Amor é Mais Complicado do que Parece - Capítulo 9
Nem toda conversa se propõe a chegar a algum lugar
Izumi
— Não sabia da existência de personagens que queriam parecer adultos em anime, que curioso, isso parece bem infantil, inclusive, qual seu tipo de personagem preferido?
— Eu? Humm! Diria que adoro personagens um pouco mais frios e inteligentes. — disse sem muita certeza, mas continuei. — Bem, na verdade, eh! Seria melhor dizer que personagens burros ou muito animados me irritam, ou algo do tipo, hummm! Isso é um pouco difícil de decidir, acho que também gosto muito de personagens irônicos, ou…
Comecei a me empolgar. Na tentativa de encontrar a melhor resposta, antes que eu percebesse, várias pausas, na minha fala, surgiram. Acho que sempre tive a tendência a pensar demais, principalmente para decidir algo. Eu diria que penso rápido, mas não adianta ter um processador bom, se você tentar processar 10 vezes mais informação do que o necessário, mesmo assim eu fazia isso com meu pobre cérebro constantemente.
Sério ou brincalhão? Qual tipo de cabelo? Qual tipo de olho? Atitude e presença? Qual eu prefiro? Qual é mais interessante? Ele pode ser calmo, impulsivo, desocupado, fofo, gentil, tímido, entre esses, qual eu prefiro? Minha mente ficava pensando nisso tudo, como resultado, um problema: causar um silêncio desconfortável, afinal…
— Êh… — Por um instante fiquei sem conseguir achar a resposta.
Assim o silêncio desconfortável se formava, mesmo que tenha sido apenas segundos, era como se uma densa névoa se formasse, me deixando impossibilitado de ver ou respirar, o ar sumia aos poucos, em uma sensação nada agradável.
Um sorriso bastante belo. Por sorte, logo a névoa se abriu. O que qualquer um pensaria de mim naquele momento? Obviamente mal, isso sem dúvidas era exatamente o que estava na minha cabeça, afinal mesmo que eu não me lembre perfeitamente, isso sempre é o que está. Yuna sorriu levemente, apenas com o canto da boca, enquanto me olhava, antes de começar a falar:
— Entendo…
Suspirei. Senti um estranho alívio só de olhar para ela, então reorganizei minha mente aos poucos. Ainda fazia avaliações negativas de mim mesmo, mas consegui ignorar isso um pouco. Então me perguntei: onde estava mesmo? Suspirei calmamente.
Ok, agora devo organizar os fatos em ordem cronológica, para que possam entender melhor, apesar de até minhas memórias sobre aquele momento serem um pouco confusas, enfim…
Estava falando sobre animes, mas, por alguns instantes, não pude encontrar as palavras para dizer, comecei a pensar muito sobre isso, fiquei com medo do julgamento da outra parte, porém quando olhei para Yuna, me acalmei. Pronto, com isso, consigo organizar parte daquela bagunça dos parágrafos anteriores.
Continuando. De alguma forma, a voz e expressão da Yuna me acalmavam(e acalmam), provavelmente foi naquele ponto em que me apaixonei, ou pelo menos algo do tipo, bem, não tem como alguém que nunca antes tinha conhecido esse sentimento, o notar de cara, tem?
— …Gosto muito de basquete, inclusive já fui capitã do time. — Ok, não fazia(ou faço) ideia de como o assunto chegou nisso, sério, simplesmente não lembro. Olhei para o relógio, toda névoa e fala da Yuna tinham acontecido em apenas 1 minuto, por isso posso dizer que não perdi muito.
A propósito, depois eu pensaria muito em casa, até chegar a minha resposta ideal, para a pergunta, sendo tal resposta: um personagem meio sombrio, inteligente e de preferência um pouco irônico, levemente louco, sempre brincando com as palavras para escapar de situações perigosas, mesmo com todos a volta o odiando.
— E você, gosta de esportes? — Yuna pergunta.
— Sim, adoro um que chama: maratona cama-sofá.
— Responda seriamente, idiota!
— Ok, eu até gosto… De olhar.
Me sentia estranhamente leve no dia, foi como se estivéssemos falando pela internet. Não! Melhor, afinal naquele ponto eu podia ver a expressão sorridente da Yuna, então não tinha que ficar com medo dela estar achando tudo um saco. Enfim, continuando, Yuna respondeu:
— Tem que ter pelo menos um esporte que gosta?
— Até tem, mas… Ok, não tem, por que eu gostaria de ficar suando e me mexendo sem parar? — Na verdade tinha, mas não tinha, por isso preferi não comentar.
— Não é óbvio?
— Não, só o que tem de divertido em esportes?
— Vencer. — Yuna respondeu com uma velocidade e certeza que até me assustaram um pouco, mas no fim Yuna era extremamente competitiva, já tinha notado isso.
— Nem, ganhar dá muito trabalho.
— Preguiçoso!
— Não nego.
— Suspiro! Negue, qual é a graça de discutir se você não negar e discordar?
— Foi mal, foi mal, encrenqueira.
— Ei! Quem você pensa que está chamando de encrenqueira, eu sou uma pessoa completamente calma, relaxada e que evita brigar com as pessoas a todo custo.
— De fato, desculpa por te julgar mal, vou até te dar um pássaro azul de presente… Espera! Na verdade, essa piada foi horrível.
— De fato.
— Ufa! Consegui reconhecer isso a tempo, seria muito vergonhoso se pensasse que tenho um senso de humor estranho.
— Não se preocupe, — o rosto dela estava realmente fofo. — já achou seu senso de humor estranho.
— Sinto que acabei de tomar danos críticos, não é justo usar o especial quando estou sem shield.
— Viu, você já é estranho naturalmente.
— Ai! Me sinto sendo esmagado em um jogo, maldosa.
— Enfim, o que achou do pão de queijo?
— Não mude de assunto assim! Mas ele estava muito bom, acho.
— Qual é a do “acho” no final?
— Sei lá, não prestei atenção no gosto. — Não tinha como eu conseguir reparar no gosto da comida, quando tinha a Yuna na minha frente pela primeira vez na vida, entende? Não, então você é uma pessoa normal. — Além do mais, tenho confiança de que poderia fazer qualquer juiz culinário vomitar sangue com minhas péssimas avaliações, portanto nem importa.
— Como consegue dizer algo como isso com tanto orgulho.
— Bem…
— Não fique tímido por tudo. — Yuna me deu um peteleco.
— Ai! Que maldade, eu sei que sou fraco, mas se me derrotar com só um peteleco, pode me causar traumatismo egoniano… Digo, craniano. — A propósito, “egoniano” não é uma palavra, e sim vem de ego, agora se não entendeu a piada ruim que fiz no dia, o problema já não é meu.
— De fato, seu senso de humor é bem único.
— Não precisa de tanto eufemismo. — falei choroso.
— Não mesmo, mas enfim…
— Buu! Não fique apenas ignorando o que digo. — disse olhando diretamente para os olhos dela, antes de desviar o olhar de novo.
Yuna primeiro mostrou uma face surpresa por alguns segundos, então abriu um sorriso extremamente puro, diferente da expressão confortante que ela tinha mantido até o momento, aquele era um sorriso que surgia inconscientemente. Naquele momento não conseguia entender o porquê daquela reação.
Lentamente a aura do lugar mudou de uma forma estranha. Eu sorri, acho que sorri, será que eu sorri? Provavelmente sorri, sem notar ou pensar, apenas por ver ela sorrindo. Como uma risada pode ser contagiosa, sorrisos puros também podem, supus.
Uma pequena curiosidade surgiu em mim: o que será que faz outra pessoa sorrir assim, sem sequer notar? A dúvida era tão grande, que podia sentir os pontos de interrogação choveram sobre meu corpo, cobrindo toda minha visão, pouco a pouco, então…
— E você acabou de brisar, né? — Yuna comentou.
— Êh!
— Puft! Nem precisa me responder, sério, sua cara de: “onde estou?”, foi impagável… — Yuna começou a rir.
— Não seja má.
— Ok, ok, foi mal, mas… — Ela então voltou a rir.
Encostei minha cabeça na minha mão, então fiquei observando, era, de certa forma, fofo de ver.
— Suspiro! Agora falando sério, sobre o que você estava pensando? — Yuna perguntou, fiquei com vergonha de dizer, por isso busquei mudar o assunto dizendo:
— A propósito, sobre…
— Se vai mudar de assunto não seja tão brusco, sabe.
— Mas você faz exatamente assim!
— E a pergunta, estou realmente curiosa, por favor eu acabarei morrendo se minha curiosidade não for sanada.
— Não é justo se você me encarar tão diretamente.
— Hehe!
— Entendo, você é uma tirana da qual não posso escapar.
— … — Yuna apenas continuou me olhando gentilmente, mas isso era de alguma forma opressor, não tinha como fugir, além disso, ela ainda deu um golpe final. — Que maldade, não sou nenhuma tirana, é só que suas reações são fofas.
— Como consegue dizer essas coisas tão calmamente? Não é justo!
— Então, no que estava pensando?
— Dá vergonha de responder.
— Pode ser que seja algo sexual? Se for o caso, deveria apenas inventar qualquer coisa para disfarçar.
— Não é isso! Eu só estava pensando, sobre o que faz as pessoas sorrirem honestamente, sei lá, eu só achei algo incrível de ver, sabe, um sorriso que surge sem nem notarmos.
— Você é bem fofo. — Yuna diz rindo. — Mas eu diria que isso só acontece naturalmente, não existe uma receita para deixar outra pessoa feliz.
— Não responda tão seriamente, isso só me deixa com mais vergonha!
— Eu sei. — Yuna disse, me encarando com um sorriso. Ouvindo a resposta eu notei algo.
— Você sabia que eu não tinha nenhum pensamento sexual, né?
— Obviamente.
— Cruel.
— Apenas estava te provocando um pouco, para ver suas reações fofas.
— … — Envergonhado apenas abaixei um pouco a cabeça, não conseguia lidar com a Yuna, ainda… Vrum! Meu celular vibrou, abri, era uma mensagem do meu pai.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada de mais, apenas meus pais enchendo o saco, eles só perguntaram onde estava e coisa do tipo.
— Responda corretamente, eles só estão preocupados com você. — Yuna disse com um pouco mais de força que o normal.
— Ok.
— Estou falando sério.
— Humm! — Tentei perguntar algo sobre, já que Yuna parecia sensível a esse tema, mas antes que eu conseguisse ela comentou:
— Mais uma coisa, como você foi na prova, tinha te perguntado antes, mas…
— Foi mal por isso, estava um pouco nervoso naquela hora.
— Tudo bem. — Yuna disse dando de ombros.
— Bem, honestamente não sei, mas, acho que, devo conseguir passar para próxima fase, isso se eu der sorte, claro. — disse.
— Espero que você passe. — Eu também torcia para isso, já que isso seria uma desculpa para nos vermos de novo.
— E você, acha que vai passar?
— Sim.
Que resposta direta, pensei na hora. Senti que havia algo estranho sobre aquela resposta, mas não podia identificar exatamente o que era, bem, em algum momento perceberia, que ela não é tão confiante assim.
De qualquer forma, sou alguém que… Como posso dizer sem soar ruim? Humm! Alguém que confia na sua intuição… Sei lá, quando olhei para Yuna falando aquilo, ela não parecia ter a mesma aura a sua volta de sempre, por isso lembrei sobre aquele dia, o do capítulo 5, lembra? Então decidi perguntar:
— Yuna, sobre aquele dia, você está bem?
Yuna se mostrou surpresa por um segundo, antes de sorrir gentilmente, e então respondeu:
— Claro que sim, mas é bem fofo quando você se preocupa comigo, sabia
— Isso…
— Mais uma coisa, eu acabei de ler Dungeon Defense, pode me recomendar outra novel?
— Claro!
No fim não consegui perguntar nada, fui pego de surpresa pela pergunta da Yuna, que me fez ficar extremamente animado, então eu falei várias coisas sobre animes entre outras coisas, até nos despedirmos.
Foi um dia estranho, não é como se eu tivesse deixado de ficar nervoso, mas pela primeira vez me senti assim, nunca tinha achado tão fácil conversar com alguém, é estranho, mas por algum motivo as coisas foram assim.
De alguma forma, Yuna tinha uma aura confortável, que tornava fácil se aproximar dela, pelo menos assim foi comigo, humm! Como eu digo isso? Quando falava com Yuna, sentia que haviam cordas amarradas em mim, elas me obrigavam a falar, ao mesmo tempo, porém, me impediam de cair no abismo escuro. Ok, talvez eu tenha nascido com maconha instalada no cérebro.
Naquele ponto, sem dúvidas, tinha começado a ter alguns sentimentos, porém eles consistiam muito mais em admiração, do que em amor.
— Mesmo que seja só alguém como eu. — murmurei para mim mesmo.
Acabei não perguntando nada para Yuna, não fazia ideia dos seus problemas, no fim apenas acreditei nas palavras dela: claro que estou bem. Yuna naquele dia pareceu estar acima, não conseguia ver defeitos ou algo do tipo nela, quase a endeusava.
Uma grande idiotice, mas em minha defesa… Tá, não tem muito como me defender, aconteceu, fazer o que, assim que as coisas foram, bem, naturalmente em algum momento entenderia que ela é apenas uma humana, mas me arrependo de demorar muito… E talvez isso tenha sido um spoiler, bem, fazer o que, esse foi um dia bastante importante.
Até porque, foi a primeira vez na vida, que eu cheguei à conclusão, de que tinha um amigo.