revidar quando atacado, assim sem quebrar as estritas leis daquele mundo é incrível, entende?
— Sim, apesar de que particularmente, o que mais gostei foi a forma como o autor trabalha um narrador não confiável, narrando os fatos de forma a nos manipular, para depois mostrar pelo ponto de vista de outro personagem, como estavam errados.
Ainda ficamos conversando sobre Dungeon Defense por um tempo, mas vou poupá-los disso, afinal foi apenas eu falando sem parar, ninguém está interessado nisso, né? Além do mais, considerando que era eu falando sobre algo que nem devem conhecer.
Só sei que em algum momento, acabei me distraindo um pouco, estava tão feliz de poder falar sobre algo que gosto, com alguém que estava, ou pelo menos parecia estar, interessada no que eu falava. É completamente diferente, de quando as pessoas te olham com aquela cara de: ele é meu primo, preciso pelo menos falar com ele, nas festas de família.
Bem, no dia eu não podia ver a cara da Yuna, ainda não fazíamos chamada por vídeos, inclusive, quando foi que mudamos esse hábito? Enfim, isso não importa, apenas sei que em algum momento, eu me soltei um pouco demais, agido muito como eu mesmo e disse:
— Tem aquela parte tipo, BLÁ, BLÁ, BLÁ.
— Haha! Você realmente se empolgou. — Yuna disse.
Não lembro exatamente do assunto na hora, apenas que acabei falando mais alto e mostrando mais do meu lado estranho naquele dia… Ahan! Quer dizer, mais estranho do que o normal.
— Foi mal, acabei me empolgando por estarmos falando sobre animes e coisas do tipo. — disse timidamente.
— Tudo bem, até que é divertido, apesar de meio estranho. — Sinto a palavra estranho me atingir como uma flecha. Ainda assim, o tom dela era bem relaxante e irônico, por isso me senti de boa para responder como uma brincadeira:
— Ai! Não precisava ser tão direta.
— Não, não, estava falando dos animes… Dessa vez.
— Dessa vez?
— Bem… Que tal mudar de assunto?
— Apenas minta um pouco, tipo, falando: você é completamente normal.
— Foi mal, se fosse para mentir só um pouco tudo bem, mas vai contra minhas politicas de vida, contar uma mentira tão grande, apenas aceite a realidade.
— Eu meio que já sabia, mas… sinf! — digo chorando de brincadeira.
— Não se preocupe, você pode ser até um pouco fofo às vezes.
— Isso… Não me ataque assim do nada, meu coração vai acabar parando de bater.
— Viu, era desse tipo de reação que estava falando.
Primeiro, vamos ignorar o dano dela ter usado a palavra “às vezes”, ok? Segundo eu fiquei extremamente envergonhado com o ataque surpresa, era um garoto adolescente no final das contas… Tá, mais especificamente, era um garoto adolescente, que quase nunca interagia com garotas(ou garotos, mas não importa).
— Sua voz é baixa, mas surpreendentemente muito expressiva. — Yuna continuou me provocado um pouco.
— Isso… Isso. — Me escondi embaixo das cobertas pela vergonha.
— Eu consigo te imaginar apenas pela sua voz, por exemplo, deve estar escondido embaixo das cobertas agora.
— Você é vidente?!
— Não, você que é meio óbvio.
— Além de ser estranho, nem para eu ter aquele charme, de ser imprevisível, sinf! — disse brincando. — Pudim é estranho, não entendo como alguém pode gostar disso! — grito.
— Que? — Yuna pergunta sem entender nada.
— Isso foi inesperado, né?
Pouco tempo depois que disse isso, lembro que fiquei morrendo de vergonha, mas eu juro que na hora parecia engraçado. Por algum motivo, a voz, forma de agir, não sei, mas Yuna é alguém realmente fácil de se aproximar… Não sei, eu realmente comecei a sentir que éramos amigos. Então tem alguém que gostaria de ser amigo de alguém como eu, pensei, me senti um pouco aliviado, provavelmente.
— Suspiro! Vou ignorar que isso aconteceu, mas só tem uma coisa que preciso saber, você realmente não gosta de pudim? — Yuna disse.
— Não… Bem, na verdade, não sou um grande fã de doces, apesar de adorar chiclete e pirulito, mas, porém, contudo, todavia, em geral não gosto de doces.
— Por que? — Yuna pergunta incrédula.
— É que eles acabam rápido, é bom quando coloca na boca, mas depois que você engole, fica aquele gosto residual, que é uma mistura de doce acabando com um azedo, sei lá, é estranho e dá um sentimento de vazio.
— Uhum! Vou fingir que entendi.
— Não é difícil de entender, eu acho. Tipo, não gosto do sabor doce indo embora, além de, às vezes, ser tão doce que rasga a garganta, prefiro algo que dure, tipo um chiclete, um favo de mel, um pirulito, alguns tipos de bala, sei lá.
— Tá, posso entender, mas ainda é estranho.
— É tão estranho assim, não é possível que sou um dos únicos que pensa assim?
— Provavelmente é.
— Entendo.
Anotado mentalmente, esse vai direto para a lista de coisas, que acho normal mas não são, como sempre ela só aumenta. Pensei nisso na hora, na verdade, eu era um pouquinho assim, mas só um pouco alienado, assim, eu ainda entendia mais de normas sociais do que um cachorro ou gato… Provavelmente.
Em minha defesa, é sempre tão difícil entender esse senso comum, se não está escrito, segmentado e separado por categorias, como eu que eu entenderia? Tá, talvez, só talvez, eu devesse pensar em uma desculpa melhor para minha incompetência em socializar, do que: convivência social não vem com manual de instrução.
Então minha mente começou a viajar: falando em manual de instrução, puta bagulho chato isso, não que seja inútil, mas tipo… Sei lá, na verdade, só queria um jeito de saber mexer nas coisas, sem ter que ler. Agora que penso nisso, imagina uma pílula, você come e instantaneamente sabe usar alguma coisa, ia vender bastante, acho…
— Terra chamando, Izumi, Izumi, caiu?
— Ah! — Me assustei quando notei Yuna me chamando. — Desculpa, estava… Bem, pensando na vida, eu diria.
— Que profundo, mas por favor faça isso em outro momento.
— Foi mal.
— Espero que entenda, agora como vai me recompensar pelo crime capital de ter me ignorado.
— Êh… — Fiquei um pouquinho desesperado.
— Nessa hora que você quebra dizendo algo idiota, entenda a ironia no que estava falando, idiota!
— Desculpa.
— Suspiro! Tanto faz, haha!
— Buu! Mas eu fiquei realmente um pouco desesperado, imaginei que pudesse ficar irritada.
— Relaxa, por algum motivo acho sua estranheza divertida.
— Isso não me conforta, agora me sinto como uma atração de circo, sinf! — disse ironicamente.
— Hahaha!
— Não cai na gargalhada assim!
— Foi mal… Haha! É que eu… Cof! Cof! Cof! Cof!
Yuna tem um ataque de tosses. As tosses eram abafadas, mas pareciam rasgar a garganta, me dava muita aflição. Me senti em uma caverna fechada, por onde passavam ventos sem parar, mas apenas por uma pequena fresta, sem poder me mexer, sem poder falar, sem poder ver nada, ok, admito que viajei um pouco na hira
— Você está bem? — perguntei com preocupação.
— Eu fiquei meio gripada, não é nada demais, acabei exagerando ultimamente, tenho que ficar na cama, nem consigo fazer nada direito é um saco.
Yuna meio que se soltando começa a reclamar, algo que nunca tinha visto ela fazer. Então ela não estava bem, e eu nem notei, hein? Não, percebi que tinha algo errado com a voz dela, mas acabei me deixando levar. Hoje foi divertido, um dos dias mais divertidos que já tive, mas, mas…
— Não consigo levantar, nem fazer nada de útil, vou acabar perdendo meu dia todo. — Yuna estava reclamando sobre algumas coisas.
Tudo bem eu me divertir assim? Eu nem ajudei em nada, né? Será que posso ser pelo menos um bom ouvinte? Quanto tempo isso vai durar? Eu preciso pelo menos fazer alguma coisa, né? Todas essas dúvidas me atormentaram na hora, por isso tentei pelo menos dar conselhos vazios.
Lembro que ela recusou ou rejeitou as soluções no dia, cai em mais e mais pensamentos internos, senti um certo medo de não ter mais dias divertidos como aquele. No fim, por consideração ela diz:
— A propósito, obrigado, hoje foi divertido, apesar de eu estar mal.
Me deitei na cama, estava o mais puro silêncio, não sou um grande fã de luz, além do mais meu pijama é preto, por isso o clima deve ter sido bem depressivo. Fiquei por um tempinho deitado sem pensar em nada, sem mexer um músculo.
— Suspira! Inspira!
Logo fiquei entediado de ficar naquela posição, por sorte(azar) minha mente nunca se foca muito tempo em algo, por isso logo perdi o foco no que estava pensando, porque uma dúvida que abalaria a humanidade surgiu na minha mente:
— Será que saiu episódio novo na crunchyroll?
No fim apenas liguei a tv e fiquei assistindo anime, apesar de que não tinha nada de bom para ver. E mais uma coisa, por que o roteador de wi-fi tinha que ficar piscando? Eu acabei olhando para aquilo, então comecei a imaginar que era um código morse, em 20 segundos já estava em uma missão secreta na Grécia.
Pô colabora cérebro, assim não dá para focar nos animes. Pensei isso na hora, depois de ter ficado uns 20 minutos brisando sobre a missão secreta, por causa de uma luzinha piscando.