Amor é Mais Complicado do que Parece - Extra 11
— Eu não quero ir para a praia! — De repente, a pequena Sara decidiu contrariar sua mãe com todas as forças. Seu grito agudo e, verdade seja dita, muito irritante, fazia os ouvidos de Izumi e Yuna estremecerem por alguns segundos.
Tentando remediar as coisas e salvar seu ouvido, Izumi passou a mão na sua cabeça e pediu calma, mas a garota apenas se afastou e reclamou com ele também. Definitivamente ela estava muito rebelde naquele dia.
— Por que isso de repente, filha? — Meio irritada, Yuna encarou ameaçadoramente para a pequena garota de 12 anos. — Você sempre gostou da praia, além do mais, já decidimos que vamos viajar, você não tem escolha aqui, mocinha! — Mais uma vez, estava claro em seu olhar que negar não era uma opção naquele momento.
Por um instante, Sara deu um passo para trás e quase cedeu, sua mãe podia ser realmente assustadora de vez enquanto. Ainda assim, ela era obstinada, algo dentro dela a levava a querer desafiar aquele monstro, por isso ela deu dois passos para frente. As duas encararam-se olho no olho, enquanto Izumi tinha uma mini parada cardíaca.
— Mãe, a praia é um saco, é quente, o sal do mar me deixa toda assada, a areia entra no computador, a internet da pousada sempre é horrível e tem um monte de gente estranha pra todo lado! — Inevitavelmente, um certo rapaz balançou a cabeça concordando com todas as coisas ditas.
Claro, Yuna não era do tipo que recuava, por isso ela não aceitou qualquer um dos argumentos e também deu um passo à frente. Mãe e filha estavam quase batendo cabeça com cabeça. Então a loiro reforçou com sua voz firme:
— Você é muito chata, garota! Além do mais, já disse, você não tem escolha, não temos com quem te deixar. Agora para de pirraça e vai arrumar sua mala.
— Você que é muito mandona e fica arrastando todo mundo para fazer só o que você quer sempre, você nunca se preocupa com opinião das pessoas ao seu redor, ai você arrasta eu e o papai para viagens que não queremos.
Finalmente trazendo Izumi para conversar, Sara, que conhecia muito bem sua mãe, apelou para a única força capaz de convencê-la a mudar de ideia: seu marido fofinho. Izumi, por sua vez, apenas queria ter sido esquecido até o final da discussão, mas foi rapidamente colocado entre as duas.
No fim, diferente do que a garotinha esperava, seu pai ficou contra ela, naturalmente isso diminuiu seu poder na discussão, mas ela também não aceitaria estar errada, não tinha chance dela recuar! Sem muitas opções, a garota fez um drama reclamando mais uma vez que sua mãe era mandona e insensível, então fugiu rapidamente para seu quarto enquanto xingava a Yuna.
Rapidamente, o casal trocou olhares sem saber bem qual seria a primeira coisa a dizer. Era a primeira vez que Sara brigava diretamente com eles daquela forma, por isso nenhum dos dois sabia exatamente como reagir. O silêncio desconfortável também não durou muito, pois Yuna disse meio chorosa:
— Eu não sou tão mandona assim, né? Você também quer ir para a praia.
De início, Izumi se surpreendeu com a cena, afinal ver Yuna insegura sobre algo era um momento raríssimo. Logo depois, sorriu ironicamente achando tudo um pouco fofo e engraçado. Por fim, claro, ele a confortou dizendo que também queria ir. Os dois ainda trocaram algumas palavras, então o garoto disse:
— Enfim, aconteceu alguma coisa entre vocês duas para ela estar assim?
— Não sei… — Novamente com um olhar meio inseguro na face, ela tentava buscar um motivo em suas memórias. — Ela tem estado irritada e parece incomodada com alguma coisa, mas ela não quer me falar o que é, que saco! — Yuna apertou os punhos um pouco frustrada com a situação, mas logo suas emoções mudam de raiva para tristeza e preocupação. — Estou preocupada, mas ela não dá abertura, não sei o que aconteceu, antes ela me contava tudo.
Vendo como sua esposa estava perdida sobre o assunto, Izumi decidiu tomar a frente. Primeiro ele começou a pensar em sinais que tinha visto, tentando interpretar a mente da sua filha, então, tentando achar a raiz da briga, perguntou:
— Lembra qual foi a primeira vez que discutiram?
— Bem, a gente sempre discutiu o tempo todo. — De fato, a relação das duas sempre foi de discussão constante, mas nunca tinham brigado. Tentando encontrar em sua memória o primeiro episódio em que a discussão foi diferente, então se lembrou de algo subitamente. — Acho que foi quando não deixei ela tingir o cabelo, a garota ficou uma arara pelo resto do dia.
— Entendo, — Izumi passou a mão por aqueles lindos fios dourados — você tem que ir trabalhar, né? Pode deixar que fala com ela, vai ficar tudo bem.
— Espero que sim. — Sem muita confiança, Yuna saiu deixando isso para o marido, afinal ela realmente não tinha mais muito tempo.
Ainda sem ter certeza de que tinha entendido a cabeça da filha, rumou para o quarto dela. No mínimo, Izumi tinha algumas pistas, agora só faltava tentar confirmar com a própria Sara o que está acontecendo. Um pouco inseguro, ele bateu na porta do quarto da garota, pedindo para entrar, seu coração estava acelerado, as primeiras vezes são sempre assustadoras e ele tinha medo de lidar mal com a situação.
— Bem, eu sou o responsável aqui, não posso ficar parado… — murmurou para si mesmo relembrando a responsabilidade que tinha.
— Pode entrar! — Uma voz irritada atravessou as finas paredes; ao alcançar os ouvidos de Izumi, o som fez ele estremecer um pouco.
Enquanto abria a porta, ele pensava no que queria dizer. Mesmo antes de pedir para entrar, ele já tinha pensado mais ou menos no que faria, mas, de súbito, a insegurança fez ele querer mudar. Era tão difícil saber a forma certa de agir!
Assim que pisou dentro daquele quarto bagunçado, encontrou com os olhos de uma fera o encarando. Como uma presa, naturalmente estremeceu, mesmo um filhote de leão podia ser muito assustador para um mero coelho. Ainda assim, respirou fundo e se aproximou da garota sentada no centro de sua própria cama.
Então travou. Frente a frente com sua filha, as palavras não saiam como deveriam. Ele a encarou buscando uma inspiração, mas continuava sem encontrar as palavras. Sara, por sua vez, não escondia certa hostilidade.
O silêncio foi longo.
Tanto quanto o pai, a garota também não tinha certeza do que dizer, por mais que escondesse através da raiva, ela também se arrependia do que tinha dito. Orgulhosa, ela nunca admitiria isso em voz alta, mas queria se desculpar.
Tal qual o tempo passou, até a hostilidade no olhar desapareceu. Raiva é um sentimento momentâneo, depois de ficar encarando o pai por vários e vários segundos, esse sentimento se dissipou. Um pouco preocupada, a garota quebrou o silêncio:
— O que você quer? — A frase saiu ainda com resquícios de agressividade, mas num tom muito mais ameno do que as falas anteriores.
Acordado pela pergunta. Izumi notou como estava sendo covarde e cerrou os punhos. Ela já era adulto, tinha passado por várias coisas e se tornou um novo homem… não tão diferente do antigo, porém. Enfim, ele precisava ser responsável.
Puxou a cadeira da garota e sentou de frente para ela. — Sara, precisamos conversar um pouco. Pode me dizer o que está acontecendo?
— Que saco, não basta a mamãe, agora é você, já disse que não é nada demais, tenho que estudar ainda hoje, pode me dar licença?
Apenas por fazer uma pergunta parecida com a que Yuna tinha feito, Izumi já acordou de novo com raiva dentro de sua filha. Claramente, Sara está incomodada com algo, mas não queria falar sobre e se irritava que as pessoas notassem. O homem se acalmou um pouco, afinal notava o quanto aquela garotinha continuava a mesma, por mais que mudasse para a skin rebelde. Então ele riu um pouquinho.
— Por que está rindo? — irritada, perguntou.
— Porque você é fofa. — Izumi se aproximou de Sara e a abraçou, um ataque tão inesperado que a própria não conseguiu reagir. — Não adianta tentar esconder, eu consigo ver sua aura cintilante, está óbvio que alguma coisa está te incomodando.
— Você diz isso querendo parecer confiante, mas continua com essa aura de coelhinho inseguro, hunf! — Envolvida pelo amor do pai, a raiva em Sara ainda tentou resistir.
— Claro que estou inseguro e preocupado, minha filhinha está ficando agressiva e não me conta mais nada, achei que ia ter um infarto antes de entrar no seu quarto, sabia?
Como costumava fazer, Izumi era sempre honesto sobre suas inseguranças tanto com a Sara, quanto com Yuna. Diferente de sua esposa, ele não tentava ser um exemplo infalível e admitia suas fraquezas para a filha.
— Eu quase morri de susto quando você falou irritada comigo, buu! — Meio choroso, olhou para a garota. — Eu ia ficar muito triste se você me odiasse.
— Desculpa. — Sara desviou o olhar.
Izumi sentou ao lado da garota e fez cafuné nos seus longos cabelos loiros escuros. Como um gatinho arisco, a pequenina tentou escapar, mas não conseguiu e acabou cedendo no final. Por fim ele se reclinou contra a parede e falou calmamente:
— Sabe, eu te amo.
— Por que está dizendo coisas vergonhosas do nada?
— Porque eu sou vergonhoso, hehe! — Izumi fez ainda mais cafuné na garota, bagunçando completamente seu cabelo. — Além do mais, demonstrar amor não é vergonhoso, mas não se preocupe, mesmo que não diga, sei que me ama. — Mais confiante, o garoto mostrou um grande sorriso.
— Tá, tá, — Sara tentou escapar do seu pai um pouco, ele era muito melodramático e grudento, ao ponto que ela não aguentava. Normalmente teria a Yuna para dividir todo esse amor recebido, de forma a deixá-lo tolerável, mas ficar sozinha com ele era difícil. — Já entendi, desculpa, mas pare de bagunçar meu cabelo!
A garota agora toda descabelada, olhou irritada para o pai. A raiva agora era diferente, era como uma pequena irritação fofa, Sara não parecia tão ameaçadora. Na verdade, ela lembrava Izumi de sua esposa e de como ela às vezes ficava irritada com ele pelo mesmo motivo, mas o que ele poderia fazer se dar cafuné era tão bom?
Depois de rir levemente, Izumi teve sua iluminação. — Ei! Desde quando se preocupa tanto assim com seu cabelo estar arrumado?
— Desde sempre, é importante, já que ele não é bonito, pelo menos tenho que deixar penteado, a maioria das pessoas normais se preocupam em se arrumar direitinho.
— Está me chamando de anormal por acaso?
— Sim! — Sem nenhuma hesitação, Sara deu a resposta certa.
— Sinf, — fingindo chorar, brincou — não seja maldosa comigo.
Entrando na brincadeira, Sara começou a listar mais provas da anormalidade inegável de seu pai. O garoto que não ia ficar indefeso, contra-argumentou provando a estranheza da própria filha, que não tinha puxado só a mãe. No fim, os dois se divertiram enquanto apontavam as estranhezas um dos outros.
Vendo que sua filha já estava muito mais calma, Izumi finalmente viu a oportunidade de entrar no assunto principal, por isso falou:
— Sabe, seu cabelo não é feio, na verdade, acho ele muito bonitinho e gostosinho de fazer cafuné. — Claro, Sara lhe deu um olhar dizendo que sua opinião não era válida de forma alguma. — Ok, acho que elogios vindos dos pais não contam, mas pode contar com a gente para lidar com suas inseguranças.
— Eu não estou insegura sobre nada, ele só e feio, por isso queria pintar! — Irritada, tentou esconder a verdade com agressividade.
— Não precisa esconder, também não precisa contar com nossa ajuda sempre, se acha vergonhoso falar sobre com a gente, um amigo deve poder ajudar. Bem, mas vou ficar bem triste quando parar de contar comigo, então continue me pedindo ajuda de vez em quando, quero te apoiar sempre que possível.
Vendo a flutuação de sentimentos do seu pai e sentindo seu calor, Sara ficou um pouco balançada, mas a vergonha e outros sentimentos ainda a impediam de se abrir completamente. Não era tão fácil assim falar sobre essas coisas.
— Não é tão fácil assim, não consigo ser vulnerável como você, nem sou incrível como a mamãe para lidar com tudo sozinha. — Escondendo a cara entre os joelhos, ela finalmente admitiu algo que a incomodava há muito tempo. — Não sou incrível como vocês dois.
— Bem, não me acho tão impressionante assim — Izumi admitiu honestamente. — Na verdade, tenho muito medo de fracassar como pai.
— Eu sei que você não acha, mas você é, só você consegue fazer as coisas que faz, nunca conheci ninguém sequer parecido.
— Hummm… obrigado, eu acho.
Frente aos elogios repentinos da filha, Izumi ficou um pouco abobado sem saber como responder. Normalmente Sara não o elogiava, por isso ele tinha ficado muito feliz. Dito isso, seus sentimentos não importavam muito no momento, o mais importante era ajudar sua pequena filha.
— Sabe, imagino que esteja insegura sobre muitas coisas agora, mas realmente acho que você é incrível, sei que apenas palavras não deve conseguir te ajudar muito, mas conte comigo para lidar com as inseguranças da vida, ok? Além do mais, você não deveria ficar se comprando conosco, apenas seja você mesma sem se importar muito com o resto.
— É muito mais fácil falar do que fazer — Sara foi muito honesta. Se reclinando sobre seu pai para ganhar calor e confiança, ela começou a remoer seus próprios pensamentos. — Sei que não deveria me importar tanto, mas me incomoda e não consigo ser confiante como a mamãe para lidar com essas coisas.
— Hehe! Entendi agora, você está com inveja da Yuna, né?
— Não, nunca! — Orgulhosamente Sara negou com todas as suas forças, mesmo que estivesse admitindo suas inseguranças naquele momento, na maior parte do tempo ela apenas diria que já separou sua mãe em tudo, afinal as duas eram competitivas entre si.
Izumi fez cafuné nela. — Tudo bem, não precisa se preocupar tanto, mas acho que deveria falar com ela sobre isso. — Então ele lacrimejou um pouco. — E desculpa pelos meus genes ruins, sei que você queria ser loira.
— Não, não, a culpa não é sua. — Se sentindo um pouco mal, Sara tentou negar com todas as forças, ela não queria seu pai se sentindo mal por isso. — Na verdade, eu até que gosto de algumas coisas que herdei de você, não se preocupe.
Izumi agradeceu pelo consolo e continuou conversando com sua filha, tentando misturar brincadeiras com o assunto sério, para deixá-la confortável. A todo momento, ele se perguntava se aquela era a forma certa de educar uma criança, talvez estivesse a mimando querendo ajudar demais, talvez estivesse sendo relapso ao apenas dar-lhe liberdade, talvez seu conselhos fossem ruins.
Enfim, apesar de tudo, tudo o que ele podia fazer era tentar dar seu melhor pela coisa que mais amava no mundo.
No fim, Sara se desculpou com Yuna, que se deslocou de volta e as duas voltaram ao normal. Por fim, apenas 2 anos depois, Sara teria coragem de ter uma conversa parecida com a que teve com o pai, mas dessa vez falando sobre suas inseguranças com a mãe, mas essa é outra história.
Já tinha escrito esse cap faz um tempo, mas não sabia se postava ou não, pq tava bonitinho com 10 extras.
Enfim, como agr estou escrevendo uma história nova, postei isso aqui para fazer marketing, kkk.
Então, se puderem, entrem no meu server do discord: https://discord.gg/zTBNkJZR
lá que vão ver tudo de novo, vão poder me apoiar se quiserem e ver quando for sair cap, é isso.